
Capítulo 4
Minha irmãzinha vampira
"ARGHHHHHHH!!!"
Gritei de dor insuportável. A Lua de Sangue pairava silenciosa no céu, ignorando a dor imensa que eu estava passando. Não fazia sentido, mas assim que o corpo celeste ficou vermelho, meu corpo passou por uma espécie de metamorfose.
Não, não era uma mudança física, como quando um lobisomem se transforma durante o brilho da lua cheia, nada disso. Mas eu tinha a sensação de que todo o meu ser estava sendo arrancado de dentro para fora.
Tentei ao máximo chamar pela enfermeira, mas ninguém atendia aos meus apelos. Para me zombar, a dor que sentia aumentava exponencialmente toda vez que eu apertava o botão de ajuda.
Essa dor... Não era como nada que eu tivesse experimentado antes.
Minhas mãos se recusaram a obedecer e começaram a cavar mais fundo nas roupas de cama automaticamente. Veias explodiam por toda a minha pele finita, enquanto meus músculos se tensionavam como uma câimbra agonizante que nunca passava. Meu rosto ficava vermelho, e meus dentes começaram a trancar com o frio.
Desesperado, tentei virar minhas costas na esperança de cair no chão e, quem sabe, fazer um escândalo grande o suficiente para que as enfermeiras me ouvissem. Mas foi tudo em vão...
No momento em que girei o corpo, uma onda de calor ardente envolveu todo o meu corpo e cada músculo parecia ter falhado. A dor, que eu achava que era o pior que um humano poderia suportar, de alguma forma, multiplicou-se.
Além do sentimento intenso de meu corpo se despedaçando, parecia que todo o meu ser estava sendo queimado como se estivesse em uma lava derretida. Fiquei imediatamente encharcado da cabeça aos pés, e perdi o que parecia ser metade do peso de água do meu corpo. Não, talvez até mais que isso...
E como se fosse zombar de mim, um frio arrepiante atravessou minhas veias e subiu pela minha espinha como uma serpente se enroscando em sua presa. Em um momento, eu estava nas Chamas do Inferno de Muspelheim, e no próximo, experienciando as geleiras de Niflheim, nas temperaturas abaixo de zero.
Toda essa dor... Todo esse sofrimento...
E, apesar de tudo, de forma estranha, não havia sangue ou alterações físicas que pudessem explicar essa agonia.
"Porra...!"
Pus-me a gritar mentalmente.
Era minha última oração. Esperava que meu grito alertasse uma enfermeira ou um médico... Qualquer um.
Mas... O mundo era um lugar cruel. Por mais que meu corpo tentasse gritar, nenhuma palavra saía da minha boca. Apenas um gemido sem som, abafado pelo vento de inverno que uivava na minha janela.
Por que tudo isso estava acontecendo comigo?
Minha vida toda eu vivi lidando com uma doença misteriosa. Uma enfermidade que nunca pôde ser resolvida, mesmo com todos os melhores médicos do mundo trabalhando juntos para encontrar uma cura. Esquece, eles nem conseguiam me diagnosticar direito, quanto mais começar um tratamento.
Perdí tanto tempo da minha vida lutando contra essa doença.
Enquanto outros treinavam para se tornarem Caçadores ou aprofundavam seus conhecimentos como Cientistas Arcânicos, eu estava trancado no hospital, incapaz de até mesmo trocar minha própria cueca.
E mesmo assim… Apesar dessa realidade cruel… Aprendi a superar, a viver com ela… A aproveitar o pouco que tinha.
Estudei até chegar ao topo. Aprendi mais teoria mágica do que qualquer um dos meus colegas. Dediquei minha vida à pesquisa, na esperança de fazer alguma coisa de mim mesmo. Poderia ter sido muito mais… Poderia ter sido muito melhor…
Então, por quê?
Querido Mundo…
Por que você está me matando?
…
…
…
FODA-SE!!!
Quer tirar minha vida?! Então, que seja!!! Quer roubar meu futuro?! Venha tentar!!! Mas não vou deixar você ganhar do seu jeito! Se quer minha vida, venha pegá-la!!!
Talvez, por causa da minha consciência à beira da morte, minha mente tenha ficado clara o suficiente para ignorar o sofrimento pelo qual passava. Não ia morrer como um cachorro sem cabeça, sem vontade própria.
O mundo tirou tudo de mim… Mas de jeito nenhum deixaria que levasse meu orgulho. Não morrerei na miséria. Não morrerei em vão. Não vou morrer… sem ter controle sobre minha vida.
Se fosse para morrer…
Quero morrer com um sorriso no rosto.
'Ah… Está tudo perdido…'
Fiz o possível para manter um sorriso, mas era muito difícil de sustentar. Minhas pálpebras iam ficando cada vez mais pesadas. Os sentidos que percebiam a dor e o sofrimento se apagaram. Lentamente, mas com certeza… A vida na minha alma estava sendo drenada.
Estava quase na hora.
'Mãe… Pai… Vou partir primeiro…'
Heh, será que meu corpo ainda estará sorrindo depois da morte? Espero que sim. Pelo menos, o mundo vai se lembrar que deu a minha última risada. Lutei contra isso… Lutei contra a morte!
Bem, perdi essa batalha, mas… mesmo assim, continuei lutando.
A história não vai lembrar de Jin Valter como um miserável que sofreu na hora da morte.
Ela vai lembrar de Jin Valter… Como um guerreiro corajoso que ousou desafiar a Morte…
Com um sorriso no rosto.
"Querido irmão… Desculpe… Deixe o resto comigo..."
Justo quando a última ponta da minha consciência ia desaparecer, um som doce e harmonioso soou aos meus ouvidos. Era suave e delicado, como um carinho de mãe que embala na brisa do outono.
E, de forma estranha… Essa voz trouxe uma pontinha de paz para minha alma amaldiçoada.
Eu me debati para saber se estava tendo alucinações ou não. Talvez fosse minha mente pregando peça, já que eu ia morrer de qualquer jeito. Procurava algum conforto humano antes que minha alma retornasse ao Rio Estige. Logicamente, não deveria haver ninguém na sala. Mesmo que houvesse, ninguém me chamaria de Senhor Irmão.
Nem tenho uma irmã, pelo amor de Deus!
Mas, na hipótese de eu estar enganado…
Em um último gesto de afronta ao Senhor da Morte, forcei minha consciência a despertar. Usei toda a força restante que tinha para abrir as pálpebras pesadas e fazer o possível para limpar minha mente turva. Foram várias tentativas até finalmente conseguir resistir ao abraço de Morte sobre minha mente consciente, e bem…
Com a pouca visão que tinha, pude ver a imagem de uma mulher etérea e de tirar o fôlego. Ela tinha cabelos brancos e lisos, que pareciam nunca acabar. Sua cintura parecida com um decantador e suas roupas justas eram tão sedutoras quanto hipnotizantes. A jovem parecia ser a epítome da feminilidade, com um busto generoso que faria um bebê babar.
Mas havia uma coisa estranha…
Sua pele pálida, que quase parecia doentia, se camuflava bem com a neve que sobrava do inverno que caía do céu.
Percebendo meu olhar fixo, a beleza pura ficou por um momento atônita. Mas logo recuperou a compostura. Substituindo seus lábios arredondados, surgiu um sorriso cativante que derreteria até os corações mais endurecidos.
"Meu amado irmão… Tenha um descansozinho… Não se preocupe com nada… Quando despertar, poderemos ficar juntos novamente."
"..."
Não sabia como reagir. Na verdade, não consegui responder. Já estava à beira da morte, e não conseguia entender uma única palavra que aquela jovem tinha acabado de dizer. Mas, ao ver os olhos da mulher deslumbrante ficarem com a mesma cor da Lua de Sangue que pairava além de seus ombros...
"Que lindo..."
E com isso…
A consciência que eu agarrava com tanta força…
Desapareceu.