
Capítulo 89
Minha irmãzinha vampira
Vinte minutos se passaram desde que Ysabelle começou a chorar nos meus braços. Nada tinha mudado no interior da câmara. Nem o Coração de Ferro, nem o vasto teto que desenhava um manto de estrelas. Meu poder mágico estava selado, deixando-me apenas com meu corpo físico. Contudo, não tinha pressa para escapar.
Eu acariciava as costas da moça, fazendo o que fosse possível para acalmar os soluços dela. À medida que suas lágrimas secavam e seus ombros paravam de tremer, levantei o queixo do dela e levantei seus olhos para que me olhassem.
"Já se acalmou?"
"Jin..."
Os olhos valentes da amazona haviam desaparecido. A guerreira indomável que não recuaria diante de um exército de Demônios Externos se transformara em um gatinho manso. Ysabelle encostou a cabeça contra meu peito e deixou escapar um miado adorável.
"Desculpa… Molhei sua camisa."
"Haha, você pensa nas coisas mais esquisitas."
"Que tal você reembolsar o valor da camisa com um beijo, então?"
"J-Jin! O que está dizendo nesse momento?!"
Ysabelle franzia a testa e abaixava a cabeça, com as bochechas coradas. Surpreendentemente, essa menina era sensível às provocações, assim como Irina e Lilith. Mas, parece que Ysabelle era muito mais inocente. Ela mal conseguia olhar nos meus olhos, inclinando a cabeça para longe. No entanto, não havia sinais de que estivesse saindo do meu abraço.
Na verdade, seu corpo ainda repousava confortavelmente sobre mim, com o peito colado ao meu.
"Hehe, já se acalmou?"
"Sim, acho que estou melhor agora." Ysabelle suspirou e deu uma respiração profunda. Ela tentou sair do meu colo, mas meus braços foram mais rápidos. Apertando seus ombros, forcei-a a ficar ali.
"Não, não vá."
"J-Jin?"
"Vamos conversar assim."
"N-Não seria melhor se…"
"Não."
Eu não ia ceder nisso. Ysabelle estava emocionalmente balançada. Embora eu não soubesse exatamente o que ela sentia por dentro, não ia deixá-la enfrentar a tristeza sozinha. Com mais força nos braços, assegurei que ela não escapar das minhas garras tão cedo. Somente então ela finalmente cedeu e suspirou:
"Você é bastante insistente, sabia, Jin?"
"Disseram isso de vez em quando," lembrei-me do comentário da Lilith sobre meu obsessivismo durante nossa conversa íntima. Infelizmente, não tinha como evitar. Queria minhas mulheres felizes e, se precisasse usar um pouco de força, estava disposto a isso.
"E, já que estou sendo insistente, poderia compartilhar comigo seus problemas, Ysabelle?"
"…"
O olhar da moça de cabelos negros ficou triste novamente, enquanto uma expressão melancólica tomava seu sorriso brilhante e alegre. Ela fechou os olhos e respirou fundo, como se estivesse refletindo sobre tudo que havia acontecido na vida até ali. E, após dez segundos completos, a garota finalmente tomou uma decisão.
"Jin… Quanto você se lembra do nosso passado? Do passado?" Ysabelle me lançou a primeira pergunta enquanto suas mãos se fechavam em punho no meu colo.
"Verdadeiramente… Não me lembro de muita coisa. Como eu tinha devolvido as almas da Irina e Lilith, consegui desbloquear a maior parte das memórias que compartilhávamos. Tenho vagas lembranças de pedaços de quando nos relacionávamos e lembro do grande vínculo que tínhamos."
"… Você se lembra como nos conhecemos?"
"Não… Desculpe…"
"Até agora? A Irina e Lilith não te contaram?"
"Não, elas não contaram."
"O que elas estão pensando?"
Ysabelle cuspiu com raiva e olhou ao longe, como se tentasse queimar as garotas que escondiam a verdade de mim. A razão que me deram foi que temiam que lembrar as memórias pudesse causar danos irreversíveis à minha alma. Mas eu consegui interpretar além das palavras.
O verdadeiro motivo pelo qual Irina e Lilith esconderam o passado de mim era porque não queriam dar vantagem às suas rivais. Sempre que eu perguntava sobre Ysabelle ou Rosalyn, elas mudavam de assunto ou davam respostas longas e sem sentido.
Embora achasse sua possessividade e ciúmes fofos, também queria aprender mais sobre as outras duas garotas. Afinal, eu planejava torná-las todas minhas parceiras de sangue. Não fazia sentido um marido não saber de quase nada sobre suas esposas, não é?
"Acho que vou ter que recuperar o começo da história…"
Ysabelle virou a cabeça para baixo e murmurou suavemente. Encostou a cabeça no meu peito, com os olhos marejados enquanto as memórias voltavam à ela.
"Há quinze anos, houve uma reunião entre as Casas Guardiãs. Era uma reunião de rotina onde as dez Casas Guardiãs se encontravam para discutir assuntos relativos à raça Vampira. Embora fosse uma reunião importante, nada de especial aconteceu."
Ah, deve ser algo como uma reunião de rotina para discutir o balanço fiscal e os planos futuros da empresa.
"Porém, durante essa reunião, as quatro Casas mais influentes perceberam uma coisa: todas tinham filhas prodigiosas entre suas fileiras. Quatro filhas que, um dia, se tornariam pilares que liderariam a raça Vampira e, quem sabe, inaugurariam uma nova era para todos os Vampiros."
As quatro casas mais influentes, hein? Deve ser a Everwinter, Moonreaver, Blackburn e Shadowgarden.
Baseando-me no que Lilith tinha me contado, a Casa Everwinter era a soberana do Norte, uma força imbatível que nenhum exército conseguiria enfrentar. A Casa Moonreaver monopolizava Portais de Warp e Reinos Pesadelo, tornando-se a mais próspera na história dos Vampiros. A Blackburn representava a espada da raça vampira, combatendo qualquer ameaça à sua hegemonia.
E, por fim, a Casa Shadowgarden especializava-se em espionagem e na obtenção de informações, superando qualquer agência de inteligência do mundo.
Essas quatro casas eram conhecidas como os pilares da raça Vampira.
Sim, as outras seis Casas Guardiãs também eram importantes, cada uma tão forte quanto um país pequeno. Mas, em comparação às quatro grandes, tinham um brilho menor.
"Quando as quatro casas perceberam isso, decidiram formar uma aliança. Reuniriam esses quatro jovens talentos num campo de treinamento por três meses. Bem, eu digo que era um campo de treinamento, mas a verdadeira razão por traz disso era que precisavam que criássemos laços fraternais."
Como era de se esperar, as quatro Casas juntaram Irina, Lilith, Ysabelle e Rosalyn por um motivo válido.
Para que uma aliança se consolidasse, aquelas quatro futuras talentos precisavam se dar bem entre si, e a melhor forma de fortalecer uma relação é começar cedo.
"Levaram-nos a um local isolado no mundo humano, longe das intrigas da sociedade vampira, um lugar onde não seríamos incomodadas. Uma vila numa campina com vista para um lago bonito. Na verdade, mais parecia uma viagem de estudos do que um campo de treinamento."
Consigo imaginar. Quatro jovens de cerca de dez anos reunidas por três meses sozinhas numa vila. Parecia mais uma excursão escolar que todos fazemos na escola primária.
"Tínhamos supervisão, sim. Mas, na maior parte, as quatro podíamos fazer o que quiséssemos."
Ysabelle sorriu ao recordar os primeiros dias da sua férias. Mas, após um breve momento de alegria, o rosto dela ficou sério, uma sombra passou por seus olhos.
"Havia um problema, no entanto... As quatro Casas enviaram as nossas, achando que éramos de talentos semelhantes. No entanto, isso não era verdade."
A expressão de Ysabelle escurecia a cada minuto.
"Irina possuía o Aspecto do Soberano do Inverno, o mesmo que a Matriarca Inocência, e era a esperança da Casa Everwinter. Lilith era uma gênio da sua geração, capaz de superar todas as Moonreavers anteriores. E Rosa… Rosa tinha um talento especial cujo potencial ultrapassava em muito os nossos. Quanto a mim…"
Ysabelle mordia o lábio inferior, fazendo uma gota de sangue escorrer pela boca.
"Eu era apenas a filha do General Enzo, atual líder da Casa Blackburn. Não acordei nenhum aspecto especial, não sou muito inteligente. Era inferior em tudo. Só estava ali… Para fazer conexões com as outras três."
A moça de cabelos negros se depreciava, como se fosse a pior coisa que acontecera à raça Vampira. Eu quase queria acabar com a mágoa dela ali mesmo, mas ela me silenciou com as próximas palavras.
"Eu era a mais fraca das quatro, não tinha inteligência, e certamente não era tão bonita quanto elas. Elas eram as joias brilhantes de suas Casas, enquanto eu não passava de uma chorona. Não sabia lutar, era fraca. Nem meu pai se incomodava em treinar-me direito."
Ysabelle…
"Eu não tinha lugar entre elas. Era só uma figurante, uma simples espectadora para que minha família ganhasse influência na próxima geração de gênios. Não passava de uma menina burra que chorava a noite toda na cama. Até que…"
Ysabelle finalmente levantou a cabeça, juntando nosso olhar. O aroma intenso de uma praia de verão saía dela, fazendo com que eu levasse meu rosto mais perto do dela. Mas, antes que pudesse avançar mais, ela virou o sorriso mais bonito que já tinha visto nela e disse:
"Eu te conheci, Jin."