
Capítulo 27
Terramar: O Mar Encoberto
Charles estava sozinho a caminho da Associação dos Exploradores. Deixou Lily na pousada. A garota ainda se encontrava desanimada, e ele esperava que o tempo amenizasse suas dores.
No momento em que Charles entrou na Associação, seu olhar instinctivamente caiu sobre o sofá no canto da sala. Desta vez, havia menos capitães presentes, exatamente quatro. E um deles era a linda gigante, Elizabeth.
"Meu querido Charles, estou aqui." Elizabeth acenou entusiasticamente.
Charles não se aproximou dela, mas indicou para o balcão. Queria resolver primeiro algumas questões administrativas.
"Aqui está a informação sobre aquela ilha." Charles entregou seus registros escritos aos funcionários atrás do balcão.
"Você… Você realmente foi lá?" perguntou, desconfiada, a atendente feminina.
"Vai logo, não tenho tempo a perder," Charles apressou-se com o staff desconhecido diante de si.
"Des-Desculpe! É meu primeiro dia aqui. Por favor, espere um momento enquanto consulto meu supervisor."
Logo, um homem de meia-idade, de óculos de aro e usando terno, aproximou-se. Fez um gesto de sorriso para Charles antes de pegar o documento e examiná-lo cuidadosamente. Ele até buscou alguns livros que tinha e comparou o documento com eles.
Depois de um tempo, soltou um suspiro de alívio e falou com respeito: "Obrigado pela sua valiosa contribuição à Associação. Conseguiu dissipar parte da neblina que encobria alguns dos mistérios não descobertos do Mar Subterrâneo."
"Quanto ficou minha recompensa desta vez?"
"Pela exploração de uma ilha de Nível de Perigo 5, juntamente com o relatório detalhado que você escreveu, sua recompensa total é de 1,6 milhão de Échos. Após deduzirmos os impostos do Governador, você receberá um valor final de 1,45 milhão de Échos."
Sinceramente, Charles ficou surpreso com o valor que o homem anunciou. Nunca imaginara que explorar uma ilha pudesse ser tão lucrativo. Com esse montante, ele facilmente poderia comprar uma casa de dois pavimentos com jardim na Arquipélago de Coral.
No entanto, ao pensar nas inúmeras crises de vida ou morte enfrentadas na ilha, sentiu que realmente merecia aquela quantia enorme. Afinal, arriscara sua vida por isso.
"Senhor Charles, você nos forneceu suas informações bancárias ao preencher nosso formulário de inscrição anteriormente. Depositaremos diretamente na sua conta. Tudo bem para você?"
"Tudo bem," respondeu Charles, voltando na direção do sofá. Tinha outros assuntos a tratar naquele dia.
"O que aconteceu com o seu olho?" perguntou Charles, apontando para uma venda preta sobre o olho esquerdo de Elizabeth. Ela parecia uma pirata.
"Perdi um olho. Ufa. A ilha é perigosa demais. Ainda bem que consegui voltar. Foi terrível." Elizabeth se inclinou naturalmente para perto de Charles. Apesar das palavras, não havia vestígios de medo em seu rosto.
"Por que há tão poucas pessoas aqui hoje?" Charles olhou para as outras três faces desconhecidas.
"Os capitães normalmente atracam às tardes de sábado e se reúnem aqui depois. Em outros horários, somos só nós alguns. Hmm? Por que você está usando uma aliança no dedo anelar? Você se casou? Ai, meu coração está partido." Elizabeth brincou, passando o dedo sobre o anel de Charles.
Charles levantou a mão esquerda e a agitou na frente do rosto de Elizabeth. "Isso é só uma relíquia. Elizabeth, como se faz comércio de relíquias entre Exploradores?"
Ao ouvir as palavras de Charles, as outras três capitães imediatamente voltaram seus olhares curiosos em sua direção.
"Normalmente, a troca acontece às tardes de sábado, quando todos estão reunidos. Mas vocês podem mostrar agora as relíquias, se forem valiosas, posso oferecer um preço justo," disse o jovem despenteado, segurando uma garrafa de bebida forte, com expressão sombria. Sua roupa estava manchada de bebida derramada, e mesmo a dois metros de distância, Charles já sentia o forte cheiro de álcool vindo dele.
Charles tirou as duas relíquias restantes e as colocou na mesa.
O grupo de quatro, incluindo Elizabeth, examinou cuidadosamente as relíquias. Depois de um tempo, o jovem embriagado falou:
"Relíquias sem avaliação geralmente não têm preço fixo, mas vamos fazer um acordo de amizade, hic~ trezentos mil Échos por cada relíquia. Quero as duas."
Era uma aposta considerável. Afinal, ninguém sabia possíveis usos ou desvantagens dessas relíquias. Se o custo para usar a relíquia fosse alto demais, era como gastar dinheiro para trazer problemas para casa.
"O preço está razoável," sussurrou Elizabeth no ouvido de Charles. Seus lábios vermelhos quase tocando sua orelha e Charles podia sentir sua respiração.
"Tudo bem, vamos fechar negócio." Charles fez um gesto para o lado.
"Me chamo William. Podemos negociar novamente na próxima vez, quando você tiver mais relíquias." O jovem embriagado então pegou um pacote de pó vermelho e o derramou na garrafa, inclinando a cabeça para trás para consumi-lo.
William começou a se contorcer, o que deixou Charles intrigado. Ele virou para olhar para Elizabeth.
"Não se preocupe. É apenas flor de alegria. Ele vem tomando isso há meio ano."
Será algum tipo de droga? Uma suspeita passou pela cabeça de Charles ao ver o nariz e os olhos de William escorrendo lágrimas e mucos.
Porém, ele não se preocupou muito com a situação dos demais capitães. Voltou sua atenção para a bela gigante ao seu lado.
"Você ainda tem o gel para acabar com alucinações auditivas? Preciso comprar um pouco," perguntou Charles.
Embora suas alucinações auditivas não fossem frequentes, eram incômodas quando aconteciam.
"Ainda tenho, mas comer isso pode viciar. Se parar, vai morrer de forma terrível," avisou Elizabeth.
"Você tem alguma outra maneira de aliviar isso?"
"Sim," respondeu Elizabeth rapidamente. "Contanto que você fique em terra firme, o problema se resolve."
Charles descartou imediatamente essa ideia. De jeito nenhum queria ficar preso numa ilha para siempre.
Depois de conversar um pouco com os outros capitães, Charles olhou o relógio e se levantou. "Senhora Elizabeth, por favor, traga um pouco no sábado. Irei comprar com você. Está ficando tarde, podemos conversar na próxima."
No momento em que saiu da porta, Elizabeth se levantou e o seguiu. Um sorriso enigmático apareceu em seu rosto.
De pé no píer, observando os trabalhadores movimentando as cargas ao longe, Charles não sabia ao certo o que fazer a seguir.
"Ah, preciso comprar um relógio de bolso."
Quando voltou para seu quarto na pousada, já tinha um reluzente relógio de bolso dourado dentro do bolso interno do casaco.
Ele abriu a porta e foi recebido por uma enxurrada caótica de ratos que corriam por toda parte.
"Sr. Charles, o senhor voltou..." Lily, que antes era vibrante e alegre, agora jazia na cama, sem vida.
Charles acariciou suavemente a cabeça de Lily antes de caminhar até sua mesa e começar a escrever seu diário.
Por curiosidade, Lily arrastou-se para espiar, mas logo perdeu o interesse. Não conseguiu decifrar nenhuma das caractere cercadas por círculos ou quadrados na página.
Toc, toc, toc!
O som de batidas ecoou pelo quartinho.
Charles lançou um olhar de aviso para Lily, e os ratos se dispersaram num instante, correndo para todos os cantos do quarto. Em poucos segundos, Charles ficou sozinho em seu aposento.
Ao abrir a porta, foi recebido por um busto voluptuoso que dançava na sua frente. Ele levantou o olhar e viu Elizabeth, a gigante.
"Meu amor, por que você está aqui nesse lugar? A insonorização aqui não é tão boa," disse Elizabeth, com um tom carregado de sugestão sexual.