Abe the Wizard

Capítulo 396

Abe the Wizard

Rawl levou Abel para dentro do prédio da sede da União dos Ferreiros. Pelo caminho, inúmeros ferreiros anões e humanos cumprimentavam Abel com uma reverência. Ali, ele parecia uma verdadeira celebridade.

“Este é o local da reunião, Mestre Abel. Pelas regras, você pode trazer dois acompanhantes para ouvir o orador.”

Quando Rawl disse isso, havia um certo desejo na voz dele, como se quisesse ser um desses acompanhantes. Ele era um ferreiro intermediário no momento e, com um pouco mais de progresso, já teria se tornado um ferreiro avançado. Dito isso, ele realmente queria a chance de ouvir os mestres conversarem sobre suas experiências e afins.

Abel não demorou a entender o que Rawl queria e concordou na hora: “Foi uma jornada difícil e longa, Rawl. Não sei se você tem interesse, mas se quiser, venha comigo para ouvir.”

“Ah, seria ótimo! Muito obrigado, Mestre Abel!”

Obviamente, Rawl não deixou suas intenções muito claras. Ele não teria coragem de pedir algo assim diretamente para alguém como Abel, então foi quase um milagre que ele tenha aceitado tão facilmente. Por isso, Rawl estava grato pela oportunidade. Era muito difícil entrar em contato com um mestre ferreiro, mesmo morando na Cidade de Cina.

Quando Rawl foi abrir a grande porta, Abel percebeu que o prédio era bem maior do que imaginava. Dentro do salão havia várias mesas compridas e cadeiras. Doze anões, seis humanos e dois elfos estavam sentados dos dois lados. Pelos distintivos que usavam, Abel sabia que todos eram mestres ferreiros.

Cada mestre tinha alguém em pé atrás dele,  provavelmente seus assistentes ou servos. Como essas pessoas não tinham assento, ficavam todas em pé.

A outra metade do salão era uma bancada de trabalho para os ferreiros. Havia diversas ferramentas no suporte. Ao lado da bancada, um estranho forno de pedra brilhava em vermelho.

Abel não chegou a observar de perto. Assim que entrou, os vinte e poucos mestres ferreiros se levantaram para cumprimentá-lo. O Mestre Robin, que havia passado por ali há pouco tempo, deixou a mesa e se aproximou.

Com voz amigável, Mestre Robin disse: “Demorou, hein, Mestre Abel? Venha, Venha.”

“Peço desculpas, senhor, e a todos os mestres aqui presentes,” Abel fez uma profunda reverência, “esta cidade é simplesmente linda demais. Não foi minha intenção me atrasar.”

Um mestre anão riu alto: “Não se preocupe, Mestre Abel! Já é uma honra ter você aqui! Vamos, apresse-se e sente-se, sim?”

Para Abel, foi bom ver que seus superiores não se incomodaram com o atraso. E como ele foi todo educado e desculpou-se, causou uma boa primeira impressão.

Disseram a Abel que ele deveria sentar na primeira cadeira do lado direito. Mas não quis. Essa cadeira era reservada para o mestre mais reconhecido de todo o continente, e, no momento, estava vazia. O lugar que lhe indicaram era o mais próximo daquela cadeira principal. Agora, Mestre Robin estava ao seu lado. Sendo o mais jovem da sala, Abel achou melhor manter um perfil discreto.

Enquanto observava ao redor, percebeu que Hoover também estava ali. Claro, ele deveria se referir a ele como Mestre Hoover naquele ambiente. Havia um assento vazio ao lado dele, então, depois de fazer uma reverência ao mestre anão que lhe ofereceu a cadeira na frente, Abel foi sentar-se ao lado de Hoover.

Algo mais chamou a atenção de Abel. Dos vinte e poucos mestres que viu, só reconheceu alguns. Entre os anões, conhecia Mestre Robin, Mestre Thorin e mais três que havia encontrado quando ganhou o título como mestre. Entre os humanos, Hoover era um amigo próximo, mas também era o único que conhecia ali.

Um mestre anão de barba branca, Mestre Morry, começou a falar: “Como é a primeira vez que o Mestre Abel participa da nossa reunião, explicaremos os procedimentos mais tarde. Por enquanto, meu nome é Morry, sou o ferreiro responsável por esta cidade e serei o anfitrião do encontro de hoje!”

Mestre Morry continuou, com voz clara e alta: “Pelo que ouvi, o Mestre Abel deve ser o último mestre ferreiro a chegar hoje. Somos ao todo vinte e um mestres presentes. A última vez que tivemos tantos foi… bem, há muitos anos atrás.”

A plateia não demonstrou reação. Exceto por Abel, todos ali eram homens experientes.

Hoover cochichou para Abel: “Nas últimas dez reuniões éramos vinte. Agora que você chegou, quebramos esse recorde.”

“E os outros mestres?” Abel perguntou. Pelas suas informações, a União dos Ferreiros tinha cerca de 36 grandes mestres. Hoover estaria dizendo que os outros 16 nunca participam desses eventos?

Hoover explicou: “Quem não vem normalmente foi treinado por grandes organizações. Como suas técnicas e criações são privadas, eles praticamente não podem se mostrar em público. Meio suspeito, se você me perguntar, mas é só minha opinião.”

Mestre Morry prosseguiu: “Agora começaremos a primeira atividade. Caros mestres ferreiros, é hora de demonstrarem suas novas conquistas. Mestre Abel, como é sua estreia, gostaríamos de informar que a decisão sobre qual técnica quer revelar ao público é sua.”

“Se não quiser mostrar nada, Mestre Abel, tudo bem. Mas preciso lembrar algo: se você não concordar em demonstrar alguma descoberta na próxima reunião, não poderá mais entrar em eventos futuros. A menos que se torne um grandmaster, terá que continuar mostrando suas descobertas sempre que vier.”

“Grão-mestre.” A expressão de Mestre Morry ao mencionar essa palavra parecia estranha. Os outros mestres riram olhando para Abel. Ele não se importou. Achou que só queriam ver do que ele era capaz.

Antes de fazer qualquer coisa, Abel observou as demonstrações dos outros mestres. Foi muito útil para seu aprendizado. Obviamente, ninguém explicava as técnicas; mostravam apenas um trecho breve do processo, não a execução completa do começo ao fim.

Ao ver o forno estranho, pensou que era parecido com o do Acampamento dos Ladinoa. Também funcionava com chamas infernais, o que mostrava o quanto os anões tinham gosto refinado pelo fogo que usavam.

Na demonstração do Mestre Robin, ele esticou um pedaço de ferro até virar uma corda fina. Essa técnica era útil para fazer cordas de arco. Além de aumentar a resistência do arco, permitia disparos mais potentes que a maioria das flechas. Claro que Mestre Robin não contou a proporção dos metais. O que mostrou foi só o começo da pesquisa, e quem quisesse se aprofundar teria que gastar muito tempo e recursos.

Outros mestres aplicaram líquidos aceleradores de fogo para intensificar a chama. Parecia mais um comercial do que uma demonstração artesanal, então Abel não viu utilidade para aquilo.

A maior parte das coisas era prática. Muitos mestres aproveitavam para mostrar pequenos truques usados no ofício. Por menores que parecessem, essas técnicas poderiam ser úteis para quem as dominasse.

O que mais chamou a atenção de Abel foram os dois mestres elfos. Como os elfos eram fisicamente mais fracos que humanos e anões, eles deviam se dedicar ainda mais. A especialidade deles era fazer pequenos objetos, como acessórios e joias, e eles demonstraram muitos métodos para fundir metais preciosos e separar pedras preciosas de anéis.

Embora as outras técnicas dos elfos não ajudassem muito Abel, achou que eles foram os mais generosos em compartilhar o que sabiam. Bem, junto com Mestre Robin, mas esses dois realmente se destacaram.

Pensando bem, Abel nunca havia se interessado pela criação de acessórios. No entanto, agora que os dois mestres elfos haviam apresentado aquela arte, ele considerou a ideia de iniciar sua própria pesquisa nessa área. E, como eles já tinham experiência com o processo de fundição, talvez pudesse pedir mais informações. Se conseguisse informações sobre como combinar diferentes metais, seria capaz de criar armas ainda mais poderosas para si.

Claro, essas armas seriam feitas de ligas metálicas.