Capítulo 196

Igni, o Soberano Demônio, realmente tinha uma carta na manga. Um sol anti-magia… Nunca tinha pensado que isso fosse possível. Só isso já era suficiente para alterar minhas táticas de combate, e mesmo assim, o louco Demônio havia absorvido tudo isso em seu corpo, corroendo-se diretamente de dentro para fora.

Com o passar do tempo, Igni pereceria sob a decadência de seu próprio poder, e o Soberano Demônio que reinou sobre a raça demoníaca por milhares de anos deixaria de existir. No entanto, Igni não se importava. Nesse curto período, ele usaria plenamente seu poder recém-descoberto.

[Morra, Hegemon!!!]

Chamas negras, inextinguíveis, rasgaram o tecido do Espaço-Tempo e “queimaram” tudo que havia pela frente. Cada pequeno poder mágico que usei para torcer e deformar o Espaço-Tempo se desfez até não sobrar nada. Eu resmunguei de horror enquanto o fogo negro continuava a queimar, mesmo após atingir seu objetivo. E não só isso, ele se espalhou como um incêndio de selva, eventualmente consumindo até o vácuo do espaço.

Fiquei estarrecido. Destruí-lo era uma coisa, mas o que o Soberano Demônio criara era uma fera insaciável que devoraria tudo ao seu caminho. Matéria, Espaço-Tempo, até a própria dimensão. Se continuasse a se espalhar, nossas vidas e todo o sistema solar estariam em perigo.

[Você realmente é louco!!! Quer destruir a dimensão?!]

[Se isso significar te matar, tudo vale a pena!!!]

[Porra…]

Não há mais como deter esse louco agora. Ele estava disposto a me matar, mesmo que isso significasse destruir o sistema solar onde a raça demoníaca vivia. Não há escolha… Eu tinha que acabar com essa batalha.

Levantei minha mão direita e deixei meu Aspecto de Vampiro brilhar em toda sua glória. Desde que quebrei meu Armamento de Alma e acordei meu verdadeiro Aspecto de Vampiro, nunca havia usado todo o seu poder. Cheguei a um ponto em que me tornei excessivamente forte, e tudo parecia tão frágil. Eu poderia destruir planetas e acabar com sistemas inteiros com um simples toque.

Poderia invocar energia suficiente para alimentar a humanidade pelo resto da história e colapsar galáxias com um pensamento.

Por isso, nunca tinha usado plenamente meu potencial…

Até agora.

O Sol Negro. O ápice e a forma mais extrema de anti-magia. Infelizmente, eu sabia que era contra. Estudei extensivamente a habilidade de Cthulhu e Thanatos de me contrapor, e conhecia suas limitações.

Mesmo que pudessem contrapor minha magia… não podiam contrapor meus milagres.

Eu havia ascendendido de um plebeu comum para outro plano de existência. Magia, anti-magia… Não fazia diferença para mim. De agora em diante, eu mudaria fenômenos diretamente. Alteraria o Espaço-Tempo e o Destino com minhas próprias mãos. Isolaria a realidade e criaria milagres que ninguém pudesse sequer imaginar.

E com um movimento final dos meus dedos, criei um milagre:

[Buraco Negro.]

Estrela mais extrema. Um extremo de pura escuridão, onde nada poderia passar do seu horizonte de eventos. Um campo gravitacional tão forte que nem a luz conseguia escapar. Espaço-Tempo, matéria, luz, magia… Não importava o que fosse, nada escaparia da gravidade de um Buraco Negro.

Nem mesmo o Sol Negro.

Igni foi consumido pelas ondas gravitacionais pulsantes, e todas suas chamas foram devoradas. Nada escapa da gravidade de um Buraco Negro, e assim que o Sol Negro entrou no horizonte de eventos, não havia mais volta.

Após consumir todo o poder do Soberano Demônio, rapidamente fechei o Buraco Negro e o dissipei. Criar um Buraco Negro já era difícil o suficiente, mas pará-lo era outro nível de dificuldade. Mas, contra todas as probabilidades, meu Aspecto de Vampiro foi suficiente para controlar o Buraco Negro e impedir que engolisse o Soberano Demônio e, possivelmente, todo o sistema solar.

Pedaço por pedaço, o Soberano Demônio ia perdendo todo seu poder. Consumido de dentro para fora, não havia chance de Igni escapar da morte. Mas, o Soberano Demônio não reclamou nem protestou… Não soltou nenhuma fala cliché de vilão no final de uma batalha contra o chefe. Igni, ele… aceitou sua derrota.

Com uma expressão que parecia ter se unido em paz, o Soberano Demônio sorriu.

[Inacreditável… Criar um Buraco Negro e isolá-lo completamente… Você realmente está em um nível totalmente diferente.]

[… Você aceitou sua derrota?]

[Hegemon, desde o momento em que Uriel me disse que Destino não pode ser mudado… Aceitei minha derrota.]

O Soberano Demônio agora estava desprovido de suas chamas negras, e seus estoques de magia tinham chegado a zero. Com seu corpo corroendo-se por dentro, Igni não duraria nem meia minuto. Mas, o Soberano Demônio manteve sua dignidade enquanto conversava comigo como iguais.

[Se eu não consegui te matar nesta batalha, só posso esperar que você valorize a raça demoníaca. Com recursos suficientes, todos poderiam se tornar um segundo Soberano Demônio. Espero que você não escravize meu povo, mas sim ajude a nutrir e desenvolver.

Esse é meu propósito nesta luta.]

[… Você só queria me mostrar o valor da raça demoníaca?]

[Exatamente.]

O Soberano Demônio sorriu radiantemente, como se um grande peso tivesse sido retirado de seus ombros. Não, considerando que ele liderava toda uma raça com bilhões, quiçá trilhões de vidas, era natural sentir-se assim. Ele queria o melhor para os Demônios, mesmo que isso significasse se sacrificar numa demonstração de força e potencial.

[A raça demoníaca pode ser útil para você… Pode ajudar a conquistar planetas e destruir galáxias… Mas eu imploro… Por favor, não escravize nem destrua meu povo.]

[É tudo o que tem a dizer?]

[Como derrotado, não tenho direito de exigir nada… Só posso implorar para que faça a escolha certa.]

[O soberano Demoníaco, todo poderoso, está implorando no leito de morte… Que feio.]

[Por mais feio que seja, essa é minha única esperança.]

[Não, não é.]

Mais uma vez, levantei minha mão e deixei a magia fluir dela. Não, meu poder não era mais magia… eram milagres. Luz azul e esmeralda escapava do meu Aspecto de Vampiro e iluminava todo o vazio. Um relógio envolvia meu pulso, e o ponteiro dos minutos girava lentamente no sentido anti-horário.

E com isso, mais um milagre foi realizado.

Todos os eventos que aconteceram até agora passaram por nós. O Buraco Negro que criei e enviei embora. O Sol Negro que consumiu toda magia. O vento galáctico e a estrela de nêutrons. Os múltiplos impactos que continham o poder de uma estrela inteira no planeta destruído por Igni quando começamos nossa batalha.

Tudo estava sendo revertido no tempo, e, finalmente, nós dois fomos transportados de volta ao Reino Demoníaco.

Igni abriu a boca, surpreso ao examinar cuidadosamente suas mãos e pés impecáveis. Nenhum de seus órgãos internos havia sido destruído, e seu reservatório de magia quase infinito se restaurara.

Era como… se nossa batalha nunca tivesse acontecido.

"Você revertendo o tempo… Você… É Deus?"

O Soberano Demônio duvidou de seus próprios sentidos. Ele estava claramente à beira da morte minutos atrás, e agora estava totalmente bem. Apertou os punhos, deixou escapar um gemido confuso e tocou seu corpo com medo.

"Deus… Talvez eu seja," brinquei com humor. "Igni, eu te avisei, não preciso lutar com você. Eu controlo tudo: os planetas, os céus, as estrelas… O Universo. Tudo está sob meu controle. Nem precisávamos lutar como…"

Puxei meu dedo, e instantaneamente, o Soberano Demônio se fechou como se estivesse preso por amarras apertadas. Movendo-se contra a vontade dele, Igni ficou completamente indefeso diante do meu controle absoluto, como uma meramente esperando para ser atingida.

"Posso controlar seu corpo e alterar seu Destino. Com seus poderes, é impossível me derrotar, Igni."

"Isto…"

O Soberano Demônio foi envolvido por uma mistura de sentimentos. Angústia por tudo que tinha feito estar sendo orquestrado pelas minhas mãos. Medo do meu poder e de como ele poderia destruir a raça demoníaca, se eu quisesse. E, finalmente… alívio. Alívio por ainda estar vivo.

"Sei que nada do que diga convencerá você, e levará tempo até confiar plenamente em mim. Mas faço uma promessa: não escravizarei a raça demoníaca." Reafirmei minha determinação. "Não me tornarei o tirano dos seus pesadelos e não exterminarei seu povo."

"Por quê?"

"Por quê? Simplesmente, não tenho interesse."

Que graça há em exterminar uma raça inteira de seres vivos? Enquanto eu tivesse minhas quatro esposas, estava satisfeito. Governar o Universo ou conquistar planetas não passava de uma prioridade secundária. Enquanto minha família estivesse segura e feliz, não tinha interesse em escravizar outros.

"Por quê…"

Uriel, que esteve desacordada até então, finalmente acordou e se apoiou em Igni e em mim. Estava pálida e magra, bem diferente de sua condição de Deusa da raça Demoníaca. Mas ainda assim, manteve-se ereta ao perguntar:

"Por que vocês estão indo tão longe por nós? Com seu poder, poderia ter nos escravizado todos."

"Por que, hein? Chame isso de meu último vestígio de humanidade."

Ri comigo mesmo por dentro e balancei a cabeça. Olhando para trás, foi só há dois anos que aquela noite fatídica no hospital aconteceu. Eu tinha avançado tanto desde que abandonei minha humanidade, mas ao mesmo tempo parecia que tinha sido ontem.

Sabia como é ser um inválido destruído, vítima do Universo cruel, contando os dias para a morte. E não desejaria isso a ninguém, nem mesmo aos meus inimigos.

"Além do mais, vocês dois têm um papel na minha história."

"O-que?"

"Acredito que nosso encontro foi planejado pelo meu futuro também. Especialmente você, Uriel. Você vai se tornar minha tenente ou conselheira. É por isso que o futuro me deu uma parte das minhas habilidades de Espaço-Tempo."

"Quer dizer… Iremos servir a você voluntariamente?"

"Exatamente," sorri alegremente. "A raça demoníaca se tornará minha leal aliada mesmo sem eu escravizar ninguém. Eu sei disso."

"Que absurdo…"

Os dois hesitaram em acreditar no que ouviam. Mas, como tudo, levará tempo até aceitarem essa nova realidade.

"Só pensem nisso," ri. Olhar para o belo céu azul do Reino Demoníaco me fez lembrar do meu objetivo final. Demoraria milhões, não, bilhões de anos para alcançá-lo, e trazer a raça demoníaca para meu lado era o primeiro passo.

"Depois de tudo, temos todo o tempo do Universo."