Nv. 99 Princesa da Chama Negra

Capítulo 94

Nv. 99 Princesa da Chama Negra

— Eu… Senhor, quando é que vai parar com isso?

Jehwi tinha percebido logo de cara que Lenço era Si-u e se preocupava com ele. Devia ter momentos em que se preocupava com o que Eunha faria, sem saber que Lenço era Si-u, mas também era porque conhecia bem a relutância de Si-u em usar sua habilidade de encarnação. A encarnação era uma das habilidades especiais, que incluía poderes únicos, concedidas à encarnação exclusiva. Normalmente, envolvia mudar a aparência para se assemelhar ao ser com quem haviam feito contrato.

— Só vou observá-la e depois vou embora.

— Mas ela realmente acha que você é um cachorro.

— Claro. Enfim, mantenha a boca fechada.

— Mas…

Si-u já sabia que não tinha tempo para ficar ali brincando de cachorro. Mesmo assim…

— …

Si-u ergueu um pouco o tronco enquanto observava em silêncio o rosto adormecido de Eunha. Precisava mesmo voltar agora. Ficou imóvel sob a luz destacada da lua e então saiu do lugar sem fazer um som.


— …?

Quando Eunha abriu os olhos de manhã bem cedo, esfregou os olhos enquanto encarava o carpete vazio debaixo da cama. Lenço havia desaparecido durante a noite.

“Onde ele foi parar?”

Ela foi até a sala de estar e olhou debaixo da mesa, no banheiro, no closet e até na varanda, mas não havia sinal de Lenço em lugar nenhum. A porta da frente estava bem trancada. Mesmo sem chave, era possível abri-la por dentro, mas não dava para imaginar facilmente um cachorro girando a maçaneta e saindo sozinho.

Eunha pegou o celular e ligou para Jehwi.

— Senhor Park. O Lenço sumiu.

— Sumiu?

O rosto de Eunha se endureceu com a reação indiferente. Abriu a boca de novo, como se o estivesse repreendendo:

— O cachorro desapareceu. Sozinho, sem coleira nem placa de identificação.

— Ah. — Só então Jehwi continuou, agora com um tom aflito: — E-Eu entendo. É natural você estar preocupada. Mas não se preocupe com o Lenço. Eu encontrei ele na rua hoje de manhã e pedi para um conhecido cuidar dele.

— …O quê? — Eunha franziu levemente a testa. — Então está dizendo que ele abriu a porta sozinho e saiu?

— Parece que sim. E eu acabei encontrando ele do lado de fora por acaso.

— …

Eunha fechou a boca. Lenço saiu sozinho de casa, encontrou Jehwi por acaso fora do prédio e foi confiado a alguém que ele conhecia? Parecia extremamente improvável.

【A Criatura Mítica Viajante Felino das Trevas relaxa ao saber que ele foi embora de qualquer forma.】

【Agora, ela diz que basta ventilar a área do fedor de cachorro e te manda abrir logo as janelas.】

Eunha ignorou a janela de mensagem amarela diante dos olhos e voltou a falar ao viva-voz do celular:

— Você disse que um conhecido está cuidando dele, certo? Posso ver com meus próprios olhos?

Se Jehwi estivesse dizendo a verdade, ela poderia se tranquilizar, mas primeiro precisava confirmar que Lenço estava seguro.

— Vou pedir para ele tirar uma foto agora — respondeu Jehwi antes de encerrar a ligação. Cinco minutos depois, ele realmente enviou uma foto pelo aplicativo de mensagens.

【Sr. Park】 【09:03】

<Pic.jpg>

Aqui.

Parece bem à vontade, né? Não precisa se preocupar.

Posso te mandar fotos sempre que quiser ₍𝄐 ̫𝄐₎

Eunha tocou a foto enviada por Jehwi e a ampliou. Um cachorro branco estava encolhido em algum lugar que parecia um escritório. Julgando pelos olhos azuis, parecia ser o mesmo Lenço que Eunha conhecia. Ao confirmar com os próprios olhos que Lenço estava seguro, finalmente pôde ficar mais tranquila, embora o mistério de como ele saiu sozinho do apartamento ainda permanecesse.


Último andar da sede da Administradora Lua Prateada.

— Pronto. — Jehwi terminou de tirar a foto e largou o celular. O cachorro branco, sentado docilmente à janela, finalmente voltou à forma humana, à forma de Si-u, com um brilho azul ofuscante.

— Eu tenho mesmo que fazer isso? — Si-u resmungou baixinho enquanto ajeitava a gravata frouxa. Ele usou sua encarnação na casa de Eunha por vontade própria, mas agora parecia não gostar da situação.

— Não temos escolha. A senhorita Yura está perguntando sobre o Lenço… cof, digo, sobre a sua segurança. Preciso tirar essas fotos pra tranquilizá-la. — Jehwi coçou a bochecha e sorriu sem graça. — Ela disse que quer fotos regulares pra saber se você está bem, então por favor coopere, senhor.

— …

Si-u parecia não entender aquilo nem um pouco, mas também não explodiu. Apenas fechou a boca com um semblante contrariado e cruzou os braços.

— Por que ela se preocupa tanto com um cachorro que encontrou na rua?

— O Lenço… digo, ela sorria muito quando via você. Nunca tinha visto ela sorrir daquele jeito antes. Não durou muito, mas ela deve ter te considerado parte da família.

Jehwi salvou a foto de ‘Lenço’ no celular e sorriu.

— Vá vê-la com frequência.

— …Eu vou por conta própria. — Si-u virou o rosto bruscamente na direção da janela. A resposta foi espinhosa, mas Jehwi não apagou o sorriso dos lábios.

“É tão desonesto.”

Desde que provou sua força diante de Gwihun, estava sob menos pressão, mas Gwihun ainda mantinha olhos e ouvidos ao redor de Si-u. E claro que Si-u sabia disso. Mesmo assim, ele escolheu ficar ao lado de Eunha depois de conseguir despistá-los, chegando ao ponto de encarnar para isso. A princípio, só pretendia vê-la e voltar. Porém…

— Disseram que tenho talento.

Eunha sorriu de leve enquanto falava sobre o que aconteceu na academia. Foi um sorriso que Si-u Shin nunca tinha visto.

— Espero que seja verdade.

Ele tentava se lembrar com nitidez do tom da voz dela ao murmurar e de sua expressão. Como se dedicava às aulas na academia. Como sorria sem jeito quando recebia elogios da instrutora. Como voltava pra casa e passava a noite acordada escovando o pelo dele. E…

— Por favor, cuide do Lenço.

Até de como correu sem hesitar em direção ao portão que surgiu em frente à academia. Aquela era a Eunha que Si-u viu. Alguém que sabia estender a mão de bom grado se houvesse alguém precisando de ajuda à sua frente. E agora, essa pessoa estava sonhando com uma vida diferente.

— Vou indo. Se ela pedir outra foto, volto depois.

— Espere. — Si-u interrompeu Jehwi de repente. — Aquela convocação de rank S. Era depois de amanhã?

— Como é? Ah, era sim… O senhor Choi provavelmente recusou com educação.

— Diga que eu vou.

— …Como disse?

Jehwi piscou, como se não tivesse escutado direito. Si-u manteve os olhos fixos na janela e repetiu:

— Eu vou. Para a Associação.

— V-Você está falando sério?

— Mas diga que tenho uma condição.

Os olhos azuis de Si-u se voltaram para Jehwi.

— Diga que o Lobo Branco quer um encontro cara a cara com o presidente da Associação. Sem os outros ranks S. E certifique-se de que a Lobo não fique sabendo — acrescentou friamente.

Jehwi parecia não acreditar de verdade no que estava ouvindo. Com razão, pois Si-u havia visitado a Associação como o Lobo Branco apenas algumas vezes.

— Posso perguntar o motivo dessa mudança repentina? — Jehwi perguntou com cautela, lançando um olhar a Si-u. Si-u encostou no vidro e observou com indiferença a paisagem de Seul.

— Talvez eu possa continuar vivendo como Yura Lee assim.

Si-u olhou para fora por um tempo e, lentamente, remexeu os bolsos. Um pequeno pote de pomada, todo amassado.

— Só… porque sim.

Segurando o tubo na palma com discrição, Si-u lançou um olhar a Jehwi.

— Um capricho.


Um hospital universitário perto da sede da Legião. Uma sombra enorme entrou na enfermaria no segundo andar. Era Yuhwan, com seu manto. A parte de cima, que ele não exatamente vestia, mas apenas jogava por cima do corpo, deixava seu abdômen à mostra, e o que se destacava mais do que os músculos definidos eram as cicatrizes que cruzavam diagonalmente por ali. Ele vasculhou a enfermaria bagunçada com os olhos e encontrou o olhar cansado de Rose em meio às montanhas de materiais sobre a mesa.

— Chegou? Tá meio bagunçado. Senta em algum lugar aí.

— E o garoto?

— Tá melhorando aos poucos.

Rose prendeu o cabelo bagunçado e se levantou da cadeira. Tirou o jaleco que estava sobre a poltrona e fez um gesto para Yuhwan, como se dissesse para ele se sentar ali.

— Se não houver nenhum imprevisto, ele provavelmente vai abrir os olhos em alguns dias.

— Que bom — respondeu Yuhwan, seco, sentando-se na cadeira e lançando um olhar para Rose. Ela tinha prendido o cabelo crespo para cima e estava pálida, como se fosse desmaiar a qualquer momento. Devia estar virada há dias no trabalho. — O garoto estabilizou, então por que você não descansa também? Não tem que ir pra Associação amanhã?

Rose balançou a cabeça diante das palavras de Yuhwan.

— Ainda tenho coisa pra fazer.

— E se você desmaiar, ou…

— Você ouviu o boato de que a AGI visitou a Coreia recentemente, né?

Clack.

Rose cortou Yuhwan e abriu um armário próximo para pegar um frasco. Depois, despejou as cápsulas na palma da mão. Yuhwan não sabia o que eram, mas presumiu que fossem vários tipos de vitaminas e nutrientes.

— E também deve saber que não é só boato.

Rose ergueu os olhos e olhou para Yuhwan depois de jogar tudo na boca com um copo d’água.

— …Parece que entregaram uma profecia para o presidente da Associação.

— Uma profecia? — Yuhwan respondeu, desviando o olhar do frasco de Rose. Sua expressão escureceu.

— É. O que chamam de Agrapha. Segundo eles, um portão enorme vai se abrir em breve no litoral sul.

De fato. Esse devia ser o motivo da convocação de emergência dos ranks S. Yuhwan ficou em silêncio por um momento, perdido em pensamentos, e então ergueu a cabeça lentamente.

— Rose, o que você acha?

Isso era o mais importante para ele.

— Concordo com metade do que disseram.

— Ou seja, você discorda da outra metade — murmurou Yuhwan. Ela se sentou em uma cadeira próxima e cruzou as pernas, depois os braços.

— Pode não ser só no litoral sul. Eu chutaria que…

Rose abriu lentamente a palma da mão.

— No máximo, cinco.

— …!

Os olhos de Yuhwan tremeram.