Terramar: O Mar Encoberto

Capítulo 1049

Terramar: O Mar Encoberto

Preciso de um navio e suporte logístico suficiente. pensou Lily. Afinal, seu destino ficava em águas distantes e desconhecidas. Ela era extremamente poderosa, podia-se dizer que atingira o auge do que um humano poderia alcançar, mas ainda assim relutava em desprezar a cautela diante daquele misterioso e surreal cenário marítimo.

Não era viável para ela atravessar mais de mil quilômetros sozinha. Técnicamente, poderia até tentar, mas morreria ao menor deslize na jornada.

Não posso morrer agora. O Sr. Charles precisa da minha ajuda. pensou Lily.

"Preciso de um navio, de uma embarcação de exploração como o Narwhale do Sr. Charles," disse Lily a Mithila. Se nada mais, Sottom certamente tinha um ou dois navios utilizáveis. Afinal, era uma cidade-isolada que também funcionava como um navio.

Mithila não tinha motivo para recusar. Assim que as ordens do Rei foram transmitidas, alguém apareceu rapidamente diante deles.

Era um homem calvo, corpulento, com barba desgrenhada. No geral, parecia desleixado e mal cuidado, mas para piorar, deu um gole grande na garrafa de licor que carregava antes de olhá-la descaradamente de cima a baixo.

O homem calvo e robusto exalava um cheiro azedo que fez Lily franzir o cenho, mesmo estando a vários metros dele. Claramente, o sujeito não tomava banho há vários dias.

"Ele se chama Klaus, e é um Explorador qualificado, com muita experiência. Parece que a sorte está do lado dele, pois sobreviveu a inúmeras expedições," disse a 134 para Lily.

Após a apresentação, 134 virou-se para Klaus e disse: "Ela é sua empregadora. Será uma missão de exploração, e ela te acompanhará o tempo todo."

Ao ouvir aquilo, Klaus imediatamente franziu a testa. "Uma mulher não serve, especialmente uma tão bonita quanto ela. Uma mulher bonita como ela a bordo é como carregar uma bomba-relógio."

Uma jovem em um navio lotado provavelmente deixaria os homens fortes e aventureiros inquietos. Em outras palavras, sua presença inevitavelmente causaria problemas. Por isso, alguns navios preferiam levar uma ovelha do que uma mulher a bordo.

Klaus era explorador há tanto tempo que tinha ouvido notícias de que um navio de exploração havia afundado por causa de uma única mulher.

"Estava pedindo sua opinião? Eu te dei minhas ordens! E é melhor você não esquecer quem te deu este navio novo. Pegue sua tripulação e siga ela. Ela vai explorar uma região vasta e desconhecida," disse 134 severamente.

"Aliás, você realmente acha que pode colocar a mão nela com sua tripulação inútil? Heh, eu adoraria ver você tentar," acrescentou 134. Então, ela virou-se e foi embora sem esperar a resposta de Klaus.

Lily e Klaus ficaram sozinhos na vasta sala. Viraram-se um para o outro, e seus olhares se cruzaram no ar.

Lily achou o olhar dele desagradável, mas decidiu resistir em nome da jornada que tinha pela frente. Com isso em mente, ela educadamente acenou para Klaus e disse: "Conto com a sua proteção."

Mais uma vez, Klaus observou Lily de cima a baixo. Poucos momentos depois, sua cabeça de repente se transformou na de uma cobra. Sua boca se abriu levemente, e duas torrentes de veneno saíram de seus dentes afiados, indo em direção a Lily.

Lily franziu um pouco o rosto e lançou o veneno malcheiroso na parede.

Klaus assentiu satisfeito ao ver aquilo e cambaleou em direção à porta.

"Humph, Acho que você não é só uma garotinha tola que leu demais romances. Tanto faz, desde que você consiga se virar sozinha. Não quero um peso a bordo. O navio está no Doca Três. Podemos partir hoje."

Lily ficou em silêncio, surpresa ao ver a boneca de lã com botões nos olhos no bolso de Klaus. Ela já tinha visto Klaus na Fortaleza do Buraco Colossal e, pelo que lembrava, ele era parte das equipes de exploração na superfície.

"Vai ou não vai? Se não, diga ao Rei para cancelar essa missão," disse Klaus, de pé na porta, segurando uma garrafa de licor.

"Vou," respondeu Lily, e o seguiu.

Como ambos estavam com pressa, agilizaram todas as tarefas prévias à partida. Na tarde do mesmo dia, o capitão Klaus e o primeiro oficial traçaram o roteiro, e finalmente estavam prontos para zarpar.

Na ponta do píer, Lily segurava as alças da mochila com ambas as mãos. Após inspirar profundamente o ar salgado e úmido do mar, ela caminhou em direção ao navio de exploração, escuro e marcado por cicatrizes.

Hooonk!

O apito de vapor soou, e uma fumaça negra saiu da chaminé. Assim, o navio — Amor da Donzela — enfim partiu.

134 e os demais observaram silenciosamente enquanto a embarcação deixava o píer.

Mithila chutou a cadeira de rodas do homem rechonchudo ao seu lado e disse: "Envie alguns sentinelas para vigiar eles. Se por acaso conseguirem voltar vivos, quero saber exatamente o que aconteceu."

O queixo triplo do homem tremia enquanto ele assentia. No momento seguinte, três grandes pustulas em sua barriga explodiram, e insetos alados expulsaram-se do pus verde e apodrecido.

Os insetos voaram em direção ao Amor da Donzela.

134 abraçou a boneca Tobba e observou silenciosamente enquanto o navio desaparecia na escuridão.

"O que você acha? Essa menininha vai conseguir?" perguntou 134, olhando para a boneca Tobba.

Os membros da tripulação do Amor da Donzela eram completamente opostos ao nome do navio — eram vulgares e pareciam selvagens. Na verdade, todos pareciam sofrer de algum transtorno mental.

Quando Lily, pura e adorável, embarcou na embarcação, todos exibiram o mesmo sorriso. Seus pensamentos também estavam repletos de ideias mais nojentas do que uma latrina pública.

Em pouco tempo, um infeliz tentou se infiltrar no quarto de Lily, mas ela o lançou ao mar. Ele foi resgatado, só para ser apunhalado três vezes por Klaus no estômago.

A crueldade de Klaus e as ações decisivas de Lily imediatamente acalmaram a cabeça da tripulação.

Ao entrar em uma região desconhecida, seus desejos impuros foram completamente suprimidos pelo medo que se infiltrava em seus corações.

Para evitar provocar a tripulação a agir de forma insensata, Lily passou a maior parte do tempo na cabine. Só saía para respirar ar fresco quando todos estavam dormindo.

Lily permanecia em silêncio no conves, de olhos fechados. Ouviu as ondas, deixando-se embalar pelo balanço familiar do navio. Naquele momento, ela tinha a impressão de ter retornado ao Narwhale.

Não pôde deixar de sentir saudades daqueles momentos. Sentia muita falta de viajar com todos. Na época, ainda era uma ratinha, mas todos cuidavam dela, e o Sr. Charles sempre a acompanhava.

Aqueles dias eram realmente maravilhosos.

Ao lembrar do que acontecia nos bastidores, Lily suspirou suavemente e abriu os olhos. Se pudesse escolher, gostaria de voltar ao Narwhale com todos e continuar explorando o oceano.

Infelizmente, seu desejo parecia destinado a permanecer apenas um desejo. O tempo sempre traz mudanças, e isso incluía ela própria.

Justamente nesse momento, uma tênue faixa de luz surgiu à frente, no mar.

A luz era colorida e deslumbrante, fazendo Lily olhar com atenção. Descobriu que vinha de uma grande colônia de águas-vivas luminosas. O brilho delas se espalhava por uma grande área do oceano.

"Que lindo. Não fazia ideia de que existia uma visão tão encantadora no mar," comentou Lily, admirando a cena maravilhosa com um sorriso. Mas logo seu sorriso congelou ao perceber sombras escondidas atrás do brilho intenso das águas-vivas.

As sombras eram três figuras humanas colossais; tinham rochas nos braços e nas cabeças enquanto nadavam pelo mar. Lily não sabia exatamente como eram, já que a luz das águas-vivas mal iluminava suas panturrilhas.

Um tremor violento percorreu Lily, enquanto o medo se apodervava de toda a sua essência. Apesar de ser tripulante de um navio de exploração há tanto tempo, ela tinha esquecido a regra de ferro do mar — não ver o mal, não ouvir o mal, não pensar no mal.

Lily voou para sua cabine com rapidez máxima. Pegou um romance e começou a ler atentamente. O tempo parecia passar numa velocidade quase eterna, e à medida que os segundos se passavam, Lily não fazia ideia se aquelas coisas ainda estavam por perto ou não.

Talvez tivessem partido, ou talvez… já tinham cercado o navio. Lily não sabia de nada, exceto que a embarcação sob ela ainda seguia em frente.