Volume 10 - Capítulo 389
The Beginning After The End
ARTHUR LEYWIN
As marcas violetas do Realmheart queimavam em minha pele enquanto me concentrava na runa divina. Agora que eu podia mais uma vez ver e sentir mana, me senti conectado ao espaço físico ao meu redor de uma maneira que não sentia desde que acordei nas Relictombs.
O cheiro de suor e ozônio, a visão de partículas de mana rolando e caindo do núcleo da Mica, o som da respiração pesada de Bairon e até mesmo o peso do meu próprio corpo sendo puxado pela gravidade, tudo se embrulhou em uma tapeçaria entrelaçada de sensações.
Concentrei-me na mana ao longo dos braços de Mica enquanto ela corria com o enorme martelo que balançava com suas duas mãos. O martelo engrossou e endureceu, inchando para se tornar ainda maior. O som do trovão soou pela caverna e o martelo se estilhaçou, explodindo em um milhão de fragmentos parecidos com facas.
Mica rolou sob uma lança de relâmpago quando os fragmentos de pedra estremeceram até parar no ar, até que ela se virou e voltou para seu alvo. Uma estática crepitante estremeceu no ar e as pedras se magnetizaram, se aproximando e desviando do curso. As poucas que conseguiram chegar a Bairon explodiram contra sua barreira de mana.
Ao meu lado, atrás de uma camada de gelo transparente que nos protegia de qualquer feitiço perdido, Varay se mexeu. Seus olhos estavam meio fechados enquanto ela se concentrava mais em sentir os núcleos das duas lanças e a força de sua manipulação de mana do que os aspectos físicos da luta deles. “Seus núcleos parecem fortes, quase revigorados.”
Mordi minha língua ao ouvir a fala dela e pensei, É verdade que eles quase voltaram a sua força total, mas…
‘A força vital deles mal chegou no nível de um asura criança,’ Regis interrompeu, olhando de seu canto, desinteressado da luta.
O ar na sala ficou pesado quando a gravidade aumentou. Ficando enfurecido, Bairon se esforçou contra o peso maciço de seu próprio corpo, que ameaçava prendê-lo no chão. A areia estava girando ao redor dele e endurecendo em pedras que imediatamente voaram em sua direção.
Outro trovão sacudiu a caverna de treinamento, uma mana de atributo relâmpago tremeu e brilhou em minha visão Realheart.
As pedras começaram a tremer, mas não se racharam, suas formas eram indefinidas, e então o atingiram. Em vez de rocha sólida destinada a esmagar e espancar, as pedras explodiram em Bairon como lama, ou talvez areia movediça, grudando nele da cabeça aos pés. O núcleo de Mica novamente vibrou com a liberação de mana e a areia se tornou pedra, endurecendo em torno de seu corpo.
Os olhos de Bairon se dilataram e o cabelo em sua cabeça ficou em pé.
Um manto de relâmpago se enrolou ao redor dele e o estalo do trovão estremeceu através da camada de areia, fazendo com que ela explodisse antes que pudesse endurecer completamente.
Um raio se espalhou como uma rede pelo chão ao redor de seus pés, criando muitos relâmpagos individuais que se ergueram do chão para destruir os pedaços de pedra que a Mica tentava controlar, incluindo o martelo que se formava novamente em sua mão.
A eletricidade, visível como fluxos de mana amarela brilhante, subiu pelo braço de Mica, fazendo com que seu punho espasmasse e apertasse o martelo. Seu olho se arregalou quando seus músculos foram rapidamente paralisados pela sobrecarga de energia elétrica. Mas mesmo quando ela de repente inverteu a gravidade e fez Bairon cair em direção ao teto, não foi o suficiente para quebrar seu feitiço.
Com o Impulso do Trovão ativo, Bairon foi capaz de reagir com velocidade quase instantânea. Ele girou no ar, estabilizou-se de modo que estava pairando de cabeça para baixo e ativou a rede de raios queimando no chão.
Cada tendão individual de energia elétrica formou um pequeno raio e atingiu uma direção aparentemente aleatória, ricocheteando nas paredes e no teto para criar um turbilhão caótico de relâmpagos enchendo a caverna.
A mana parecia tão próxima, como se eu quase pudesse tocá-la. A memória muscular ainda estava lá e ela se contraia enquanto eu observava a luta, como um soldado sem um braço tentando levantar o braço perdido para evitar um golpe.
Com um suspiro, olhei para o braço de gelo conjurado de Varay. Um fluxo fino, mas constante de mana do atributo de gelo desviante escorria de seu núcleo para o braço, mantendo sua forma. Se ela pudesse usar mana para duplicar o efeito de ter um braço físico, havia uma maneira de eu também replicar o que perdi?
Uma névoa de areia fina subiu preenchendo a caverna, absorvendo a eletricidade e anulando o feitiço de Bairon. Um novo martelo estava crescendo na segunda mão de Mica, este formado de ferro opaco. A mana de relâmpago que paralisava seus músculos foi puxada para fora dela e foi jogada para dentro do martelo metálico. O cabelo de Bairon caiu, sinalizando o fim do feitiço Impulso do Trovão e a Mica arremessou o pedaço de ferro infundido com raios em Bairon. Ao mesmo tempo, a gravidade mudou novamente e desta vez ele foi golpeado para trás na parede mais próxima.
Concentrei-me em como o éter atmosférico reagiu, ou não reagiu, à mana. Parecia ignorar completamente a mana, enquanto ao mesmo tempo sempre se encaixava no espaço não ocupado pela mana. Não estava nem evitando nem moldando a mana, não realmente. Era mais preciso pensar nas duas forças como se estivessem se moldando, como um riacho de montanha seguindo suas margens depois de ter se formado através da erosão.
No entanto, como a metáfora da água e do copo, essa ideia não conseguiu explicar adequadamente a relação entre as duas forças.
Preso contra a parede, Bairon não conseguiu reagir a tempo de evitar o martelo de metal eletrizado de Mica. Bateu nele e ele estava perdido em uma nuvem de poeira e detritos.
As partículas de mana visíveis desapareceram quando parei de usar o Realmheart.
“Bairon?” Disse Varay, saindo por trás da camada protetora de gelo transparente.
Uma tosse seca veio da poeira, então a silhueta de Bairon apareceu, ligeiramente curvada. Ele se endireitou e estalou o pescoço enquanto caminhava para o lugar aberto. Atrás dele, a poeira desapareceu, revelando um buraco na parede da caverna com vários metros de profundidade. “Lutou bem, Lança Mica. Estou quase no meu máximo. Você também parece estar.”
Mica flexionou o braço que ainda segurava seu martelo enorme. “Mica se sente muito melhor, sim.”
As lanças estavam tensas a ponto de reagir durante sua luta com Taci, com feridas que deixariam uma marca para o resto de suas vidas. Embora as crostas ao redor do olho de Mica já tivessem caído para revelar cicatrizes brilhantes por baixo, o próprio olho nunca se curaria.
O braço de gelo mágico de Varay e a pedra de ônix descansando pesadamente na órbita ocular de Mica permaneceriam com eles como lembretes gritantes de suas quase mortes, mas para mim, eram algo totalmente diferente.
As quatro lanças juntas não foram capazes de derrotar Taci. Aya sacrificou sua vida apenas para atrasá-lo. E Taci era apenas um garoto pelos padrões asurianos. Como eu poderia esperar que eles ficassem contra pessoas como Aldir ou Kordri, muito menos Kezess e Agrona?
A verdade era que estávamos nos preparando para uma guerra contra divindades, mas já tínhamos perdido uma guerra contra os homens e nossos magos mais poderosos não cresceram em força, pois não queriam, mas só não conseguiram.
‘Ainda tem o Destino.’ Regis me lembrou. Talvez eles não tivessem que lutar se voltássemos para as Relictombs.
Ou, quando voltarmos, pode não haver mais um mundo para salvar, pensei, sentindo uma melancolia sombria rastejando para superar meu humor.
Em vez disso, me virei para as lanças e forcei um sorriso no meu rosto. “Então, Bairon, como Mica conseguiu vencer com apenas um olho?”
Uma carranca brilhou no rosto de Bairon, mas rapidamente se transformou em um sorriso irônico enquanto ele observava minha expressão. “Bem, você sabe como ela fica mal-humorada quando você não a deixa ganhar.”
Mica bateu o pé e cruzou os braços, fazendo-a parecer mais infantil do que nunca. “Você me deixou ganhar, né? Talvez se você fosse mais versátil, Bai, você não teria sido enterrado três metros na parede.”
Eu ri e senti a amargura me deixando. Mesmo um lado dos lábios de Varay se contorceu em algo que quase parecia um sorriso.
“Estou curioso, o que você estava fazendo com as gavinhas relâmpago enquanto estava sob os efeitos do Impulso do Trovão?” Perguntei. “Não consegui acompanhar os micros movimentos nas suas reações rápidas.”
A cabeça de Bairon se virou ligeiramente para o lado enquanto me olhava surpreso. “Você percebeu? Mas como? Eu…” Ele se cortou com uma risada incrédula. “Não importa, nada do que você faz me surpreende mais. Quanto à sua pergunta, posso estender meus sentidos através da mana de relâmpago ao usar o Impulso Trovão.”
“Então, você até melhorou o meu feitiço. Impressionante.”
Mica bufou. “Se você vai ser um guerreiro de um golpe só, é melhor que seja um bom golpe.”
“Talvez sua cabeça tenha crescido demais para seu corpo pequeno,” disse Bairon, flexionando as mãos e fazendo a eletricidade pular entre os dedos. “Acho que você quer uma revanche e não está sabendo como pedir.”
“Na verdade”, Varay interrompeu, erguendo as sobrancelhas para mim, “Estou esperando que o Arthur me chame para lutar comigo. Faz muito tempo desde que lutamos. Sei que falo por nós três quando digo que gostaríamos de ver mais de perto suas novas capacidades.”
Pensei nisso, depois balancei a cabeça. Embora eu soubesse que precisava ajudar as lanças a ficarem mais fortes, de alguma forma, não achava que treinar era o melhor caminho. “infelizmente não vai dar. Estou esperando o Gideon por algo e gostaria de verificar seu progresso.”
“Entendido”, respondeu ela. “Suponho que devo verificar com os Lordes Earthborn e Silvershale as alterações defensivas que estão fazendo na cidade.” Eu podia sentir a hesitação escondida na voz de Varay. Quando lhe dei um sorriso irônico, ela suspirou. “A briga deles é cansativa.”
Rindo, eu disse “Bem, boa sorte com isso.” Me despedi das três lanças, depois comecei a descer o longo túnel de volta a Vildorial, onde dei várias voltas na cidade para chegar ao Instituto Earthborn. Regis caminhou silenciosamente atrás de mim.
O portão da escola estava sendo vigiado, mas os anões só observavam cautelosamente enquanto passávamos. Os corredores de pedra esculpida da escola zumbiam com o estrondo constante de máquinas, ocultando qualquer barulho que o laboratório de Gideon pudesse ter feito e, eventualmente, tive que pedir instruções a um membro do corpo docente que passava para localizá-lo.
Isso me levou as partes mais profundas da escola, onde os corredores eram simples e sem adornos, parecendo mais uma prisão do que uma instituição educacional. Portas de pedra pesadas alinhavam-se em ambos os lados do corredor em intervalos regulares à minha direita, enquanto as da esquerda estavam muito mais espalhadas. Encontrei o que procurava no meio do corredor.
A porta estava parcialmente aberta, um fato que provavelmente tinha algo a ver com o calor seco e o fedor ardente que estava viajando para o corredor, e a voz áspera de Gideon vindo junto.
“Tá, vamos do início. Emily, você tem escrito tudo isso?”
“Escrever o quê? Não descobrimos nada de novo faz horas” disse ela, seu tom provocadoramente insubordinado.
“Não fala assim comigo, garota, só… escreve tudo o que eu disser.”
“Sim, senhor”, ela respondeu com seu revirar dos olhos praticamente audível do corredor.
Entrei pela porta e me inclinei contra a moldura, mas não anunciei minha presença. Regis colocou a cabeça ao meu lado. ‘Isso aqui tá fedendo a bunda queimada.’
Gideon e Emily estavam ao lado de uma mesa de metal coberta com uma capa de couro esfarrapada e chamuscada. Vários artefatos de iluminação pairavam sobre a mesa, lançando uma luz brilhante sobre vários artefatos que haviam sido cuidadosamente dispostos em cima dela.
“A gente sabe—”
“Pensa”, Emily interrompeu.
“— que o cajado de obsidiana é o principal dispositivo usado na “cerimônia de concessão”, um ritual usando esses artefatos para conceder “runas” aos magos alacryanos —”
“Moldes de Feitiços”, disse Emily.
“— mas simplesmente canalizar mana para o cajado não causa uma reação imediata.”
Descansando longitudinalmente sobre a mesa havia um cajado de obsidiana, assim como o que eu tinha visto ser usado na cidade de Maerin durante a cerimônia de concessão. A gema na ponta brilhava em verde, amarelo, vermelho e azul. Não visível a olho nu, mas claro como o dia para mim, era a concentração de partículas etéricas contidas dentro do cristal.
Curioso, ativei o Realmheart.
O calor inundou minhas costas, ao longo dos meus braços e sob meus olhos quando a runa divina se iluminou. O mundo ao meu redor mudou quando a mana se tornou visível. A mana da terra se agarrou às paredes de pedra, ao chão e ao teto. Turbilhões de mana do atributo de vento foram jogados nas correntes sutis que se afastaram de onde a mana de fogo ardia em um par de forjas de fogo baixo construídas em uma parede.
Emily ficou tensa e pude ver os arrepios se formando em seus braços do outro lado da sala. Ela virou-se para a parede. “Arthur, o que…?”
Gideon se virou um segundo depois. Ele olhou para mim, a cabeça levemente inclinada para o lado. “Você vai a uma festa, garoto?”
Sorri com a piada, mas meu foco estava no cajado: partículas de mana densamente embaladas deram-lhe seu brilho e, mesmo sem serem ativadas, parecia estar atraindo mais mana em direção a si mesma em um gotejamento lento.
Mana se agarrou aos outros itens da mesa também, mas ser capaz de sentir isso não me deu nenhuma ideia nova, então parei de canalizar éter na runa divina. As partículas de mana desapareceram até ficarem mais uma vez invisíveis e minha capacidade de senti-las sumiu.
Pisquei algumas vezes enquanto meus olhos se ajustavam à mudança na minha visão. “Então, parece que a pesquisa não tem sido muito produtiva?”
Gideon e Emily trocaram olhares e ele coçou as sobrancelhas meio franzidas. “É difícil montar um quebra-cabeça quando você não sabe o que diabos é suposto parecer”, ele resmungou, acenando com a mão para os artefatos. “Talvez se você tivesse nos agraciado com sua presença um pouco mais cedo…”
“Bem, estou aqui agora”, falei enquanto atravessava a sala até a mesa. “E eu trouxe um assistente de pesquisa.” Apontei para o Regis, que se levantou para colocar as patas da frente na mesa. “Compreender essa tecnologia é essencial se quisermos nos igualar aos alacryanos, para lutar contra os asuras é outra história.”
“Você é bem implicante”, disse Gideon ironicamente, seu olhar consternado no lobo das sombras olhando pensativo para os artefatos. “Eu acho”, ele deu a Emily um olhar afiado, “que as runas tecidas nas vestes cerimoniais têm algo a ver com a ativação do cajado. Como uma chave. Mas há uma sequência para as runas que não é imediatamente óbvia e eu não quero apenas experimentar cegamente as coisas. Alguém pode se machucar, ou pior, podemos destruir as vestes por acidente.”
As sobrancelhas de Emily se ergueram enquanto ela ouvia seu mentor. “Suas prioridades parecem estar fora de alinhamento”, ela murmurou.
“Não sei, acho que concordo com o Professor Sem Sobrancelhas”, disse Regis sem jeito, provocando uma risada de Emily. “As vestes são definitivamente necessárias.”
“Obrigado, eu acho”, Gideon resmungou.
“Suas memórias de Uto contêm alguma coisa útil sobre a concessão?” Perguntei.
As sobrancelhas de tremoço de Regis se entrelaçaram enquanto ele lutava para analisar a mistura de pensamentos e memórias que originalmente se combinavam para lhe dar consciência. “Uto tinha visto cem concessões, geralmente oficiais de alto escalão ou de alto sangue. Mas apenas os funcionários que realmente realizam a cerimônia, e suponho que os Instiladores e Vritra que projetaram as coisas, são ensinados os detalhes.”
“E nada no livro ajudou?” Perguntei ao Gideon.
Ao lado das vestes negras cerimoniais descansava um tomo bem gasto. Gideon estendeu a mão e abriu uma página aleatória. “É um catálogo das muitas marcas, emblemas e afins, que foram transmitidos por esta equipe em particular. É algo incrível, mas não ajudou em nada para usar essa coisa.”
“Acho que era demais esperar que viesse com um manual de instruções”, eu disse.
O focinho de Regis enrugou. “Acho que você está tentando ser engraçado, mas isso meio que derrotaria o propósito de ter um ritual super secreto.”
“Ah, então ele te insulta, também”, disse Gideon, dando a Regis um olhar confuso. “Eu estava preocupado que tudo fosse apenas você se empanturrando com sua invocação e estava me perguntando o que fiz de errado.”
“Não tô insultando ninguém”, Regis respondeu defensivamente. “Falo o que eu quero.”
Foco, disse telepaticamente para Regis, depois voltei minha atenção para os artefatos.
O anel dimensional preto liso dado a mim pelo Alaric também estava na mesa. Ao lado dele, um colar de pequenas miçangas havia sido disposto em uma pilha enrolada entre o anel e o livro. As miçangas eram amarelo-branco opaco e eu imediatamente pensei que elas pareciam ossos.
“Elas são…”, disse Regis seriamente, as chamas de sua juba se contorcendo em agitação. “Os ossos esculpidos de djinn cujos restos foram roubados das Relictombs.”
Cuidadosamente peguei o artefato e deixei as miçangas caírem através dos meus dedos. Os sulcos fracos mal eram visíveis distorcendo a superfície do osso liso. Forcei minha visão e injetei éter em meus olhos. Embora a maior parte fluísse na direção que indiquei, parte do éter escapava, sendo atraído em direção ao colar.
Pensei ter entendido o motivo.
“Essa tecnologia deve ter sido agregada dos djinn e requer alguma pequena capacidade de canalizar éter”, falei, rolando uma miçanga entre meus dedos.
“Não entendi”, disse Emily, olhando de mim para Gideon.
Coloquei o colar cuidadosamente de volta na mesa.
Regis se inclinou e cheirou o osso velho. “A maioria dos avanços tecnológicos de Alacrya veio da pesquisa dos Vritra nesta interminável dungeon cheia de monstros chamada Relictombs. Metade túmulo, metade carnaval assustador, mas um armazém completo de conhecimento antigo, entende? Porém, os djinn usavam éter, que os alacryanos não podem usar. Essas miçangas de djinn mortos atraem éter.”
“O que deve simular a capacidade de manipulação direta”, sugeriu Gideon. Ele pegou as vestes e as sacudiu, depois começou a traçar as runas bordadas no forro interior com a ponta do dedo. “Não sou totalmente fluente em runas e sei que são complexas, mas acredito que a veste serve a um propósito semelhante, apenas para mana.”
Puxei um canto do tecido para dar uma olhada melhor. “Você tem razão. Aposto que estas vestes permitem canalizar todos os quatro tipos de mana elementar. Não de um feitiço quadra-elementar, mas o suficiente, em conjunto com o colar, para ativar um dispositivo que requer terra, ar, fogo, água e éter para ser usado corretamente.”
Ele começou a bater as pontas de seus dedos na mesa. “Parece desnecessariamente complicado.”
“Mas talvez isso seja proposital”, sugeriu Emily, seu rosto se iluminando. “Pensa comigo. Se a força mágica fosse tão simples quanto acenar em torno de um artefato”, ela apontou para o cajado, “Então, quem controla essa concessão, controla tudo.”
“E a primeira lição dos estudos dos megalomaníacos é que eles não gostam de compartilhar o poder”, respondeu Regis.
Consegui entender a linha de pensamento de Regis e continuei. “As concessões permitem que Agrona crie magos e aumente a pureza de seus núcleos com pouco esforço, mas a mesma tecnologia permitiria, por exemplo, que um de seus soberanos fizesse o mesmo em um esforço para desafiá-lo.”
Gideon soltou um zumbido pensativo e se inclinou sobre a mesa, olhando para o cajado. “Ao controlar quem entende como as peças se encaixam e limitar o acesso aos artefatos secundários, você mantém o controle do processo.”
“Porém…” Emily mordeu o lábio hesitante. “Se os artefatos tiverem a chance de serem simplesmente roubados…”
“Ah, claramente existem meios secundários de proteção”, disse Regis, pulando da mesa. “A ignorância cuidadosamente fabricada é apenas uma parte dela. A ameaça de uma morte horrível por si só é suficiente para a maioria. Mas aposto meus chifres que há algum tipo de prevenção ou armadilha tecida em toda essa tecnologia para qualquer um que tente roubá-la e usá-la contra Agrona.”
Ficamos em silêncio por um momento enquanto considerávamos esse pensamento.
Então, o silêncio se quebrou quando uma explosão sacudiu as paredes e trouxe trilhas de poeira do teto.
A juba de fogo de Regis se eriçou quando nos viramos para a porta. A fumaça cinza alaranjada estava enchendo o corredor do lado de fora.
Gideon riu. “Não se preocupe, são apenas os novos experimentos que vou mostrar a vocês.”
Sem esperar que eu reconhecesse suas palavras, Gideon saiu para o corredor e foi em direção à fonte da explosão. Emily encolheu os ombros e gesticulou para que seguíssemos. Regis e eu trocamos um olhar, hesitantes em deixar a veste e o colar, dadas as implicações que acabamos de ultrapassar, mas seguimos Emily depois que ela trancou a porta do laboratório atrás de nós.
Não muito longe do corredor, uma espessa fumaça vermelho-laranja escorria de um conjunto de pesadas portas de pedra. Dentro, dois magos anões estavam usando o que parecia ser capas queimadas para afastar a fumaça.
Eles empalideceram quando notaram Gideon encostado no batente da porta. “É… desculpe, senhor, uma faísca de uma das armas acabou em um copo de espíritos de nitro.”
Gideon estava com um sorriso largo em seu rosto e respirou fundo a fumaça nociva que estava começando a se dissipar. “Vocês não conseguem fazer nem um arroz sem explodir tudo?!”
Regis caiu na risada. “Tô começando a gostar desse cara.”
Emily cedeu cansada. “Ótimo, é como se houvesse dois deles…”
O velho inventor acenou para que entrássemos na sala, depois praticamente correu pelo laboratório até um segundo conjunto de grandes portas. “Os protótipos não estão completamente estáveis, como você pode ver, mas realmente acho que você vai gostar do que estamos fazendo.”
Ele abriu as portas, revelando uma câmara muito maior. Parecia uma zona de guerra. As paredes de pedra nuas estavam escuras e chamuscadas em vários lugares. Ao longo de uma parede, uma mesa de metal com marcas de corte continha um punhado de dispositivos de aparência estranha.
“Tcharam!” Gideon estendeu os braços, sorrindo para o arsenal.
Andei até a mesa e olhei para uma série de dispositivos longos e tubulares que pareciam vagamente como um cruzamento entre um mosquete antigo e um lançador de foguetes moderno do meu velho mundo. Apenas estes também foram inscritos com uma série de runas de canalização de mana. “É o que realmente estou pensando?”
“Se você está pensando que são armas capazes de converter energia de sais de fogo anão em explosões destrutivas capazes de incinerar até magos de núcleo amarelo, então sim, absolutamente”, disse Gideon, esfregando as mãos e sorrindo como um gênio do mal do livro de histórias.
“Teoricamente,“ Emily murmurou, olhando para as armas com clara aversão.
“Dei o nome de Canhões de Runa”, acrescentou Gideon, alheio à hostilidade de Emily.
“Quero um”, disse Regis imediatamente, a língua pendurada em sua boca. “Não, quero dois. Rápido, Arthur, amarra nas minhas costas, bora, bora!”
“Eles ainda não estão aperfeiçoados, mas quando estiverem…”
“Por ‘não aperfeiçoado’, ele quis dizer que estão instáveis e ainda requerem a presença de magos capazes de canalizar fogo e vento”, apontou Emily. “Eles são difíceis de usar e incrivelmente perigosos…”
“Olha, essa é inteiramente a questão, né?” Gideon retrucou, olhando para sua assistente. “E essas vestes da concessão realmente me deram uma ideia de como poderíamos usar cristais de mana e runas de foco para corrigir o problema do mago. A ideia é que, com o treinamento certo, qualquer pessoa possa usá-los.”
Embora eu quisesse planejar vencer esta guerra, entendia muito melhor do que Gideon os amplos efeitos de sua invenção, bem como as barreiras ao seu uso. Minha hesitação deve ter aparecido no meu rosto, porque a animação de Gideon desapareceu. “O que foi?”
Decidi há muito tempo não ser o filtro através do qual a tecnologia dicatheana era retida ou escalada, mas não conseguia segurar minha língua. “Estava pensando no Dicatheous.”
Emily cruzou os braços e lançou a Gideon um olhar justificado. “Viu?”
Ele fez beicinho e chutou o chão com o dedo do pé. “Acha que não pensei nisso? Com as devidas prevenções…”
“Mas e o treinamento?” Perguntei, interrompendo-o. “Fabricação? Distribuição? Você está falando sobre mudar completamente a maneira como Dicathen se aproxima da guerra.”
Gideon se inclinou contra a mesa e começou a bater os dedos em sua superfície. “Sei disso, mas para equilibrar a dinâmica de poder entre Dicathen e Alacrya, bem como magos e não magos, uma mudança em grande escala é necessária e justificada, né?”
“Parece um pouco hipócrita se preocupar em colocar armas nas mãos de não magos em um mundo onde seres únicos são capazes de exterminar reinos inteiros”, acrescentou Regis.
“Exatamente”, disse Gideon, batendo forte na mesa.
Pensei nos canhões de runa, considerando as palavras de Regis e Gideon. Talvez houvesse uma maneira de utilizar as descobertas dele sem entregar armas para soldados não treinados que literalmente poderiam explodir suas cabeças com isso.
“Me diga mais coisas sobre isso”, eu disse. “Especialmente sobre os sais de fogo.”
O inventor excêntrico iniciou uma explicação rápida de suas muitas descobertas e muitos, muitos experimentos que o levaram a esta invenção, e enquanto ele falava, uma ideia cresceu em minha mente.
Gideon estava certo, no entanto. Nós precisávamos de uma maneira de tornar nossos soldados não-magos mais eficazes.
Quando abri a boca para explicar a ideia, outra explosão sacudiu os túneis subterrâneos, esta maior e mais distante. Dei a Gideon um olhar interrogativo.
Ele se virou de mim para Emily e depois voltou. Seu rosto ficou pálido. “Dessa vez não é algo meu.”