
Capítulo 101
Nv. 99 Princesa da Chama Negra
A Estação Suseo estava muito movimentada na hora do rush. Eunha tocou no celular e conferiu o horário na tela.
— Vejo você na Estação Suseo às sete.
Quando recebeu uma ligação de um número desconhecido, a voz estranha pertencia a Seong-yun Do, da Imortal. Depois de trocar algumas palavras, Eunha percebeu que ele era um dos três que ela havia salvado no Mercado Jagalchi, em Busan. Ele insistiu para impedir que Eunha fosse até a sede por conta própria e pediu o endereço de sua casa. No fim, combinaram de se encontrar na Estação Suseo, e por isso ela estava esperando ali.
Eram 18:58h. As sete horas, o horário marcado com Seong-yun, se aproximavam. Eunha tirou os olhos do celular e ergueu a cabeça para observar ao redor. Ninguém que parecesse com Seong-yun havia aparecido ainda, e as pessoas que passavam olhavam para ela de forma estranha.
“Fazia tempo.”
Desde que ela havia recebido olhares assim.
Eunha baixou o olhar e observou silenciosamente as roupas que vestia. Um vestido preto e uma sombrinha ainda mais preta. Não conseguia se lembrar de quanto tempo fazia desde que usara um traje tão luxuoso em público. Havia colocado por achar adequado e também porque seria melhor vestir um uniforme de combate caso algo acontecesse a caminho de encontrar Yuhwan. Mas era estranho.
“Não é tão desconfortável assim.”
Na verdade, sentia-se à vontade. Ou, mais precisamente, leve. Vestida com aquele chamativo vestido e a sombrinha, estava muito mais tranquila do que no dia anterior, quando carregava a bolsa da academia de tosa.
De repente, o barulho ao redor aumentou e uma sombra enorme se projetou sobre Eunha.
— Olá. Você chegou antes de mim.
Ao levantar o olhar, viu um homem familiar se curvar para ela.
— Sou Seong-yun Do, da Imortal. Embora eu não saiba se você se lembra…
Ele coçou a bochecha. Diferente da última vez, quando vestia o uniforme de combate, agora estava com um uniforme de artes marciais. Era de grau de desgaste diferente, mas tinha o mesmo design do de Yuhwan.
— Lembro. Seus dois colegas daquela vez estão bem também?
— Tudo graças a você. — O rosto de Seong-yun se iluminou um pouco com as palavras de Eunha. — Obrigado novamente por antes. Eu procurei seu contato porque queria retribuir… mas de alguma forma acabei recebendo contato da minha salvadora — disse ele, e então meio que virou o corpo, gesticulando educadamente com as mãos. — Vamos primeiro. Tenho um carro à espera aqui perto.
Parecia estar atento ao redor. As pessoas já focavam nela por causa das roupas, mas com a aparição do terceiro no comando da Imortal, até os transeuntes pararam, e a cena parecia uma apresentação de rua.
— Chegaremos à sede em uns dez minutos.
Seong-yun segurava o volante com facilidade ao subir no banco do motorista. Eunha colocou o cinto e observou o interior do carro. Parecia que ele havia borrifado aromatizador às pressas, mas o cheiro de terra, suor e até álcool ainda pairava levemente.
Eunha olhou pelo retrovisor. Ao contrário dos bancos da frente, impecáveis, os de trás, vistos pelo espelho, estavam cheios de coisas: garrafas plásticas vazias, halteres, uniformes extras de artes marciais, bandagens amassadas e até luvas de boxe.
— Ahm. Eu vim com pressa… — Seong-yun seguiu o olhar dela e sorriu sem graça.
— Tudo bem. Não se preocupe.
Eunha desviou o olhar do retrovisor e respondeu de forma distante. Mesmo assim, Seong-yun esticou um braço longo, como se quisesse apagar um incêndio urgente, e empurrou a bagunça para um canto.
Ela achou que sairiam então, mas ele apertou alguns botões no painel e colocou música clássica. Ajustou o volume adequadamente e sorriu de forma elegante ao falar:
— Este é La stra…vaganza, de Antonio Vivaldi. — Parecia que ele tinha acabado de morder a língua, mas Eunha fingiu não perceber e apenas assentiu. Depois de se preparar para servir a convidada ilustre, ele segurou o volante e perguntou educadamente: — Quer hot-butts###TAG###1###TAG###?
— Hot… butt?
— Sim. Está um pouco frio, então me avise se precisar.
Eunha não fazia ideia do que era o tal ‘hot-butt’ que ele mencionou, e apenas disse que estava bem. Já entrava no quinto mês vivendo no mundo moderno, e havia inúmeros termos que ainda eram novos para ela. Achou melhor lembrar e perguntar a Jehwi depois.
Por fim, o carro partiu após tantos preparativos. Mas não puderam acelerar devido à quantidade de carros que lotava a rua. Precisavam esperar mais de cinco minutos nos semáforos.
Talvez incomodado com o silêncio, Seong-yun tateou debaixo do banco e entregou a Eunha uma garrafa. Era uma bebida energética azul.
— O trânsito está pesado. Aceita?
— Obrigada.
Eunha agradeceu com elegância, mas não bebeu, apenas colocou no colo. Seong-yun abriu uma igual à que entregou e comentou:
— Pensando bem, onde é sua casa? Ah, não tenho outra intenção… queria levá-la depois.
— Agradeço, mas não precisa. Não é tão longe.
Seong-yun já havia perguntado o endereço várias vezes pelo telefone e agora de novo. Não parecia ter más intenções. Na verdade, soava como gentileza. Mas Eunha decidiu recusar educadamente. Não havia vantagem em deixar seu endereço conhecido.
— Hmm… Mas seria cansativo.
Ele falou num tom levemente preocupado. Cansativo? Justo quando Eunha o olhou de relance…
♬Avanço no cais malcheiroso como se fosse meu mundo, e vivo mais um dia sem medo com meus dois punhos♬
Um toque de celular alto soou por cima da música clássica. Seong-yun abaixou o volume depressa, lançou um olhar de desculpa a Eunha e atendeu.
— Alô. Acabamos de sair. E a área comum? Certo, entendi. Já vou.
Ele encerrou a breve ligação e voltou a falar.
— Acho que vai ser difícil chegar em casa… Você gosta de beber, por acaso?
Beber? Assim, do nada? Eunha piscou e assentiu levemente.
— Costumo.
— Sabe seu limite?
— Bom… nunca pensei nisso.
— Entendo.
Os olhos de Seong-yun ficaram um pouco mais sérios. Ele pensou por um instante e olhou para Eunha pelo retrovisor.
— Vamos fazer o seguinte.
No momento em que abriu a boca…
♬Avanço no cais malcheiroso como se fosse meu mundo♬
Outra ligação. Ele parou de falar e atendeu com um ‘Com licença’.
— É. O trânsito está pior do que imaginei. Não conseguimos andar cinco minutos desde a Estação Suseo. Espere um pouco, já estou indo.
♬Avanço no cais♬
— Alô. Ainda estou na Estação Munjeong. Acho que a rua vai abrir quando passarmos dessa parte? Certo.
♬Avanço♬
— Não ouviu? Eu disse que já estou a caminho. Estou dirigindo. Pare de ligar.
Foi uma correria, com o celular de Seong-yun tocando a cada poucos minutos.
— O quê? Deixar o carro e correr? Cala a boca, estou quase aí.
Crack!
No fim, Seong-yun quebrou o telefone como se estivesse amassando uma batata, para que não pudessem ligar de novo.
“Mas como consegue quebrar o celular assim…”
Quando Eunha o olhou surpresa, ele sorriu como se estivesse tudo bem.
— Eles são impacientes.
— …Ah, entendi.
Pelo visto, não eram os únicos. De qualquer forma, agora que ele havia destruído o celular, um silêncio confortável tomou o carro.
— Onde estávamos? Ah, certo. Que tal você passar o endereço da sede para alguém de confiança? Assim pode voltar para casa em segurança, caso precise. Acho que funcionaria — acrescentou, abrindo um compartimento do carro para tirar um cartão de visitas com o endereço e o número da sede, e o entregou a Eunha.
Meia hora depois, conseguiram chegar à sede da Imortal. Logo ela descobriria o verdadeiro significado das palavras de Seong-yun.
Em um hospital universitário próximo à sede da Legião.
Junhwan comprou uma marmita na loja de conveniência do primeiro andar do hospital para o jantar e a levou até o banco do terraço, onde a abriu.
Novidade! Marmita de porco frito apimentado Milirabbit! Picante e deliciosa☆
A nova edição limitada vinha com um pequeno chaveiro de personagem. Essa marca lançava chaveiros voltados para colecionadores sempre que lançava um novo produto. O adorável coelhinho de uniforme militar era o protagonista de um famoso desenho animado americano. Coincidentemente, também era o personagem favorito de Minju. Tanto que, quando essa marca foi lançada pela primeira vez…
— Você comprou cem marmitas Milirabbit de cada sabor? Quem é que vai comer tudo isso?
— Qual o problema? Nós sete damos conta rapidinho. Vou dar um chaveiro para cada um. Só para vocês. Aqui, peguem.
— Não, mas mesmo assim, Mestre…
— Uau, Suhyeon! Olha só isso! Esse coelho com sobrancelhas grossas não parece exatamente o Junhwan?
— …
Os olhos de Junhwan ficaram vermelhos enquanto ele encarava o chaveiro. Ele enxugou-os de forma brusca com as costas da mão e guardou o chaveiro com cuidado junto ao peito.
“Vou dar para o Mestre quando ele abrir os olhos. Ele está desacordado há tanto tempo que ainda nem sabe que lançaram um novo sabor. Ele com certeza vai gostar.”
Junhwan fungou de um jeito que não combinava com seu tamanho e, em seguida, moveu as mãos paradas para terminar de tirar o plástico.
— S-Senhor Junhwan Bae!
— …?
Uma voz urgente. Junhwan estava abrindo os hashis para comer quando olhou ao redor. Uma enfermeira do hospital corria em sua direção com um prontuário nas mãos.
— O que foi?
À pergunta dele, ela mordeu os lábios pálidos, tentando recuperar o fôlego.
— O-O paciente… Trapaceiro.
- Bumbum quente, acredito ser aquecimento do assento no veículo[###TAG###↩]###TAG###