
Capítulo 44
Minha irmãzinha vampira
A casa de Lilith na Dimensão Moonreaver era bastante semelhante à de Irina. Ela tinha sua própria mansão personalizada, uma instalação de treinamento e uma infinidade de outros luxos que só eram concedidos a quem ocupava posições elevadas dentro de uma Casa Nobiliárquica Vampírica.
Porém, havia uma diferença marcante entre o lar de Lilith e o loft de Irina…
A residência de Lilith era ENORME.
Com pelo menos uma dezena de hectares de extensão, a moradia da jovem era facilmente a propriedade privada maior que eu já tinha visto. Como criadores dos reinos Pesadelo, a Casa Moonreaver aperfeiçoou sua arte para estabelecer a obra-prima que era a Dimensão Moonreaver.
E embora não fosse o reino Pesadelo mais amplo do Mundo dos Vampiros, certamente figurava entre os cinco maiores em tamanho. Contudo, o tamanho não importava para a Casa Moonreaver, que abrigava apenas algumas milhares de Vampiros. Assim, a Casa Moonreaver priorizava qualidade ao invés de quantidade ao desenvolver seu território próprio. E isso se refletia no produto final.
A Lua de Sangue falsa que pendia sobre o céu noturno capturava metade dos efeitos da Lua de Sangue original, o que aumentava a qualidade da energia mágica dentro da dimensão espelho. Um verdadeiro Vampiro vivendo na Dimensão Moonreaver nunca sentiria a fadiga do Sol, e suas feridas cicatrizariam muito mais rápido.
Além disso, sua concentração, capacidade de combate geral e funções cognitivas eram intensamente aprimoradas ao absorver a luz da Lua de Sangue falsa.
Era, de fato, um paraíso para todos os Vampiros, sem falar nos membros da Casa Moonreaver, onde eles podiam prosperar.
E o maior beneficiado desse paraíso era ninguém mais, ninguém menos, do que o próximo herdeiro da Casa Moonreaver.
"Por favor, sintam-se à vontade!"
Lilith nos mostrou alegremente a sua mansão, delegando nossos quartos enquanto o fazia. A propriedade era muito maior que o bangalô de Irina, com mais de vinte cômodos e uma área de convivência compartilhada, luxuosa a ponto de fazer bilionários salivarem de desejo. Variel e Luminita foram levados aos quartos dos servos por Lisa, deixando Lilith, Irina e eu para vaguear pelo imenso palácio.
"Ei… Por que o quarto do irmão fica tão perto do seu? E por que o meu fica no outro lado?"
"Hmmm? Você deve estar confundindo. Os dois estão à mesma distância de um ao outro."
"Como assim, na mesma distância?!"
Irina gritou, irritada. Porém, desta vez, a garota tinha motivos para ficar furiosa. O quarto dela e o meu eram separados por cerca de seis portas, o que significava que ela precisaria atravessar um corredor inteiro para me visitar à noite. E não só isso: o quarto dela ficava no segundo andar, enquanto o meu era um nível acima, no último piso.
Comparado à configuração no seu bangalô, Irina praticamente vivia em outra casa.
"Não se preocupe! Você veio pela área dimensional, certo? Para sua comodidade, fiz seu quarto o mais próximo possível da saída! Você não precisará se preocupar com deslocamentos!"
"Esse não é o meu ponto!"
"Ara? Pensei que você tinha vindo aqui pela área dimensional! Devemos rescindir seus direitos? Se for o caso, pode voltar para a Propriedade Everwinter. Vai lá, vai lá! Sai para eu passar o resto do meu tempo com Jin!"
"Sua vadia!"
… Essas duas se deram surpreendentemente bem. Ainda assim, se eu deixasse que continuassem, estaríamos desperdiçando um tempo precioso. Tempo esse que poderia ser dedicado a treinar e…
"Irina, Lilith… Chega de briga." Suspirei, balançando a cabeça. "Lilith, organize para que o quarto da Irina fique ao lado do nosso. Na verdade, arranjo melhor: só certifique-se de que fique perto dos nossos. De qualquer forma, nenhum de nós passará muito tempo nos quartos."
"O que você quer dizer?"
Um sorriso malicioso surgiu no meu rosto ao ver a face etérea de Lilith, de ingenuidade angelical. Essa garota pode ser uma gênia, mas suas habilidades sociais deixam a desejar seriamente. Mesmo Irina, que fora protegida desde pequena, percebeu o significado das minhas palavras e suas bochechas começaram a corar lentamente.
Minha vontade de provocar essas duas mulheres atingiu o pico. Peguei Lilith pelo queixo e levantei seu rosto para que olhasse nos meus olhos. A garota ficou estarrecida com meu movimento, mas não apresentou resistência alguma. Seus olhos de pálpebras pequenas piscavam enquanto um leve tremor foi refletido em suas pupilas.
Fofa…
Lilith Moonreaver. Uma gênio das artes dimensionais. A futura herdeira da Casa Moonreaver. A prodigiosa geração que todos admiravam. Não havia dúvidas sobre sua linhagem, e ainda assim… Nas minhas mãos, ela não passava de uma menina tímida que tinha de encarar sua amada.
Podia ouvir Irina respirando fundo ao fundo, mas por ora ignorei minha primeira mulher preciosa. Me aproximei mais de Lilith e sussurrei com a voz mais sedutora que pude reunir:
"Vamos dormir juntos… Todos na mesma cama. Irina… Você… E eu."
"!!!"
Lilith pulou para trás como uma veada assustada e encostou as costas na parede. Gotas de suor escorreram pelo seu rosto lindo enquanto seus olhos de cristal olhavam para mim com uma mistura de emoções.
Que coisa… Parece que essa noite vai ser bem divertida.
Germania. Terra natal da Casa Bloodborne.
"Huergh! Huergh! Huergh!"
Respirações pesadas escaparam da boca de três homens enquanto suas pernas corriam pela densa floresta do interior de Germania. E, durante o rastro da vegetação densa, eles certamente não estavam vestidos de forma adequada. Calçados de lã, ternos luxuosos e gravatas de seda, pareciam ter saído de uma festa da alta sociedade.
Porém, havia uma diferença clara. Seus trajes estavam em frangalhos. Um deles tinha a camisa rasgada do peito para baixo. Outro tinha dezenas de buracos espalhados pelo terno. E o último mal tinha o que sobrava do próprio traje.
gotas de sangue escorriam por suas peles frágeis e brancas, mostrando as numerosas lacerações, hematomas e perfurações que haviam sofrido.
"A-Achegamamos lá?"
"Huergh… Logo! É só passar dessas árvores!"
O líder do grupo indicou para o norte, e, por coincidência, a luz da lua cheia iluminou o destino deles. Uma villa em ruínas, abandonada, que tinha sido tomada pela própria natureza. Os três homens ficaram com o rosto radiante, como se fossem vagabundos no deserto que encontraram um oásis.
Eles avançaram com o pouco de força que restava e rapidamente entraram no edifício em ruínas. O mais forte deles fechou a porta com rapidez e a trancou com armários e cadeiras, antes de desabonar no chão ao lado dos companheiros.
"Ugh… Conseguimos… Finalmente conseguimos!!!"
"Finalmente! Agora podemos descansar!"
Todos jubilaram por terem sobrevivido, enquanto suas consciências os levavam entre a realidade e o sonho. Um deles, então, respirou fundo e fez a pergunta mais importante ao líder.
"Você acha que eles vão encontrar este lugar?"
"Não," respondeu confiante. "Este é um esconderijo desativado de cem anos atrás. Poucas pessoas sabem sobre ele na nossa Casa. Além disso, apagamos nossas pegadas. Eles não vão nos achar."
"Ótimo…"
Um suspiro profundo de alívio. Provavelmente, o maior que aquele homem já dera na vida. Relaxando os ombros, finalmente se virou para a ferida que deixara sem cuidar por tanto tempo. Estava sangrando demais, e toda vez que tentava tocá-la, uma dor aguda paralisava seu corpo inteiro.
Transformando seus dedos em garras afiadas, ele penetrou na carne e cautelosamente extraiu a bala, emitindo gemidos de agonia a cada segundo que passava.
"AIIII!!! Huergh… Droga! Droga, droga, droga!!! Aqueles malditos do Igreja! Estavam claramente aqui para caçar Vampiros! Balas de prata abençoadas?!
Elas foram banidas quando assinamos o tratado de paz!"
Vampiros eram criaturas imortais, mas isso não significava que não pudessem ser mortos. E um dos métodos mais eficazes para levar um Vampiro imortal ao outro mundo era usar balas de prata, ou melhor, balas de prata embebidas em água benta.
Como criaturas da noite, os Vampiros eram altamente vulneráveis à magia sagrada, tornando inútil seu fator de cura absurdo. E, se uma bala ficava alojada em seu crânio…
"Desde quando se importam com o tratado de paz?! Se tivessem liberdade, aqueles vermes da Igreja travariam uma Guerra Santa na velocidade da luz!"
"Tsc, nossos antepassados deviam ter eliminado os humanos! Qual o sentido dessa paz de bosta? O lobo nunca deve fazer amizade com a ovelha!"
Maldições escorriam de um para o outro. Claramente, não eram apenas antagonistas à Igreja, mas ao gênero humano como um todo. Contudo, por ora, eram caçadores e não caça. Assim, só podiam maldizer às escondidas.
"Dezesseis de nós morreram naquela invasão… Como eles descobriram onde estávamos?"
"A Igreja Sagrada tem seus métodos. Devem ter feito uma sessão ou até enviado Vicários infiltrados para investigar nossos esconderijos."
"Sim, parecia um ataque planejado. Afinal, enviaram aquele homem…"
Ao mencionar seu algoz, os três Vampiros Verdadeiros tremeram de medo. Instintivamente, olharam pelas frestas da villa destruída, sem saber se alguém os observava ou não. Após trinta segundos de silêncio, finalmente baixaram a guarda e continuaram a discutir seus planos futuros.
"Droga! Vinte anos de trabalho perdidos! Onde vamos encontrar outro lugar melhor para capturar sacrifícios?!"
"Tsc… Vamos ter que recomeçar do zero. A recuperação da nossa Casa depende desses sacrifícios. Você já entrou em contato com a matriz?"
"Ainda não, não estamos seguros." Respondeu o líder com fadiga. "Vamos descansar aqui um tempo, recuperar nossas feridas. Assim que estivermos completamente recuperados-…"
Ele parou, seu olhar fixo na figura do homem caído no chão. A cor restante que tinha na pele desaparecera completamente, e suas pupilas estavam dilatadas em pânico.
"O que aconteceu?"
"Sua ferida… Por que não está cicatrizando?"
"Huh?!"
Vampiros Verdadeiros eram incomparáveis na autogênese. Com o tempo, podiam até regenerar membros e órgãos em poucos minutos. A única maneira de interromper a regeneração de um Vampiro Verdadeiro era separar a cabeça do corpo, mas, de resto, uma ferida de bala no peito deveria estar cicatrizada agora. E, mesmo assim…
"Que pena… Talvez eu tivesse ouvido algo bom se você tivesse descoberto isso alguns minutos depois."
Uma voz retumbante vibrava por toda a villa em ruínas, obrigando os três Vampiros Verdadeiros cansados a saltar de susto. Eles imediatamente tentaram fugir por uma janela ou porta dos fundos, mas já era tarde demais.
BANG!!!
Um único disparo ecoou pelo ar, e um dos Vampiros foi pulverizado à bala. A matéria cinzenta do cérebro, junto com sangue, espirraram por toda a sala, congelando os outros dois Vampiros. E, bem…
O momento de choque foi, na verdade, a última oportunidade de fuga.
BOOOMM!!!
A porta barricada foi explodida, revelando uma perna sólida coberta por um cashmere preto. O homem que entrou com um chute na porta caminhou até o interior devastado, tendo a lua brilhante como pano de fundo.
Um homem alto. Essa foi a primeira impressão que os dois Vampiros tiveram. Ele tinha facilmente mais de dois metros de altura, possivelmente vinte centímetros acima dos dois metros. Mas isso não significava que fosse magrinho. Muito pelo contrário. Com a estrutura de um tanque, o homem tinha músculos salientes por toda a sua roupa apertada, que era bastante conservadora para os tempos atuais.
Cabelos negros e olhos prateados. E sem falar na barba, perfeitamente aparada. Apesar de estar na faixa dos quarenta anos, poderia facilmente parecer um alpha no auge.
Usava uma batina preta, com um ferraiolo preto de mesmo tom drapeado sobre os ombros. Correntes de prata sustentavam a capa, enquanto várias joias de prata e ouro se destacavam nas vestimentas do homem. Em especial, a cruz dourada reluzente que pendia entre seu pescoço.
No entanto, as partes mais perigosas do traje do homem não eram as vestes sacerdotais, nem os acessórios banhados em poder sagrado. Eram as duas pistolas de cano longo de prata, decoradas com imagens de anjos e símbolos da Igreja.
"Ah-ah… Pensei que, ao deixá-los escapar, vocês me levassem até sua base. Que casa de merda é essa?"
"E-Excocista! A Igreja Sagrada quer declarar guerra contra nossa Casa?! A… poderosa Casa Bloodborne?!"
O líder tentou se pronunciar, mas o medo tomou conta de suas palavras. O exorcista olhou lentamente para o Vampiro Verdadeiro enfraquecido, fechando os olhos como se tivesse engolido uma pílula amarga.
"Honestamente, minha ordem era deixar vocês me guiarem até seu esconderijo e coletar mais informações por interrogatório, mas isso é só um incômodo…"
O exorcista girou suas pistolas de prata e apontou para os dois Vampiros. Uma mistura de magia e poder sagrado começou a se concentrar, e a ponta das armas começou a brilhar com um tom dourado intenso. O rosto do padre deve ter se transformado lentamente de uma expressão preguiçosa para um sorriso astuto… Um sorriso de raposa que tinha encurralado sua presa.
E, para os Vampiros encurralados, suas palavras não parecem uma pregação sagrada. Pelo contrário, soam como os sussurros do próprio diabo.
"Aleluia, seus filhos da puta!"