
Capítulo 69
Minha irmãzinha vampira
Acordei ao som do chuveiro crepitando, enquanto um raio de luar permeava minha pele. O mundo girava, e minha cabeça estava repleta de dores que pareciam penetrar em tudo. E o barulho do chuveiro só piorava a situação. Era como uma dor de cabeça pulsante que não passava, não importasse o quanto eu tentasse socar para aliviar.
Sim, parecia exatamente uma ressaca.
Levantando o pescoço, apoiei minhas costas no cabeceiro da cama e cuidadosamente observei ao redor. Estava deitado numa cama familiar, só com o tecido da calça de dormir — nada mais. Meu corpo tinha um incômodo leve, mas não havia sinais de ferimentos, já que possuía habilidades de regeneração sobre-humanas. Infelizmente, mesmo minha regeneração não podia fazer nada contra essa maldita dor de cabeça que estava me derrubando.
Bati suavemente a cabeça com o bordo do pulso e tentei reconstituir o que tinha acontecido antes de perder a consciência.
Se não me engano, tive um duelo com Sirius. Ele me detonou e acabou revelando que podia atravessar objetos. Sério, que personagem quebrado. Não só era o Moonreaver mais forte do planeta, como também podia atravessar ataques. Isso não quer dizer que eu não pudesse acertar nada nele, né?
Urgh, mas e o que aconteceu depois?
Nós lutamos por um tempo; usei meus feitiços nomeados, que drenaram toda a minha magia, até que…
Espera aí…
Não foi eu quem conseguiu perfurar o peito dele?
Calma!!! Aquilo não foi um sonho, foi? Realmente consegui enfiar minha mão no corpo dele! Jesus, isso significa que eu venci? Contra Sirius Moonreaver? Meu Deus, o que aconteceu depois?!
Sirius iria cumprir sua promessa?! Irei morar com Lilith no futuro?!
Porra, o que foi que aconteceu?! Era só desmaiar na hora certa!!!
Por sorte, não precisei esperar muito pela resposta. Quando minha cabeça começou a clarear, finalmente lembrei do quarto em que estava. Dormi nele desde que cheguei à Dimensão Moonreaver, e as coisas que fiz nesta cama não deveriam dar as caras por aí.
Claro, ainda não tinha ido até o final com ela, mas, por experiência anterior com Irina, tinha bagunçado a cabeça de Lilith mostrando umas jogadas ou duas.
O quarto permanecia igual. Estava vestindo a mesma camisola finíssima de antes. Não, estava mais ousada. Sem a camisa e sem nenhum roupa íntima, quase ia tirar a roupa toda na próxima puxada.
E bem, a única pessoa que poderia me vestir assim era ela mesma — e ela estava prestes a aparecer.
Lilith, que estava tomando banho, saiu com um roupão pendurado nos ombros e uma toalha enrolada no pescoço. O aroma de primavera de seu cabelo sedoso indicava que a estação já tinha chegado, e com cada passo que dava, meu rosto se enchia de expectativa.
Seus olhos belíssimos, brilhando como oceano, se fundiam com seu pescoço de branco vaporizado, dificultando olhar para outra direção. Apesar do roupão folgado, não podia esconder as curvas perfeitas de seu corpo. Sem falar nas coxas brancas que denunciavam que ela não usava nada por baixo.
E finalmente… seu pescoço… Sua porra de pescoço.
Estava perfeitamente posicionado na minha visão periférica. Minha boca começou a salivar, e meus dentes mostraram-se involuntariamente. Queria cravar minhas presas naquela nuca alva e doce e sugar toda a vitalidade da mulher mais linda que conhecia. Mas, antes que meus instintos primais dominassem minha mente, fui interrompido por Lilith desaparecendo da minha visão e saltando direto para o meu peito.
"Jin! Você está acordado!"
"Lilith?"
A primeira coisa que notei foi o cheiro doce de shampoo. Já estou com ela há mais de um mês e sei bem como ela cheira. E, embora ela normalmente tenha um perfume ótimo, essa camada extra de aroma trouxe algo que nunca senti antes. Provavelmente, ela estava usando uma combinação de produtos — maquiagem, perfume, shampoo, desodorante.
Parecia estranho notar essas coisas enquanto seu rosto chorava lágrimas, mas não consegui evitar.
É assim que essa garota se tornou tão atraente.
"Não se preocupe", sorri enquanto acariciava a nuca dela. "Agora estou bem, não é?"
"Sim", Lilith afastou o rosto, sorrindo entre lágrimas. "Você se recuperou perfeitamente!"
"Haha, quanto tempo fiquei fora?"
"Meio dia", ela explicou, com os braços firmemente presos à minha cintura. "Você estava sem magia, e eu não sabia quanto tempo ia levar pra você acordar! Se conseguiu se recuperar em meio dia… Seu sangue vampírico deve ser mais forte do que imaginávamos!"
Hoh? Depois de gastar toda minha energia, fiquei inconsciente por algumas horas? Isso não é bom. Ainda bem que nada de pior aconteceu dessa vez. Acho que Lilith me protegeu antes que aquele idiota Sirius pudesse fazer alguma coisa. Mas mesmo assim, essa falha não pode passar batido.
Não posso desmaiar toda vez que me exausto! Tsk, vou precisar pesquisar maneiras de evitar isso depois, mas, por ora…
"Você voltou a pensar em treinar, não foi?"
Lilith fez bico enquanto via minha expressão mudar. Depois de mais de um mês ao meu lado, ela já tinha aprendido todos os meus truques e parecia até prever meus pensamentos, quase uma telepata. Era como se ela soubesse o que eu ia fazer antes mesmo de pensar nisso. Sorri desconcertado e mudei de assunto desesperado.
"N-Não, claro que não! Enfim, como eu cai e perdi a consciência, não sei exatamente o que aconteceu depois. Você pode me contar melhor?"
"Hmmm… Eu não confio muito quando você fala assim, mas tudo bem."
Por sorte, Lilith topou sem questionar e aceitou meu pedido com alegria. No entanto, ela se certificou de que ficássemos próximos, com sua coxa cruzando sobre minhas pernas, antes de começar a contar.
Senhor… Está tentando me fazer pular em cima de você?!
De qualquer forma, eu era um homem digno. Não ia agir de forma imprópria ainda… Pelo menos por enquanto.
"Depois que você derrotou meu irmão…"
❖❖❖
Dimensão Moonreaver. Mansão do Lorde Moonreaver.
Muitos meses se passaram desde a guerra entre Moonreaver e Bloodborne. Apesar de ter durado apenas um dia, os danos causados à Dimensão Moonreaver foram irreversíveis. Monumentos imensos, erguidos desde o início, estavam agora em ruínas. Diversos castelos magníficos foram queimados violentamente, restando apenas cinzas ao chão.
Pedaços de rocha espalhados pelo terreno, enquanto centenas de Blood Servants trabalhavam incessantemente para tentar reconstruir a grandiosidade de sua casa destruída.
E a mansão do Lorde Moonreaver não era diferente.
Depois do cerco da Quinta Consorte e do ataque completo pelos elites de Bloodborne, metade da mansão tinha sido destruída. E embora o Trono Lunar estivesse de pé, o grande salão principal tinha se reduzido a escombros.
A destruição na Dimensão Moonreaver era um pesadelo para os dirigentes da família. E quem sofria mais era ninguém menos que o próprio Lorde Moonreaver.
Mesmo com a Casa Bloodborne tendo se rendido e concordado em pagar reparações, o trabalho de Sirius só complicava mais. Dia após dia, ele tinha que participar de reuniões, encontrar arquitetos para planejar a reconstrução, ouvir os conselheiros superiores reclamando de sua incompetência por permitir a invasão da Casa Bloodborne… A lista de assuntos internos que Sirius precisava cuidar era interminável.
No entanto, o motivo principal da preocupação do Lorde Moonreaver não era isso.
"…"
Sirius passava seu raro dia de folga refletindo na Cadeira Lunar. Seus braços descansavam nos apoios e sua pele alva tinha ficado pálida, quase translucida. Muitos de seus mais confiáveis súditos estavam ali na sua frente, mostrando preocupação visível nos rostos.
"Meu Lorde… Não queria que trocasse de roupa?"
"Deixe-me em paz", Sirius falou com indiferença. "Deixe-me… em paz…"
"…"
Aqueles que não testemunharam o duelo só poderiam entender por que seu Lorde usava uma camisa com um buraco no meio, exibindo claramente seu peito e nipples. Mas, como Sirius tinha ordenado que não se mexessem, eles não ousaram tocar no assunto.
Capella Moonreaver, a mulher que conhecia a verdadeira causa da falta de reação de Sirius, resolveu intervir:
"Sirius, não fica feio. Você pode não ligar, mas sua imagem é importante como o Lorde Moonreaver que governa a partir do Trono Lunar." A cavaleira resmungou. "Pelo menos use um casaco por cima da camisa."
"...Pega um casaco."
Sirius não discutiu e fez sinal para uma Blood Servant trazer algo para cobri-lo. Mesmo assim, não conseguiu evitar de passar a mão pelo peito nu, acariciando-o de vez em quando, como se estivesse surpreso com aquilo.
"Sirius, o que aconteceu? Eu sei que você venceria esse duelo se não congelasse. Você não é assim."
"…"
Sirius olhou para Capella por alguns segundos, recebeu o casaco de sua Blood Servant com um olhar frio e, sacudindo a cabeça, dispensou seus subordinados, deixando só Capella na sala do Trono Lunar.
"Capella… Você já sentiu… medo?"
"Huh? Do que você está falando? Essas armas míticas persistentes dariam até de enfrentar monstros antigos como a Matriarca Innocence ou os Anciãos de Bloodborne. Aliás, seu predecessor usou o Stardevourer contra um Senhor Demoníaco! Como eles poderiam sentir medo?"
"Foi nisso que eu pensei…"
Sirius levantou o Stardevourer, silencioso desde que terminou o duelo. O que ele sentia não era uma alucinação, nem um feitiço de ilusão lançado por Jin para despistá-lo. Naquele momento, Sirius e o Stardevourer sentiram o mesmo medo primal, que vem da essência, instintivo…
Jin escondia algo perigoso dentro dele, mesmo sem saber. Se conseguisse controlar aquilo, poderia um dia evoluir para o maior combatente do mundo. Mas, se não conseguisse subjugar aquele monstro…
"Droga! E eu não posso simplesmente obrigar Lilith a parar de vê-lo!"
"Ei… Você não acha que deveria parar de bloquear o amor da sua irmã? Sei que você é um siscon, mas…”
"Não quero ouvir você falando isso!"
Sirius desprezou a falta de percepção de Lilith. O único motivo de ter desenvolvido uma obsessão tão forte por ela era por ter modelado seu comportamento de irmão observando Capella e Lisa. No fim, acabou assumindo a mesma postura zelosa e obsessiva de Capella.
"Não, você tem razão… Lilith já é uma mulher adulta, não posso mais escondê-la do mundo."
"E além disso, você precisa cumprir o que prometeu."
"Hmph!"
Sirius balançou a cabeça e virou-se. Por mais que odiava admitir, ele tinha perdido limpo para Jin. E agora que Lilith tinha um motivo justo para partir, Sirius não poderia fazer nada pra impedir. Mas, mesmo assim, uma sensação estranha permanecia — algo não estava certo com Jin.
Aquela força que ele possuía não era natural. Era algo além da sua compreensão. E ninguém sabia se aquele poder perigoso não iria colocar a cabeça de Lilith, tão ingênua e frágil, à prova.
Se ao menos Sirius tivesse uma forma de protegê-la. Como a reconstrução acabara de começar, ele não podia deixar seu posto. E, pelo que vi na reação dela após o duelo, Sirius sabia que acompanhar Lilith fisicamente era impossível.
Se ao menos tivesse alguém livre, com a mesma preocupação obsessiva que ele…
"O que foi? Por que está olhando assim pra mim?"
Capella sentiu um arrepio na espinha ao ver seu Lorde encarando-a como se fosse uma carne fresca. Depois de mil anos, ela conhecia cada expressão facial de Sirius e sabia que algo terrível iria acontecer. Mas, antes que pudesse fugir, o braço de Sirius agarrou sua gola com firmeza.
"Ei, tenho um favor pra te pedir…"