Minha irmãzinha vampira

Capítulo 67

Minha irmãzinha vampira

"Gênesis."

Uma luz cegante explodiu do meu anel de Criação, intensa o bastante para incapacitar meu agressor. Infelizmente, só isso não seria suficiente para impedir o golpe final de Sirius. Assim, a luz caleidoscópica de arco-íris se congregou em uma esfera forte, indestrutível, que me cobriu da cabeça aos pés.

CLINK!!!

O Stardevourer de Sirius, que dizia ter sido criado com os materiais mais resistentes do planeta, ricocheteou na minha barreira, expulsando o homem dezenas de metros para trás. Claramente atônito com o que aconteceu, Sirius abriu um pouco a mandíbula e olhou com expressão de perplexidade para o Stardevourer. Em seguida, rapidamente virou o olhar para a barreira que eu tinha criado.

O que seus olhos viram foi o ápice da minha habilidade de Criação. Uma força totalmentemente envolta por um campo de força no formato de uma casca intransponível. Hexágonos perfeitamente simétricos alinhados, fazendo a barreira parecer mais uma carapaça de tartaruga do que uma pelota de marfim perfeita. Contudo, seu poder era inegável.

À prova de vazamentos, rígido e quase impossível de romper, usei minha habilidade de Criação aperfeiçoada para conceber a melhor magia de barreira que podia imaginar.

"Ágios."

Levantei minha mão direita confiante para mostrar meu anel radiante de arco-íris. Essa era a carta na manga que desenvolvi ao longo do último mês de treinamento.

Desde que acordei meu Aspecto de Vampiro, percebi que faltava alguma coisa nas minhas magias. Era como se minhas habilidades sempre estivessem restritas por alguma coisa, seja a limitação na minha alma ou outro fator qualquer. No entanto, ao beber mais do sangue de Irina e Lilith e estudar mais nas bibliotecas que me foram disponibilizadas, logo entendi qual era meu problema.

Cada verdadeiro Vampiro descobriu o nome verdadeiro do seu Aspecto de Vampiro. Para Irina, era o 'Soberano do Inverno'; para Lilith, era a 'Melodia Élisea'. Cada um podia descobrir seu Aspecto de Vampiro instintivamente, apenas olhando na sua alma.

E, ainda assim… eu não tinha a menor ideia do que era meu Aspecto de Vampiro.

Não havia registro algum nos livros nem precedente para essa Armadura de Alma única que conjurei. E, para completar, não conseguia descobri-lo naturalmente, pois as almas das outras meninas ainda estavam inibindo meu corpo.

Porém, havia uma solução…

Embora eu não soubesse o nome verdadeiro do meu Aspecto de Vampiro, sabia quais eram minhas duas habilidades despertas. Sabia o que elas representavam, quais poderes poderiam liberar e, o mais importante… sabia a melhor forma de utilizá-las.

Por isso… decidi nomear minhas habilidades por conta própria.

No fim, eu era quem controlava minha vida moribunda. Por que não tomar as rédeas das minhas habilidades nascente, sem nome, e dar um nome a elas?

Meu poder de Criação ignorava as leis da física e a lei de conversão de matéria. Eu podia criar algo do nada usando apenas magia pura. Não precisava de pedra para fazer tijolos. Basta conjurá-los do ar.

Portanto… tal poder foi adequadamente nomeado…

Gênesis.

Porém… nomear minhas duas habilidades atuais tinha um custo. Um custo alto de energia mágica, para ser exato. Enquanto os efeitos de usar Gênesis eram dobrados em relação às magias de criação normais, as magias sob o efeito de Gênesis consumiam magia rapidamente, numa velocidade que meu corpo jovem não suportava.

Ainda agora, 'Gênesis: Ágios' drenava minha energia tão rápido que eu podia sentir meus braços ficando mais finos.

Quando utilizava minhas magias nomeadas, tinha que encerrar a batalha.

"Criação: Fogo de Dragão."

Agora que tinha me comprometido, não poderia mais recuar. Minha magia duraria no máximo um minuto, e, se quisesse vencer esse duelo, tinha que usar tudo que tivesse. E meu anel de arco-íris refletia minha decisão. Uma imensa quantidade de poder mágico emergiu do meu Armamento da Alma, enquanto uma sombra de cabeça de Dragão aparecia acima de mim.

O dragão fantasmagórico abriu a boca como um bebê faminto que busca leite, e em um instante, uma chama ardente, mais quente que a magma da própria Terra, jorrou como um rio de lava. O Fogo de Dragão mostrou seu potencial destrutivo ao quebrar a rocha grossa de Queda Estelar e vaporizando instantaneamente qualquer líquido próximo.

BANG!!! CRRRKKKTT!!! TTSSSTTT!!!

Estalos de fogos de artifício podiam ser ouvidos, e a potência destrutiva do Fogo de Dragão só aumentava com o tempo. Se nada fosse feito, as chamas engoliriam toda a Terra Santa e, provavelmente, derreteriam tudo até a beira do oceano.

E isso jamais poderia ser permitido por Sirius.

O homem loiro levantou sua arma mítica antiga, balançando a alabarda como um bailarino de espadas. Um torrent de magia dimensional deixou um rastro de distorções na realidade. Antes que eu percebesse, Sirius cortou abruptamente o Stardevourer, formando um portal que levava a outro lugar.

Eu só tive um instante para vislumbrar o portal, mas pude ver apenas ondas do oceano batendo numa praia abandonada. Nesse momento, meu Fogo de Dragão já tinha chegado ao local de Sirius, mas, graças ao portal que ele criou, nenhuma das chamas destrutivas tocou seu corpo.

O máximo que consegui foi assistir enquanto meu ataque evaporava toda a praia, deixando apenas areias enfumaçadas e peixes derretidos no rastro.

"… Quem é você?"

Sirius franziu a testa e me lançou um olhar curioso. Diria que ele estava cinquenta por cento espantado, trinta confuso, e o restante só de incredulidade.

"Nunca tinha ouvido falar de um jovem Vampiro conjurando magias tão poderosas em sequência. Jogar meteoros, criar uma barreira que reflete o Stardevourer, e agora essa chama que rivaliza com os poderes destrutivos do Fire Blood do Bloodborne… O que você é, afinal?"

Tch, agora quer conversar?! Tarde demais pra isso, amigão.

Gostaria muito de responder à questão dele, mas precisa terminar o duelo antes de chegar ao meu limite. E, sem aviso prévio, criei dezenas de estilhaços afiados impregnados de magia. Não importava se eram de metal, gelo ou pura pedra. Até incluí um de prata, só por garantia.

Levantei minha mão e troquei do anel de Criação para o anel azul que se ajustava confortavelmente ao meu dedo do meio.

"Quem eu sou? Acho que sua irmã já te contou."

Ri e olhei por cima do ombro. Mesmo com o tempo apertando, não pude deixar de olhar de volta para aquela mulher que me colocou nessa situação desde o começo. Ela tinha as mãos na boca, como sempre, com seu rosto transmitindo a mesma preocupação de antes.

Ela foi quem preservou minha alma no exato momento em que ela se quebrou, e a garota responsável por me dar uma nova chance de viver. Ainda agora, ela rezava pela minha segurança, não para que eu vencêssemos, mas para que eu voltasse a ela sem ferimentos. Ela se contentava em me ter de volta nos braços, sem me importar com o resultado do duelo.

E, acima de tudo…

"Sou o homem que vai se casar com sua irmã."

"Imperium: Atração!"

Uma energia mágica saiu do meu anel de Criação, dispersando instantaneamente o Escudo Ágios que protegia meu corpo. No meu nível atual de domínio, não podia conjurar duas magias nomeadas ao mesmo tempo. Então, troquei para o anel de Espaço-Tempo e concentrei a maior parte da energia mágica nele.

Sirius, que tinha acompanhado atento todo esse movimento, de repente não conseguiu mais mover seu corpo. Ou melhor, caiu sob meu controle telecinético. Normalmente, a maioria dos Verdadeiros Vampiros com grande reserva de magia poderiam se libertar do meu controle telecinético apenas canalizando sua magia.

Porém, assim como Gênesis, Imperium era o nome que dei ao meu anel do meio. Magias conjuradas sob o nome de Imperium eram dez vezes mais fortes do que o normal e podiam até fazer monstros antigos, como Sirius ou a Matriarca Innocence, caírem sob meu domínio.

Infelizmente, devido ao grande esforço que isso exigia do meu corpo, eu só podia atrair ou repelir eles uma única vez. Mas era tudo que precisava nesta batalha.

Puxei Sirius para perto de mim e enviei os estilhaços afiados, cobertos de magia, na direção dele. Essa era minha última investida total. Bastava um único acerto... Só um só — e eu vencerei o duelo.

Porém…

Woooo! Woooo! Woooo!

Todos os estilhaços, que poderiam ter penetrado sua carne ou pelo menos arranhado seu corpo, atravessaram Sirius como se ele sequer estivesse ali. Como uma projeção ou um espectro, ele permanecia ameaçador no ar, enquanto meu feitiço Imperium se dissipava e os últimos projéteis se cravaram firmemente no chão atrás dele.

Com a testa suada e a face completamente vermelha, olhei com indignação para o homem loiro, que permanecia impassível. Foi nesse momento que percebi… que essa luta nunca foi realmente vencível para mim.

"Você consegue passar através de objetos?"

"Exatamente."

"Hah… Você realmente me enganou, não foi?"

Olhei para o céu estrelado e não pude deixar de rir. Não era de se surpreender que ele estivesse tão confiante de que eu não daria um único golpe nele. Se ele tinha a habilidade de atravessar objetos, eu jamais tinha chance, desde o começo.

"Na verdade, nunca pensei em usar essa habilidade contra você. Afinal, ela não é minha, mas do Stardevourer. Queria te derrotar com minha força própria, e mesmo assim… Você me forçou a usar o poder do Sirius."

Sirius levantou sua arma mítica, com um sorriso irônico. Ah, como pude esquecer? Eu não estava lutando contra a irmã de Lilith; eu enfrentava gerações inteiras dos melhores guerreiros da Casa Moonreaver. Minhas magias de Gênesis e Imperium estavam longe de serem suficientes para derrotar cinco mil anos de poder coletivo.

… Realmente dava de frustrar.

"Você realmente me impressionou," Sirius disse com uma tosse seca. "Embora tenha perdido esta batalha, ganhou ao menos algum do meu respeito. Mas você é perigoso demais para ficar com minha irmã, e por isso… vou te mandar embora."

O homem levantou seu Stardevourer, coberto de uma camada espessa de relâmpagos. Apontou a ponta da alabarda diretamente ao meu coração e a segurou na posição, pronta para perfurar com um único golpe.

Mesmo com minha habilidade de cura superior, não conseguiria lutar se meu coração fosse atravessado.

E, se ele conseguir fazer exatamente isso… O duelo teria acabado.

Eu perderia.

Teriam que me separar de Lilith e eu nunca mais a veria. Seria apenas mais um perdedor incapaz de conquistar a garota, mesmo ela tendo feito tudo por mim. E, mais do que tudo…

Eu quebraria o coração de Lilith.

Não! Não era por isso que treinei tanto no começo? Para nunca mais me sentir tão indefeso?! Como poderia perder agora? Como poderia trair a mulher que confiou em mim?

"ARGHHH!!!"

Com as últimas forças que me restavam, soltei um grito primal. Uma energia mágica que nunca soube que tinha fluiu para meu dedo médio, canalizando tudo que tinha em meu anel de Espaço. Minha magia, minha alma, minha consciência… Tudo concentrado naquele anel.

Por quê?

Porque eu tinha apenas uma última carta para jogar.

"Imperium: Parar o Tempo!!!"

Parar o tempo era minha última jogada. Não sabia exatamente o que conseguiria, já que nem conseguieria tocar Sirius, mas tinha que tentar. Infelizmente, o vampiro verdadeiro de mil anos se movia mais rápido do que minha pausa no tempo conseguia impedir.

A quantidade limitada de magia que sobrara servia apenas para fazer Sirius parar por uma fração de milésimo de segundo, impossibilitando-me de contra-atacar.

E assim, no meu estado de loucura, só pude fazer uma coisa.

"Bleurgh…"

Minha boca ficou vermelha, e minha consciência turvou. Sem perceber, olhei para o rosto de Sirius, que agora estava a poucos centímetros do meu. Sua expressão era tranquila, como se fosse só mais um dia de trabalho. Curiosamente, com o rosto tão perto, encontrei algum consolo em admirar suas feições que se pareciam muito com os da minha amada Lilith.

No entanto, estava apenas distraindo-me da dura verdade.

Olhei para baixo e percebi que o Stardevourer estava firmemente preso ao meu peito. Sua lâmina tinha perfurado meu corpo, e sangue da minha boca escorria, manchando seu cabo.

Não senti dor, e tampouco sofrimento. O mundo parecia silenciado para mim, enquanto tinha certeza que Lilith gritava. E, mesmo assim, não ouvia nada. Tudo que conseguia sentir eram os batimentos rápidos do meu coração e o silêncio sombrio do mundo.

Eu tinha perdido.

Eu claramente, claramente tinha perdido.

E ainda assim…

O que é essa sensação de êxtase que estou sentindo?