Poder das Runas

Capítulo 77

Poder das Runas

"Huhu…," o riso de Miraak foi silencioso, quase etéreo, mas atravessou o ar como uma cobra. Ele encarou o ferimento profundo atravessando seu peito, onde sangue escorria lentamente, mais espesso que tinta, recusando-se a parar.

"Isto… é realmente surpreendente," murmurou, mais para si do que para qualquer outro. Com delicadeza, tocou uma das feridas que sangrava, seus olhos se estreitando.

O sangue grudava em seus dedos como alcatrão derretido. "Não está cicatrizando..." Seus lábios se contorceram numa expressão entre diversão e descrença. "Quanto tempo faz… desde a última vez que algo assim aconteceu?"

Ele não estava apenas chocado—estava intrigado. Para alguém como ele—um Demônio de Elite cujo corpo podia ignorar feitiços e lâminas—essa dor não era apenas rara.

Era impossível.

São feridas superficiais—mas para alguém como ele, isso já era impensável.

Quando a raiva ultrapassa o limite, ela ou explode em caos—ou se congela em silêncio. Algumas fúrias tornam você imprudente. Outras transformam você em algo muito mais perigoso.

É exatamente isso que acontecia com Miraak.

Miraak não agia como um monstro desequilibrado. Ele permanecia como algo muito pior—a besta observando e pensando.

O espaço ao redor dele não explodiu. Em vez disso, tencionou, como o calmaria antes de uma tempestade desabar com um trovão.

Dois olhos rubros, fixos em Ash. Seu humor anterior tinha sido completamente removido, deixando apenas uma clareza clínica e impiedosa, como um cientista dissecando uma criatura rara que se mostrou perigosamente inesperada.

"Qual é o seu nome… humano?"

Ash demorou a responder. Suas mãos ainda tremiam pelo poder que liberara; seu foco estava turvo, uma forte dor de cabeça pulsava em seu crânio—um efeito colateral do Pensamento Omni.

Logo atrás dele, a batalha continuava, com os rugidos de Zerak e os sons de aço se chocando enchendo o ar—mas Ash não ouvia nada. Seu mundo havia encolhido a ele e a Miraak.

Por um momento, o silêncio se estendeu, denso e pesado. Sua voz, quando finalmente veio, foi calma, mas carregada de peso.

"Ash Burn."

{A/N: Ei, rapidinho—estou pensando em dar ao outro nome de Ash o título de "Demônio Celestial". Eu sei, soa estilo Murim, mas mesmo em um cenário sem Murim, tem algo crudo e régio nisso, né? Parece um nome que ecoa. Ainda assim, só vou usar se vocês curtirem—me avisem.}

Os olhos vermelhos de Miraak piscaram, seus lábios se contorceram em algo como um sorriso de diversão, mas o calor da raiva ainda fervia sob a superfície. "Ash Burn... Ash Burn..." Miraak repetiu lentamente, como se quisesse decorar o nome, deixando cada sílaba afundar na sua mente.

Depois de um instante, assentiu.

"Muito bem, Ash Burn. Eu, Miraak, vou lembrar do nome do humano que ousou me machucar."

Os olhos de Miraak queimavam com uma intensidade que poderia derreter pedra. A raiva dentro dele crescia, densa e fervente, até escapar de seus lábios numa carranca feroz.

"Mas..."

Sua voz baixou, carregada de fúria, "Você vai pagar por isso. Vai pagar o preço por ousar me ferir."

Suas mãos se levantaram rapidamente.

O ambiente ao redor parecia chiar enquanto uma energia negra emergia de seus dedos, formando uma tempestade que girava como um vendaval prestes a desabar. O poder de Miraak se agrupava ao seu redor—tão espesso que parecia que o ar vibrava, se curvando à sua vontade.

"Mãos Malditas"

Com esse encantamento, duas mãos gigantescas se formaram no ar—feitas inteiramente de uma energia demoníaca maldita, densa. Elas não eram apenas grandes—eram pesadas, parecendo arrastar a gravidade consigo. A superfície das mãos parecia pedra rachada, mas por baixo das rachaduras pulsava uma luz vermelha escura, quase como veias.

Mas isso não era o que alertava Ash.

Havia algo nessas mãos que não podia ser visto, mas podia ser sentido—algo que fazia seus instintos gritar para fugir.

Camadas de maldições, empilhadas tão compactas que criavam um campo invisível ao redor das mãos, tudo pensado para apodrecer, quebrar e destruir qualquer coisa que tocassem.

Os olhos de Ash se estreitaram.

A maldição não me afetará por causa do Runa… mas a força física por trás dela? Se essas me atingirem, mesmo uma vez, estou acabado.

Ele não perdeu tempo. Em vez de recuar, avançou correndo, diretamente em direção a Miraak.

As mãos malditas tentaram segui-lo, mergulhando rapidamente.

Elas passaram a centímetros dele quando Ash se abaixou e deslizou por baixo de uma, sua velocidade aumentando enquanto mana pulsava pelas suas pernas.

Mas as mãos não desapareceram. Elas se voltaram e se ajustaram no ar, mudando de trajetória para persegui-lo como armas controladas.

Ash Rangejou os dentes e colocou mais mana em suas pernas, atingindo uma velocidade maior.

Mas a pressão não diminuiu.

As mãos malditas ficaram pairando atrás dele, cada vez mais próximas.

Então, de repente, uma parede de terra compacta saltou entre ele e a mão maldita. Ela colidiu com a energia maldita e a reteve por um momento.

Aurora olhou de lado.

Ela estava de pé novamente, seu corpo sem mais sangue. Seus olhos brilhavam suavemente, concentrados. Ela já tinha se recuperado da maldição.

Ela não estava apenas de volta—estava pronta.

"O QUE VOCÊ ESTÁ ESPERANDO?! ATAQUE!!" Aurora gritou, sua voz tirando os outros do transe.

As mãos malditas estavam cercadas—outros ajudavam a bloquear e distrair sua atenção.

Ash continuou avançando. Ele não desacelerou. Sabia que aquela era a única abertura que teria.

Mas Miraak não ia deixar que ele chegasse perto agora,

Miraak levantou uma mão e lançou novamente.

Ele não era apenas um usuário de maldições—ele conhecia outros feitiços também.

"Espinho Preto"

Centenas de espinhos negros, semelhantes a agulhas, apareceram no ar, todos apontados para Ash.

Feito instantaneamente, pensou Ash com determinação.

Eles foram em sua direção como projéteis.

O coração de Ash acelerou—mas sua mente manteve-se calma.

Ele ativou novamente o Pensamento Omni.

Tudo ao seu redor mudou. As cores desbotaram para cinza. Os sons ficaram abafados. O tempo parecia desacelerar. O mundo ficou silencioso.

Os espinhos se moveriam—mas agora, lentamente, como folhas caindo.

A mente de Ash entrou em overdrive.

Ele não via apenas os espinhos.

Ele os analisava.

Cada espinho tinha uma borda ligeiramente diferente. Alguns mais longos, outros mais finos. A densidade não era uniforme—alguns carregavam mais mana, o que faria seu trajeto alterar-se no ar.

Rotação curva. Pequena deviação para a direita. Peso de mana aproximadamente 12,3%. Perigoso—letal se acertar no peito.

Ele movia os olhos ao espaço.

Havia 147 espinhos ao todo. Dividiu-os em grupos de 12. Cada grupo tinha um padrão de tempo—uma ondulação na dispersão do ar. Isso significava que podia encontrar micro lacunas no ritmo de liberação.

Lá. Uma abertura. Mais duas. Faça duas passadas, depois role.

[1 segundo…]

Ele planejava seus movimentos.

Seu corpo só poderia se mover uma distância limitada por segundo—então, cada mudança precisava ser decisiva.

0,3 metros para a esquerda. Agachar. Rodar para frente. Saltar usando a perna direita. Girar—utilizar a mana para alterar o centro de gravidade em pleno ar.

Mas não eram apenas os espinhos.

Ele podia sentir tudo.

Seu ritmo cardíaco. Seu sangue pulsando. A dor nos membros.

Sentia também as vibrações sob seus pés—a maneira como o piso do salão reagia à pressão mágica ao seu redor.

Seu cérebro tentou gritar para que ele desacelerasse, parasse, não queimasse tão rápido. Mas ele bloqueou esses pensamentos.

[2 segundos…]

Quando a habilidade foi ativada, a realidade se deformou. Apenas dois segundos passaram no mundo real—mas para Ash, esses segundos se estenderam como vinte minutos.

Uma dor de cabeça latejava atrás de seus olhos, ficando mais intensa a cada faísca de magia residual no ar. Sua mente gritava, seu corpo tremia, mas Ash não recuou. Não podia.

Vamos lá…

Não posso ser atingido—nem uma vez. Não quero que minha regeneração seja interrompida por ninguém.

Seus olhos focaram no caminho final. Ele não apenas planejou como desviar—planejou onde iria acabar, como usaria o impulso para contra-atacar.

Seus músculos ficaram tensos, como molas prestes a se romper.

BOOM—

O ar explodiu em movimento.

***

"GAIOLA DE GELO!"

De repente, uma onda de gelo se expandiu, envolvendo as mãos malditas em cristais afiados. A prisão de gelo se formou com um barulho agudo, bloqueando os movimentos das mãos por tempo suficiente para impedir que atacassem alguém.

Costas de rachaduras começaram a aparecer no gelo, e as mãos ameaçavam se libertar.

A mana estelar de Aurora mostrou-se eficiente contra isso.

Estranho... o poder do feitiço—parecia mais fraco do que antes.

Aurora estreitou os olhos, a confusão surgindo ao seu rosto.

Ela podia sentir; quando bloqueou as mãos, a parede de terra quase havia colapsado, mas agora ela conseguiu prender as mãos, mesmo que por um instante.

A força por trás das mãos tinha diminuído um pouco, quase como se parte da energia ambiente tivesse sido desviada para outro lugar.

E então, ao pensar nisso, seus olhos se voltaram rapidamente para a origem.

E viram o garoto que a salvou—correndo direto rumo à enxurrada de agulhas negras, cada uma irradiando uma energia sinistra que arrepia a alma.

Droga... o que ele está fazendo?!

Ela levantou as mãos, pronta para formar uma barreira protetora para protegê-lo, para evitar que ele fosse dilacerado pela onda de morte que se aproximava.

Mas seu feitiço se desfez no meio do lançar, desaparecendo enquanto ela ficava sem fôlego.

Porque, naquele momento, ela viu algo que a congelou mais efetivamente do que qualquer feitiço poderia.

Seu cabelo prateado-branco fluía selvagemente atrás dele, os fios crepitando com arcos de relâmpago enquanto chicoteava ao vento.

O relâmpago envolvia suas pernas e braços como se ele comandasse a própria tempestade.

Seu coração acelerou ao observá-lo, cada raio de relâmpago lançando um brilho estranho sobre ele, fazendo sua silhueta brilhar na luz tênue.

Aurora prendeu a respiração, os olhos arregalados enquanto a via mover-se com uma graça que fazia tudo ao redor parecer insignificante.

Ela não conseguia desviar o olhar, presa à atração magnética da presença dele. Por um momento, parecia que o mundo havia parado, deixando apenas ele e a energia que o cercava.

E então, suas mãos se moveram—e em resposta, um círculo mágico brilhante foi formado entre suas palmas, girando lentamente como o olho de uma tempestade.

E então, assim que o círculo mágico ao redor de Ash começou a brilhar, ele explodiu em movimento. Um relâmpago cortou o ar, e por um instante breve, Aurora nem conseguiu compreender o que estaria acontecendo—ele se movia rápido demais.

Como ele consegue se mover… assim?

Ela até tinha dúvidas se tudo aquilo era uma ilusão.

O coração de Aurora pulou uma batida enquanto tentava seguir sua silhueta. A única coisa que via era—uma faísca de relâmpago, que atravessava o caos, entrelaçando-se entre as pontas de metal com uma precisão fluida, quase sem esforço.

Não era apenas um borrão—era como se estivesse em todos os lugares ao mesmo tempo, movendo-se em várias direções, dançando entre as agulhas como se fossem obstáculos menores em seu caminho.

Que diabos… ela arregalou os olhos, chockada.

A cada twist e virada, ele se esquivava perfeitamente, seu corpo se ajustando e reagindo mais rápido do que seus olhos podiam acompanhar.

Era como se ele soubesse exatamente onde cada espinho iria acertar antes mesmo dele chegar.

Quem… ela realmente… É alguém tão forte assim na academia?

Antes que pudesse pensar mais, Ash já havia aparecido bem acima de Miraak, desviando todas as agulhas,

O coração de Aurora quase parou, seu peito travado enquanto seus olhos fixavam na figura acima de Miraak.

Ele... de tirar o fôlego.

Essa foi a única palavra que conseguiu pensar. Seus fios brilhavam como corrente de energia sob relâmpagos, chicoteando atrás dele como uma bandeira de desafio.

Como alguém pode parecer tão impressionante no meio de uma batalha?

Havia algo nele—uma força irresistível, mas que exalava uma calma confiante, fazendo parecer intocável, quase de outro mundo.

Ela não conseguia parar de olhar. E naquele momento, cercada pelo caos, sangue e gritos—Aurora só conseguiu pensar uma coisa.

Ele é a tempestade mais bonita que eu já vi.