Poder das Runas

Capítulo 31

Poder das Runas

Ash recostou-se levemente, com a postura relaxada, quase indiferente. Seus olhos azuis penetrantes encontraram o olhar ardente de Melissia enquanto listava suas exigências com um tom excessivamente calmo, estudado demais.

"Tudo bem. Preciso de uma Pedra da Alma, Eternium, um Manto das Sombras... e 500 moedas de ouro."

Silêncio.

Melissa piscou.

Depois piscou novamente.

O quê?

Seus dedos se cerraram em punhos sob a mesa, unhas cravadas nas palmas das mãos. Pedra da Alma? Tudo bem. Manto das Sombras? Picante, mas viável. Mas Eternium? E 500 moedas de ouro?

Será que ele estava louco de pedra?

Sua respiração ficou ofegante, uma vontade irresistível de lhe dar um soco na cara a atingiu com força.

Ela apertou a pegada na mesa, os nós dos dedos ficando brancos. Sua mente quase podia ouvir sua pressão arterial subindo.

"Tudo bem," ela disparou, cada sílaba cortante e calculada. "Eu faço isso pra você em um dia."

Mas soou dura e forçada.

Ela estava a um passo de estrangulá-lo.

E, no entanto—Ash mal reagiu. Sem surpresa, sem diversão, nem um leve sinal de gratidão. Apenas um simples aceno de cabeça. Como se ela tivesse apenas concordado em emprestar uma caneta.

O olho de Melissia piscou de irritação.

Sem reação? Sério?

Ela expirou com força pelo nariz, empurrando a cadeira para trás com um barulho irritado. Então, sem dizer mais uma palavra, virou-se de costas e saiu do café, seus movimentos rápidos e decididos.

Seus pensamentos ferviam.

Aquele estúpido arrogante, calculista.

Por que eu até coloquei esses itens na lista? Ah, é — porque achei que ele tivesse um pouco de senso de razão.

Pedra da Alma, ok. Manto das Sombras, seja lá o que for isso. Mas Eternium? Será que pareço alguém que arranca metais raros do nada?

E 500 moedas de ouro? 500?!

Os dedos de Melissa se mexeram de nervoso enquanto ela avançava pelas ruas agitadas de Nexus, com o temperamento quase escapando de controle.

Teddy. Preciso de um ursinho de pelúcia.

Um ursinho macio, fofinho, perfeito para abraçar. De preferência, um que ela pudesse estrangular com força.

Era a única coisa que impedia ela de explodir naquele momento.

Que se dane Ash.

Ela certamente ia abraçar uma pelúcia assim que voltasse. Talvez até duas.

E se ela precisasse rasgar uma no processo?

Paciência. Assim seja.

***

Ash não ficou depois que Melissia saiu revoltada.

Terminou sua bebida, ajustou o relógio de pulso e foi embora, sua mente já voltando ao próximo objetivo — a biblioteca.

Passaram-se duas horas em silêncio quase absoluto, quebrado apenas pelo farfalhar das páginas enquanto ele folheava livro após livro. Absorvia tudo — ervas, masmorras, bestas, a história do mundo.

Saber é poder.

E ele precisava de tudo isso.

Quando saiu, já era tarde e seu estômago exigia atenção.

Dirigiu-se ao refeitório, pegou uma refeição simples: carne grelhada, pão e água, e comeu em silêncio, com a mente em outro lugar — revivendo detalhadamente seu duelo com o Instrutor Leonard.

Cada movimento, cada troca, cada erro ficou gravado em sua memória. Sua mente desmontava a luta como uma simulação tridimensional, analisando de todos os ângulos.

Cada falha. Cada reação atrasada. Cada oportunidade desperdiçada.

Isso o consumia.

Não era suficiente.

Seus atributos estavam baixos demais. Sua magia tinha baixa eficiência em combate.

Isso significava uma coisa—ele tinha que ir além de seus limites. Crescimento físico. Formação de círculos mágicos.

Não podia mais atrasar.

Quando chegou ao dormitório, exaustão o dominava como uma segunda pele, mas o sono era apenas uma pausa temporária.

Fechou os olhos.

Algumas horas de descanso.

E aí começaria tudo de novo.

**

[Meião noite]

O bip estridente do alarme quebrou o silêncio, tirando Ash da névoa de exaustão.

Seu corpo parecia de chumbo, músculos dormentes e doloridos por causa do treinamento de ontem, mas ele não hesitou. Tirou os lençóis, sentou-se, e se arrastou até o tanque.

Água fria espirrou em seu rosto, despertando seus sentidos instantaneamente.

Não tinha tempo a perder.

O objetivo da noite era formar o Círculo Mágico de Nível Iniciante.

Elva tinha mostrado para ele uma vez. Apenas uma. E ainda assim, cada linha intricada, cada símbolo delicado, cada canal de mana exato estavam gravados como se tivessem sido queimados na alma dele.

Fechando os olhos, respirou fundo e internalizou.

A mana despertou, devagar e preguiçosa, como um lago perturbado após anos de silêncio.

Ele guiou a energia até o coração, onde o círculo precisava tomar forma. A energia respondeu, levemente brilhando enquanto se movia para a posição.

Quase podia ver — os padrões tomando forma, um anel delicado surgindo —

Então, tudo desmoronou.

A mana saiu do controle, libertando-se de seu comando.

Uma reação violenta se espalhou pelo peito, queimando suas veias como fogo, rasgando suas entranhas.

E então—

Overrider de Proteção Ativado.

Sua habilidade especial entrou em ação, apagando a mana furiosa antes que pudesse destruí-lo.

Ash respirou fundo, suor escorrendo pela testa. Seu coração pulsava forte. Suas mãos tremeram um pouco, mas ele fez força para cerrá-las em punhos.

É assim que vai ser, hein?

Fracassar não o desanimou. Pelo contrário, aguçou sua determinação.

Então, tentou novamente.

E de novo.

E de novo.

Cada tentativa, a mana resistia.

Cada vez, falhava.

A respiração ficou superficial, o foco vacilou, os dedos cravados nas mãos. Seria fácil desistir, dizer a si mesmo que isso era impossível.

Mas desistir não era uma opção.

Não está funcionando. Meu foco não é forte o suficiente.

Ele apertou os lábios, formando uma linha fina.

Não queria usar isso.

Sem alternativa, ativou sua habilidade — [Pensamento Omnis](1).

Então, o mundo ficou cinza.

Tudo perdeu a cor, seu significado. Até a própria existência dele virou algo mecânico, desprovido de emoção, reduzido a cálculos e lógica.

Sua mente se expandiu e sua percepção se aguçou.

Ele moveu sua mana.

Dessa vez, seguiu seu comando com precisão inumana, dobrando-se à sua vontade como uma extensão de seu próprio corpo.

Formaram-se linhas. Conectaram-se símbolos. A trama intricada de energia se estabilizou —

E então, sucesso.

Um anel de energia brilhante tomou forma dentro de seu coração, pulsando com vida. Uma luz branca pura emanava dele, e o círculo mágico era impecável na sua construção.

Ash exalou, um sorriso satisfeito surgindo nos lábios.

Finalmente, consegui.

Seu primeiro círculo mágico.

Mas então—ele perdeu a consciência.

O contra-ataque do [Pensamento Omnis] atingiu, e antes que pudesse reagir, colapsou.

**

Quando acordou após trinta minutos.

Ash despertou com uma forte dor de cabeça.

Seus membros pareciam peso morto.

Ssitou lentamente, esfregando as têmporas, seus pensamentos lentos.

Droga. Acho que realmente não tenho talento, né?

Se tivesse, teria conseguido na primeira tentativa.

Mas mesmo que levasse cem tentativas, não importaria.

Porque, no final — ele conseguiu.

E isso era tudo que importava.

Ele estendeu a mão para sua mana, convocando o primeiro feitiço que tentou dominar.

Sparkes chiavam na ponta dos dedos, eletricidade dançando sob sua pele.

Mas, diferente de antes, não era instável.

A mana fluía suavemente, refinada pelo círculo mágico dentro do coração. A esfera de relâmpagos pairando sobre a palma da mão era pequena, mas perfeitamente condensada, sua energia controlada, e não caótica.

Estava muito mais rápida, afiada e mortal.

Com um movimento de pulso, deixou-a dissipar.

Isso era só o começo.

Agora, ele finalmente poderia aprender feitiços na biblioteca.

O pensamento lhe trouxe um brinde de empolgação, mas ele afastou, focando no que tinha que fazer.

Com uma respiração tranquila, forçou-se a levantar. Cada músculo do corpo doía, uma dor intensa e latejante que protestava até o menor movimento. Seus membros pareciam de chumbo, pesados e sem resposta.

Ele ignorou a dor.

Dor não era novidade. Era apenas mais um passo adiante.

Aguentando a rigidez, caminhou até o armário, puxou seu traje de treino justo e o vestiu, o tecido colando-se firmemente ao corpo.

Depois, sobrepôs suas roupas habituais, escondendo o traje por baixo.

Respirou fundo lentamente e ativou-o com um impulso de mana.

Instantaneamente, seu corpo ficou mais pesado.

Os nós de energia integrada ativaram-se, aumentando o peso sobre ele.

Primeiros 20 quilos. Depois 40. Seus músculos se esforçavam contra a pressão, ajustando-se à resistência.

Perfeito.

Era assim que ia evoluir, aplicando continuamente pressão em seu corpo.

O ginásio da academia ficava a poucos minutos. Ele saiu para as ruas vazias, o ar frio na face, e entrou na academia, onde as luzes acenderam-se ao seu passo.

Fileiras de equipamentos avançados alinhavam-se no espaço, silenciosos e aguardando. Nesta hora, só ele estava lá.

Foi até a esteira reforçada, ajustando manualmente as configurações — corrida em alta velocidade, simulação de terreno rochoso.

Pois, correu.

No começo, seu ritmo era firme, controlado. Seus pés tocavam a esteira no ritmo, a respiração equilibrada. Então, a máquina ajustou-se, simulando um terreno irregular, fazendo sua passada vacilar.

Com peso aumentado sobre si mesmo.

Cada passo ficava mais pesado, como caminhar na areia grossa. Seus músculos queimavam, as articulações doíam.

Mas ele não parou.

Ao invés disso, aumentou a velocidade.

O suor escorria pela testa, molhando o traje.

Lento demais.

Fraco demais.

Seus pulmões ardiam. As pernas pediam descanso.

Mas descanso não estava nos planos.

Mais rápido.

Mais rápido.

O corpo ameaçava quebrar, mas ele o empurrava adiante. Essa dor — significava progresso.

Quando a esteira parou, ele mal teve tempo de parar antes de seguir ao próximo exercício.

Agachamentos com peso — forçando as pernas a se adaptarem sob pressão constante.

Supino — cada levantamento levando-o além de seus limites.

Barra fixa — braços tremendo, músculos gritando a cada repetição.

Treinamento de core — máquinas de resistência de mana, obrigando os músculos abdominais a suportar a gravidade variável.

Treinos de agilidade — esquivando-se de plataformas de ataque automatizadas, treinando reflexos ao máximo.

Usou cerca de cinco ou seis créditos na academia.

Quando terminou, seu corpo quase desmoronava.

Tremeram as pernas. Estava sem sensação nas extremidades.

Os braços queimavam como se fogo corresse por suas veias.

Olhou no relógio — 4h30 da manhã.

Arrastando-se de volta ao quarto, mal conseguiu chegar na cama antes de o cansaço dominá-lo.

**

Duas horas depois, o despertador tocou.

6h30.

A dor foi a primeira a recebê-lo. Cada músculo do corpo doía, protestando até a menor movimentação.

Mas ele se levantou, mesmo assim.

Porque esse era só mais um dia.

Mais um dia de lutas.

E assim o tempo seguiu.

Até a noite seguinte, os itens prometidos por Melissia finalmente chegaram.