
Capítulo 85
Minha irmãzinha vampira
—Ysabelle, vamos conversar…
A beleza de cabelos negros diante dos meus olhos imediatamente vacilou ao finalmente termos a oportunidade de conversar um a um, pela primeira vez. Embora eu quisesse relembrar o passado e perguntar por que ela me evitava há tanto tempo, estávamos presenciando uma crise.
Qualquer momento, esse Demônio Exterior poderia nos digerir, e mesmo se conseguíssemos sobreviver ao ácido do seu estômago, havia a chance de ele voltar para seu próprio planeta, deixando-nos sem possibilidade de voltar para casa.
Por isso, antes de avançar mais, eu precisava descobrir o que Ysabelle sabia.
—Você sabe alguma coisa sobre esse Demônio Exterior, Ysabelle?
A deusa amazônica fitou meu rosto, segurando a vergonha que tingia suas bochechas. Parece que ela também estava segurando algumas emoções, considerando a situação crítica em que nos encontrávamos.
—... O nome dele é Eyghon.
—Eyghon?
—Sim, ele é um dos Senhores Demônio, — Ysabelle explicou de forma concisa. — A Casa Blackburn percebeu, através de análises avançadas, que havia a possibilidade de seu ressurgimento, e lutamos desesperadamente para impedir isso.
Ah, então é por isso que esse Demônio Exterior parecia tão poderoso... Era um Senhor Demônio, do mesmo nível que Cthulhu, o monstro que quase acabou com a Casa Everwinter.
—Por isso vocês contrataram lobisomens e Caçadores?
—Ex-exatamente…
Ouvir mencionar os lobisomens fez Ysabelle congelar por alguns segundos. Contudo, ela prontamente continuou a explicação: "Segundo nossos dados, enquanto eliminarmos os Okarins, impedindo que avancem, podemos potencialmente impedir a descida de Eyghon. E isso tem funcionado há algumas semanas."
Os Demônios Externos que invadiram estavam diminuindo drasticamente, e havia uma real chance de terem conseguido deter Eyghon. Mas quem poderia imaginar…"
O rosto de Ysabelle se fechou numa expressão de tristeza, e ela mordeu forte o lábio inferior.
—Eyghon, Fortaleza da Terra. O Senhor Demônio que a Casa Blackburn foi incumbida de derrotar. Seus poderes anti-magia dificultam o enfrentamento por parte dos Vampiros de Outras Casas, por isso, somos os únicos capazes de lidar com isso.
—Sim… A habilidade anti-magia é uma dor de cabeça…
Para confirmar, enviei mais uma Rajada de Dragão na parede carnuda, mas ela se dissipou novamente em nada. Tentei até criar uma lança longa e acelerá-la na esperança de perfurar a garganta de carne, mas as espessas camadas musculares eram fortes demais. Nenhuma magia ou ataque físico que eu pudesse fazer foi capaz de destruir o monstro esôfago, deixando-nos completamente impotentes.
—Você tem alguma ideia de como podemos escapar?
—Não, não tenho nada. Para minha surpresa, a princesa Blackburn estava completamente sem pistas de como escapar dessa situação. —Eyghon apareceu poucas vezes na história, e nunca conseguimos obter muitos dados sobre ele. Mas uma coisa sempre foi certa…
Ysabelle olhou nos meus olhos, suas pupilas de ágata ficando enevoadas ao mesmo tempo:
—Aqueles que foram engolidos pelo Senhor Demônio... Nunca retornam.
—Entendo… Que pena…
Essa não era uma boa notícia… Embora se eu pensasse bem, dava para entender por que ninguém voltava se o interior desse Demônio Exterior era tão traiçoeiro. Não conseguia destruí-lo com magia, e ataques físicos apenas ricocheteavam. Ainda assim, eu não era alguém que se entregasse ao destino facilmente.
—Ysabelle… preciso que você me diga tudo que sabe sobre Eyghon.
—...O que você quer saber?
Observei a beleza de cabelos negros, que já parecia um pouco mais calma após seu choque. Apesar de notar alguns tremores na voz dela, sabia que sua mentalidade de guerreira tinha voltado completamente. Com uma respiração profunda, respondi:
—Tudo.
❖❖❖
—IRMÃO!!! IRMÃO!!! FODA-SE ESSE DEMÔNIO!!! DEIXA EU CONGELAR ELE ATÉ MORRER!!!
Enquanto Jin e Ysabelle planejavam seus próximos passos dentro das mandíbulas da besta, os dois herdeiros Vampiros lá fora não estavam tão calmos. Principalmente a garota de cabelo branco, que desejava desesperadamente salvar seu irmão do monstro que ousou comê-lo.
—Calma, Senhorita Irina! É um Senhor Demônio que estamos enfrentando! Não podemos arriscar sua segurança!
Variel tentou acalmar sua mestra, mas isso só aumentou o fogo em seu coração. Desde que ela realizou o ritual para transformar Jin em Vampiro, a garota nunca tinha visto Jin sofrer algum dano. Quando Jin lutava contra a Casa Bloodborne e Sirius Moonreaver, ela ainda estava em retaliação, treinando para completar sua própria magia de Domínio.
Se Irina estivesse presente naquela época, seria quase inevitável que ela congelasse o mundo inteiro, e qualquer um que ousasse ferir Jin nesse processo. Ver o homem que ela amava em perigo mexeu com o nervo dela, e ela estava pronta para partir para o combate, independentemente do oponente ser um Senhor Demônio ou um Vampiro antigo.
—Calmar?! Você quer que eu me acalme, Variel?! O irmão foi engolido por aquele monstro! Precisamos salvá-lo agora!
—Senhorita Irina, esse é Eyghon! O Senhor Demônio! Não podemos fazer nada para ajudar no momento! Devemos nos reagrupar, buscar ajuda, talvez chamar a Matriarca—...
—Então vai ser tarde demais! Você pode ser responsabilizado se o irmão morrer?! Não?! Então, não me impeça!
Irina estava prestes a voar ao céu e lançar uma tempestade congelante sobre o nojento Demônio Exterior. Mas quem a impediria não seria o guarda-costas que a Casa Everwinter tinha colocado nela, mas a mulher que ela chamava de rival.
—Irina, segure sua mão. Sua magia não fará nada contra Eyghon. A única coisa que faria é piorar a situação do Senhor Demônio. Se ele se sentir ameaçado e fugir, você consegue assumir a responsabilidade?
—...
Felizmente, suas emoções furiosas ainda não tinham nocauteado a cabeça de Irina. A lógica de Lilith prevaleceu, e a jovem baixou os punhos, olhando de forma ameaçadora para a careta do monstro.
—Você tem razão… Não posso deixar esse monstro fugir com o irmão na boca.
Irina assentiu, embora sua face estivesse claramente carregada de frustração, vermelha de raiva. Além disso, suas unhas cravaram fundo na palma das mãos, criando uma corrente imensa de sangue. —Obrigada por me impedir.
—De nada.
—Como você consegue ficar tão calma, Lilith?
Irina não estava brincando quando fez essa pergunta. Ela realmente tinha curiosidade de como Lilith, uma mulher que amava Jin tanto quanto ela, conseguia manter a racionalidade nessa situação. Contudo, contradizendo suas expectativas, a Vampira loira virou as cavidades oculares para ela, revelando que suas pupilas estavam profundamente carmines.
—Calma? Eu pareço calma?
As palavras de Lilith eram suaves, mas a convicção nelas não. Se alguém olhasse bem, veria seu corpo pequeno tremendo enquanto suas unhas ficavam ainda mais afiadas. Os caninos, bem presos aos seus lábios de cereja, começavam a mostrar, e seu poder mágico subia lentamente.
—Assim como você, eu quero arrancar a boca de Eyghon e salvar Jin agora mesmo! Mas precisamos manter a cabeça fria. Senão, podemos perder o Jin para sempre.
—Sim… Você tem razão.
—Além disso… Você consegue sentir?
As palavras de Lilith reduziram a raiva de Irina consideravelmente enquanto a curiosidade enchia sua mente. Ela pensou por um momento, até finalmente entender o que Lilith quis dizer. Fechando os olhos, mergulhou profundamente em sua alma. Demorou um pouco, mas logo um pulsar suave podia ser sentido pulsando na parte mais interior dela. Era gentil e extremamente delicado. Semelhante ao modo como um certo amante em sua vida a trataria.
Era como se aquela conexão a tranquilizasse, assegurando que tudo ficaria bem e que logo estaria nos seus braços novamente.
—Jin ainda está vivo — Lilith sorriu. — E está nos dizendo para não nos assustarmos.
—Irmão…
Embora ele tivesse devolvido suas almas a eles, Jin ainda possuía uma conexão profunda com as duas meninas. Apesar de não ser tão forte quanto saber sua localização o tempo todo, ele podia ao menos provar que ainda estava vivo, independentemente de estar em uma zona anti-magia ou não.
—Você tem razão… O irmão ainda está vivo!
—Hmph! Claro que está. Jin não vai morrer tão facilmente. Talvez você não tenha percebido, já que não é a companheira de sangue dele.
—Harg?!
Irina retrucou ao insulto de Lilith. Apesar de ela e Jin não terem oficializado o pacto de companheiros de sangue, os dois já estavam praticamente casados de corpo e alma. Na verdade, a única razão de Irina ainda não ter forçado Jin a fazer o pacto era por causa da interferência de Lilith.
—Quando o irmão voltar, vou garantir que assinem o pacto de sangue imediatamente!
—Hoh? Você tem coragem de dizer isso pra mim… a única companheira de sangue do Jin!
—Foda-se!
Como fogo e gelo, as duas mulheres não se davam bem. Era preciso todo o esforço delas para não começarem uma nova disputa com o direito de deitar com Jin em jogo mais uma vez. Geralmente, Irina não suportava ofensas assim sem responder, mas, naquele momento, ela não podia se dar ao luxo de perder tempo.
—Deixa pra mim depois! Agora, vamos elaborar um plano para resgatar o irmão! Não sabemos quando esse Demônio Exterior vai fugir!
—Ah, você não precisa se preocupar com isso.
No entanto, diferente da urgência de Irina, Lilith balançou as mãos e avançou até a esquina da montanha.
—O que você quer dizer?
—Por isso mesmo você deveria ler mais livros…
Lilith balançou a cabeça e reprimiu a vontade de provocá-la mais uma vez. Afinal, mesmo que Irina fosse uma gênios que poderia dominar um domínio em apenas um mês, levando anos para isso, ela não se interessava por nada que não estivesse relacionada ao Jin.
Se você perguntasse o que era o teorema de Pitágoras, ela responderia com pontos de interrogação; mas se perguntasse o que Jin comeu no almoço há dez anos, ela daria detalhes minuciosos.
Por mais que Lilith odiava admitir, ninguém conhecia Jin melhor que sua querida irmãzinha. Pode-se dizer que Irina era uma verdadeira historiadora de Jin, se esse pudesse ser uma profissão.
—Você viu… Eyghon tem um padrão…
❖❖❖
—Sempre que Eyghon aparece, ele fica no mesmo lugar por três dias?
Ysabelle começou a explicar tudo o que sabia sobre o Senhor Demônio com base nos registros que conseguiu na Casa Blackburn. Ouvi atentamente, absorvendo o máximo de informações possível. Mas, infelizmente, havia muito pouca coisa sobre as fraquezas de Eyghon. Porém, havia um detalhe crucial que não podia deixar passar.
—Isso mesmo, — Ysabelle confirmou com a cabeça ao meu sinal. — Não sabemos exatamente por quê, mas toda vez que Eyghon aparece, ele fica parado no mesmo lugar como uma montanha sem alma. E, a menos que seja provocada, ele não se move por três dias, ou seja, setenta e duas horas.
—Por quê exatamente assim tão específico?
—Não sabemos.
A beleza de cabelos negros balançou a cabeça solenemente. —Tudo o que sabemos é que, sempre que o Senhor Demônio aparece, seus lacaios fazem estrago enquanto ele descansa. Algumas teorias explicam o motivo, mas nenhuma foi comprovada de forma conclusiva.
—Que coisa chata…
Isso significa que não havia informações que pudéssemos usar para explorar o monstro. Contudo, isso não significava que a esperança estivesse perdida. Se a informação de Ysabelle estivesse certa, ainda tínhamos mais de setenta horas para encontrar uma saída. Pelo menos, podíamos ter certeza de que, por enquanto, não seríamos puxados de volta ao planeta do Demônio Exterior.
—... Na minha opinião, temos duas opções.
—Quais são?
—Primeira, subir pelo tubo e buscar abrigo na boca de Eyghon. Se por algum motivo ele abrir a boca, podemos tentar escapar.
Essa era a opção mais segura. Conseguiríamos nos proteger do ácido estomacal, e com minha magia de Criação, poderia garantir uma certa estabilidade. Contudo, como precisaríamos esperar até que Eyghon abrisse a boca, estaríamos basicamente rezando para que um milagre acontecesse. Se o Senhor Demônio não abrir a boca nas próximas setenta e duas horas… Em suma, estaríamos ferrados.
Ysabelle não era uma tola ingênua, e conseguia identificar facilmente as questões. Se optássemos por essa alternativa, deixaríamos nossas vidas ao acaso. Além disso, não havia garantia de que escaparíamos mesmo que Eyghon abrisse a boca.
—Qual a segunda opção?
Sabendo que Ysabelle perguntaria isso, sorri de forma brincalhona e apontei meu dedo para o túnel de carne. E, assim que ela adivinhou minha intenção, a adorável amazônica arregalou os olhos, chocada.
—A gente mergulha na barriga da fera.