Capítulo 461

Luz derrama-se do alto.

A lâmina forjada brilha e traça seu caminho com convicção.

Uma dança de espadas executada pelas mãos e pelo céu.

Aaaaah…!

A lâmina atravessa o corpo do centopeia, que assume a forma de um monge corrompido.

Não é a mesma lâmina que uma vez feriu o Assistente de Gerência Jin Nasol no Palácio do Oceano, nem a mim na câmara de cultivo dos sonhos.

Esta lâmina é pelo menos duas vezes maior, adornada com belíssimos pinheiros e sinos intricados.

É uma lâmina cerimonial.

Um cutelo feito para enfrentar entidades malignas.

Agora, contorcia-se a coisa distorcida que imitava uma boca humana e plantava loucura, a qual pregava a chamada verdade do mundo. Ou melhor, apenas resmungava sua própria horrível iluminação.

Cada vez que braços humanos, contorcendo-se em seu corpo, caem ao chão, transformando-se em cinzas e encontrando descanso.

O rito para aplacar as almas dos mortos.

Tum.

O centopeia convulsiona, e as colunas e vigas do santuário desabam.

Parece que os destroços podem cair sobre as pessoas a qualquer momento, mas.

“Não se preocupe.”

A voz firme do Agente Bronze ecoou.

As balas transparentes de sua arma de vidro se fixaram no ar ao redor do santuário, aprisionando o centopeia dentro.

搏[1]

Como uma espécie de talismã, as balas com o caractere gravado ativam seus efeitos precisos.

“Agora vai ficar tudo bem.”

“……”

“A parte mais difícil e complicada para acabar com esses desastres sobrenaturais em rituais xamânicos é que você precisa revelar a identidade oculta.”

Eu sei.

Só é possível exorcizar algo quando você sabe o que é.

E é também por isso que o Departamento de Gestão de Desastres não conseguiu identificar facilmente aquele estranho evangelista da Igreja do Desconhecido Luminoso, que estava enterrado junto ao pote de bebida sob o santuário, conferindo-lhe um poder incomum.

Veio à mente as anotações difíceis que o próprio Agente Choi conquistara.

– Hmm… Na verdade, o setor queria investigar com mais profundidade, mas outras agências do governo ficavam no caminho. Até bloquearam a dissolução da própria aldeia.

Alguns diziam: 'Por que não continuar salvando pessoas todos os anos? A relação causa-efeito com os desaparecimentos e mortes não está comprovada.'

No entanto, na realidade, parecia que havia um funcionário público sendo subornado pela aldeia de Jisan.

Por isso tudo estava parado.

– Se você pensar no festival anual como um desastre, é um evento longo e repetitivo, né? Mas os períodos de investigação sempre são curtos demais.

Principalmente com uma história de fantasma tão antiga, onde o ritual foi distorcido e é difícil encontrar sua forma original, fica ainda mais difícil.

Estamos sempre apenas segurando a situação no limite.

– Por isso sempre é frustrante. Deve haver um verdadeiro culpado… Se ao menos pudéssemos encontrá-lo, poderíamos tentar exorcismo, banimento, qualquer coisa. O fato de não conseguir é irritante.

– Espera, Uvinha, não decida sozinha cavar o segredo da aldeia só porque leu isso, tá?! A gente faz isso junto! Entendeu? ^^

Mas…

Eu fiz.

“Você foi quem descobriu a identidade dele.”

Levantei a cabeça.

“Você tirou aquela coisa do santuário. E agora que a identidade foi revelada…”

O Agente Bronze sorria.

“Acabar com esse desastre virou o que fazemos de melhor.”

Ou seja…

A especialidade do Time Tartaruga Negra.

“Eliminar coisas malignas no sentido tradicional.”

“Chefe!”

Uma voz chamou do telhado.

O Agente Choi arremessou seu cutelo para o ar, a chama dokkaebi em sua mão brilhando como o sol.

As chamas varreram até a base destruída do santuário.

Aaaaah!

A sombra escura e úmida criada para o centopeia queimou como se fosse apagada, e uma energia yang brilhante, quente, chegou.

Aaaa—uuuu—ghhh!

O centopeia, tendo perdido muitos dos seus braços humanos, tentou abrir a boca novamente, mas agora sua tal iluminação não conseguia se formar em palavras humanas.

A resposta metódica do Time Tartaruga Negra aos desastres sobrenaturais o empurrou para o canto com firmeza.

Primeiro. Purificação do espaço ritual.

Expulsar o ambiente propício para o mal habitar.

E segundo.

Aprisionamento.

“Agora!”

As balas do Agente Bronze apertaram o santuário.

O centopeia, privado de muitos braços e exposto à claridade ofuscante, se debatia e lutava.

Mas a resposta direcionada, ferindo suas fraquezas elementares inatas como um furador, cortou sua ligação com verdades malignas indescritíveis e o deixou vulnerável.

Assim, o fim se aproximava.

Terceiro.

“Selo.”

䥗[2]

A arma de vidro do Agente Bronze disparou sua última bala.

Carregada com um poderoso rito exorcístico, habilmente forjado na Oficina Baridegi, encaixou-se perfeitamente no corpo da coisa maligna.

Exatamente na testa.

Thwack.

E então.

Pelo buraco no corpo do centopeia onde a bala entrou, suas entranhas começaram a ser sugadas para dentro.

Para dentro.

Ooooooh!

O centopeia desabou para dentro com um estranho som de rasgo, como se estivesse se encolhendo até um único ponto. Não apenas o centopeia. Também o santuário, o chão sob ele, os espíritos e todo o território corrompido pelo Sábio Centopeia foram sugados.

Para dentro da bala de vidro.

Aaaaaah!

A voz do centopeia ecoou num grito agonizante e então…

Foi interrompida.

……

Clinc.

A agora negra orbe de vidro caiu no buraco deixado pelo santuário.

Na superfície da orbe, do tamanho de um punho, estava a imagem gravada de um centopeia.

O entalhe áspero e marcante brilhou em dourado por um instante, como um fragmento de uma escritura sagrada da Igreja do Desconhecido Luminoso, mas então, como se bloqueado pelo poder do selo, a luz se apagou.

Logo, a superfície da orbe de vidro esfriou e se tornou prata sólida.

“……”

“……”

O Agente Bronze caminhou até a fenda, pegou a orbe prateada, inspecionou sua superfície minuciosamente e depois a guardou na bolsa.

E então declarou,

“Acabou.”

Notas:

[1]搏 – caractere que significa ‘estar entrelaçado’, ‘prender’, ‘amarrar’, etc. ↩

[2]䥗 – caractere que significa ‘ferro de marcar’ ou ‘soldar’ ↩