
Capítulo 266
O Retorno da Cavaleira
Crow teve um sonho. Um dragão negro rugiu diante dele, sangrando. Seu grito soou tão triste e desesperado que até Crow chorou ao vê-lo.
『Eu te amaldiçoo. Nunca perdoarei você, que descende daqueles que cobiçaram meu poder e ousaram cortar meu coração.』
Os olhos do dragão estavam vermelhos de sangue enquanto lançava uma fúria de palavras raivosas a Crow. Esta foi a primeira vez que o menino de cinco anos enfrentou tanto ódio, e ele ficou congelado sem saber o que fazer.
O menino ficou ali, enquanto as feridas do dragão continuavam a jorrar sangue fresco. Em pouco tempo, havia manchado todo o chão.
“Ei, você está ferido?”
『Keueg, claro! Tudo é por causa do seu povo sujo…!』
Mas o dragão não terminou suas palavras. Foi porque Crow havia se aproximado com suas pequenas pernas e tocado a ferida do dragão com suas pequenas mãos.
“Oh, isso deve doer. Como você se machucou tanto, senhor?”
『…』
“Vamos ver minha mãe mais tarde. Não há nada que ela não possa fazer, e ela vai curar todas as suas feridas.”
『… Muito bem.』
A testa do dragão, que já estava enrugada, pareceu se enrugar ainda mais em uma carranca. Crow só queria libertar o dragão de sua ira, mas temia tê-lo ofendido.
“Ei, se você se machucou por minha causa…”
Crow se levantou e depois se curvou diante do dragão prostrado.
“… Sinto muito.”
Crow aprendeu a se desculpar assim com Elena.
“Minha mãe me disse que se eu fizesse algo errado, então deveria pedir perdão para que a outra pessoa pudesse parar de se sentir mal.”
O dragão olhou sem palavras para Crow com seus olhos claros. Murmurou para si mesmo em voz baixa.
『Não posso acreditar que este menino venha daquele psicopata』
“Eh? O que você disse?”
『Isso é o suficiente. Garoto.』
“Mas suas feridas…”
『Estou cansado de lidar com você.』
No final das palavras do dragão, o chão desabou sob os pés de Crow.
“Aaaah!”
Crow caiu em uma escuridão sem fim.
Em algum momento, ele abriu os olhos e se encontrou novamente em seu quarto. Olhou confuso para o teto familiar.
“O que foi isso? Aquele senhor parecia ferido e senti que realmente o toquei…”
Crow, naturalmente, olhou para sua palma, depois se assustou quando viu uma pequena conta começando a emergir de sua carne.
“Aaaaah!”
Ontem estava tudo bem, mas ele gritou quando um orbe azul brilhante começou a sair de sua pele. O estranho foi que ele nem sentiu um pouco de dor em seu corpo.
Tadadadadag
Beolkeog!
O grito de Crow convocou as criadas do lado de fora. À frente do grupo estava Mary, que havia servido Elena desde a mansão Blaise.
“O que está acontecendo, alteza?”
Crow olhou para Mary com lágrimas nos olhos da sua cama.
“M-minha mão.”
Quando Crow levantou a mão, o pequeno orbe em sua palma emergiu completamente e caiu em sua cama. Mary e o resto das criadas olharam com espanto.
Crow ficou assustado com a mudança repentina em seu corpo. Enquanto isso, Carlisle e Elena correram para ver seu filho quando souberam da notícia. Carlisle tinha uma expressão séria no rosto, e embora Elena estivesse igualmente preocupada, ela trabalhou para acalmar Crow.
“Você deve ter ficado muito surpreso, Crow.”
“Mãe, eu estava com medo… Eu sou estranho? As criadas me olharam como se estivessem surpresas.”
Elena parecia triste enquanto abraçava Crow com força.
“Não, você não é estranho. Você é um pouco mais especial que os outros.”
“De verdade?”
“É como um presente que só você pode receber. Esta pequena coisa vai realizar seu desejo mais tarde.”
“De verdade?”
“Sim. E o que eu disse sobre o que devemos fazer com objetos preciosos?”
“Você disse que devemos valorizá-los.”
“Sim. Isso é algo muito valioso para você, então não fale livremente sobre isso nem conte a ninguém, está bem?”
“Sim!”
Crow respondeu com um aceno corajoso. Elena o soltou de seus braços e olhou para ele com amor, depois falou com seu pequeno Crow com uma voz mais amigável.
“Lembre-se, isso vai realizar seu desejo, então não use imprudentemente e decida com cuidado.”
“Eu vou, mãe. Mas já tenho um desejo.”
“Você pode me dizer qual é?”
“Vou me casar com você quando eu crescer!”
Carlisle, que estava ouvindo em silêncio de lado, soltou uma risada divertida.
“Seu sonho é grande demais, filho.”
“Por quê? Pai, não é possível?”
“Claro que não. Sua mãe já é minha, não importa o quanto você a ame.”
“Tch…”
Crow franziu os lábios com decepção e Elena deu uma cotovelada nas costelas de Carlisle.
“Você não pode dizer isso na frente de uma criança.”
“É verdade. De qualquer forma, você não pode pedir desejos para seus próprios parentes consanguíneos, e deve ser honesto e não esperar nada.”
“É assim que é. Crow, quando você crescer, vai conhecer uma mulher que é muito mais bonita do que eu.”
“Não há mulher no mundo mais bonita do que minha esposa.”
Elena riu e balançou a cabeça. O mau humor foi aliviado um pouco. Crow olhou para seus pais enquanto se olhavam com olhos afetuosos.
Ouviu-se uma batida na porta do quarto e a voz da babá chegou do lado de fora.
“Majestade, a comida do Príncipe está pronta.”
“Sim, por favor, leve Crow.”
Com a permissão concedida, a porta se abriu e a babá entrou. A babá havia criado a família de Elena por duas gerações. Já era muito velha para cuidar de Crow sozinha, então apenas supervisionava as criadas. Crow correu assim que viu sua babá.
“Babá!”
“Sim, Príncipe. Você está com fome?”
“Sim.”
“Vamos comer.”
A babá pegou a pequena mão de Crow com uma expressão gentil e o menino avançou com suas pernas curtas. Antes de sair do quarto, a babá se curvou para Carlisle e Elena, depois se dirigiu à sala de jantar com Crow.
Era um dia normal para Crow. Ele tomou café da manhã e depois recebeu suas lições reais. Algo estranho foi revelado quando ele estava tirando uma soneca.
‘… Quente.’
Crow se sentiu febril como se estivesse doente. O calor parecia sufocá-lo.
‘Não, acho que também estou com sede.’
A princípio, ele pensou que estava com febre, mas com o passar do tempo, sua boca também começou a ficar seca. No entanto, era uma sensação diferente de querer beber água. Crow se sentiu confuso.
Foi então que ouviu a voz de Elena através da porta aberta.
“Embora Crow seja maduro em comparação com outras crianças da sua idade, ele ainda tem apenas cinco anos. Por que o Orbe do Dragão se manifestou tão cedo? Não se supõe que ele apareça por volta dos dez anos?”
Crow percebeu que ela estava falando sobre ele. Elena não estava sozinha no quarto ao lado, e a voz de Carlisle respondeu logo em seguida.
“Entrei em contato com o chefe, então não se preocupe demais. Eu esperava que as habilidades do dragão fossem suprimidas ao comer a fruta de Zamida… mas eu não sabia que meu filho herdaria o sangue em sua maior parte.”
“Considerando a aparição precoce do Orbe do Dragão, acho que essa é a explicação mais provável.”
Crow percebeu o quanto sua mãe estava preocupada apenas pelo som de sua voz. Carlisle falou de maneira reconfortante.
“A boa notícia é que não é o mesmo que quando eu obtive o Orbe do Dragão. Eu sofri uma semana de agonia e nosso filho simplesmente o obteve da noite para o dia sem nenhum problema.”
Crow refletiu sobre o que disseram Carlisle e Elena.
O Orbe do Dragão. Era uma frase que ele só ouvia nos contos de fadas. No entanto, com sua mente jovem, ele não conseguia entender o que o Orbe do Dragão tinha a ver com ele.
“Por que mamãe e papai continuam falando de mim e do Orbe do Dragão?”
Crow balançou a cabeça confuso, enquanto Carlisle continuava falando.
“O mais importante é que nosso filho chegou a esse estado sem ter que consumir sangue humano. Ainda bem que ele não mostrou nenhum sintoma incomum até agora.”
“Claro, não podemos ser muito precipitados em nosso julgamento… mas ainda me incomoda que Crow tenha apenas cinco anos. Ele ainda é muito jovem para lidar com isso.”
Crow ficou mais ansioso ao ouvir a conversa. Naquela mesma manhã, Elena havia dito que ele era especial…
‘Tem algo de errado comigo?’
Ele estava com medo de ser o único diferente. Os rostos surpresos das criadas quando o orbe caiu de sua mão estavam gravados em sua mente.
“Heu, mãe…”
Crow estava à beira das lágrimas e prestes a se levantar da cama quando…
Viu que seus pés, sob a calça do pijama, estavam negros. Ele olhou assustado e estendeu a mão reflexivamente para tocá-los. Estavam cobertos de escamas duras como aço.
Como… como se fosse um monstro. Crow ficou congelado ao ver sua pele mudada.
Foi nesse momento…
“Espere, acho que ouvi algo.”
Crow havia chamado por sua mãe antes, e o som dos passos de Elena se aproximou. Os olhos de Crow se encheram de medo. Ele estava aterrorizado com a possibilidade de Elena e Carlisle verem sua transformação com decepção, e arrepios correram por sua pele.
‘E-eles podem me odiar.’
Ainda era jovem, mas de alguma forma conseguia entender a situação. Elena estava preocupada com sua condição, enquanto Carlisle estava aliviado de que nada tivesse acontecido… até agora. Crow instintivamente soube que seus pais poderiam ficar zangados se o vissem.
Kiiig
Crow se escondeu rapidamente sob as cobertas e fingiu estar dormindo antes que a porta se abrisse completamente. Seu coração batia desenfreadamente no peito. Há pouco tempo, ele tinha molhado a cama e tentou esconder isso da criada.
Depois que Elena verificou silenciosamente Crow, ela saiu da sala. Crow ouviu a voz de Carlisle antes que a porta se fechasse totalmente.
“Ele está acordado?”
“Não. Acho que me enganei.”
“Certo, mas vamos ficar de olho nele…”
Finalmente, a porta se fechou com um clique. Crow deitou-se no quarto escuro, tremendo de medo.
“Mãe, Pai…”
Seus lábios tremeram enquanto tentava segurar as lágrimas. Não podia contar a ninguém. Já havia se tornado um monstro.
Quando o horário da sesta de Crow acabou, uma criada veio acordá-lo.
“É hora de se levantar, alteza.”
Crow, já acordado, fingiu abrir os olhos e se levantou da cama. A única diferença foi que desta vez, ele estava com meias.
“Oh? Alteza, você dormiu de meias?”
“Uh, sim. Meus pés estavam frios.”
“Você acha incômodo dormir descalço…?”
“Quero ir ao banheiro.”
“Ah! Por aqui, por favor.”
A criada o levou apressadamente ao banheiro. Felizmente, ele não voltou a colocar as meias, e Crow deu um suspiro secreto de alívio. No entanto, assim que deu um passo para trás, ficou sem fôlego.
“Heog”.
A criada olhou confusa para seu comportamento tenso.
“O que está acontecendo, alteza?”
Mas Crow não respondeu. Havia um cheiro tentador pressionando-o de todos os lados. Ele não percebeu quando estava sozinho com a criada no quarto, mas quando saiu para onde havia mais pessoas, atingiu-o como um elefante.
Era o cheiro das pessoas. O pulsar do sangue vermelho debaixo da pele dos vivos. Crow rosnou como uma pequena fera de caça.
“Keueue…”
A sede, que ele pensou ter diminuído, aumentou como uma maré.