Volume 3 - Capítulo 244

Ao retornar à mansão, Arran encontrou a Lâmina Brilhante o esperando nos jardins.

Ao contrário do que a Matriarca tinha previsto, ela não lhe deu a menor impressão de estar impaciente para ir embora. Arran considerou que isso se devia à refeição luxuosa que estava na mesa à sua frente.

Embora ele ainda não tivesse se encontrado com seus cozinheiros, ele decidiu mais uma vez que eles eram muito bons em Cristais de Essência.

A Lâmina Brilhante o cumprimentou com um aceno alegre. “Ouvi dizer que o seu primeiro mês correu bem”, disse ela, enquanto cortava habilmente a carne de um frango assado.

“Bem o suficiente”, respondeu Arran. “Embora eu não saiba por mais quanto tempo poderei continuar assim. Quase não dormi nas últimas semanas.”

“Isso vai melhorar”, disse Lâmina Brilhante. “Agora que você mostrou seu comprometimento, ela vai se acalmar um pouco.”

“Então esse primeiro mês foi apenas um teste?” perguntou Arran. Se esse foi o caso, foi de fato um teste completo.

“Não foi só um teste” Lâmina Brilhante parou para dar uma mordida na comida, depois continuou: “Ela realmente queria melhorar sua base para que você aprendesse habilidades mais úteis”.

“E isso já foi feito?” Arran perguntou com esperança.

“Em um mês?” Lâmina Brilhante fez uma careta. “Não seja ridículo. Para construir uma base adequada, você vai precisar do resto do ano, se não mais. Mas a partir da próxima semana, Rhea vai começar a lhe ensinar coisas que você pode realmente usar.”

Arran sentiu um pouco de entusiasmo com essas últimas palavras. Os estudos do último mês haviam ampliado seu conhecimento sobre magia e como aprendê-la, mas as magias e os selos que ele estudou eram decididamente inúteis.

Ele aprendeu pelo menos duas dúzias de feitiços para acender uma fogueira – algo que podia ser feito com facilidade usando apenas a Essência de Fogo bruta. E esses feitiços estão entre os mais práticos. Muitos outros não serviam para nada, apenas ilustravam os métodos de tecer a Essência.

Ainda assim, mesmo que Arran desejasse ansiosamente aprender mais magia, ele ficou feliz com a mudança de ritmo que a semana seguinte ofereceria. Depois de passar o último mês absorvido no aprendizado de magia, ele estava ansioso por uma pausa.

“Quais são seus planos para a próxima semana?”, ele perguntou, curioso para saber o que a Lâmina Brilhante tinha em mente para ele.

“Vamos discutir isso assim que chegarmos à propriedade”, respondeu ela. “Agora arrume suas coisas e prepare-se. Sairemos em quinze minutos.” Ela deu uma olhada na comida à sua frente. “Talvez meia hora.”

Arran levou apenas alguns minutos para se preparar. Com tudo o que ele já possuía em seu anel vazio, tudo o que ele teve que fazer foi instruir Jovan a mandar mensageiros para seus professores, informando que ele ficaria fora por uma semana.

O homem ficou um pouco desanimado ao perceber que não teria treinamento para os empregados naquela semana, mas não reclamou.

“Vou tentar garantir que a mansão não pegue fogo enquanto você estiver fora”, disse ele com um sorriso. No entanto, um instante depois, sua expressão ficou séria. “Descanse um pouco esta semana. Você precisa.”

Apesar da aparência rude do homem, parecia que ele possuía um lado carinhoso também.

Arran garantiu que seguiria o conselho – ele certamente planejava descansar o máximo que pudesse – e, depois de se despedir, voltou para a Lâmina Brilhante.

Embora ele já estivesse preparado para ir embora, ela levou mais meia hora para terminar a refeição, não queria deixar nem mesmo o menor vestígio para trás. Só quando tudo estava pronto é que ela anunciou que eles iriam embora.

A viagem até a propriedade foi longa, levou metade de um dia, embora eles estivessem correndo a toda velocidade. Nenhum dos dois falou muito no caminho e, quando falavam, era sobre coisas triviais.

Arran podia dizer que havia assuntos que a Lâmina Brilhante queria discutir, mas era óbvio que ela só falaria sobre isso quando tivesse certeza de que ninguém poderia ouvi-la. Portanto, sua curiosidade teria que esperar até que estivessem na propriedade.

Eles chegaram no início da noite, e Arran mais uma vez se impressionou com o quão bem a propriedade estava escondida. Mesmo conhecendo o caminho, ele não a teria descoberto facilmente.

Enquanto eles caminhavam para o pequeno vale verde, Arran olhou para Lâmina Brilhante. “Então, o que você queria me dizer?”

“Estive lendo um pouco”, respondeu ela, com um brilho nos olhos. “Sobre os Reinos da Destruição.”

Assim que as palavras saíram de seus lábios, Arran parou em seu caminho. Em um tom ansioso, ele perguntou: “Você encontrou alguma coisa?”

Anos se passaram desde que ele soube que tinha um Reino proibido, mas ele continuava sabendo muito pouco sobre o que ele realmente fazia. Ele havia descoberto que era um Reino da Destruição e que podia ajudá-lo a treinar sua resistência à magia, mas, fora isso, os poderes do Reino permaneciam um mistério para ele.

“A principal descoberta que fiz é que, surpreendentemente, não se sabe muito sobre os Reinos de Destruição”, disse Lâmina Brilhante. “Embora eles surjam na Sociedade de vez em quando, não há registros de Essência de Destruição em nenhum feitiço. Seu uso principal, pelo que sei, é fortalecer o corpo contra a magia.”

Arran soltou um suspiro desapontado. “Você não encontrou nada?”

“Não foi isso que eu disse”, respondeu ela, com um pequeno sorriso nos lábios ao falar. Então, ela abaixou a mão e pegou uma rocha do tamanho de uma cabeça do chão, que jogou para Arran.

Arran pegou a pedra e olhou para ela, mas nem seus olhos e nem seu sentido mostraram algo especial sobre ela. Até onde ele pôde perceber, era apenas uma rocha aleatória. “Devo fazer alguma coisa com isso?”

“Sente-se e canalize Essência da Destruição para ela”, disse Lâmina Brilhante. “Você vai ver o que acontece em breve.”

Ele fez o que ela disse, mas primeiro teve que abrir seu Domínio da Destruição. Então, quando a Essência da Destruição passou a penetrar em seu corpo, ele se concentrou e direcionou sua vontade para a rocha.

O controle da Essência da Destruição era difícil. Até agora, ele ainda não havia obtido sucesso em expulsá-la de seu corpo, embora nunca tivesse tentado canalizá-la diretamente para um objeto. Em suas tentativas anteriores, ele tentou usá-la como a Essência do Fogo, tentando – e falhando – ao controlá-la à medida que a expelia de seu corpo.

No entanto, a tarefa de canalizá-la diretamente em um objeto foi mais simples.

Tudo o que ele precisou foi guiar a Essência para as mãos e para a rocha. E, embora fazer isso com a Essência de Destruição fosse mais difícil do que lançar feitiços mais complexos com outros tipos, era uma tarefa com a qual ele podia lidar.

Demorou quinze minutos até que ele conseguiu guiar uma fina corrente de Essência da Destruição para dentro da rocha, mas, para sua decepção, não houve efeito imediato.

“Continue assim”, disse Lâmina Brilhante quando viu a expressão de desapontamento dele.

Arran continuava a guiar a Essência da Destruição para a rocha, um fluxo tão fino a ponto de não poder ser sentido. Meia hora se passou sem que nada acontecesse e, apesar de Lâmina Brilhante ter dito a Arran para continuar, ele passou a perder a expectativa de que seus esforços dariam em alguma coisa.

Mas então, em um instante, a rocha começou a desmoronar. Um segundo depois, ela se partiu em pedaços e, em seguida, se desfez em uma nuvem de poeira fina que foi carregada pelo vento.

Embora fosse um resultado, Arran não se impressionou. Ele conseguia fazer a mesma coisa com as mãos, e em um único fôlego em vez de meia hora.

Além disso, em uma luta, ele não via utilidade nisso – a menos que enfrentasse um inimigo excepcionalmente paciente.

“É só isso?”, perguntou ele, incapaz de afastar totalmente a decepção de seu rosto.

“É isso”, confirmou Lâmina Brilhante. “Mas seu poder é muito maior do que você imagina. O efeito é lento, mas não há material que possa resistir a ele. Com o tempo, a Essência da Destruição destrói todos os materiais. É por isso que não existem Pergaminhos do Reino para ela – se você colocar Essência da Destruição em um pergaminho ou amuleto, ele será destruído, não importa o material.”

Arran franziu a testa. “Meu corpo pode resistir a isso.”

“De fato”, disse Lâmina Brilhante. “O que tem algumas implicações interessantes. A razão desse fato pode ser que ela é parte de você, ou talvez seu corpo tenha apenas se acostumado a ela.” Ela deu de ombros. “Ou talvez você não consiga resistir a isso, afinal. Talvez seu corpo encontre o mesmo destino daquela rocha e acabe se transformando em pó.”

“Isso já aconteceu com alguém?” Arran olhou para Lâmina Brilhante com desconforto, sem saber se ela estava brincando.

“Que eu saiba, não”, ela respondeu. “Mas, como disse antes, há um conhecimento surpreendentemente pequeno sobre os Reinos de Destruição. Nos registros, os magos com um Reino da Destruição não tiveram vida longa, mas suas mortes foram violentas – um destino comum para os magos do Nono Vale durante as guerras.”

Depois de pensar por um momento, Arran deu de ombros. “Suponho que vou descobrir.”

Mesmo que as palavras dela não sejam nada tranquilizadoras, não fazia sentido ficar se preocupando sobre coisas para as quais ele não tinha resposta. E, de qualquer forma, sua escolha seria continuar em seu caminho atual – independentemente das ameaças ou obstáculos que enfrentasse, a força e o conhecimento só poderiam ajudar a derrotá-los.

“Você vai conseguir”, disse Lâmina Brilhante. “Mas chega de falar sobre isso. Outro motivo de trazê-lo aqui foi para ajudar no seu treinamento. Vamos começar com a revisão de seus estudos até agora.”

“Uma revisão?” Arran perguntou, na esperança de que ela estivesse se referindo a algo diferente do que ele suspeitava.

Lâmina Brilhante fez um aceno brusco de cabeça em resposta. “Apesar do que a Rhea possa acreditar, você é meu aprendiz em primeiro lugar. Portanto, cabe a mim assegurar que você esteja adquirindo o conhecimento adequado. Agora, me mostre o que ela lhe ensinou até agora”.

“Tudo?” O rosto de Arran caiu diante dessa situação e ele não podia deixar de suspeitar de que as intenções da Lâmina Brilhante não eram nem de longe tão nobres quanto ela dizia. Em vez disso, ele suspeitou que ela não gostaria de ser superada pela Matriarca.

“Tudo”, confirmou a Lâmina Brilhante.