Brasas do Mar Profundo

Volume 2 - Capítulo 118

Brasas do Mar Profundo

A fumaça densa subia, trazendo consigo o brilho intermitente das chamas. Pessoas corriam pelas ruas, gritos de alarme ecoavam no ar. No instante em que ouviu as palavras de alerta, os olhos de Duncan se arregalaram ligeiramente.

O museu… O Museu Oceânico, perto do Distrito da Encruzilhada… Nina!

Nina havia mencionado que passaria a tarde visitando o Museu Oceânico com uma amiga — exatamente na direção de onde a fumaça estava surgindo!

Sem hesitar, Duncan avançou imediatamente na direção do museu, mas logo percebeu que o trajeto não seria tão simples. Embora a fumaça estivesse visível a olho nu, as ruas sinuosas e entrelaçadas desperdiçariam um tempo precioso. Chamar um táxi não era uma opção — além da infraestrutura de transportes não ser tão conveniente ali, nenhum motorista aceitaria levá-lo direto para o meio de um incêndio.

Os pensamentos de Duncan giravam a toda velocidade. Ele estava tenso, mas não perdeu a calma. Analisando rapidamente a situação, uma ideia ousada surgiu em sua mente.

“Ai!” Ele ordenou mentalmente enquanto acelerava o passo, mergulhando na sombra de um edifício em um beco próximo.

Uma chama verde espectral brilhou no ar. Ai, que estava patrulhando os arredores, surgiu no vazio e pousou no ombro de Duncan, batendo as asas suavemente.

Duncan lançou um olhar rápido para a pomba, seu raciocínio já bem estruturado:

Ele sabia que Ai era capaz de transportar objetos físicos através do espaço, garantindo que a ‘carga’ chegasse intacta ao destino. Além disso, ainda não havia encontrado um limite claro para a quantidade de material que a ave conseguia carregar.

Se era assim… será que ela poderia transportá-lo até o museu?

A ideia absurda tomou forma em sua mente e se solidificou. Ao mesmo tempo, Duncan suspirou internamente — nunca havia tentado usar Ai para transportar um ser humano antes. Era, sem dúvidas, uma experiência extremamente arriscada.

Na verdade, ele até planejava testar essa possibilidade algum dia, mas, para isso, pretendia capturar um cultista qualquer para servir de cobaia. No entanto, essa oportunidade nunca surgiu… e agora, a situação exigia uma decisão imediata.

Já que não encontrara um voluntário para o experimento, usaria seu próprio corpo e alma como cobaia.

De qualquer forma, ele sabia que Ai ao menos garantiria que a ‘carga’ chegasse ao destino de forma intacta. Se algo desse errado e seu corpo morresse no meio da travessia… bem, bastaria projetar sua consciência a partir do Banido e tomar posse de outro corpo. Seria apenas um ‘reenvio’ da alma, uma segunda transmissão.

“Preciso que você ‘faça uma entrega’.” Duncan passou a mão pela asa de Ai. “Leve-me até o Museu Oceânico, no Distrito da Encruzilhada — aquele grande edifício branco por onde você voou esta manhã.”

Ai inclinou a cabeça para o lado. Inteligente como um humano, a pomba já havia compreendido as intenções de Duncan assim que viu a fumaça escura no horizonte.

“Uma viagem espontânea, sem aviso prévio?”

“Só diga se pode ou não pode.”

“Preparando…”

“Vai.”

Sem hesitar, Ai bateu as asas com força. Chamas verdes espectrais explodiram ao seu redor, transformando-a instantaneamente em um esqueleto incandescente de pomba. Então, ela alçou voo, girando ao redor de Duncan em um movimento rápido.

No segundo seguinte, uma labareda verde devorou tudo. Duncan desapareceu dentro do redemoinho de fogo fantasmagórico.


Nos arredores do Museu Oceânico, os bombeiros, que haviam chegado às pressas, já iniciavam os esforços para conter o incêndio. Graças à boa infraestrutura do Distrito da Encruzilhada e ao fato de o museu ser um espaço público, a região contava com unidades de emergência em prontidão, além de bombas d’água e saídas de evacuação adequadas.

Enquanto os bombeiros começavam a combater as chamas, vários dos que estavam presos no edifício conseguiram escapar pelos acessos laterais do museu. Agora, reuniam-se em um pânico coletivo na praça em frente ao prédio.

Havia conversas alarmadas sobre as labaredas que surgiram repentinamente nos corredores e salões, sobre os estrondos estranhos e distorcidos ecoando das profundezas do museu, sobre figuras de formas impossíveis e grotescas que pareciam se mover no meio da fumaça. Alguns estavam visivelmente abalados, murmurando descrições aterrorizantes que beiravam o delírio.

No entanto, os especialistas já estavam em ação. Os sacerdotes da capela da praça e os Guardiões locais tinham experiência no manejo de perturbações psíquicas em massa, comuns em eventos de origem sobrenatural. Dois sacerdotes já estavam entre os mais ocupados, queimando incensos sagrados para acalmar os nervos destroçados dos sobreviventes. Ao mesmo tempo, Guardiões começaram a separar as pessoas, isolando aqueles que poderiam estar mentalmente comprometidos, preparando-se para conduzi-los a uma avaliação psicológica e um teste de resistência mental.

E então, a alguns metros da praça do museu, oculto nas sombras de um edifício próximo, uma chama verde brilhou repentinamente.

As chamas verde-espectrais giraram e se condensaram, abrindo-se como um portal invisível. Duncan emergiu de seu centro, com fios de fogo esverdeado ainda se dissipando no ar à sua volta. Ele deu um passo para fora das sombras, e Ai, a pomba, bateu as asas antes de pousar firmemente em seu ombro.

Duncan lançou um olhar para Ai, memorizando a experiência e a sensação do ‘transporte’.

Como ele suspeitava, Ai chegara ao museu voando pelo espaço real, e não por meio de um teletransporte instantâneo como fazia entre a loja de antiguidades e o Banido.

Isso significava que a habilidade de ‘transporte’ de Ai dependia da existência de pontos de ancoragem. Quando viajava entre a loja e o navio, as âncoras eram, respectivamente, o ‘Proprietário da Loja de Antiguidades’ e o ‘Capitão’. No entanto, quando carregava uma de suas próprias âncoras, como acabara de fazer, a ave era forçada a se locomover pelo espaço real, sem atalhos dimensionais.

E quanto à sensação de ser ‘carregado’ por Ai durante o voo…?

Era, sem dúvidas, uma experiência peculiar.

Duncan não perdera a consciência no processo, mas também não conseguira perceber claramente o ambiente ao seu redor. Através da conexão das Chamas Espirituais, ele pôde compartilhar de maneira vaga a percepção de Ai, captando vislumbres da paisagem vista de cima e sentindo o fluxo do vento contra seu corpo. No entanto, tudo isso parecia como se estivesse encoberto por um véu — impreciso e distante, nunca tão nítido quanto quando usava seus próprios sentidos.

Talvez isso se devesse ao fato de que a estrutura corporal de Ai era muito diferente da de um humano… Ou talvez fosse porque Ai tinha sua própria vontade e não podia ser completamente controlada.

Mas isso era um detalhe menor, e Duncan não se importava com isso agora. O importante era que, no meio da crise, ele havia descoberto uma nova funcionalidade de Ai, o que já era um enorme avanço. Os detalhes poderiam ser estudados mais tarde.

O que mais importava naquele momento era Nina.

Embora o voo de Ai não fosse tão rápido quanto um teletransporte, ele ainda o trouxera até ali em questão de poucos minutos. Comparado a ir correndo ou depender de um transporte comum, a velocidade era impressionante. Ele não havia perdido tempo demais no trajeto.

Agora, diante de seus olhos, estava a cena do desastre:

O grande edifício branco do Museu Oceânico ardia em chamas. Sua estrutura principal tinha três andares, mas o fogo estava concentrado principalmente no primeiro e segundo pavimentos.

Uma fumaça densa jorrava das janelas do segundo andar, enquanto labaredas explodiam de algumas aberturas, subindo e descendo com violência. No telhado, uma coluna de fumaça negra se elevava, e, entre as espirais de fuligem, faíscas alaranjadas brilhavam no meio da névoa escura.

O incêndio não parecia ter se espalhado de forma aleatória — na verdade, era como se uma única e colossal coluna de fogo tivesse irrompido no térreo do museu, perfurando os andares superiores até alcançar o teto.

Os bombeiros já haviam ativado os hidrantes na borda da praça. Jatos de alta pressão atingiam as paredes externas do museu, tentando conter a temperatura e evitar que o antigo edifício, com quase um século de história, sofresse um colapso estrutural fatal.

Enquanto isso, os sobreviventes resgatados se reuniam na periferia da praça, recebendo os cuidados dos sacerdotes ou respondendo a questionamentos das autoridades.

Duncan seguiu direto para o grupo de sobreviventes, seus olhos varrendo a multidão em busca de Nina.

No meio do caminho, ouviu alguns dos sobreviventes tremendo de medo enquanto tentavam descrever o que haviam testemunhado:

“… O fogo surgiu do nada! Simplesmente apareceu no ar! Como se já estivesse queimando há muito tempo, mas ninguém conseguia vê-lo até que, de repente, se manifestou!”

“Havia um som… um assobio estridente… Como se demônios estivessem zombando de nós!”

“… Eu vi uma pessoa completamente carbonizada rastejando para fora de uma sala… Que a Deusa me proteja! Ele vestia roupas antigas, de décadas atrás! Saiu daquela sala, mas aquele cômodo não estava pegando fogo antes! As chamas só começaram depois que ele apareceu!”

O pânico entre os sobreviventes era evidente. Muitos balbuciavam relatos desconexos e aterrorizados. Ao se aproximar, Duncan notou um sacerdote da Igreja do Mar Profundo, um homem de barba curta e negra, franzindo as sobrancelhas profundamente.

“A taxa de pânico é alta demais… Um terço dessas pessoas apresenta sinais de instabilidade mental. Algumas delas podem ter sido contaminadas por forças sobrenaturais…” O sacerdote, vestindo um manto negro, falou rapidamente para um dos Guardiões ao seu lado. “Há algo impuro dentro do museu… Quando a equipe de reforço da catedral chega?”

“Pelo menos mais meia hora.”

“… Isso é tempo demais. Se realmente há uma impureza ali dentro, nesse ritmo, em menos de quinze minutos a situação pode sair do controle…” O sacerdote lançou um olhar penetrante para o museu em chamas, então virou-se para um de seus assistentes. “Deixe os xerifes assumirem o controle desta área.”

Em seguida, ele puxou o manto sacerdotal sobre os ombros, revelando por baixo uma vestimenta simples — uma camisa de mangas curtas e calças escuras. Ergueu então o Cânone da Tempestade, e sua voz ecoou clara e resoluta numa breve oração:

“Peço que testemunhe! Avançamos sem hesitar!”

Os outros Guardiões da Tempestade responderam em uníssono:

“Peço que testemunhe!”

No instante seguinte, uma névoa fina e úmida emergiu ao redor deles, envolvendo seus corpos como um manto de mar revolto. Sem hesitação, os guerreiros da fé partiram a passos largos em direção ao museu em chamas.