Capítulo 394
Abe the Wizard
“Argh! Irei sair..”
O mago de capa vermelha começou a se comportar ao ver o distintivo do mago anão de capa preta. Mas não foi só isso. Pelo que estava sendo dito, ele muito bem poderia ser o motivo pelo qual o Mago Cliff seria banido da cidade. Se esse fosse realmente o caso, praticamente estaria com a sentença de morte.
Após fazer uma reverência ao mago anão de capa preta, o mago de capa vermelha começou a correr em direção à sede da União dos Ferreiros. Porém, ao fazê-lo, esbarrou numa barreira de qi que o impedia de avançar.
Acontece que ele já estava na chamada lista negra. A partir daquele momento, não poderia mais usar qualquer círculo de teletransporte dentro da Cidade. Por sorte, só precisava percorrer algumas milhas até a Cidade Moga. Ainda poderia voltar ao Reino de St. Ellis passando por lá.
Enquanto Abel observava o mago de capa vermelha fugir, o canto dos seus lábios se ergueu ligeiramente. Como usava o colar da transformação, conseguia esconder todo o ódio assassino que sentia por aquele homem.
O mago anão de capa preta disse, fazendo uma reverência para Abel: “É uma honra vê-lo aqui, Mestre Abel! Meu nome é Valen.”
Abel retribuiu a reverência: “Saudações, Mago Valen. Muito obrigado pela sua ajuda.”
Abel não esperava que um mago avançado fosse tão educado com ele. Afinal, eles estavam entre os melhores lutadores de todo o continente.
Valen continuou sorrindo de forma excessivamente gentil: “Sinto muito pelo que o senhor passou, Mestre Abel. A cidade poderia ter feito muito mais para proteger a segurança de viajantes como o senhor.”
“Mas não se preocupe. A partir de agora, garanto que o senhor não será mais incomodado assim!”
Após dizer isso, Valen fez uma nova reverência para Abel e desapareceu. Uma luz branca o levou embora. Ele estava indo para algum lugar onde Abel não podia ver, murmurando algo para si mesmo.
“Ah, que ótimo! Agora que fiz algo por ele, posso pedir um favor em troca quando precisar! Você se superou dessa vez, hein Valen? Poderia ter deixado os outros magos cuidarem disso, mas teve que ser o ajudante especial do Mestre Abel, não é?”
Obviamente, Abel não sabia dos planos de Valen. Só achava que o cara tinha sido legal em ajudá-lo. Dito isso, não fazia ideia do porquê Rawl ficou tão surpreso ao vê-lo ali. Nem do quão estranho era para um mago avançado aparecer numa pequena confusão entre um viajante e um mago novato. Nem do quanto o comportamento de Valen destoava de sua fama de mago superagressivo.
Rawl logo percebeu algo. Quaisquer que fossem as intenções de Valen, ele estava tentando puxar o saco de Abel. Mas ele, claro, não falaria isso em voz alta.
Assim que Abel entrou no enorme castelo, a primeira coisa que notou foi a organização impecável do lugar. Em contraste com a aparência rude da área externa, o interior tinha pisos lisos e pretos, feitos de hematita negra, todos trabalhados como ladrilhos de ferro negro.
Havia um corredor gigante com uma fonte que, sob a luz do sol, refletia um arco-íris que caía sobre duas belas estátuas de pedra. Uma delas representava Greygenni, que Abel reconheceu. A outra, no entanto, ele não conhecia.
“Mestre Abel,” Rawl sussurrou, “Essa é Varaya, a deusa da cura e da proteção. Ela é esposa do grande Greygenni!”
Quando Abel olhou para o outro lado, viu um jardim onde humanos, elfos e anões conviviam. Ali, a raça não era um fator particularmente importante.
Rawl pulou do seu chocobo: “Se me permitir, Mestre Abel, vou levar sua montaria até um local de descanso. A partir daqui só podemos seguir a pé.”
“Não, obrigado. Eu mesmo cuido disso,” respondeu Abel, colocando Vento Negro dentro do anel portal para bestas. Honestamente, ele não sabia se Vento Negro gostava de ficar em um local de descanso, poderia ficar desconfortável e começar a uivar para os outros animais. Por isso, era melhor cuidar disso pessoalmente.
“Uma bolsa portal para bestas!” Rawl tapou a boca, maravilhado. Era a primeira vez que via uma em um humano. Assim como a pulseira portal (que pertencia aos anões), a bolsa portal é algo reservado aos mais altos escalões em tempos de guerra, inacessível a estranhos.
Em vez de colocar o cavalo de guerra de Bartoli no anell, Abel optou por colocá-lo na bolsa portal, para não assustar o cavalo com suas outras criaturas invocadas. Era melhor manter quartos separados.
Depois de entregar o chocobo a um servo ao lado, Rawl levou Abel até perto da fonte. Apontou para um buraco escuro entalhado na forma de uma bolsa.
“Ali, Mestre Abel. É onde o senhor deve fazer as oferendas.”
Embora Abel não compartilhasse da mesma fé dos anões, tinha muito respeito por aqueles que alcançaram grandes feitos no passado. Estava perfeitamente disposto a entregar o pedaço de hematita negra.
Ao fazê-lo, um feitiço de teletransporte foi ativado dentro da bolsa. Então, de repente, a enorme estátua de Greygenni no topo da cidade começou a emitir uma luz dourada em sua direção. Tudo aconteceu muito rápido. Ele não teve como reagir. Felizmente, aquilo não parecia representar perigo algum. Só fez seu corpo brilhar em dourado por um instante.
Rawl exclamou entusiasmado: “Você foi verdadeiramente abençoado pelos espíritos, Mestre Abel! Inúmeras pessoas vieram aqui para fazer suas oferendas, mas apenas alguns receberam a bênção direta do Grande Greygenni! Na verdade, você foi o único neste ano.
“O que essa… bênção faz?” Abel perguntou confuso.
Rawl respondeu: “Bem, segundo as lendas, você terá uma taxa de sucesso muito maior em qualquer arte que venha a praticar.”
Por mais bom que isso parecesse, para Abel não fazia muita diferença. Ele já tinha uma taxa de sucesso muito alta na fabricação de armas. Dito isso, essa bênção não mudava muito para ele.
Fora ele, porém, todos pareciam se importar muito com aquilo. Só no corredor, cerca de dez anões, seis humanos e dois elfos receberam uma notificação no distintivo de mestre ferreiro. Informavam que o Mestre Abel havia recebido a bênção direta do Grande Greygenni.
Magos e cavaleiros também ficaram sabendo. Os cavaleiros, especialmente, pareciam dar muita importância ao fato. Se conseguissem fazer Abel fabricar uma arma para eles, a qualidade do produto estaria garantida.
Abel, no entanto, não sabia disso, e, na verdade, não se importava muito. Estava mais focado no evento de reunião dos mestres ferreiros.
“Quantos mestres ferreiros estão aqui agora?”
Rawl respondeu após contar: “Bem, todos os mestres anões que puderam vir já estão aqui. Também há seis mestres humanos e dois mestres elfos. Se não estiver esperando mais ninguém, o senhor deve ser o último a chegar hoje.”
“Oh, não!” Os olhos de Abel se arregalaram. “Então me leve logo ao local da reunião. Não posso fazer todos esses mestres esperarem por mim!”
Assim que Abel começou a andar, um mago humano de capa cinza se aproximou e fez uma reverência.
“Mestre Abel, trago cumprimentos da União dos Magos do Reino de St. Pierrt.”
Embora estivesse confuso, Abel decidiu retribuir a reverência. Já ouvira falar do Reino de St. Pierrt, mas não tinha nenhuma relação com eles. Será que também estavam atrás dele por causa do mandado?
O mago de capa cinza continuou: “Fique tranquilo, Mestre Abel. Embora o senhor seja procurado pelo Reino de St. Ellis, isso não tem nada a ver conosco. Da mesma forma, eles não podem interferir no que fazemos com o senhor. Se quiser voltar ao mundo humano, será sempre bem-vindo para visitar nossa nação.”
“O Mestre Marian já me falou sobre o senhor antes. Ele mesmo é um mago avançado, e sempre me disse que, se algum dia tivesse a chance de conhecê-lo, deveria convidá-lo para a União dos Magos de St. Pierrt.”