
Capítulo 981
Terramar: O Mar Encoberto
"Como isso é possível?!" exclamou Anna. Ela se virou para os fiéis Fhtagnistas e perguntou a eles sobre Luvlyn.
Todos balançaram a cabeça de forma unânime, e uma ideia surgiu na cabeça de Anna. Foi nesse momento que ela percebeu que a mulher que afirmava ser psicóloga era falsa.
O Site 66 não tinha ninguém como ela, e talvez até seu nome fosse apenas um pseudônimo.
Ao recordar as perguntas que havia feito na época, a identidade e os motivos de Luvlyn ficaram evidentes para Anna.
Ela não era do FMI. Ela vinha de outra organização, e de alguma forma descobriu o paradeiro de Anna e a emboscou.
Isso era uma notícia ruim para Anna, pois significava ter mais um inimigo no mundo exterior.
"Humpf! Deve ser uma pessoa bastante interessante... pra pensar que tem tanta gente querendo me pegar," murmurou Anna consigo mesma. A única coisa de que podia se sentir grata era que Luvlyn provavelmente não conseguia reportar aos seus superiores.
Suas chances de sobrevivência, afinal, não eram lá essas coisas.
"Você estava dizendo alguma coisa, senhorita Anna?" Aisha perguntou, inclinando-se para Anna.
"Não é nada. Vamos seguir em frente. O tempo é curto," respondeu Anna. Ela atravessou a vegetação e continuou caminhando adiante. Independentemente da afiliação de Luvlyn, não havia como ela ter saído do Site 66 ilesa.Ao perceber que havia outra organização monitorando seus passos, Anna decidiu tomar mais cuidado daqui em diante.
Anna achava que o chamado Deus Quebrado estava apenas na floresta, mas o ambiente lentamente se transformava quanto mais avançavam. As plantas murchavam, ficando amareladas, e o cheiro de óleo de motor impregnava o ar.
Clang, clang, clang!
O som retumbante de máquinas de prensar ecoava ao longe. Após alguns minutos, uma grande fábrica surgiu à vista. Os ruídos vinham da própria fábrica, então ela ainda estava em funcionamento.
A vegetação ao redor da imensa instalação estava morta, e soldados armados a cercavam. Havia vários atiradores no telhado, observando através de seus binóculos enquanto vigiavam o perímetro.
Também havia armas pesadas ao redor da fábrica. Pelas suas quantidades absurdas e pelo brilho delas, Anna estava convencida de que aquela fábrica fabricava essas armas.
"Tem certeza de que aqui não é um culto, mas sim um agrupamento de bandidos? Essas armas seriam suficientes para uma guerra de pequeno porte," perguntou Wang Jianshe, com os olhos piscando ao varrer a pilha de fuzis automáticos à sua frente.
"Antes de entrarmos, lembrem-se: apenas observem e ouçam; não falem," alertou Anna. Sua expressão era séria enquanto observava a fábrica.
Aisha mostrou suas credenciais ao guarda que comandava um tanque na entrada da fábrica. Ela foi autorizada a entrar e liderou todos até o interior da instalação.
Ao entrar, Anna confirmou que estava certa. Havia linhas de montagem produzindo munições e armas sem parar. Os seguidores do Deus Quebrado estavam na extremidade dessas linhas, coletando o produto final.
Parecia que estavam se preparando para uma batalha grande.
"Venham, Deus está esperando por vocês. Ele está bem ali no fundo," disse Aisha, conduzindo os outros ao longo das linhas de montagem.
A fábrica, enorme, era um labirinto de aço composto por máquinas e mais linhas de produção. Ainda nem fazia tanto tempo que tinham entrado, e já estavam sentindo a cabeça girar.
No entanto, Anna sabia que se aproximava do alvo, pois as temperaturas ao redor vinham aumentando de forma constante conforme avançavam para dentro da fábrica.
Após a décima sétima curva à direita, Anna finalmente viu o chamado "Deus Quebrado."
Era um conjunto de maquinaria de vapor de bronze exposta. Os engrenagens, pistões e tubos de vapor, densamente agrupados, lembravam mais o estilo das Ilhas de Albion, na Maré Subterrânea, do que o mundo moderno.
Uma chama ardente pairava no centro da maquinaria, brilhando intensamente como o sol. O calor emitido por ela fazia o cabelo de Anna levemente ondular.
A porta da maquinaria ficava constantemente se abrindo e fechando, produzindo ruídos incessantes. Claramente, cada peça de maquinaria na fábrica estava conectada a esse enorme mecanismo de vapor de bronze, do tamanho de uma colina, que parecia fornecer energia para toda a instalação.
De repente, Aisha pegou um pedaço de papel e se aproximou. Ela entrou na ponta dos pés e lançou o papel nas chamas.
Toda a maquinaria da fábrica parou bruscamente, mas em um segundo, voltou a se mover, emitindo barulhos agudos ainda mais desconcertantes do que antes.
O que havia nas linhas de montagem ao redor mudou. As armas e munições desapareceram, substituídas por peças mecânicas complexas. Aisha recolheu essas peças e as montou juntas antes de pendurá-las na frente da fornalha.
Assim, uma boneca de bronze vazia e incompleta apareceu diante de Anna.
A entrada e saída contínuas da forja projetavam sombras intermittentes no rosto da boneca.
Pouco tempo depois, a porta da forja foi fechada, mas a boneca de bronze permaneceu imóvel. Alguns momentos depois, ela se abriu novamente e seus olhos — feitos de engrenagens de bronze — olharam fixamente para o grupo à sua frente.
Wang Jianshe ficou surpreso. Tinha vivido tanto tempo e se preparava mentalmente para o que viria, mas ainda levou um susto. Não tinha como evitar, pois nunca tinha encontrado uma entidade tão bizarra.
"Apenas observe e ouça; não fale," avisou Anna. Depois, ela se aproximou da boneca humana de bronze.
A boneca de bronze era assustadora, mas o coração de Anna não vacilou nem por um segundo ao ver aquilo. Ela era da Maré Subterrânea, afinal. Tinha coisas assustadoras e muito mais estranhas lá embaixo.
Até Anna, ela mesma, costumava ser mais assustadora do que a boneca de bronze.
"Vai passar um tempinho me encarando? Não tem nada a dizer, grande Deus Quebrado?" perguntou Anna à boneca de bronze humana.
Quando a boneca abriu a boca, barulhos agudos reverberaram como um velho gravador em funcionamento.
"Percebo que vocês estão em grande perigo. Talvez possamos cooperar para conseguir o que queremos," disse a boneca de bronze.
"Então, um acordo? Outro acordo." Anna olhou para Wang Jianshe. A notícia da inexistência de Luvlyn foi muito mais chocante do que isso. Anna também não se importava com o que exatamente a boneca de bronze representava.
Ela só sabia que ela tinha decidido convidá-la ali, e certamente havia uma razão por trás desse convite.
Wang Jianshe só podia oferecer suporte financeiro, mas Anna precisava da ajuda de alguém com força tangível.
"Primeiro, preciso de algo capaz de alterar memórias, preferencialmente uma Anomalia controlável, mas outras coisas também servem."
"Depois, preciso saber como vocês têm evitado o FMI. Preciso da sua experiência e apoio nisso."
"Por fim, quero Anomalias poderosas, pelo menos dez. Será que você consegue atender a essas três condições?"
Uma Anomalia controlável capaz de alterar memórias era para Gao Zhiming, e a forma de escapar do FMI era garantir que a vida de Gao Zhiming não fosse perturbada até que ele caísse na Maré Subterrânea.
Quanto às Anomalias poderosas, Anna precisava que elas se tornassem ainda mais fortes. Há um limite para quantas Anomalias ela podia absorver, mas poderia repassá-las aos seus seguidores.
Como claramente havia mais de uma organização envolvida aqui, Anna sabia que precisava se tornar mais forte o quanto antes. Se fosse fraca demais, morreria antes daquele dia fatídico.
O Deus Quebrado foi surpreendentemente direto ao responder: "Podemos ajudar. Suas condições são muito difíceis, mas possíveis. Contudo, todo acordo envolve troca equivalente. Se quiser que cumpramos essas três condições, você precisa nos ajudar em uma tarefa de valor equivalente."
"Fale. Já esperava você dizer isso."
"Preciso que me ajude a invadir a sede do FMI. Uma parte de mim está selada lá dentro," respondeu a boneca de bronze.
Anna olhou fixamente para a boneca de bronze por um bom tempo. Por fim, balançou a cabeça e disse: "É muito perigoso. Não vou lá me arriscar e morrer."