
Capítulo 1
Rainbow City
Mesma dia, às 17h em Sehwa-ri, Ilha de Jeju.
“Apiem! ”O Comandante Jang pisou forte, impaciente. A cicatriz longa que atravessava seu rosto se destacou ainda mais enquanto ele franzia a testa. Logo atrás dele, um homem caminhava lentamente, às vezes reorganizando os cadarços da bota e alongando o corpo rígido ao cruzar os braços.“Seu bastardo! Você não consegue acelerar?! O Dr. Stone está nos esperando.”Dr. Stone? Que tipo de médico chama a si mesmo de Dr. Stone? Será que um idiota virou médico?O homem sorriu de seus próprios pensamentos e foi atrás do Comandante Jang.O som de pedregulhos sendo pisados lentamente sob as botas militares era constante e firme, enquanto as ondas se aproximavam e recuavam ao fundo. Cerca de 300 metros à frente, uma velha cabana de palha apareceu no horizonte. O telhado, empilhado com juncos amarrados com uma rede, parecia um esfregão desgrenhado e seco.Nesses tempos modernos, viver em uma casa tão primitiva só era possível porque a Ilha de Jeju continuava intocada, uma área virgem.“Dr. Stone, minha pateada.”“O quê?”“Ah, certo.”A apenas 100 metros da cabana de palha, o homem parou de repente, como se lembrasse de algo importante.“O que foi agora?”O Comandante Jang se virou, com o rosto contorcido de irritação.[Kwak Soohwan]As três letras na patente presa ao peito estavam manchadas de sangue seco, dificultando a leitura.“Banheiro.”Kwak Soohwan segurou a virilha com a mão e abriu um sorriso. Sua região já estava tão inchada que logo precisaria de uma injeção para conter.“Seu louco. Se não fosse a ordem de cima, eu já teria dado Faro aos cachorros.”“Você, Comandante Jang, seria mais para um petisco.”Kwak Soohwan fingiu abrir e fechar a boca e começou a caminhar de volta pelo caminho que tinham vindo.“Ei! Seu idiota! Pode fazer xixi em qualquer mato, por que procurar banheiro? Volta aqui, seu bastardo!”Kwak Soohwan, que tinha parado de novo, coçou levemente a sobrancelha. Olhou para o Comandante Jang, exibindo um ar de irritação.“Eu não faço isso. O que um soldado está fazendo guardando mesmo? Mande alguém diferente.”“Quer voltar para o quartel? Hein?”Mesmo ameaçando, o Comandante Jang observava a reação de Kwak Soohwan.Nenhum lugar tinha uma disciplina entre superiores e subordinados tão rígida quanto nas Forças Armadas. Era impensável um Comandante Jang ficar cauteloso com um Major numa sociedade tão hierárquica, mas a sucessão de ações idiotas que Kwak Soohwan mostrou na última semana, ou até antes disso, fez Jang optar por uma abordagem mais conciliadora desta vez.“Ei, guardar o médico não é melhor do que ir para o campo? Melhor do que ficar todo ensanguentado e fedendo a merda, permanecer num local de pesquisa aquecido, com refeições na hora, não é? Se dependesse de mim, eu faria sem olhar para trás. Olha só, Major Kwak Soohwan, você sabe que me importo com você, né? Por isso, arranjei uma saída para você da confusão que você causou na semana passada, entrando bêbado na zona restrita e bagunçando tudo, certo?”Percebendo que agora não tinha como escapar, já que o assustadorato Comandante Jang estava o persuadindo, Kwak Soohwan respondeu.“Um mês."“O quê?”“Vou ficar um mês, já que deveria estar na detenção mesmo.”O Comandante Jang, achando que era melhor do que nada, acenou para ele se aproximar.
Desta vez, Kwak Soohwan seguiu o Comandante Jang com passos rápidos, claramente planejando tudo desde o começo. Aparentemente, ele não era apenas um bruto; tinha uma certa inteligência também.“Então, vai fazer xixi ou não?”“Vou é mijar nas calças mesmo.”“Tenho mais um favor a pedir.”“Qual?”“Seu trabalho não é só de guarda. Você precisa levar o Doutor até Seul. Convencer ele também é sua responsabilidade.”“Dr. Stone ou quem quer que seja, não quer ir pra Seul?”“É o que ouvi.”“Então, vamos nocauteá-lo e transportar assim.”
O Comandante Jang tentou chutar a panturrilha de Kwak Soohwan com sua bota de bico de aço, mas Kwak rapidamente recuou a perna para evitar.“Se fizer isso, vai apodrecer na detenção por dez anos, entendeu?”O Comandante Jang rangeu os dentes ao falar. Agora a apenas 10 metros da cabana de palha, elevou a voz.“Dr., chegamos para escoltar você.”Kwak Soohwan cruzou os braços, ansioso para ver que tipo de velho chato iria aparecer. Contando mentalmente até dez, ninguém apareceu no alpendre de madeira visível. Por hábito, olhou ao redor e viu apenas um par de chinelos baratos nearby.Antes de que pudesse fazer algo, o Comandante Jang removeu as botas e abriu a porta do cômodo interior. Olhou para Kwak Soohwan e balançou a cabeça. Indicando com o queixo para que Kwak Soohwan inspecionasse o prédio exterior, Kwak saiu imediatamente em direção lá.“Ei! Você não vai tirar os sapatos?!”“Depois eu arrumo isso.”“Se entrasse na sua casa com os sapatos encardidos de sangue, você ia gostar?”Amuado, Kwak Soohwan tirou relutantemente as botas e pisou no alpendre.“Não dá pra viver assim. E suas meias, onde estão? Já estamos com poucas roupas militares. Você não deixou elas na taverna, foi?”Apesar de odiar pensar nos pais, as reclamações do Comandante Jang o fizeram relembrar memórias antigas. Ignorando as queixas de Jang sobre as meias, Kwak Soohwan começou a procurar no edifício exterior.
Seja por um desk cheio de livros ou pela pouca rotina que mostrava, o lugar parecia pouco habitado. Diversas pedras, do tamanho de um tronco humano até do tamanho de uma unha, estavam ordenadas em uma mesa comprida. “Será por isso que chamam ele de Dr. Stone”, pensou, mas não tinha coragem de investigar mais a fundo. O piso ondol parecia como caminhar sobre um rio congelado com os pés descalços.
Quando Kwak Soohwan saiu, esticou o corpo e espreguiçou-se.“Parece que o Dr. Stone ou quem quer que seja fugiu. Vamos embora.”Naquele instante, ouviram ao longe o som de pedregulhos sendo esmagados. Quando se viraram na direção do som, viram um homem cambaleando em direção a eles.“Lá está ele.”
Ao ouvir Kwak Soohwan, o Comandante Jang iluminou-se.“Finalmente o encontrei.”O homem carregava algo comprido e pendurado em cada mão. Como esperado, eram meias militares cheias de algo pesado.*
*Mesmo dia, três horas antes. Praia de Sehwa, Ilha de Jeju, 14h.Era a primeira visita de Kwak Soohwan à Ilha de Jeju desde que nasceu.
Jeju, antes famosa pelos “três abundâncias” — pedras, vento e mulheres —, agora era uma zona segura oficialmente reconhecida pelo governo. Era um local onde se reuniam ricos, governantes e aqueles que precisavam de proteção nacional, tanto humanos quanto animais.
Caminhando pela areia da praia, Kwak Soohwan envolveu seu pesado capa militar no braço. Só se ouvia o som das ondas, e os cafés e restaurantes que antes prosperavam perto dali já havia fechado há muito tempo.
De pé na praia tranquila, observando o horizonte, Kwak Soohwan foi observado por outro homem.
Embora seu rosto impassível não revelasse emoções, parecia incomodado com a presença de um homem de uniforme militar na praia.
Já que não era sua terra, ele não podia argumentar e focou-se em procurar as joias enterradas entre os grãos de areia. Agachando-se, usou um galho para peneirar a areia, quando uma sombra se projetou sobre ele do teto aos pés.“O que você está fazendo?”
Apesar do tom indiferente, ele apenas piscou e continuou a peneirar a areia com o galho.
“Só de chinelos no meio do inverno? Seus dedos vão congelar e cair. Já vi gente assim, que nem consegue caminhar direito.”
Ele manobrou de lado como um pato e começou a escavar em outra parte da areia.“Esse cara é meio lerdo? Perguntei o que você está fazendo.”
Kwako Soohwan não tinha boas memórias de soldados. Sabia dos perigos que enfrentavam e como eram trabalhos difíceis, mas odiava a visão de uniforme militar manchado de sangue seco.
Chiou a língua, observando o tolo que silenciosamente recolhia pedras na areia. Parecia filho de alguém importante, mesmo assim deixaram ele vagar sozinho na praia.
Revistando os bolsos, Kwak lembrou-se de que deixou as luvas no carro. Tirou as botas e, depois, as meias, que estavam relativamente limpas, pois as recebera naquela manhã. Entregou as meias duras ao tolo, que olhou confuso.“Use.”
O tolo parecia relutar, então Kwak simplesmente deixou as meias ao lado dele. Mesmo assim, não houve resposta. Decidindo que não valia a pena se incomodar, Kwak começou a caminhar, chutando a areia enquanto ia embora. Ao olhar para trás, viu o tolo com roupas finas e hesitou.“Idiota.”
O tolo usava as meias para recolher as pedras que tinha juntado.
Em um mundo onde benditos idiotas eram protegidos, aqueles que realmente precisavam de proteção na terra firme ficavam expostos ao perigo. Kwak pensou em pegar as meias de volta, mas decidiu não fazer isso. Em vez disso, respondeu a uma chamada de rádio do Comandante Jang.
Ao mesmo tempo, o homem que recolhia as pedras se levantou. Olhou para o soldado, que parecia tão pequeno quanto um dedo de onde ele estava, e falou.“Por que está me falando assim?”
Chiou a língua, e Kwak Soohwan continuou enchendo as meias de pedras.
[1] - 돌 (dol) significa pedra, e 석 (seok) também significa pedra no nome Seok-hwa ou Dr. Stone, criando um trocadilho com seu nome. Além disso, ele coleciona pedras!