
Volume 1 - Capítulo 14
The Water Magician
A cidade de Lune tinha duas enormes bibliotecas, uma ao norte e outra ao sul. A biblioteca do sul ficava mais próxima da guilda dos aventureiros e abrigava muitos livros voltados tanto para o público geral quanto para iniciantes. Pelo menos era o que Ryo havia ouvido, motivo pelo qual decidiu visitá-la primeiro.
Em frente à biblioteca havia uma grande praça, com uma livraria considerável ao lado. Então a livraria existe porque não se pode retirar livros da biblioteca. Procura-se um livro na biblioteca e depois compra-se na livraria ao lado... Um estilo de comércio nunca visto na Terra.
Ryo assentiu, impressionado com o conceito.
Por fora, a biblioteca do sul parecia imensa. O magnífico prédio de cinco andares era de pedra. A porta principal, imponente e feita de madeira, tinha três vezes a altura de uma pessoa comum. A taxa de entrada na biblioteca era de dois mil florins. Se você não causasse nenhum problema, receberia metade do depósito de volta ao sair.
Dentro, era surpreendentemente espaçoso. Talvez tão grande quanto um estádio com cúpula que ele visitara uma vez em sua vida anterior. No vasto espaço um nível abaixo da entrada, havia tantas estantes abertas que seria absurdo tentar contá-las.
— Uau, sinto que vai ser impossível procurar algo sozinho.
Ele se virou e voltou ao balcão para perguntar sobre livros de alquimia para iniciantes.
— Por favor, me siga.
A mulher que trabalhava perto do balcão revelou ser bibliotecária e o conduziu à seção correta. Era uma caminhada considerável, demoraram mais de cinco minutos até finalmente chegarem.
— Se você não tem nenhum conhecimento sobre o assunto, recomendo que comece lendo este e este livro. Quanto às receitas para iniciantes — disse ela — acho que este deve servir.
A bibliotecária encontrou os três livros e os entregou a ele:
Os Fundamentos Absolutos da Alquimia.
Minha Primeira Alquimia.
Alquimia, Uma Coletânea de Receitas I.
Todos escritos por Neal Andersen.
Ryo agradeceu e levou os volumes para uma das muitas cadeiras vazias. Mil florins não era nada barato para o povo comum, por isso a biblioteca não estava muito cheia.
- O objetivo da alquimia é fabricar ferramentas alquímicas capazes de manifestar fenômenos mágicos por meio de círculos mágicos ou fórmulas mágicas.
- Isso significa que sempre se usa um dos dois em todos os tipos de alquimia.
- Não há restrições quanto aos materiais usados para desenhar círculos e fórmulas mágicas.
- O círculo mágico é ativado somente quando energia mágica é infundida no desenho. Nesse momento, independentemente do atributo mágico, o fenômeno descrito no círculo se manifesta.
- Pedras mágicas são extremamente compatíveis com círculos e fórmulas mágicas. Quando conectadas, fenômenos mágicos podem se manifestar sem a infusão de energia mágica humana.
- Em teoria, uma vez dominada a alquimia, é possível manifestar todos os tipos de fenômenos mágicos por ferramentas alquímicas.
Etc., etc.
Na Terra, a alquimia era usada de diversas maneiras: transformar metais comuns em preciosos, alcançar a imortalidade, criar a quase todo-poderosa pedra filosofal. Esses objetivos eram comuns lá. No entanto, a alquimia em Phi era um pouco diferente. Apesar de algumas semelhanças, caso a pedra filosofal fosse considerada uma ferramenta alquímica...
Em Phi, o objetivo da alquimia era criar ferramentas alquímicas. Por exemplo, se pensarmos em poções como ferramentas alquímicas, fica mais fácil entender o conceito de alquimia.
Aprender a usar um círculo mágico parecia um bom começo.
— Seja na Terra ou em Phi, alquimistas aspiram criar algo que ainda não existe — leu Ryo. A exaltação encheu seu coração, a mesma que sentira quando descobriu que podia usar magia.
Os livros “Os Fundamentos Absolutos da Alquimia” e “Minha Primeira Alquimia” eram voltados para iniciantes, explicando vários conceitos, como o que torna a alquimia possível, seus pontos fortes e fracos, entre outros, de forma teórica.
“Alquimia, Uma Coletânea de Receitas I” continha não só receitas, mas também círculos mágicos simples que podiam ser usados em experimentos alquímicos. Na parte de trás do livro havia ainda receitas e círculos mágicos específicos para algumas poções.
No entanto, o autor inseriu um aviso para essa seção: apenas magos experientes deveriam tentar fabricar essas poções, pois havia alto risco de esgotar as reservas de energia mágica.
Ahhh, então é por isso que poucas pessoas fazem suas próprias poções...
Ryo não fazia ideia da quantidade de magia que magos experientes possuíam, mas se era preciso tanta energia para fazer uma garrafa de poção, não era de se espantar que comprar poções fosse a opção mais prática para aventureiros.
Bom, quando se trata de praticar alquimia, é melhor fazer algo que vou precisar numa aventura do que algo inútil, certo?
Ficou feliz ao ver receitas para antídotos também. O livro descrevia vários métodos para fabricar poções comuns, além de receitas com ingredientes facilmente encontrados na masmorra.
Muita coisa aqui é difícil de achar lá em cima, mas simples até os primeiros cinco andares da masmorra de Lune. Acho que estou com sorte.
Em sua mente, Ryo já decidira comprar “Alquimia, Uma Coletânea de Receitas I” na livraria ao lado, assim que saísse da biblioteca, mas queria passar mais um tempo pesquisando. Afinal, não queria desperdiçar os dois mil florins pagos na entrada.
No fim, saiu da biblioteca duas horas depois e foi direto para a livraria ao lado, onde encontrou a coletânea à venda. Infelizmente, o preço era salgado: cem mil florins — ou dez moedas de ouro...
Ugh, que caro. Quero dizer, faz sentido porque é um livro... Mas não tenho dinheiro suficiente comigo para comprar.
Ficou pensando no problema quando uma ideia lhe ocorreu.
O mestre da guilda dissera que o prefeito compraria uma das pedras mágicas de wyvern e depositaria o dinheiro diretamente em nossas contas... Será que ele já fez isso?
Com esse pensamento, Ryo começou a caminhar de volta para a guilda dos aventureiros, que ficava a um quarteirão ao norte.
Para sua surpresa, sua parte do lucro com a pedra mágica de wyvern o deixou mais do que contente ao conferir a conta. Era tanto que ele não precisaria se preocupar em ganhar dinheiro por um bom tempo... Essas palavras foram música para seus ouvidos!
Isso significava que podia viver sua vida fazendo o que quisesse... Viva os wyverns!
Enquanto isso, sacou quinze moedas de ouro e voltou para a livraria. Porém, percebeu algo ao sair da sede da guilda.
— Hm? Não está meio escuro?
O sol ainda brilhava, mas sentia a escuridão avançar pouco a pouco.
Eclipse solar...?
As pessoas nas ruas de Lune olhavam para o céu com ansiedade, assim como ele.
Quando Ryo chegou à praça em frente à biblioteca, a lua já ocultava completamente o sol, e a paisagem havia se transformado.
O mundo invertido. Era a única forma de descrever. Ele já não sentia as pessoas ao redor, mas a cena permanecia inalterada. Por exemplo, seus pés ainda estavam firmes nas pedras de paralelepípedo de Lune.
Será que caí numa subdimensão ou algo assim? Igualzinho a um cenário de fantasia, hein...
Um sentimento de perigo invadiu seus sentidos. Algo além dele estava ali. Podia sentir, mas não sabia o quê.
Preciso me mover para encontrar o que quer que seja. Mas se eu fizer isso, ele(s) vão me perceber... Acho que não tenho escolha...
Respirou fundo e então visualizou:
Sonar Ativo.
Naquele momento, com Ryo no centro, o pulso que enviou se espalhou pelo vapor de água no ar ao redor dele.
— Peguei. Aproximadamente duzentos metros à frente, tamanho quase humano, mas... o retorno do sinal é anormal...
Quando estava para continuar a análise, detectou algo estranho vindo daquela direção.
Muralha de Gelo de 10 camadas.
Como um ataque com lâmina sônica, a magia de fogo avançou contra ele, dividindo-se antes do impacto. Bateu em sua parede de gelo e rebateu.
Que força incrível...
Sua Muralha de Gelo suportara o impacto de muitos ataques de monstros, mas aquele possuía o poder destrutivo mais intenso de todos.
— Hm? Capturei um humano aqui por acaso?
A voz veio de relativamente perto. Embora o Sonar Ativo indicasse que o ser estava a duzentos metros, a voz soava muito, muito mais próxima. E estava se aproximando... Não demorou para Ryo finalmente avistá-lo.
Com aproximadamente um metro e setenta e cinco de altura, basicamente igual a ele. Bípede, dois braços. À primeira vista, parecia humano vestindo roupas, mas um olhar mais atento revelou um rabo fino e — o que pareciam ser — chifres!
Do ponto de vista humano, o corpo era de mulher, por causa dos seios. O rosto era belo, sem dúvida, mas Ryo não sentiu nenhuma atração por ela. Não, após confirmar sua presença, seu primeiro pensamento foi...
Um akuma?!
No Livro dos Monstros, Edição Iniciante, Fake Michael havia acrescentado duas entradas manuscritas, uma delas sobre akumas. Ryo recordou o aviso para a entrada:
Nota: Reze para nunca encontrar um.
Pois é, acho que acabei de encontrar um... E num espaço totalmente anormal também...
O senso de presença daquele (provisório) akuma não era nada desprezível.
Definitivamente no nível de um BeheBehe ou um grifo. Se o encontro tivesse ocorrido na dimensão normal, ele teria fugido sem pensar duas vezes. Nem teria se virado para olhar. Apenas sairia correndo como uma lebre desesperada.
Infelizmente para ele, esse espaço não parecia algo do qual pudesse escapar.
Um suor frio escorria continuamente por suas costas.
— Eh, tanto faz. O problema some assim que eu o fizer sumir.
O (provisório) akuma murmurou para si mesma. Uma enorme quantidade de energia mágica começou a se concentrar em sua mão.
Droga, droga, droga! Muralha de Gelo laminada de 10 camadas.
Na frente de Ryo, pilhas de muralhas de gelo de 10 camadas surgiam uma após a outra, empilhando-se. Uma quantidade enorme para protegê-lo contra o (provisório) akuma. O fogo infernal que ela lançava mal perdia o ímpeto furioso ao destruir, uma a uma, as camadas das muralhas que ele erguia.
Será que consigo pará-lo?
Suor escorria pelo corpo de Ryo enquanto ele canalizava mais magia para fortalecer as camadas das muralhas de gelo. Metade já havia sido consumida, mas ele conseguira retardar o fogo infernal um pouco. Metade das paredes restantes foram destruídas. O fogo agora avançava ainda mais devagar.
Na última muralha de gelo de 10 camadas, o fogo infernal do (provisório) akuma finalmente se extinguiu.
Consegui deter...
No alívio, Ryo baixou a guarda. Nesse momento...
Em um instante, a última muralha de gelo rachou. Instintivamente, ele torceu o corpo desesperadamente para desviar da lança de ar que voava em direção ao seu coração.
Mas foi tarde demais. Ele evitou o golpe direto no coração, porém a lança cravou seu ombro esquerdo... Ou ao menos teria cravado, se não tivesse se despedaçado assim que o tocou. Mesmo assim, a força da lança o girou e o lançou para trás.
— Minha lança de ar não atravessou... — murmurou o (provisório) akuma, surpresa. — Fiquei impressionada quando você defendeu meu fogo infernal, mas minha lança de ar também...? Impossível... Espere um pouco. Essa túnica... é do Rei Fada!
Com os olhos semicerrados, o (provisório) akuma fitou a túnica de Ryo intensamente.
— Bem, eu certamente não esperava encontrar a túnica do Rei Fada... Não é de se admirar que minha lança de ar não tenha funcionado. Então acho que não tenho escolha a não ser cortar você pessoalmente.
Apesar de ter sido lançado para trás, Ryo sofreu poucos danos porque torceu o corpo e aterrissou em segurança.
Armadura de Gelo.
Ele não sabia o quão eficaz seria, mas era melhor do que nada.
— Em todo caso, hora de você morrer.
Uma espada surgiu repentinamente na mão do (provisório) akuma. Ela fechou a distância num instante, investindo contra ele. Ryo sacou Murasame e a interceptou.
Um corte diagonal para baixo, um varrimento lateral, depois um corte para cima... Sem hesitar, ela desferiu uma série de ataques seguidos.
Ele defendeu, desviou e parou cada um deles com cuidado. Então contra-atacou, principalmente com cortes laterais e estocadas. Porém, seus contra-ataques mal a mantinham na defensiva.
Deixando a questão da força de lado, havia uma enorme diferença na velocidade deles. A velocidade das espadas não era tão distante, mas o (provisório) akuma se movia incrivelmente rápido.
Não é só o trabalho dos pés dela... Ela está usando magia do ar para se mover?
Ryo analisava seus movimentos enquanto se defendia, sem se aprofundar muito. Pensar demais agora só o atrasaria. Precisava manter a análise no mínimo e concentrar a maior parte dos seus recursos mentais para desviar dos ataques.
Apesar da pressão, Ryo não quebraria tão facilmente. Ele havia vencido o evoluído gavião assassino de um olho, mesmo estando na defensiva. Defendendo tudo com tudo, resistira ao Dullahan também. Mesmo o Rei Fada teria dificuldade em passar por sua defesa. Assim era sua defesa impenetrável no combate com espada.
E havia seu fôlego inesgotável. O ataque contínuo do (provisório) akuma e sua defesa seguiram sem parar. Por mais que ela atacasse, não conseguia penetrar sua defesa, e a frustração começou a aparecer.
— Essa espada é do Rei Fada também... Que diabos você é...? — murmurou irritada.
Enquanto continuava a atacá-lo com a espada na mão direita, acumulou um pouco de energia mágica na esquerda. Mas...
Lança de Gelo.
Antes que completasse seu ataque mágico, ele gerou uma lança de gelo no ar e a lançou contra a bola de energia. Seu ataque mágico anulou o dela.
— Nunca vi magia se gerar tão rápido... Você é uma aberração.
— Não quero ouvir isso de você, obrigado — rebateu.
— Hm, você me entende? É realmente um perigo. Vou te matar.
— Me corrija se estiver errado, mas não é exatamente isso que você tem tentado fazer há um tempo?
O confronto tornou-se ainda mais violento. Felizmente para Ryo, ele já não se sentia tão dominado quanto no começo, pois acostumara-se ao estilo de luta do (provisório) akuma. Infelizmente, ela também percebeu isso.
Ela se afastou rapidamente para se reagrupar.
— Agora é minha chance! Lança de Gelo 32.
Aproveitou o momento para disparar trinta e duas lanças de gelo na frente dela. E continuou recitando mentalmente.
Lança de Gelo 64. Lança de Gelo 256.
O (provisório) akuma destruiu as primeiras trinta e duas com um simples movimento de mão. As sessenta e quatro seguintes se espalharam em leque e depois convergiram rapidamente para ela, mas tiveram o mesmo fim das primeiras.
— É só isso que você sabe fazer?
Mal terminou de falar, seu ataque principal de duzentas e cinquenta e seis lanças de gelo choveu sobre ela por cima. Ele a distraíra mantendo seu foco em si enquanto seu ataque principal caía silenciosamente do seu ponto cego. Até um (provisório) akuma reagiu tarde demais.
— Ngh—
Mas ele não esperava que esse ataque fosse o que a derrotasse.
Lança de Gelo 32.
Com a atenção voltada para o céu, lançou mais esse ataque direto da frente. Ela gerou uma barreira de terra para se proteger.
Jato Abrasivo 256.
Então usou seu truque favorito atrás da parede de terra — duzentos e cinquenta e seis jatos d’água com abrasivo de gelo, todos movendo-se em trajetórias aleatórias. Os jatos turbulentos destruíram a barreira e dilaceraram o (provisório) akuma, que rapidamente viu sua defesa desmoronar.
Nesse momento, Ryo avançou com Murasame em punho.
Mas... chegou só um instante atrasado. Um segundo, não — uma fração de segundo.
Sua oponente certamente sofrera danos pelo Jato Abrasivo, mas ao se aproximar para o combate corpo a corpo, ela já estava quase recuperada.
— Putz, quão rápido você se regenera?!
— Isso vai te ensinar a não me subestimar, humano!
Ele desferiu golpes rápidos e fortes, o mais rápido que podia, de frente. O (provisório) akuma levantou a espada e aparou os ataques. Ele escolheu não continuar o confronto. Em vez disso, recuou e se reposicionou, preparando sua espada.
A superfície do corpo dela estava fumegando.
São as partes que ela regenerou? Não consegui derrubá-la com um golpe frontal, mas... ela está queimando? Nesse caso...
Lança de Gelo 32. Vendaval.
Lançou trinta e duas lanças para distraí-la, então criou uma chuva localizada ao redor dela. O (provisório) akuma balançou o braço e quebrou as lanças, sem se importar com a chuva torrencial que molhou seu corpo.
Naturalmente, as lanças de gelo eram uma distração. A verdadeira arma aqui era o vendaval!
Água em Ebulição.
Foi a mesma combinação Vendaval + Água em Ebulição que ele usara para praticamente cozinhar a serpente-kite tempos atrás. A água grudada no corpo dela começou a ferver de repente.
— Gaaaaaahhhhhh!!!
O grito saiu da boca dela. A pele parecia horrivelmente queimada. Mas...
— Você...! Terra, me ouça!
Instantaneamente, o solo cobriu todo o corpo dela, absorvendo toda a água e quebrando o feitiço de Água em Ebulição. A carne começou a se regenerar imediatamente. E então...
— Pereça, humano!
O solo que absorvera a água endureceu e voou em direção a Ryo. Simultaneamente, ela criou um muro de terra atrás dele. Um momento depois...
Boom. As duas paredes colidiram, o estrondo ecoando ao redor. Uma nuvem de poeira subiu com o impacto.
Momentos depois, lanças de gelo choviam. Mas o (provisório) akuma antecipou-se e recuou mais de vinte metros, evitando o ataque.
Então Ryo lançou-se do céu como se fosse fazer uma aterrissagem forçada. Ele ativou jatos d’água nas solas dos pés, impulsionando-se para cima para desviar das paredes de terra e disparou as lanças de gelo no ar. Porém, o (provisório) akuma não baixara a guarda, conseguindo evitar o ataque. Parecia que ela não o subestimava mais.
Mais de vinte metros os separavam. Ele não podia fechar a distância de imediato, mas ela sim.
— Parece que virou uma batalha mágica de novo. A magia dela é muito mais poderosa que a minha... Isso me deixa em desvantagem, não é?
Então ouviu a voz dela.
— Aaah... Infelizmente, meu tempo acabou. Não lembro da última vez que enfrentei uma luta tão difícil. Foi divertido, humano.
— Por favor, vá embora. Quanto antes, melhor...
Ela riu maliciosamente de sua resposta.
— Ora, ora, você parecia estar gostando também. Por mais que eu queira continuar, este local é um espaço especial. Não posso controlar as restrições, então não há o que fazer. Meu nome é Leonore Urraca Alburquerque. E você é?
Ryo hesitou, incerto se deveria responder. Dizem que nome e natureza costumam combinar... E como alguém criado em um país que acredita no poder das palavras, temia ficar preso caso desse seu nome ao (provisório) akuma.
— Fale, humano. Ou nem sabe seu próprio nome? — Ela sorriu divertida.
— Meu nome é Ryo, akuma.
Os olhos dela se arregalaram com a resposta.
— Akuma... Então você conhece nossa verdadeira forma... Deveria ter te matado mesmo que custasse meu último suspiro... — Ela balançou a cabeça. — Não tenho tempo, e você não é um oponente que posso eliminar facilmente. Não há outra saída. Então, Ryo, tenho certeza que nos encontraremos de novo.
— Não, obrigado. Prefiro que não.
Leonore riu novamente.
— Ora, ora, não diga isso. Com tanto poder dentro de você, é inevitável nos encontrarmos de novo. Eu ou outra como eu. Certifique-se de não morrer nas mãos de ninguém antes disso. Pois eu serei quem vai te matar, Ryo. Estarei muito mais forte da próxima vez. Adeus.
E então ela desapareceu.
E a cor voltou ao mundo.
— Sobrevivi... De alguma forma...
Quando foi a última vez que esteve à beira da morte...? Pelo menos desde o gavião assassino de um olho.
Percebeu que ficar parado no meio da praça em frente à biblioteca chamaria muita atenção, então sentou-se num banco da praça.
Não desde o gavião assassino de um olho, hein... Ah, sim, falando nisso, ele usou anulação mágica em mim. E o BeheBehe criou uma zona de anulação mágica. Quanto à Leonore, o akuma, ela despedaçou minhas lanças de gelo como se fossem nada... Trinta e duas ou sessenta e quatro, todas obliteradas num instante...
— Ai.
Dor lancinante no ombro esquerdo. Ele massageou o local onde a lança de ar de Leonore o atingira. Nenhum osso quebrado. Provavelmente apenas uma contusão. A prova de que a luta não fora um sonho.
Mas o que mais o surpreendeu foi como a túnica permanecera intacta. Nem um arranhão.
Sem ela, provavelmente teria um buraco enorme no ombro... Sou grato ao meu mestre.
Imagindou o Dullahan em sua mente e inclinou a cabeça em agradecimento.
A magia de Leonore... Era magia, certo? Poderosíssima... Mas não era a coisa mais louca. Não, a honra vai para a velocidade dela... Ela ataca e se afasta em menos de um segundo... Acho que ela não está se teletransportando, mas usando magia do ar para se mover... Ataque rápido... Malditos magos do ar!
Por algum motivo, as reflexões de Ryo podem colocar em risco a reputação da magia do vento.
Ah, sim, ela mencionou que estava sem tempo...
O eclipse solar já havia acabado. Sem qualquer evidência, decidiu que aquilo tinha relação com o que acabara de acontecer. Apesar de todas as pessoas ao redor, só ele e Leonore estiveram naquele estranho subespaço.
Tem muita coisa que não entendo aqui, mas não vou pensar nisso agora! Porque o que preciso fazer é comprar o livro de alquimia e ir para casa, depois, ao voltar, reunir mais informações sobre akumas... Não tenho certeza se vou conseguir, já que até Abel desconhecia esses seres.
Quando Ryo perguntou a Abel sobre akumas durante a viagem para Lune, ele disse conhecer demônios, mas não akumas.
Tenho quase certeza que Abel é filho caçula de algum nobre... Então se até alguém da alta sociedade desconhece os akumas, não vai ser fácil descobrir mais.
Suspirou profundamente e se levantou.
— Vou comprar o livro primeiro e voltar para o dormitório.
O quarto 10 do anexo residencial estava vazio. Ele olhou pela janela para o campo de treinamento ao ar livre da guilda.
— Hm? Eles ainda estão treinando?
Três dos ocupantes do quarto 10 estavam entre os que usavam o campo de treinamento.
— Se eu não estivesse tão cansado, já teria metido uma surra em vocês... — disse Nils, frustrado.
Ele, Eto e Amon estavam no chão, derrotados, cercados por cinco homens.
— Ha! Sabe, por algum motivo, o choramingo de um cachorro derrotado soa particularmente agradável.
Os cinco homens também eram aventureiros e residiam no quarto 1. Devem ter derrotado o trio do quarto 10 numa espécie de luta simulada.
— Tá falando sério, cara? Vai dizer que vai pedir para os monstros da masmorra avisarem antes de atacarem? Ou agora? Vai pedir para a gente parar porque tá tão cansado? Sai fora. Que você pensa que eu sou?
O nome dele era Dan e ele os ridicularizava sem parar.
— Vocês estão absolutamente certos. Quem baixa a guarda é o culpado — disse uma voz atrás deles.
Um segundo depois, lanças de gelo atingiram os plexos solares das quatro pessoas do Quarto 1, exceto Dan. Claro, as pontas eram arredondadas, então não estavam realmente mortas — apenas sentindo tanta dor que desmaiaram.
— Quê—
— Ah, querem saber o que aconteceu com eles? Simples. Eu acertei lanças de gelo na barriga deles.
Com essas palavras, Ryo apareceu.
— Ryo!
Os outros três ocupantes do Quarto 10, ainda no chão, gritaram seu nome em uníssono.
— Seu filho da mãe...
— Nunca baixe a guarda, certo? Você disse algo bom mais cedo. O que era mesmo? Algo sobre pedir para os monstros avisarem antes do ataque...? Claro que não fariam. Pelo amor de Deus — disse Ryo com um suspiro — isso é o que vocês merecem por preguiça.
A primeira coisa que Ryo fez foi ajudar Eto a engolir uma poção. Curando o sacerdote, ele podia ajudar os outros dois a se recuperarem.
— Isso é uma droga... — murmurou Nils.
— Bem, vocês correram a manhã toda, então o resultado era inevitável. Gastaram toda a energia. A partir de agora, só precisam se dedicar ao treino de resistência aos sábados e domingos.
— Você tem razão... — murmurou Eto, o mais fraco fisicamente dos três. Como recém-chegado a Lune do interior, esse "título" duvidoso deveria ser de Amon, mas ele era do tipo que se obrigava a continuar quando precisava.
— Agora, você aí. O que se acha superior a eles...
— Esse é Dan, do Quarto 1 — explicou Nils.
— Ah, então você é o Dan. Por que não nos conta seu próximo passo? Vai enfiar o rabo entre as pernas e fugir depois que eu peguei seus amigos de surpresa?
— De jeito nenhum! — Dan brandiu sua espada e investiu em um ataque.
Você está lento demais...
Dan balançou a espada verticalmente, querendo cortá-lo ao meio. Ryo avançou suavemente, inclinando o corpo para o lado e desviando do golpe. Ele agarrou o punho sem lâmina de Murasame com a mão esquerda, puxou a espada do cinto e desferiu um golpe forte no lado direito de Dan.
No boxe, isso se chamaria um golpe no fígado... O que o tornou ainda mais potente foi o giro das pernas e quadris por baixo. A armadura de couro de Dan não amortecia o golpe.
— Ngh!
Dan caiu no chão e desmaiou.
— Pensei que doeria se eu o acertasse com a mão nua por causa da armadura, então usei o punho de Murasame... Mas isso ainda é diferente do boxe, hein... Eu não fazia ideia de que a força dependia tanto do giro do pulso.
Indiferente a Dan inconsciente, Ryo analisou o efeito do golpe.
— Isso deve ter doído pra caramba... — murmurou Nils, olhando Dan com pena.
— Eu estive à beira da morte mais cedo, então talvez toda aquela adrenalina ainda esteja no meu corpo, hein?
Suas palavras chocaram não só seus três companheiros, mas os quatro outros moradores do Quarto 1. Dan, é claro, não sentiu nada.
— Ah, falando nisso, Eto, pode me curar também? — pediu Ryo, mostrando o ombro esquerdo para o sacerdote.
— Isso é horrível! Os ossos não estão quebrados, mas consigo imaginar o impacto... Se tivesse acertado seu coração, provavelmente você estaria morto agora.
Depois de dizer isso, Eto lançou magia de cura em Ryo.
— Deusa Mãe, estenda sua mão curativa. Cura Menor.
Em um piscar de olhos, o hematoma começou a desaparecer, junto com a dor.
— Bem, isso é o resultado de desviar por um triz do golpe no coração... Que bom que sobrevivi.
— Com que diabos você lutou?!
Nils, Eto e Amon gritaram a mesma pergunta. Apesar de ser um mago, o taijutsu de Ryo era forte o suficiente para dominar espadachins. Eles não conseguiam imaginar que tipo de inimigo o tinha deixado à beira da morte...
— Eu conto depois — desviou Ryo, sorrindo.
Encurralado por Leonore e depois mostrando seu poder para aventureiros F-rank... Como posso ficar mais patético?
Quatro moradores do Quarto 1 continuavam se contorcendo de dor no chão, enquanto Dan permanecia inconsciente.
Por vários motivos, Nils, Eto, Amon e Ryo estavam sujos, então os quatro seguiram para a casa de banhos pública. Nem todas as residências tinham banheira, mas dezenas de casas de banho públicas existiam pela cidade, parecidas com os sento no Japão. Isso era possível graças a um grande rio ao norte da cidade, um sistema de abastecimento de água que o captava, além de um sistema de esgoto sob as calçadas. Ryo pensou em classificação histórica na Terra e concluiu que Lune era mais parecida com uma cidade do início da era moderna do que com a Idade Média.
— Obrigado, Ryo — disse Nils com um sorriso torto. — Se você não tivesse aparecido, Dan e seus capangas teriam feito a gente passar vergonha.
— Você foi rápido, Ryo! — exclamou Amon, com admiração na voz. — Mesmo sendo um mago.
— Amon, deixa eu te contar uma coisa. Os magos de hoje em dia são capazes disso.
— Ah, para com isso, Ryo — disse Nils.
Vendo a troca, Eto conteve o riso.
O domingo à tarde passou tão tranquilo que Ryo quase achou que tivesse alucinado seu encontro com o akuma na praça em frente à biblioteca.