
Capítulo 173
Poder das Runas
Capítulo 173: Conferência com a Árvore do Mundo
[Continente élfico]
"Por que ele não está aqui? Já se passaram duas horas. Ele tinha dito que voltaria em apenas uma..." Serena falou enquanto caminhava nervosamente em círculos, sua voz cheia de preocupação que só aumentava a cada passo.
"Aconteceu alguma coisa com ele?"
"Não, ele disse que estaria bem."
"Ele deve estar bem, né?"
{Por que você está tão preocupada, minha criança? Pelo que vi, aquele garoto não é alguém que morreria tão facilmente.}
"Mas, Grande Mãe, aquele coração... era poderoso suficiente para até fazê-la dormir..."
{Filha, como já disse, aquilo aconteceu porque...}
Antes que a Árvore do Mundo pudesse terminar seu pensamento, uma mudança repentina no espaço perturbou o ar ao lado de Serena. Uma pulsação de energia espacial aumentou, e Ash apareceu ao lado dela num piscar de olhos, com suaves flutuações ainda ondulando ao seu redor.
"A Árvore do Mundo está acordada agora?" ele perguntou imediatamente, sem perder tempo.
O rosto de Serena se suavizou de imediato ao vê-lo. Mas, num piscar de olhos, seu alívio virou preocupação, e ela começou a questioná-lo sem pausas.
"Por que você atrasou? Eu achei que tinha acontecido alguma coisa com você. Cadê o coração selado? Algum problema?"
Ela lançava perguntas como flechas, não lhe dando nem um momento para responder.
"Calma, calma."
Levou alguns segundos para ele acalmar sua energia inquieta.
"Você não precisa mais se preocupar com o coração. Eu o confiei a alguém que eu confio."
"Mas ainda—"
{Está tudo bem, criança. Apenas confie em nosso salvador.}
"Tudo bem, mãe..." Serena sussurrou suavemente, com a voz finalmente calma.
Ao ouvir isso, Ash se voltou para ela e perguntou: "Você está conversando com a Árvore do Mundo agora?"
"Você deveria chamá-la de Grande Mãe, não só Árvore do Mundo," respondeu Serena rapidamente, quase como uma criança corrigindo alguém que quebrou uma regra importante.
"Certo, certo," disse Ash com um pequeno aceno de cabeça, com uma expressão de leve diversão na voz.
Então, ele olhou para as raízes que anteriormente irradiavam uma pressão demoníaca horrível. Apesar de ainda parecerem escuras e sem vida por fora, a aura sufocante que antes pairava no ar havia desaparecido completamente.
Justamente nesse momento, um portal verde brilhante se abriu na frente deles, pulsando suavemente com energia vital.
"Mãe quer que você entre. Ela vai levá-lo diretamente até ela. Eu ficarei aqui, ela quer conversar com você sozinha."
"Tudo bem," disse Ash enquanto assentia, entrando no portal sem hesitar.
****
[Núcleo da Árvore do Mundo]
Assim que Ash atravessou o portal, seu corpo inteiro se sentiu estranhamente leve, quase como se tivesse deixado o peso do mundo para trás. Sua mente foi envolvida por uma sensação quente, como se alguém estivesse massageando suavemente seus pensamentos com luvas de veludo.
Uma calma se instaurou no seu peito, silenciosa e reconfortante, como voltar a um lugar que não conseguia lembrar, mas que de alguma forma sentia falta profundamente.
O ambiente brilhava com energia pura de branco e verde exuberante, e o ar estava cheio de magia vital.
A quantidade era tão absurda que, por um momento, Ash apenas ficou lá, piscando, se perguntando se aquilo era algum tipo de serviço de spa de luxo para almas exaustas.
{Você parece surpreso.}
Uma voz doce e melodiosa chamou sua atenção. Ash se virou para a fonte, e lá estava ela—alguém vestida com um conjunto fluido de verde e preto, de pé como se sempre tivesse feito parte da cena.
Ela se parecia exatamente com Serena. Mesmo rosto, mesma estrutura, mas a presença era completamente diferente.
Essa versão não parecia uma princesa elfa tímida. Essa tinha a calma ancestral de alguém que poderia te acertar com vinhas e ainda assim chamar aquilo de benção.
"Essa expressão..." Ash murmurou instinctivamente.
{Oh, meu, é isso mesmo que o salvador diz primeiro para mim? Você realmente é... algo.}
Ela sorriu levemente, levando a mão para cobrir a boca de forma elegante, naquele jeitinho de quem é antiga e se diverte com subtileza.
{Não se assuste. Não possuo uma forma fixa, então escolhi uma que fosse familiar e reconfortante para você.}
"Entendo."
Ash manteve a expressão neutra, mas, no fundo, calculava se aquilo contava como um tipo de atração espiritual enganosa.
Observando sua reação constante, a consciência da Árvore do Mundo sorriu com uma serenidade excessivamente tranquila para alguém que acabara de acordar de um coma mágico causado pela corrupção demoníaca.
{Permita-me agradecer, ó salvador. Se não fosse por suas ações, uma tragédia além da imaginação teria caído sobre meus filhos.}
"Você não pretende sair apenas com um obrigado, né?" Ash perguntou casualmente, com um tom de leve sarcasmo.
Seus olhos tremeram levemente, mas a Grande Mãe continuou sorrindo enquanto respondia.
{Claro que não. Se houver algo que você deseje, eu concederei, desde que esteja ao meu alcance. Espero que compreenda os limites do que posso oferecer.}
"Não quero muito. Quero apenas todo o conhecimento que você possui sobre a magia da Vida. Preciso curar alguém, e para isso, preciso da sua ajuda."
{Aquela criança mencionou que você usou magia da Vida. Isso significa que você deve possuir afinidade com a Vida.}
"Obviamente."
{Você entrou em contato com a Runa da Vida?}
A pergunta direta dela surpreendeu Ash levemente. Ele não esperava que fosse tão direta, mas sua expressão permaneceu calma e impassível.
"Não sei disso. Os Runes seriam apenas mitos? Eu nasci com afinidade com a Vida."
{Você está mentindo para mim?}
"Claro que não."
{Você não sabe? Posso detectar falsidade}
...Droga. Ela consegue?
"Tudo bem. Eu entrei em contato com ela. Mas isso importa mesmo? Apenas me dê o conhecimento. É só isso que preciso."
{Sim, importa. Você não leu os textos antigos escritos pela Primeira Rainha?}
"Quer dizer que aquilo tudo era real mesmo?"
{Você está falando de forma bastante rude, ó salvador.}
"Desculpe."
{Tudo bem.}
"Mas eu não tenho a Runa na minha mão. Mesmo se tivesse, não posso simplesmente te mostrar."
Ash falou a verdade. A Runa não estava na mão dele, mas sim dentro de sua alma. E mesmo que ele tivesse a Runa, não era algo que pudesse mostrar facilmente à Árvore do Mundo. Como mostrar sua alma?
{Parece que você me entendeu errado. Eu nunca pedi que você me entregasse a Runa.}
{Já que estamos discutindo isso, deixe-me te dizer uma coisa importante. A razão de que apenas uma pessoa no mundo nasce com a capacidade de usar magia da Vida é simples: é por minha causa.}
{Eu, que compreendi quase setenta por cento da Runa da Vida, sou a razão de o conceito de "vida" existir neste mundo. Sem mim, ninguém entenderia isso de verdade.}
{O mesmo vale para os Reis e Rainhas que eu escolhi. Eles não nascem com afinidade com Vida. É só depois que eu os escolho que eles a adquirem.}
{Você entende o que isso significa?}
"Você é poderoso..." Ash murmurou.
Silêncio seguiu por um momento.
{Deixe-me explicar de forma mais clara. Se alguém além de mim possui afinidade com Vida, isso só pode significar uma coisa: essa pessoa teve contato com a Runa da Vida e a compreendeu pelo menos vinte e cinco por cento. Esse é o mínimo necessário para despertar afinidade com Vida.}
Parece que fingir que não sabe de nada não é mais uma opção.
{E se você, alguém que já despertou afinidade com Vida, ainda está aqui buscando conhecimento, então isso me diz mais uma coisa.}
{Você absorveu a Runa da Vida.}
Suspiro... Acho que a verdade agora veio à tona.
"Você está certo, não posso usar seu poder. Se acha que vou me tornar um Deus curador só por absorvê-la, está totalmente enganado," Ash confessou sem hesitar um centímetro na voz.
Ao ouvir sua resposta sincera, o sorriso da Grande Mãe se aprofundou, acompanhado de uma compreensão silenciosa, como se ela apreciasse a clareza com que ele se expressava.
{Claro que eu já sabia disso, ó Salvador. A menos que alguém compreenda a Runa em sua totalidade, ou seja, todos os cem por cento de seu conceito, não poderá desbloquear o poder divino e ilimitado que ela encerra dentro de si.}
{Ainda assim, isso não é suficiente. Existem mais duas condições que devem ser preenchidas antes que alguém possa usar completamente o poder da Runa. Contudo, eu mesma não possuo conhecimento completo sobre essas condições também.}
{De qualquer forma, devo dizer que você é extremamente sortudo por ter conseguido absorver a Runa da Vida. Isso por si só já faz de você alguém especial.}
"Você me dará o conhecimento ou não?" Ash perguntou direto, indo ao ponto.
{Com certeza, compartilharei todo o conhecimento que você busca. Mas não seria mais eficaz se trouxesse alguém aqui? Eu posso curar essa pessoa pessoalmente agora, e depois, você pode aprender comigo com calma. O que acha?}
"Quero curá-la com minhas próprias forças, se possível. Mas farei isso na sua frente. Se eu cometer um erro, você estará lá para consertar, certo?"
A Grande Mãe fez uma pausa por um momento, sua expressão suavizando, como se estivesse lendo algo mais profundo do que meras palavras.
Entendo agora. Então é isso. Ele não quer depender de ninguém. Deseja usar seu próprio poder e sua própria determinação para curar quem mais importa para você. Essa é a força de sua convicção...
A Grande Mãe pensou.
{Muito bem, então. Isso não será um problema. Ficarei por perto e cuidarei para que nada dê errado. Você não precisa carregar essa pressão sozinho. Pode manter a calma e o foco.}
Ash respirou fundo, sentindo uma mistura de alívio e gratidão silenciosa.
"Posso lhe perguntar uma coisa? Como você acabou numa condição tão precária que quase foi corrompida também?"
***
Nota do Autor:Nos próximos dois capítulos, incluirei o monólogo interior do Ash que esclarecerá algumas coisas—como por que ele não usou sua chance de criar habilidades para curar Elysia, e por que está escolhendo o caminho mais difícil ao invés de deixar a árvore do mundo curar Elysia.