Capítulo 168

A floresta tremia sob o rugido da artilharia. O conto de fadas sombrio e distorcido ardia violentamente nas chamas demoníacas. As matilhas de lobos que surgiam das sombras eram despedaçadas e derrubadas, uma após a outra. A área inteira foi rasgada à força pela pura violência; as árvores exuberantes, como frágeis mudas, foram ceifadas em um piscar de olhos, abrindo uma ampla avenida.

O esquilo olhava para tudo aquilo, atordoado. Escondido no capuz de Chapeuzinho Vermelho, seu corpo tremia. A luz do fogo que subia aos céus na floresta refletia em seus olhinhos pretos e brilhantes, uma cena que parecia derreter todo o firmamento.

Não era assim, nunca tinha sido assim.

Investigar, esconder-se, mover-se, esgueirar-se, e depois se esconder novamente, movendo-se para o próximo abrigo seguro. Por muitos anos, essa foi a única maneira da Chapeuzinho Vermelho sobreviver na Floresta Negra. Essa mata densa e maliciosa nunca permitiu que suas presas fizessem algo fora das “regras”, e as próprias presas desafortunadas nunca tiveram a força para resistir a essas regras.

Nunca algo assim havia acontecido — a presa despedaçando a matilha com sangue e fogo, abrindo um caminho à força na floresta.

O esquilo não gritava mais. Ele apenas olhava, atônito, como se seu pequeno cérebro não aguentasse mais a sobrecarga. O que acontecia diante de seus olhos o privou da capacidade de pensar e julgar.

Chapeuzinho Vermelho, por sua vez, sorria. Um sorriso alegre e relaxado como nunca antes. Quando os uivos dos lobos soavam, o medo ainda brotava em seu coração. No entanto, a barragem de fogo de raposa que varria seu campo de visão, os mísseis de cauda de raposa que cruzavam o céu e o cajado feroz que ela via brandindo no canto do olho traziam-lhe outra emoção. Uma excitação e um prazer estranhos, desenfreados e indulgentes atacavam repetidamente aquele medo, convergindo para um arrepio que ela mesma não conseguia explicar.

Ela não sabia se estava com medo, feliz, ou simplesmente desabafando. Só sentia que era bom, mesmo que fosse apenas uma vez na vida, era bom.

Ela odiava aquele lugar, e só queria vê-lo queimar.

Yu Sheng virou a cabeça ligeiramente, capturando o sorriso no rosto da garota de vermelho e o brilho em seus olhos.

‘Que bom, as crianças deveriam enlouquecer de vez em quando. Ela nem fez dezoito anos ainda, não precisa agir como um adulto, ponderando cada passo.’

As coisas que exigiam ponderação poderiam ser deixadas para os adultos de verdade.

Ele flexionou o pulso, girando o cajado de vergalhão soldada com lâminas, pregos e cacos de aço, aliviando os músculos dormentes e doloridos.

A arma era muito eficaz. Quando brandida com toda a força, esmagava facilmente as cabeças dos lobos. Os monstros que saíam das sombras se tornavam sólidos ao atacar, o que deu a Yu Sheng uma ótima oportunidade de se destacar. Agora, muitos lobos haviam se tornado cadáveres com os crânios estourados, caídos na avenida em chamas da floresta.

Alguns dos cadáveres já estavam se levantando cambaleantes, vagando cegamente pela floresta, à espreita para morder outras matilhas de lobos que surgiam das sombras.

Yu Sheng e eles estavam conectados pelo sangue.

E era através desse sangue que se espalhava que Yu Sheng conseguia perceber claramente as mudanças na Floresta Negra.

A floresta ainda não podia ser considerada em chamas. Comparado a esta floresta sem fim, o fogo aceso pelo fogo de raposa era, na melhor das hipóteses, uma chama insignificante.

Inúmeras matilhas de lobos estavam surgindo da escuridão mais distante. O número era infinito, a malícia aumentava em tempo real, e a velocidade de eliminação estava longe de acompanhar a velocidade de seu crescimento.

O maior Lobo Mau não foi eliminado. Embora, no momento em que os dezesseis mísseis Rapo-cenoura atingiram o solo, Yu Sheng tenha sentido por um instante que o olhar do Lobo Mau havia se dissipado, pouco depois, ele percebeu que a presença do lobo estava renascendo rapidamente. O monstro, originado do conhecimento e do medo mais profundo da Chapeuzinho Vermelho, podia reaparecer incondicionalmente e infinitamente na Floresta Negra. E agora, renascido, ele se aproximava lentamente.

O volume deste pesadelo era grande demais, tão grande que nem mesmo um incêndio conseguiria queimá-lo por completo.

E Chapeuzinho Vermelho não sabia disso. Talvez, depois de se acalmar, ela pensasse nisso, mas agora ela estava claramente imersa na alegria de ver a Floresta Negra em chamas.

‘Então que ela continue feliz. As crianças deveriam estar felizes.’

Yu Sheng soltou um suspiro leve, mas a expressão animada e alegre em seu rosto não diminuiu nem um pouco.

Ele ainda podia causar mais confusão por um tempo. E com tanto barulho… o Caçador, escondido em algum lugar, certamente já havia notado. Se ele tivesse ao menos um pingo de “razão”, deveria estar bastante interessado nesse grupo de intrusos barulhentos.

A pequena cabana de madeira iluminada apareceu no final do campo de visão.

“Olhem! A cabana!”, Yu Sheng ergueu o Cajado do Tétano, coberto de sangue, e apontou para a pequena cabana de madeira de aspecto fantástico. “Vamos dar uma olhada!”

Ele caminhou a passos largos.

O fogo demoníaco azul-fantasmagórico se estendia sob seus pés, árvores altas e retorcidas caíam com um estrondo ao seu lado, o assobio agudo dos mísseis de cauda de raposa perfurava o céu. O crepúsculo havia desaparecido em algum momento, e a noite refletia a luz do fogo que subia aos céus. Ondas e mais ondas de lobos surgiam da escuridão, apenas para serem repelidas repetidamente pela densa barragem de Hu Li.

“Benfeitor! Estou começando a não dar conta!”, Hu Li começou a sentir o esforço. Algo estava errado, e ela gritou para Yu Sheng. “E os novos lobos são mais difíceis de matar do que os de antes! Vários golpes não os derrubam!”

“Não se preocupe, chegamos.”

Disse Yu Sheng sem se virar. Mal terminou de falar, e ele já havia entrado no alcance da luz quente que emanava da janela da cabana.

Em um piscar de olhos, os uivos dos lobos ao redor diminuíram.

A matilha começou a recuar rapidamente. Mesmo os lobos que já haviam se materializado e se aproximado, ao entrar no alcance da cabana, rapidamente voltaram a ser sombras e se dissiparam na luz.

Hu Li, ofegante, abraçava suas grandes caudas, uma em cada mão, com muitas chamas de raposa flutuando ao seu redor, enquanto observava a cena com espanto.

O esquilo colocou a cabeça para fora do ombro da Chapeuzinho Vermelho. Ele olhou com os olhos arregalados na direção de onde vieram, depois se virou para a pequena cabana de madeira que se erguia silenciosamente no final do caminho de fogo, soltando um som de lamento e pavor: “O que mais vai acontecer—”