Volume 1 - Capítulo 1
Lightning Is the Only Way
“Por que você quer se tornar forte?”
A última luz do crepúsculo brilhava pela janela aberta em um quarto enorme. Um garoto, de não mais que 12 anos, estava sentado no chão, olhando para seu pai. O pai também estava sentado no chão, de frente para seu filho. Os olhos negros do garoto, geralmente curiosos, pareciam incertos.
O garoto vestia uma camisa branca e calças de tecido preto, e sua constituição era média para uma criança. Não havia nada fora do comum, exceto por uma coisa: ele usava um anel preto escuro no dedo anelar direito. O anel tinha um design que o fazia parecer obsidiana, que ainda não tivesse endurecido completamente. Além do anel, o garoto parecia incrivelmente comum.
Seu pai, por outro lado, era o total oposto. Seu rosto talhado e imponente poderia fazer qualquer um se acovardar de medo e respeito. Ele tinha os mesmos olhos negros do filho, mas a sensação que transmitiam era completamente diferente. Na frente daqueles olhos, parecia que todos os segredos eram revelados. Ele vestia robes pretos com dourado imponentes e um anel idêntico ao do filho. Ele olhava nos olhos do garoto.
Depois de um tempo, o garoto desviou o olhar do pai, seus olhos se voltando para uma das janelas. “Para proteger as pessoas próximas a mim.” O garoto esperava que dessa vez a resposta fosse boa o suficiente para seu pai. Ele voltou a olhar para o pai, agora com esperança nos olhos.
Não houve mudança na expressão do homem. “Há alguém que possa ameaçar as pessoas próximas a você?”
“Não.” O garoto suspirou após um tempo.
“Então, por que você precisa de força?”
O garoto parecia desconfortável. “Eu não preciso de força. Eu quero força.” O garoto balançou a cabeça. “Por que você não me permite cultivar, pai? Todo mundo da minha idade já está pelo menos dois grandes reinos acima de mim. Toda vez que eu ando pela cidade, me sinto inútil. Eu só quero ficar mais forte. Isso é errado?”
A expressão do homem mudou ligeiramente para tédio. “Em vez de lhe dizer, por que eu não mostro? Vá para a loja de armas perto da Praça do Céu Quebrado. Fique lá por 30 minutos e depois volte. Então podemos continuar nossa conversa.” Com isso, a porta se abriu sozinha.
O garoto, Gravis, olhou para a porta. Ele suspirou e saiu. Por que seu pai não explicava as coisas? Ele sempre tinha que mandá-lo em jornadas para descobrir a resposta por conta própria.
Deixando o majestoso palácio com torres que perfuravam o céu, ele caminhou até a Praça do Céu Quebrado. A cidade se estendia além do horizonte. Havia tantas pessoas voando no céu que isso lembrava Gravis de uma colmeia agressiva. Elas estavam ou se movendo de A para B ou vendendo mercadorias em seus quiosques voadores. Nem todos podiam se dar ao luxo de comprar uma loja nesta cidade.
Quiosques, mercadorias, montarias, bestas-escravas, edifícios e até palácios preenchiam o céu. Esse cenário se estendia até onde a vista alcançava. Os edifícios e palácios no ar sozinhos eram mais de dez vezes o número de edifícios no solo. Embora todos esses edifícios voadores não pertencessem oficialmente à cidade, eles ainda criavam uma congregação que se estendia mais alto no céu do que a cidade era longa.
Mesmo que a comunidade no céu, apropriadamente chamada de Comunidade do Céu, fosse apenas uma parte sem importância da cidade, Gravis sempre quis voar lá em cima com os outros.
A Praça do Céu Quebrado não ficava muito longe do palácio de seu pai. Depois de apenas alguns minutos, Gravis chegou. Os edifícios ao redor da praça pareciam muito luxuosos, como se todos os donos quisessem competir com seu dinheiro. Um edifício se destacava, não por parecer especialmente extravagante, mas por parecer uma casa de pedra barata de dois andares.
O dono tinha dinheiro suficiente para construir um edifício mais proeminente. Só o fato de possuir propriedade no centro da cidade provava isso. O edifício simplesmente não precisava impressionar as pessoas. Todo mundo na cidade o conhecia. Quando seu pai disse: “Vá para a loja de armas perto da Praça do Céu Quebrado”, ele só poderia estar se referindo a este edifício. Era a loja de armas mais conhecida que existia, a Casa das Armas Divinas.
Gravis entrou na Casa das Armas Divinas e olhou ao redor. Estava deserta, pois nem todos tinham o direito de ver as mercadorias. A única coisa que chamava a atenção era um homem velho, de aparência simples, conversando com outras duas pessoas. Em comparação ao homem velho, o jovem vestido luxuosamente e o guarda bem-armado atrás dele pareciam exalar dinheiro. Gravis foi para um canto da loja e esperou.
“Mestre Linus, mostre-me seus arcos”, o jovem praticamente exigiu do homem velho de maneira bastante direta. Agir como um jovem mestre arrogante diante do melhor artesão de armas do mundo parecia inapropriado, mas o velho não pareceu se importar.
“Certamente, por favor, suba ao segundo andar.” O velho fez um gesto educado em direção às escadas.
O jovem e seu guarda subiram as escadas sem esperar pelo velho, que os seguiu rapidamente. Era isso que o pai de Gravis queria que ele visse? Ele não tinha certeza.
“Bem, meu pai disse que eu deveria voltar em 30 minutos, então eu posso esperar.” Gravis suspirou e ficou no canto da loja.
Depois de um tempo, as pessoas do andar de cima voltaram. Sem nem mesmo se despedir, o jovem foi em direção à saída, mas parou imediatamente quando viu Gravis.
“Príncipe, por favor, perdoe este humilde servo por não notar sua presença.” O jovem parecia aflito e rapidamente fez uma reverência profunda para Gravis. Ele parecia muito nervoso. O guarda atrás dele até se ajoelhou sobre um joelho.
Gravis estava acostumado com essa cena, pois acontecia o tempo todo. Em vez de se sentir importante ou poderoso com a atitude submissa, ele só se sentia irritado. Gravis acenou levemente com a mão. “Está tudo bem, não se preocupe comigo. Pode continuar.”
“Obrigado, príncipe.” O jovem se levantou e rapidamente saiu da loja com seu guarda.
O velho viu a comoção e percebeu Gravis. Ele imediatamente empalideceu ao vê-lo. Ele se teletransportou para a frente de Gravis, algo comum nesta cidade, e fez uma reverência. “Por favor, me perdoe, príncipe! Eu não o vi entrar na loja. Se eu soubesse, teria imediatamente lhe dado as boas-vindas.”
Gravis suspirou. “Você não precisa se desculpar. Eu não anunciei minha presença nem nada. Está tudo bem.”
O velho pareceu aliviado e finalmente ousou olhar para Gravis. “Obrigado, príncipe. Como este humilde servo pode ajudá-lo?”
Gravis olhou ao redor da loja. “Meu pai me disse para vir e ficar aqui por um tempo. Mas eu não sei por quê.”
O proprietário imediatamente empalideceu, como se tivesse ouvido que sua família morreu. “S-Sua graça exaltada?” Por que essa pessoa tomaria nota dele? Será que ele queria insinuar algo ao enviar seu filho aqui? Será que pretendia que seu filho escolhesse uma arma? Isso era improvável. O garoto nem conseguia levantar a agulha mais leve que o velho havia forjado.
Gravis abanou a mão casualmente. “Esqueça. Não é nada para se preocupar.” Gravis olhou para a saída. “Meu pai provavelmente queria que eu visse a troca de palavras mais cedo.”
O velho não tinha certeza de como responder, mas se sentiu aliviado ao saber que aquela pessoa não estava tomando nota de sua loja.
“Bem, não importa. Vou embora. Desejo um bom dia, mestre Linus.” Gravis saiu da loja.
“Obrigado, príncipe. Eu lhe desejo um bom dia.” O velho fez uma reverência mais uma vez.
Gravis rapidamente voltou ao palácio real e caminhou até o quarto de seu pai, as portas se abrindo sozinhas. Seu pai não havia se movido. Gravis se aproximou e sentou-se. “Já se passaram cerca de 30 minutos, pai. Podemos continuar agora?”
A expressão de seu pai não parecia mudar. Ele simplesmente narrou: “O jovem na loja era um dos filhos mais inúteis do líder da Seita Divina Celestial. O velho era o melhor ferreiro de armas do mundo. Aos seus olhos, quem tem o status mais alto?” Seu pai olhou para ele, esperando por sua resposta.
Gravis não hesitou para responder. “A Seita Divina Celestial é uma seita de nível superior no mundo. Se fosse o líder da seita, seus status seriam iguais, mesmo que o líder tivesse mais poder, mas se for apenas seu filho, seus status não são comparáveis. Existem muitas seitas de nível superior no mundo, mas só existe um ‘melhor ferreiro de armas’.”
Como se esperasse a resposta do filho, o pai de Gravis disse: “Então por que ele obedeceu a tudo o que lhe foi dito, mesmo podendo acabar com o jovem com um aceno de mão?”
Gravis hesitou. A resposta era muito óbvia. “Por causa do chefe da Seita Divina Celestial. Ele também poderia acabar com o ferreiro de armas com um aceno de mão.” De repente, os olhos de Gravis se arregalaram. Ele entendeu por que seu pai queria que ele visse essa troca.
Seu pai deu uma risada leve. “Então por que você precisaria de força se tem a mim como pai?”
Gravis sentiu-se dividido. Ele queria rebater, mas não podia. Seu pai era o ser humano mais poderoso que existia, não apenas neste mundo, mas em todos os mundos. A única coisa que rivalizava com ele era o próprio céu. Mesmo que tudo o mais desaparecesse, ele ainda estaria lá. Mas, com esse fato, a razão de Gravis para querer ficar mais forte era nula. Quem ousaria ameaçar os próximos do filho do Opositor? Ninguém.
“Pai, eu já perguntei tantas vezes. Eu só quero ficar mais forte. Isso é pedir muito?” Gravis perguntou com frustração, não querendo desistir.
Seu pai não parecia se importar com o tom desrespeitoso do filho. “Porque você não sabe o que significa cultivar. Se você trilhar o caminho do cultivo, estará constantemente colocando sua vida em risco, a menos que chegue ao topo.” Seu pai parecia sério. “Eu não o protegeria em sua jornada, porque se eu o protegesse, você nunca alcançaria o topo, e sem alcançar o topo, você não poderia viver sem arrependimentos. A verdadeira força é algo que só se alcança com uma imensa força de vontade, sorte e subindo montanhas de cadáveres.”
“Se eu lhe concedesse força, sua longevidade aumentaria, mas sem a força de vontade temperada do mundo do cultivo, você não seria capaz de lidar com a vida aparentemente interminável e imutável. Você se sentiria vazio. Se não há nada pelo que lutar, então há sequer uma razão para viver? Do jeito que você está agora, você terá uma vida boa, com alto status e sem problemas. Destruir isso por algo que você nem precisa é tolice.”
Gravis estava olhando para o chão, seus punhos fortemente cerrados. Ele tinha apenas 12 anos. Ele não entendia tudo o que seu pai lhe dizia. Muitos dos conceitos que seu pai lhe dizia pareciam estranhos. Como ele poderia imaginar como se sentiria daqui a cem anos, tendo apenas 12? Assim, ele não podia aceitar tudo o que seu pai lhe dizia.
No entanto, ele suspirou e se levantou. “Entendi. Vou me retirar.”
Depois que Gravis saiu, seu pai também suspirou. “Gravis, se ao menos você entendesse como eu me sinto. Ver milhares de meus filhos morrendo no mundo do cultivo ou de velhice dói. Se você só quer, mas não precisa de força, é melhor não cultivar. Se você não deseja de todo coração o que o verdadeiro poder concede, você não conseguirá viver sem arrependimentos no mundo do cultivo. Muitas experiências dolorosas me ensinaram isso.” Ele murmurou e olhou para fora da janela.
“Eu vivi por tempo demais”, ele disse após um longo tempo.
O cultivo era o fortalecimento do corpo, da energia e da mente. Um corpo mais forte permitia ter um recipiente mais resistente para mais energia. A energia permitia cultivar o reino mental, e o reino mental permitia que a pessoa assumisse o controle de sua própria vida. Com os três combinados, era possível alcançar a força. Com força, era possível tomar controle do próprio destino e ter liberdade. Se a pessoa não deseja de todo coração agarrar seu destino ou lutar por liberdade, ela terá apenas arrependimentos no final da vida. E uma vida sem arrependimentos é algo que todos querem, mas poucos conseguem alcançar.
Gravis não conseguia entender tudo sobre cultivo. Certamente não ajudava que seu pai tivesse decretado que ninguém deveria falar sobre cultivo com seus filhos se eles não tivessem iniciado essa jornada. A única coisa que Gravis sabia era que o cultivo dava poder aos mais fortes sobre os mais fracos, e ele não gostava da sensação de todos terem controle sobre ele. No entanto, ele nunca estava em perigo, graças ao seu pai. Gravis já teve essa conversa com seu pai muitas vezes antes, mas, por algum motivo, seu pai nunca concordou em deixá-lo cultivar.
Sempre que tinha outra conversa fracassada com seu pai, ele sempre fazia a mesma coisa depois. Gravis caminhava pelo corredor em direção a outro quarto. Ele queria falar com alguém que o entendesse. Quando chegou ao seu destino, a porta se abriu sozinha, e uma beleza graciosa e divina estava no quarto, cuidando de algumas plantas. Enquanto todo mundo ficava maravilhado só de vê-la, ele não reagia de forma alguma. Ela era sua mãe.
“Mãe, por que o pai não me deixa cultivar?” Gravis perguntou em um tom mimado. Sua mãe olhou para ele e deu uma risada leve.
“Gravis, quantas vezes já tivemos essa conversa? Confie no seu pai. Ninguém mais tem tanta experiência quanto ele. Se ele não quer que você cultive, então ele certamente tem um bom motivo.”
Gravis resmungou. “É pedir muito? Só me dar uma técnica de cultivo já seria suficiente. Temos uma quantidade incontável delas.”
Sua mãe olhou para ele com carinho e acariciou sua cabeça. “Esse não é o problema. Embora eu também seja bastante forte, praticamente não sei nada sobre cultivo, mas já vi muitos de seus irmãos e irmãs mais velhos embarcarem nessa jornada. Quase todos eles não tiveram uma boa vida, e quase todos eles tiveram arrependimentos no final da vida.”
Gravis parecia decepcionado, mas não desistia. “Então por que ele simplesmente não me dá força? Não é como se meu pai nunca tivesse feito isso antes. Aumentar o cultivo de outras pessoas não custa mais do que um aceno de mão para ele.”
“É isso mesmo que você realmente quer?” Sua mãe perguntou.
Gravis não tinha certeza. Ele queria dizer sim, que estava tudo bem em receber força concedida, mas, de alguma forma, não conseguiu. Após um tempo, ele suspirou. “Não, não é.”
Sua mãe sorriu. “Ah, vamos lá. Anime-se! A Stella veio mais cedo e estava procurando por você. Por que você não vai visitá-la?”
Gravis ergueu a cabeça. “Stella esteve aqui? Quando?”
Sua mãe riu suavemente. “Cerca de 30 minutos atrás. Ela deve estar por perto do salão principal.”
“Obrigado, mãe. Vou falar com ela. Tchau.” Gravis saiu correndo, sem nem esperar pela resposta da mãe. Sua mãe apenas continuou cuidando das flores.
Gravis correu para o salão principal, procurando por Stella. Stella era uma de suas amigas de infância. Eles praticamente cresceram juntos e imediatamente se deram bem desde o primeiro encontro. Ele sempre se sentia feliz ao estar perto dela. Não importava se conversavam, passeavam ou simplesmente ficavam em silêncio. Ele só gostava de estar por perto dela.
Ele rapidamente a viu olhando para algumas pinturas. Ela era uma garota fofa, também com cerca de 12 anos, com cabelos loiros presos em duas marias-chiquinhas. Seus olhos brilhavam com curiosidade, assim como os de Gravis.
“Stella, aqui!” Gravis gritou enquanto caminhava até ela.
Ela se virou e imediatamente sorriu ao vê-lo. “Gravis! Eu tive que esperar meia hora por você. Por que demorou tanto?”
Gravis coçou a parte de trás do pescoço. “Desculpe! Eu estava conversando com meu pai.”
Stella suspirou. “De novo a mesma coisa?”
Gravis assentiu. “Sim. Ainda sem sorte.”
Stella coçou o queixo, pensando, e seus olhos brilharam. “Já sei! Vamos tomar um sorvete e assistir à Comunidade do Céu.”
Gravis apenas assentiu. Ele não se importava com o que eles fariam juntos. Ele só queria estar perto dela. Eles deram as mãos e correram para fora para assistir à Comunidade do Céu.