Advento das Três Calamidades

Capítulo 83

Advento das Três Calamidades

“Por favor, silêncio. Agora anunciarei os resultados da avaliação. Os alunos selecionados devem se apresentar.”

Um homem vestido de verde-escuro ergueu-se alto, seu olhar fixo no papel diante dele. Com óculos de armação quadrada e expressão severa, ele emanava autoridade ao começar a ler.

“Para o papel de Evangeline, a cadete selecionada será Aria Parlia do segundo ano. Por favor, avance.”

Uma jovem de cabelos negros adiantou-se. Seus traços eram delicados, e embora não fosse a mais bela, estava acima da média.

Ao ouvir seu nome, seus olhos brilharam e seu corpo tremeu. Ela parecia lutar para conter a excitação.

Aoife observou-a com expressão impassível. Não demonstrava nada, mas internamente estava nervosa.

Ensaiava o roteiro há incontáveis horas e julgara ter feito um bom trabalho.

Tiveram apenas cinco minutos para aprender o texto e atuar. Com mais tempo, teria feito melhor.

A possibilidade de fracasso a assombrava.

Era sufocante.

‘Não posso falhar… De novo não.’

E então…

“Para o papel de Emily, a filha do padeiro, a cadete selecionada será…”

Aoife respirou fundo, apertando as mãos que haviam ficado suadas sem perceber.

“…Aoife Megrail. Por favor, avance.”

Uma onda de alívio a invadiu ao ouvir seu nome. Se não fosse por sua imagem, teria pulado e erguido os punhos.

Mantendo a frieza habitual, olhou para os outros cadetes que a encaravam com inveja e avançou.

‘Consegui…’

Seus punhos se cerraram.

O organizador continuou anunciando os demais. Um a um, Aoife viu cadetes reprimindo a alegria ou chorando.

Dobrando o papel, ele finalmente declarou:

“Esses são todos os papéis. Para os não selecionados, haverá outras oportuni—”

“Com licença.”

Uma voz interrompeu o organizador. Calma, mas com um tremor que Aoife percebeu.

Ao virar, franziu as sobrancelhas.

‘Ele de novo…’

O veterano do dia anterior.

Seu sorriso ainda era amigável, mas algo nele a incomodou.

Ele se dirigiu ao organizador com educação:

“Ainda não ouvi sobre o papel de Azarias. Candidatei-me e acredito que não foi anunciado, então deve haver algum err—”

“Não há erro.”

O organizador cortou-o friamente.

Olhando para os selecionados, incluindo Aoife, continuou:

“O papel de Azarias já foi atribuído. Foi selecionado há uma semana.”

“Eh…?”

Sua expressão calma rachou. Parecia atordoado, como se não esperasse por aquilo.

“Alguém já pegou o papel?”

“Mas as seleções não eram hoje? Como isso é possível?”

“Há algum engano?”

‘O papel de Azarias já foi preenchido?’

Não era o único surpreso. Todos os cadetes restantes, incluindo Aoife, estavam confusos.

‘Quem pegou o papel?’

Aoife estava curiosa. Ele seria seu assassino na peça. Eles teriam que trabalhar juntos.

“Chega de perguntas. Vocês o conhecerão hoje, se ele estiver presente. Caso contrário, será mais tarde.”

“Mas então—”

“Assunto encerrado.”

O organizador interrompeu o veterano e olhou para Aoife e os outros. Seu tom suavizou:

“Por favor, sigam-me. Vou levá-los ao escritor que explicará seus papéis.”

Virou-se e saiu.

Aoife seguiu sem hesitar, perdendo o interesse no veterano, cujo rosto empalidecera.

Sua mente estava em outro lugar.

Ela estava curiosa.

Quem seria o intérprete de Azarias?

***

Alexander Harrington, veterano do segundo ano entre os 100 melhores, não esperava por isso.

A coceira intensificou-se e ele começou a arranhar o pescoço.

“Isso… Um erro… Como…?”

Arranha. Arranha. Arranha.

Enquanto se coçava, uma sensação úmida surgiu em seu pescoço. Queria continuar, mas o líquido o impediu.

Enxugando o pescoço com a manga, manchando-a de vermelho, prosseguiu:

“Pensei que tinha ido bem… Tudo perfeito… Como?”

Suas frases eram incoerentes.

—Você não conseguiu o papel?

“Não, não consegui.”

Alexander mostrou raiva ao contatá-los. Como mentiram? Prometeram-lhe o papel. O que houve?

O que houve!!

—Haverá uma mudança de planos, então.

“Mudança?”

Alexander teve racionalidade para ouvir.

“Vão mudar os planos?”

—Encontre quem tomou seu papel. Quando o fizer, envie-nos suas informações. Nós cuidaremos disso.

“Vocês vão…?”

—Sim.

A voz foi seca. Um sorriso voltou ao rosto de Alexander. Ah, sim… Eles podem consertar. Bom. Bom.

“Eu o encontrarei.”

A coceira parou e sua expressão normalizou.

Não estava mais em pânico.

“…Encontrarei-o imediatamente.”

—Faça isso.

Alexander encerrou a transmissão. Massageou o rosto, tentando recompor-se. Limpou o sangue com a manga.

Pegando um espelho, observou-se.

“Bom.”

Um sorriso caloroso e expressão amigável.

Essa era sua persona.

“Sim, isso serve.”

Ajeitando as roupas, virou-se.

“Eh…?”

Mal deu alguns passos quando uma figura apareceu adiante. Seu porte imponente chamava atenção.

Com olhos castanhos profundos escaneando o ambiente, parecia procurar alguém.

Sua cabeça virou para a esquerda, depois para a direita, e então…

“…?”

Encontraram-no.

Alexander surpreendeu-se. A distância entre os dois diminuiu até ficarem a poucos metros.

“Sim?”

Alexander dirigiu-se a ele com seu sorriso habitual, observando seu blazer.

As listras nos blazers indicavam o ano: uma para o primeiro ano, duas para o segundo, e assim por diante.

O cadete tinha uma listra.

Era seu júnior.

“Como posso ajudá-lo, júnior?”

Ao chamá-lo assim, elevou seu status. Esperava que o júnior entendesse, mas ele apenas o encarou em silêncio.

“…”

Seus olhos castanhos inspecionaram-no minuciosamente, como se procurasse algo.

Quanto mais olhava, mais desconfortável Alexander ficava. Por um instante, sua expressão quase se quebrou e suas mãos tremeram. Alexander imaginou estrangulá-lo.

Mas conteve-se.

Não podia demonstrar isso. Ainda não. Havia coisas mais importantes.

“Júnior…?”

Alexander chamou novamente, desta vez mais severo, como um aviso.

Pareceu funcionar, pois o júnior desviou o olhar.

Quando Alexander esperava um pedido de desculpas, ele fez uma pergunta inesperada:

“Você se candidatou ao papel?”

“Papel?”

“Sim. Para Azarias.”

“…”

Alexander franziu o rosto. Seus lábios secaram. Não podia ser…

O júnior continuou:

“Eu também me candidatei.”

“…Você se candidatou?”

“Sim.”

O júnior assentiu.

“Pena que já foi selecionado.”

“Ah, uma pena mesmo…”

“Então.”

Inclinando a cabeça, o júnior desculpou-se.

“…Peço desculpas por incomodá-lo.”

Finalmente, o pedido de desculpas.

“Você teria sido um ótimo Azarias.”

Ao partir, suas palavras pairaram no ar, deixando Alexander sem reação.

Apesar da vontade de falar, ficou sem palavras, a boca aberta.

Tudo que pôde fazer foi observar a figura do júnior fundir-se na multidão, desaparecendo.

Por algum motivo…

Arranha. Arranha. Arranha.

A coceira voltou.

***

‘…Deve ser ele.’

Não tinha certeza ainda. Tudo aconteceu rápido. Eu observava a seleção de cadetes para os papéis quando…


[◆ Missão Secundária Ativada: Ato Final.]


: Progressão de Personagem + 39%


: Progressão do Jogo + 6%


Fracasso

: Calamidade 1 + 12%

 

Uma notificação familiar apareceu.

“Ha.”

Não era inesperado. Dada a magnitude do festival, algo aconteceria. Eu estava certo.

‘Parece que o alvo é Aoife.’

Calamidade 1 era Aoife. Isso ficou claro após o incidente na prisão.

“…Ela também foi selecionada para a peça.”

A garota que eu deveria matar. Irônico. Que cara ela fará ao descobrir que sou eu?

Mas isso era irrelevante.

Nenhuma visão veio com a notificação. Mas desta vez, não senti falta.

Sabia que não podia depender sempre das visões e precisava descobrir as coisas sozinho.

Felizmente, descobri.

‘Já encontrei meu alvo.’

Ou pelo menos, estava confiante nisso.

O evento chamado “Ato Final” sugeria relação com a peça. A seleção de Aoife reforçou isso.

Coloquei-me no lugar da organização.

Eles são fortes. Poderosos. Mas se quisessem atacar Aoife durante a peça, o modo mais realista não seria um ataque em massa.

Além dos figurões presentes, entrar na Academia seria difícil.

A única conclusão plausível era através de um convidado ou um performer.

Não sabiam se Aoife seria selecionada, mas se soubessem… O candidato perfeito seria um performer.

…E se havia um personagem que se encaixava, era Azarias.

O personagem que eu interpretaria.

“Ha.”

Era especulação.

Não havia evidências concretas. Pelo menos, até observar os candidatos masculinos e notar um comportando-se diferente.

Por isso, aproximei-me dele.

Como esperado, provavelmente era ele.

Quanto mais pensava em nosso breve diálogo, mais convencido ficava.

“Ainda não.”

Mesmo assim, não agi.

Não era o momento. Não sabia sua força, e estávamos na Academia. Não podia fazer nada, mesmo se quisesse.

Seria estúpido.

Além disso, se algo lhe acontecesse, seus superiores mudariam os planos.

Tornaria as coisas imprevisíveis.

E eu detesto imprevisibilidade. Gosto que tudo seja previsível. Só assim tenho controle.

Por agora, manterei o status quo.

Pelo menos até encontrar uma abertura.