
Capítulo 1006
Circle of Inevitability
Lumian olhou para Franca, seus olhos novamente com um tom azul-lago após seu avanço, refletindo os pontos de luz brilhantes ou levemente amarelados.
— Sim, — ele repetiu com um suspiro.
Franca ficou em silêncio novamente. Depois de um longo tempo, ela murmurou como se estivesse em um sonho: — Você sabia? Eu nunca poderei voltar…
— O que aconteceu? — Lumian perguntou gentilmente, seguindo seu exemplo.
Franca começou a contar como ela e Jenna acordaram no porão do Hospital Mushu. Era como se ela precisasse criar coragem para contar o resto recontando eventos anteriores, prolongando o tempo para se preparar mentalmente. Lumian não a apressou. Ele ouviu em silêncio, ocasionalmente pedindo detalhes.
Quando Franca chegou ao ponto em que decidiu forçar seu avanço usando as peculiaridades do sonho, para chamar a atenção da Demônia Primordial e abrir uma rota de fuga, Lumian levantou uma sobrancelha.
Embora ele já tivesse deduzido o avanço de Franca para Demônia do Desespero por meio da Lei da Convergência das Características de Beyonder e de sua intuição espiritual como uma Demônia, e suspeitasse, pela narrativa anterior dela, que essa era a melhor opção possível naquelas circunstâncias, ele ainda não conseguia deixar de sentir que havia algum plano em tudo aquilo: as condições para seu avanço para Demônia do Desespero se reuniram perfeitamente naquele momento!
Claro, se ele estivesse presente, teria simplesmente queimado uma vela de óleo de cadáver e se conectado com a vontade aterrorizante daquela cidade peculiar, destruindo à força todos os obstáculos.
Depois de descrever como caiu no abismo ilusório com o colapso do mundo dos espelhos e a parte final do corredor, Franca parou por alguns segundos antes de continuar em um tom calmo e direto sobre como desacelerou sua descida, como sentiu sua mente e espírito sendo puxados em direção ao abismo e como escolheu a névoa branco-acinzentada, afundando nela.
Seu corpo começou a tremer, mas ela seguiu em frente, contando sobre a porta de luz turva, os “casulos” transparentes, o planeta ilusório girando rapidamente, a voz levemente solene e a versão de si mesma dentro do “casulo”, junto com as especulações razoáveis que se seguiram.
Lumian há muito suspeitava que a “transmigração” não era tão simples quanto Franca e os outros da Sociedade de Pesquisa dos Babuínos de Cabelo Encaracolados acreditavam. Ele suspeitava que havia uma verdade aterrorizante que eles não conseguiam aceitar. Foi por isso que, durante seu tempo na cidade dos sonhos, ele e Jenna foram tacitamente mais gentis com Franca, expressando seu cuidado por ela de forma mais clara e direta. Mas ele não esperava que a verdade fosse essa.
“Então não foi transmigração espacial — foi transmigração temporal… Viajar para frente e para trás pelo espaço é possível, mas o fluxo do tempo pode ser revertido? Não, se isso fosse possível, reviver Aurore não seria tão difícil…” As emoções de Lumian de repente ficaram sombrias.
Ele sentiu como se tivesse perdido várias pessoas e objetos incrivelmente importantes dos quais sentia muita falta para sempre. A tristeza, a melancolia, o arrependimento e a dor eram como formões afiados gravando um epitáfio em sua alma. Naquele momento, ele entendeu que esses eram os sentimentos de Aurore. Seu fragmento de alma havia ressoado com a história de Franca e suas emoções intensas.
Casa — para sempre fora de alcance.
— É basicamente isso. Suspeito que o Continente Ocidental é onde o Taoísta do Submundo e o Mestre Celestial residem. É o mundo milhares, talvez dezenas de milhares, de anos no futuro da minha terra natal… — O corpo de Franca ainda tremia levemente.
Lumian fechou os olhos por um momento, então riu deliberadamente e disse: — Acho que tenho muita sorte. Pelo menos ainda tenho esperança de reviver Aurore, mas vocês nem isso têm mais.
A boca de Franca se abriu ligeiramente e ela ficou momentaneamente atordoada.
Enfurecida, ela caiu na gargalhada. — Droga! Vocês, Caçadores, alguma vez dizem algo legal? Como uma boca humana pode cuspir algo tão venenoso!?
— Achei que você me faria voar com um chute, — disse Lumian, mostrando uma expressão deliberadamente pronta para ser socada.
Franca de repente entendeu sua verdadeira intenção e bufou. — Eu tive o impulso. Você seria um ótimo saco de pancadas agora mesmo.
Ela fez uma pausa, seu olhar retornando para a janela. Olhando para a noite quente e tranquila, ela disse,
— Quando você disse antes que, no pior cenário, a missão falharia, eles enviariam outra equipe, ou todos nós enfrentaríamos o apocalipse juntos, mas você não podia me deixar morrer no porão do Hospital Mushu… Eu não concordei completamente com seu pensamento, mas… Eu senti que talvez minha vida tivesse algum significado, afinal…
— Eu disse isso de propósito, para fazer você se sentir necessária e valorizada, para ajudar a tirá-la daquele estado morto e sem esperança. — Lumian riu. — Eu não sabia exatamente o que você tinha passado, mas eu podia dizer como você estava se sentindo.
Franca virou a cabeça em direção a Lumian e zombou: — Quando se lida com um Caçador, você julga pelas ações dele, não pelas palavras. Eu sei que você realmente enviou Luo Shan e Jenna para levar Zhou Mingrui para o porão.
Antes que Lumian pudesse responder, Franca, agora mais curiosa do que antes, perguntou: — Como você entrou nesse trauma psicológico?
Isso estava perto do fundo do abismo ilusório!
Sorrindo, Lumian respondeu: — Quando cheguei em B2, encontrei Lu Yong’an. Ela deve ser uma consciência externa trazida por algum método, diferente de Grimm, que foi corrompido e influenciado a se tornar uma manifestação de sonho.
— Então, quando ela me viu no Hospital da Lua Carmesim, ela provavelmente percebeu que eu era um falso Filho de Deus, mas ainda assim seguiu com minhas ações. Heh, talvez para a Grande Mãe, seja eu o verdadeiro FIlho de Deus ou uma farsa, enquanto eu carregar esse título, eventualmente me tornarei real, e desta vez foi a chance dela.
— Lu Yong’an me disse naquela época que para salvar alguém do abismo ilusório, eu só poderia contar com a ajuda da Mãe.
— Você não rezou de verdade, rezou? — Franca de repente ficou preocupada, esquecendo seu desespero e entorpecimento emocional anteriores. Seu olhar instintivamente se voltou para o abdômen de Lumian.
— Claro que não. — Lumian começou deliberadamente com a história para agitar as emoções de Franca, evitando que ela afundasse completamente na tristeza. Como alguém que havia aprendido com longos períodos de depressão, ele sabia exatamente o que dizer e fazer nesses momentos.
Mais importante, ele também era uma Demônia do Desespero, tendo passado pela experiência de combinar perfeitamente o método de atuação logo após seu avanço, digerindo a parte da poção que o fazia “sentir desespero”. Ele também aprendeu com o relatório do maior psiquiatra do mundo sobre como estabilizar seu estado mental e evitar perder o controle.
Era por isso que ele se sentia confortável contando a Franca seus verdadeiros pensamentos e sentimentos antes de salvá-la. Ele pretendia ser sua âncora mais sólida. Afinal, quantos Caçadores revelariam abertamente seus pensamentos mais íntimos?
Franca soltou um suspiro incontrolável de alívio. — Então como você destruiu o abismo ilusório e abriu o caminho?
Lumian riu. — Vela de cera de cadáver.
Enquanto falava, ele pegou o frasco de cera amarelo-avermelhada semissólida e suspirou.
— A Chama da Destruição queima muito intensamente. Esta vela só pode ser usada mais uma vez.
Franca, que tinha ouvido a história de Lumian sobre o ritual anterior com a vela de cera de cadáver e sabia que o alvo do ritual provavelmente era a vontade aterrorizante no topo dos caminhos do Caçador e da Bruxa, arregalou os olhos em choque.
— Você é um pouco radical…
Ela não terminou seu pensamento, lembrando-se de que tal extremo era por ela. Lumian relatou as sensações durante o ritual da ação secreta, a descida parcial da vontade aterrorizante e a mutação da aura remanescente do Imperador de Sangue. Ele terminou dizendo,
— No começo, não consegui entrar na névoa cinzenta, mas um raio exagerado simplesmente a atingiu.
— Isso foi… — Franca pensou por um momento e disse, — o encantamento da Madame Justiça, entregue através de algum método. Parecia um nome, para ser falado na antiga Hermes.
Ela não ousou pronunciar o encantamento, com medo de que, mesmo sem usar a linguagem Beyonder, ele ainda pudesse invocar raios no sonho, embora de forma menos assustadora.
— Um nome que poderia invocar tal relâmpago no sonho do Sr. Tolo? — Lumian ponderou. — Deve envolver um deus verdadeiro ou alguma grande existência… Ou pode estar relacionado à percepção do Sr. Tolo.
— Sim. — Franca estava mais preocupada com outra coisa. — Como você se sente agora?
Lumian levantou a mão direita, com a palma para cima, revelando um pedaço de pele pálida e as marcas vermelhas e escuras abaixo dela.
— A aura mutante do Imperador de Sangue e o selo do Taoísta do Submundo se fundiram ligeiramente… Não acredito que eles podem se fundir… Até agora, não houve nenhuma manifestação externa, nenhuma outra mudança…
Após examinar seu próprio estado, Lumian acrescentou: — Além disso, sinto que há algo mais em mim, mas não consigo detectar. Não me afetou… É mais como um efeito colateral do ritual de ação secreta, uma alucinação persistente…
— Nos próximos dias, encontre uma oportunidade de sair do sonho e peça para a Madame Mágica dar uma olhada, — Franca lembrou Lumian para não ignorar esse problema e confirmá-lo o mais rápido possível.
Lumian assentiu e disse: — Enquanto isso, vá até a empresa e saia do seu emprego. Você manteve a posição antes para atrair Zaratulstra com a opção de evitar o perigo ao deixar o sonho em momentos críticos. Mas agora, você não pode sair por enquanto.
Só então Franca se lembrou de seu estado atual: antes de digerir completamente a poção do Desespero, se ela saísse do sonho e retornasse à realidade, ela perderia o controle na hora e se transformaria em um monstro.
— Certo. — Ela não discutiu, percebendo que ainda estava em apuros. Então, ela se virou para sair da janela.
— Não vai mais aproveitar a vista noturna? — Lumian perguntou casualmente.
Franca franziu os lábios e respondeu: — Quanto mais eu olho, mais sinto falta, mais difícil é deixar ir…
Ela fez uma pausa, então virou o corpo parcialmente, lançando o olhar para a noite mais uma vez.
Depois de encará-la por alguns segundos, ela falou, sua voz suave e distante. — Se eu fosse o Sr. Tolo, eu poderia desejar dormir para sempre, sonhando com esta linda noite, nunca acordando…