
Capítulo 150
Minha irmãzinha vampira
"Ah? Eles se moveram rápido."
Um dia após Irina e eu termos voltado para a Fazenda Everwinter, notei uma pequena mudança na moradia de Damien. Desde o momento em que retornamos, observei e registrei cada detalhe sobre o quartel-general de Damien.
O número de habitantes que viviam lá, os corredores secretos que levavam a rotas de fuga, a vasta quantidade de construções dentro da enorme propriedade... Tudo sendo registrado com minha visão.
No meu nível atual, mesmo que uma abelha adicional entrasse na moradia de Damien, eu conseguiria perceber a diferença. Mas, não era só uma abelha...
"O que foi, irmão?"
"Os caras da Igreja... Chegaram."
"Tão cedo?! Mas como?!
Irina fez uma pausa de sugar meu sangue e sacudiu a cabeça, chocada. Sua confusão era compreensível, considerando o quão rápido os homens de Damien tinham se movido. A Fazenda Everwinter era conhecida como um bastião, uma fortaleza intransponível que nenhum inimigo havia conseguido infiltrar antes. Seja os Demônios Exteriores sob comando de Cthuhlu, Outras Casas Guardiãs ou até mesmo a Igreja Sagrada.
A Fazenda Everwinter nunca havia sido invadida.
Sim, insiders estavam ajudando a Igreja Sagrada a infiltrar-se, mas mesmo assim, eles teriam que escalar camadas de defesa estabelecidas pelos anciãos da Casa Everwinter e pela Matriarca Innocence! Para chegar lá em apenas um dia... Só havia uma explicação para tanta pressa.
"Eles usaram um Portão de Warp. E não só isso, deve ter sido criado com magia sagrada desconhecida. Caso contrário, a Matriarca sentiria."
"A magia sagrada realmente evoluiu tanto? Além da Casa Moonreaver e de você, nunca ouvi falar de mais ninguém que criasse um Portão de Warp!"
Eu encolhi os ombros e dei a Irina um olhar de perplexidade similar.
A Casa Moonreaver especializava-se em magia dimensional, enquanto meu atributo de Espaço-Tempo me permitia abrir buracos no espaço sempre que quisesse. Pelo que sei, as outras raças ainda não desenvolveram magia capaz de criar Portões de Warp também. Mas, a Igreja Sagrada conseguiu...
Parece que subestimei bastante a magia sagrada.
"Cinco... Não, sete... Sete membros da Igreja chegaram. Eles estão conversando com Damien neste momento."
"Sete? Só isso? Eles pretendem invocar um Arcanjo com apenas sete pessoas?!"
"Não, duvido muito que seja o caso." Franzi a testa e pensei de volta. "Lembra das palavras da Rosa? Para a Igreja Sagrada invocar um Arcanjo, é preciso fazer várias preparações. Rituais à parte, eles vão precisar de novecentos padres, noventa bispos e nove cardeais para convocar um Arcanjo.
Por mais desesperados que estejam para me matar, não há como enviar tanta gente para o coração da Casa Everwinter."
"Você tem razão..."
"Se minha suposição estiver certa, esses membros estão aqui para espionarem-me e avaliarem minha força. Assim que Damien conseguir te sequestrar, eles tentarão me atrair para uma armadilha que provavelmente usará seu Portão de Warp. E é aí que seu Arcanjo aparecerá."
Era um clichê, mas uma maneira infalível de me capturar. E, pelo que ouvi sobre Damien e a Igreja Sagrada de Rosa, essa era a cadeia de eventos que Damien provavelmente planejava.
Infelizmente, o plano deles foi frustrado muito antes mesmo da primeira jogada.
"Então, devo apenas aceitar isso de bom grado?" Irina sugeriu seu próprio plano para contra-atacar a trama sombria. "Eu vou aceitar a solicitação de Damien para se encontrar comigo e vou fazer ele baixar a guarda. Assim, ele não suspeitará de nada. No momento em que achar que sua armadilha deu certo, revelarei que sabemos de tudo, e você aparecerá para eliminar eles!"
"... Hein?"
Que história infantil era aquela? A garota tinha assistido a drama demais...
"Não, por que você iria passar por toda essa complicação?"
"O que quer dizer?"
Não consegui esconder o sorriso largo que surgiu nos meus lábios enquanto meus caninos vampíricos começavam a mostrar. Sem conseguir conter a empolgação, soltei:
"Por que esperar se podemos simplesmente destruí-los agora?"
❖❖❖
Damien Everwinter recebeu seus visitantes com uma expressão de preocupação, franzindo a testa. Ver os robes sacramenais de seus convidados roçarem contra o chão precioso da Fazenda Everwinter despertava nele um sentimento de repulsa.
Como vampiro, havia um nojo inerente aos membros da Igreja Sagrada, especialmente aqueles especializados em caçar vampiros e outras criaturas da noite. Os Exorcistas que surgiam do Portão de Warp não eram diferentes. Não, dado a notoriedade do visitante de Damien, ele sentia sua pele se arrepia e seu estômago se revirar por dentro.
Foi preciso força para manter o olhar fixo no homem que liderava o grupo e não vomitar tudo.
"Angelo Augustus Amorth... Não imaginei que a Igreja Sagrada fosse mandar uma grande figura como você."
"Padre Amorth está ótimo, Vampiro Everwinter. O Papa está dedicando toda atenção a essa missão. Claro que enviará seus melhores."
Assim como Damien tinha uma aversão natural a quem vinha da Igreja Sagrada, Padre Amorth sentia o mesmo. Na verdade, o exorcista estava em um estado bem mais indesejável. Assim que entrou na Fazenda Everwinter, a ausência de magia sagrada no ar, além do cheiro repulsivo de vampiros, fez o homem santo pensar duas vezes sobre sua missão.
No íntimo da besta, nada do que pudesse confiar era suficiente. Sem contar que ele odiava vampiros até a alma, especialmente os oportunistas como Damien Everwinter.
Infelizmente, sua missão era muito importante para que seus sentimentos o atrapalhassem.
"... Angelo, seu amado Papa já te contou o que vem a seguir?"
Damien não chamou o homem de Padre pelo mesmo motivo que Padre Amorth não chamava Damien pelo nome. Eles não queriam reconhecer um ao outro. Apesar de terem feito uma parceria para assassinar Jin, nenhum dos lados gostava da situação atual. Infelizmente, pelo bem de seus objetivos, só podiam engolir o orgulho e apertar as mãos do inimigo.
Por isso, essas palavras explícitas de hostilidade foram em grande parte ignoradas por ambos.
"Não seja burro; eu que organizei toda essa operação. Claro que sei o que vem a seguir."
"Ah? Então você é o cérebro por trás de tudo?"
"Não diria que sou o principal responsável," sorriu Padre Amorth, encarando Damien nos olhos. "Eu não fui quem quis trair sua própria Casa só para salvar a pele. O plano de usar um Arcanjo foi minha ideia, tudo o mais... Se quer saber quem é o verdadeiro cérebro, é só olhar no espelho."
"..."
Damien bufou, desviando o olhar. As palavras de Padre Amorth não eram um elogio, mas um aviso. Damien foi quem planejou toda essa encenação, e não há mais volta agora. Mesmo que tivesse dúvidas sobre trair sua Casa, ele tinha ido longe demais para desistir. A única forma de acabar essa história é com a morte de Jin... ou a dele mesmo.
Ignorando o aviso de Padre Amorth, o vampiro de Everwinter olhou para os outros membros que acompanhavam o exorcista e disse:
"Vamos criar uma desculpa para atrair a Irina para minha propriedade. Como é uma conversa entre dois herdeiros de Everwinter, Jin Valter não poderá participar. Mesmo que venha, teremos várias oportunidades de sequestrá-la bem na frente dele. Vamos escondê-la nesta câmara, e quando ele vier resgatá-la, vocês irão teleportar ela e ele de volta à Catedral, onde o Arcanjo poderá ser invocado."
"Sim, esse é o plano..." Padre Amorth coçou feliz o queixo. "No entanto, tem um detalhe que você esqueceu."
"Qual?"
"Vamos fazer umaReconhecimento do Progenitor."
"Você está louco?!"
O coração de Damien quase parou ao ouvir as palavras do exorcista. Controlando a vontade de socar a parede e sufocar o homem até a morte, ele soltou seus pensamentos mais profundos.
"Traficar você já é um crime que poderia me matar! Agora, quer me fazer permitir que esses cães da Igreja circulem livremente pela Fazenda Everwinter?! Mesmo que eu quisesse, o poder nojento de vocês será notado quando saírem daqui! Vocês querem nos matar antes mesmo de começar a missão?!"
A única razão de Matriarca Innocence e os outros membros de alto escalão da Casa Everwinter não perceberem a presença de Padre Amorth é devido às características únicas do cômodo de Damien. A magia não entra nem sai deste lugar, e vários feitiços de proteção impedem que alguém olhe de relance.
Nem mesmo a própria Matriarca Innocence perceberia a presença de Padre Amorth a menos que ela entrasse na câmara pessoalmente.
Era praticamente impossível alguém notar que Damien havia conseguido infiltrar sete membros da Igreja Sagrada. Porém, se eles saíssem da câmara, aí seria uma história diferente.
"Não se preocupem, nós cinco membros do clero não participaremos do reconhecimento."
Frente às ameaças de Damien, Padre Amorth manteve a calma. Apontou seu polegar de volta para os dois homens de mantos negros e disse:
"Esses dois serão os que ficarão de olho no Progenitor. Eles não têm treinamento bíblico, e seus corpos não possuem um grama de magia sagrada. Mas, foram treinados em técnicas de furtividade e espionagem. Se tentarem, podem ficar invisíveis por semanas a fio. Nem a Matriarca Innocence nem o próprio Progenitor conseguirão perceber a presença deles. E a cereja do bolo…"
"São Vampiros..."
Com apenas um olhar, Damien logo reconheceu a espécie daqueles dois homens.
Eles não eram Bloodservants nem Vampiros menores, como os que a Igreja poderia ter criado. Eram Vampiros Verdadeiros, verdadeiras existências superiores, oferecendo seus serviços à Igreja Sagrada, a própria entidade que os caçava.
"Vocês não têm vergonha? Se submeterem à regra da Igreja Sagrada." Damien resmungou com nojo.
"Você não faz a mesma coisa, Damien Everwinter?" Um dos homens rosnou.
"Não me interprete mal," acrescentou o outro. "No momento em que assinaram o trato com o Papa, ficaram tão deploráveis quanto nós."
"... Droga!"
Damien soltou um palavrão e desviou o olhar novamente. Nesse ponto, ele realmente estava pensando em desistir. Se entregasse essas pessoas à Matriarca, seria perdoado? Não, claro que não.
Trazer alguém sem a permissão da Matriarca já era crime, quanto mais sete membros da Igreja Sagrada. Além disso, Damien planejava sequestrar Irina, a filha favorita, e eliminar o recém-nascido Progenitor. Tudo que Damien fez até aqui era como uma sentença de morte em mil frentes.
Infelizmente, ele tinha se encurralado.
Se ao menos não tivesse provocado Irina e Jin quando estavam frágeis... Se ao menos não tivesse subornado o irmão de Irina para forçá-la a casar com ele... Se ao menos tivesse previsto o potencial de Jin...
Há muitos "se" que agora se acumulam. Damien já tinha jogado seus dados e precisava encarar o que viesse.
"Assumo que vocês não têm problemas com nossos planos."
"... Façam o que quiserem."
"Muito bem," sorriu Padre Amorth, sabendo que tinha a vantagem. "Vamos colocar esses dois agentes como empregados. Se não conseguirmos designá-los para a mansão da Irina, podemos colocá-los na área próxima a ela. Qualquer lugar dentro de quinze quilômetros serve. Meus agentes são profissionais; eles dão conta de tudo a partir daí."
"Que tipo de reconhecimento eles vão fazer?"
"Idealmente, poderíamos testar a força dele, mas isso alarmaria o Progenitor. Então, vamos medir seu poder mágico discretamente e espioná-lo em todos os seus movimentos. Como ele dorme, como come, como respira... Meus homens vão registrar cada detalhe."
"Hoh... Isso é muito bom."
"Sim, e assim que coletarmos dados suficientes, vamos..."
Nesse momento, Padre Amorth parou. Ele percebeu que Damien havia cessado de falar completamente, com os olhos bem abertos. Mas o mais estranho… A voz que respondeu a ele… não era de Damien.
Virando a cabeça freneticamente, Padre Amorth pulou assustado ao ver a outra pessoa que não deveria estar naquela câmara.
Vestido com branco, preto e ouro, o elegante Adonis exibia uma expressão divertida enquanto observava as outras pessoas se apressarem em atenção. Com pouco mais de um metro e oitenta de altura, era facilmente uma cabeça mais baixo que Padre Amorth, que media impressionantes 2,2 metros. Mas, Padre Amorth não sentia que fosse o homem mais forte da sala. Muito pelo contrário.
Enquanto examinava a beleza do homem de cabeça aos pés, o Exorcista sentiu um frio que não experimentava desde os seis anos de idade. Um medo primal que implorava para que corresse o mais rápido possível e nunca olhasse para trás.
Na frente daquele homem bonito... Padre Amorth era nada mais do que uma criança. Uma formiga que podia ser pisoteada. E, em todo o mundo, além do Arcanjo, que exigia metade dos recursos da Igreja Sagrada para ser invocado, só restava uma criatura capaz de fazê-lo sentir assim.
"Qual é o problema? Por favor, continue! Quero ouvir como você planeja me matar!"
Um sorriso alegre estampado no rosto dele. Mas, para as outras pessoas na câmara, aquele sorriso era como uma expressão do próprio Ceifador.
"Jin Valter..."