The Beginning After The End

Volume 11 - Capítulo 2

The Beginning After The End

POV ARTHUR LEYWIN

As memórias suprimidas de mais uma vida incerta e à deriva inundaram minha mente, homogeneizando-se com as muitas que vieram antes em uma nuvem confusa de meia-experiência.

Enquanto flutuava no pós-parto daquela vida, minha mente assombrando meu próprio corpo infantil como o fantasma de um espírito antigo e inquieto, reconheci pela primeira vez: Eu estava cansado.

A pedra-chave estava me punindo de maneiras que eu não poderia ter previsto. Como uma vela tremulando contra um vento forte, eu estava correndo o risco de apagar. Eu sabia disso, mas não havia nada que eu pudesse fazer a respeito. Não havia oportunidade de voltar atrás, nem uma opção de simplesmente desistir. Porém, a cada vida, a possibilidade de falha se tornava cada vez mais real.

A vida como bebê passou voando enquanto eu definhava naquela nuvem pós-morte. Deixei que as lembranças das minhas decisões flutuassem intocadas, sem dedicar tempo para dissecar minha tentativa mais recente de resolver a pedra-chave, como fiz nas rodadas anteriores. Havia uma nova coleção de peças de quebra-cabeça que precisavam se encaixar de alguma forma no todo, mas minha própria consciência humana estava cansada, e meu pequeno cérebro infantil não queria fazer nada além de comer, dormir e ficar limpo.

De repente, voltei a ser uma criança de novo. Quantas vezes já foram? Questionei enquanto tentava brevemente alinhar todas as vidas da pedra-chave em ordem, mas não consegui, cada versão minha como um homenzinho de brinquedo colocado na prateleira.

A versão jovem e voraz de mim mesmo já estava consumindo os livros da biblioteca no escritório dos meus pais e começando a acumular mana em direção ao meu esterno. Tudo o que precisava fazer era piscar e a casa seria destruída em meu despertar, e tudo começaria de novo

Mergulhando completamente em meu corpo, tomei o controle de mim mesmo e parei. Eu não podia enfrentar tudo de novo, ainda não. Eu precisava descansar. Havia tempo… tinha que haver tempo.

De pé sobre minhas pernas gordinhas e ligeiramente curvadas de criança, deixei de lado a meditação para… brincar com blocos no meu quarto. Eles não eram pintados de cores vivas como os que tínhamos para as crianças pequenas no orfanato, mas eram esculpidos com maestria para terem pequenos padrões de tijolos, e rapidamente os arranjei em uma parede improvisada. Deixei-me afundar na massa cinzenta de minha forma física infantil, e o instinto de uma criança tomou conta. Comecei a brincar, sem esforço e despreocupado.

O dia em que eu deveria ter formado meu núcleo e despertado veio e se foi, e as preocupações de Arthur Leywin, Lança e regente de toda Dicathen, foram submersas pelos desejos de uma criança que estava rapidamente se tornando um menino. Às vezes, eu tinha ecos desconfortáveis de memória, como no meu quarto aniversário, quando pensei de repente que deveríamos estar nos mudando para Xyrus, mas esses pensamentos desapareciam tão rápido quanto surgiam. Depois de um tempo, não conseguia ter certeza se eram reais ou apenas pequenos sonhos meio esquecidos.

Eu estava perto do meu décimo terceiro aniversário quando mencionei essas estranhas memórias ao meu pai pela primeira vez.

Ele parou de varrer os juncos e me deu um olhar pensativo.

— Poucas pessoas acreditam nisso agora, mas alguns dos anciãos ainda falam sobre os velhos tempos. As pessoas costumavam pensar que seu espírito renascia em um novo corpo quando você morria. Acho que chamavam isso de reencarnação. Uma das coisas em que baseavam essa ideia eram esses tipos de memórias. Sabe, memórias que não parecem ser suas. — Com um encolher de ombros, ele voltou a varrer, puxando os juncos velhos em direção à porta.

Empurrei minha própria pequena pilha de juncos sujos pelo chão sem realmente limpar nada, pois minha mente não estava nem um pouco concentrada na tarefa.

— Mas às vezes eu me lembro… de magia.

Papai congelou. Eu estava olhando para ele pelo canto do olho, e seu rosto passou por várias expressões uma após a outra. A surpresa foi rapidamente ofuscada pela dor, que se derreteu em decepção antes de finalmente ser coberta por um sorriso dolorido.

— Não acho que isso seja tão estranho, Art. Todas as crianças sonham sobre serem magos.

Ele suspirou e encostou o ancinho na parede. Fiz o mesmo e depois caí contra ele. Ele me envolveu em um abraço carinhoso e me segurou.

— Sinto muito — murmurei contra o tecido áspero da camisa dele. — O quê? — Ele perguntou, pego de surpresa. — Está se desculpando pelo quê?

— Eu sei que você está desapontado porque eu não despertei. — Tentei manter minha voz firme enquanto falava, copiando o tom que ele usava quando ele e a mamãe estavam brigando, mas não queria que parecesse que estavam.

Ele ficou tenso, e o abraço se tornou estranho. Lentamente, ele me soltou, então colocou uma mão de cada lado da minha cabeça e me forçou a olhar em seus olhos.

— Escute, Art. Não estou desapontado com você. Não! — Ele acrescentou rapidamente quando tentei desviar o olhar, incapaz de acreditar nele. — Escute. Sinto muito se já dei essa impressão. Eu… — Ele parou e me soltou, lutando para se recompor.

Sua mandíbula se contraiu enquanto ele pegava o ancinho e começava a limpar o chão novamente. Embora eu tenha hesitado, segui seu exemplo depois de alguns segundos.

— Você não fez nada de errado, Art — continuou, a rouquidão em sua voz suavizando. — Se alguma vez pareci desapontado, não foi com você. Eu… eu queria tanto que você fosse um mago, e talvez eu esteja desapontado com a situação, mas nunca com você. Sei que talvez você não consiga ver a nuance agora, mas é importante que tente. Não quero que você cresça pensando que me decepcionou. Se há alguém… — Ele pausou enquanto varria uma grande pilha de juncos para fora da porta e se afastava para que eu fizesse o mesmo.

— Se há alguém que decepcionou, temo que tenha sido eu com você — concluiu, me observando com os olhos marejados.

Queria lhe dizer que ele não tinha falhado comigo, que eu o amava e que não era culpa dele, mas não consegui encontrar as palavras.

Ele limpou a garganta.

— Ei, por que estamos nos lamentando? Sua mãe e sua irmã só voltarão do mercado daqui a algumas horas. Por que não deixamos esses ancinhos de lado e pegamos as espadas de treino? — Seu rosto se iluminou, embora eu não pudesse ter certeza se era uma empolgação genuína ou apenas um bom fingimento. — Podemos terminar as tarefas depois.

Eu realmente não estava com vontade, mas assenti de qualquer maneira, sabendo que ele só estava tentando ajudar. Papai passou um braço ao redor dos meus ombros em um abraço de lado e me deu um empurrãozinho de volta para a porta da frente. Quando voltei com as duas espadas de treino nas mãos, já estava relaxando, deixando para trás os pensamentos sombrios de memórias estranhas e magia enquanto me concentrava na sensação do cabo envolto em couro em minhas mãos. Quando entreguei a espada para papai e nos movemos para o centro do quintal para nos aquecer, eu já quase havia esquecido de toda a conversa.

Eu não tinha medo de admitir que era bom em muitas coisas. Na verdade, em praticamente tudo o que tentei. Talvez não tivesse conseguido formar um núcleo, mas me adaptei a quase todo o resto com muita naturalidade. E o combate com espadas não era exceção.

Papai havia começado a me treinar desde cedo, e era tão natural para mim que eu o surpreendia constantemente com minha técnica — ou pelo menos era o que ele adorava me contar. Eu não me lembrava de tudo quando tinha apenas quatro ou cinco anos, mas sabia que sempre me sentia muito à vontade quando treinávamos, especialmente com espadas. Era como se todo o resto simplesmente desaparecesse, e eu podia me concentrar de verdade no que estava fazendo.

Enquanto me abaixava em um profundo alongamento lateral, percebi papai me observando pensativo, com as sobrancelhas franzidas em concentração. Ele desviou o olhar assim que olhei, e percebi que ele ainda estava pensando na conversa. Eu não deveria ter tocado no assunto, pensei, repreendendo-me. Sabia que papai era propenso a pensar demais e ficar emotivo. Eu precisava apoiá-lo. Eu não era mais uma criança para correr para meus pais sempre que as coisas parecessem difíceis. Já era quase um homem.

De pé, girei a leve espada de madeira.

— Está pronto, velhote?

Papai riu, surpreso, e mudou sua postura, apontando a ponta da espada para o meu rosto.

— Estou sempre pronto para te dar uma surra, garoto.

Sorrindo, fingi um avanço para frente, levando a um golpe por baixo de sua guarda. Ele moveu ligeiramente as mãos, colocando a lâmina em uma posição mais defensiva. Saltando com o pé direito, movi-me rapidamente para a esquerda e desferi um golpe rápido em direção à sua coxa. Ele recuou o pé direito para evitar o golpe e trouxe sua própria arma em direção ao meu ombro.

Caí em um rolamento para a frente, rapidamente revertendo a empunhadura da espada de treino para segurá-la mais firmemente contra o corpo. Apesar da velocidade dessa manobra, papai já tinha se virado e estava avançando quando me levantei novamente. Eu era mais jovem e mais rápido, mas ele tinha muito mais treinamento e o benefício da mana aumentando sua velocidade e força.

— A experiência sempre supera a juventude — disse ele com um sorriso, antes de lançar uma série de golpes rápidos.

Bloqueei cada um até o último. Sentindo o fim de sua investida, mergulhei abaixo do golpe final e direcionei minha lâmina para o chão entre seus pés. Interpretando erroneamente a direção do ataque como um golpe na canela, ele tentou recuar apenas para tropeçar na lâmina. Seus olhos se arregalaram, e ele se debateu de forma hilária enquanto perdia o equilíbrio e começava a cair para trás.

Corri para frente para dar o golpe “mortal”, mas o chão se moveu, sacudindo sob meus pés. Caí desajeitadamente, minha lâmina voando das minhas mãos enquanto tentava alcançar o chão para me apoiar.

— Trapaceiro! — gritei ao cair. A grama macia amorteceu minha queda sem dor, mas o impacto seguinte nas minhas omoplatas doeu muito. — Gah! — Rolei para longe de onde papai agora estava rindo no chão, sua espada de treino segura frouxamente em sua mão. — Nada de manipulação de mana no treino — reclamei, lutando para alcançar minhas costas e esfregar meus ombros. Sabia que o golpe ia deixar uma marca dolorosa.

— Eu tinha que responder àquela sua armadilha de alguma forma — disse ele despreocupadamente, rolando para o lado e apoiando a cabeça em uma das mãos. — Aquilo foi inteligente. Me pegou totalmente de surpresa.

— Você acha que sou bom o suficiente para ser um aventureiro, mesmo sem mana? — perguntei de maneira despreocupada. — Ou que eu poderia ser, algum dia? Ouvi de alguns

dos outros garotos que os membros mais jovens da Guilda dos Aventureiros têm a minha idade, ou até mais novos.

Papai se levantou e me ofereceu a mão. Eu a peguei, e ele me puxou para cima.

— Não seria algo inédito. Quero dizer, aventureiros não magos. Mas é bem raro, e eles nunca sobem mais do que a primeira ou segunda posição da classificação. O negócio é que bestas de mana são muito mais perigosas do que você pode imaginar. Entrar em uma masmorra sem mana para aumentar seus sentidos ou criar uma barreira ao seu redor é basicamente uma sentença de morte.

Quando minha expressão caiu, papai rapidamente acrescentou:

— Mas magos representam, o quê, um por cento da população de Sapin? Simplesmente não há magos suficientes para preencher cada posto de guarda ou formar um exército inteiro. Existem até torneios para lutadores não-magos. Você é bom, Art. — Ele sacudiu a terra das calças. — Bom até demais, talvez — acrescentou com um sorriso. — Você também é esperto. Muitos dos melhores cientistas e inventores do mundo não são magos. Não tenho dúvidas de que, seja o que for que você faça, será o melhor no seu campo.

Cocei a nuca e tentei esconder meu sorriso.

— Obrigado, pai, eu…

— Se você continuar trabalhando — disse ele, me interrompendo com uma piscadela. — Agora vamos lá. Chega de aquecimento. Vamos ver o que você realmente tem, Art.

Com sorrisos combinados, assumimos nossas posturas de prontidão antes de explodir mais uma vez em séries de golpes rápidos, paradas, esquivas e contra-ataques. Uma hora ou mais se esvaiu em um borrão de foco intenso. A luta só terminou quando meu pai de repente baixou a guarda e ficou rígido no meio da troca, resultando em um golpe certeiro atingindo seu braço superior.

Ele estremeceu, largou a espada de treino e esfregou o local enquanto simultaneamente dava um sorriso dolorido para minha mãe, que subia a estrada com as sobrancelhas erguidas.

— Ah, oi querida. Sua ida ao mercado foi rápida hoje.

Ela olhou para a porta da frente, onde uma pilha de junco sujo e dois ancinhos podiam ser claramente vistos.

— Você diz isso toda vez, Reynolds.

Ao lado da mamãe, Eleanor fez questão de revirar os olhos.

— Sim, papai. Toda vez!

Escondi um sorriso atrás da mão enquanto papai se apressava até a mamãe, lhe dava um beijo rápido e pegava a grande cesta cheia de mantimentos que ela estava carregando. Ele pisou de propósito no calcanhar do sapato de Ellie, quase o tirando do pé dela, e então me lançou um olhar inocente que me fez rir em um constrangimento infantil por causa da sua tolice.

— Bom golpe, Arthur — disse mamãe enquanto passava a caminho da casa. — Seu pai vai me implorar para curar o hematoma mais tarde, eu prometo.

Ellie riu alto, apontando para o papai.

— Eu não vou! — protestou papai, parecendo ofendido. — Sou um aventureiro e um mago, não um bebê que precisa que beijem seus machucados.

Ellie deu uma risadinha.

— Não sei, papai. Tem certeza? Diga “gu-gu da-da” só para termos certeza.

Mamãe sorriu e piscou para mim, então passou por cima da pilha de grama seca e fibrosa e entrou em casa. Ellie pulou atrás dela, pegou um ancinho e começou a mover o junco para fora da entrada para deixar papai passar.

Silhuetada pela porta, mamãe se virou e olhou para mim, com uma pequena ruga entre as sobrancelhas.

— Você vai entrar, Art?

Percebi que estava olhando para mamãe, papai e Ellie, os três reunidos ao redor da porta da nossa casa. Uma memória distante ressurgiu, e vi o corpo do meu pai deitado no chão, rasgado por alguma besta e coberto de sangue. Depois foi Ellie, com uma lança vermelha perfurando seu corpo. E finalmente mamãe… minha mãe, me olhando com uma expressão de choque que se transformava em uma descrença furiosa.

— Irmão?

Sacudi um pouco a cabeça e a visão clareou. Vi novamente meus pais e minha irmã, todos me olhando com preocupação. A visão deixou um nó na minha garganta, e de repente me perguntei se havia sido atingido mais força do que pensava durante meu treino com papai.

— Estou aqui. Eu só… — Tive que parar para limpar a garganta. — Estou indo.

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