
Capítulo 51
Nv. 99 Princesa da Chama Negra
Quando chegou ao Mercado Jagalchi, já passava das 22:00h.
Eunha conferiu o celular. Ainda estava desligado. Quando Si-u descobriu que ela tinha fugido da gravação, ligou pra ela feito louco. Por isso ela desligou, mas agora que pensava bem, não conseguiria achar o caminho sem o celular.
“Agora não consigo fazer nada sem o GPS.”
Eunha suspirou e enfiou o celular desligado na manga.
Achou que havia chegado ao Mercado perguntando por aí, mas acabou entrando em vielas erradas ou em mercados com nomes parecidos. Busan era bem maior do que imaginava. Pela primeira vez em seus vinte e três, não, cinquenta e três anos de vida, percebeu que tinha um senso de direção péssimo.
O táxi que decidiu pegar levou uma hora até deixá-la no Mercado Jagalchi.
“Mas parece que agora cheguei direito.”
Depois de verificar os arredores, Eunha dobrou o recibo do táxi e o colocou na manga. Tinha que entregar todos os recibos pro Jehwi.
“Isso se ele ainda estiver vivo. Não, não vamos pensar coisa ruim.”
Quando se apressou, ding! uma janela amarela de mensagem apareceu.
Eunha vasculhou a área com os olhos.
【A Criatura Mítica Viajante Felino das Trevas esticou o nariz e disse: — Peixe, Eunha, peixe! — dizendo que estava sentindo cheiro de peixe.】
O vento sob o luar trazia o cheiro salgado do mar. O som das gaivotas vinha de algum lugar próximo. Eunha caminhou ao longo do cais, ladeado de velhos barcos de pesca. Ao pisar nas redes coloridas espalhadas pela rua, o cheiro do mar logo desapareceu.
“Realmente deve ter surgido um portão aqui.”
Asfalto rachado. Vento que chorava. Galhos secos como múmias. Formigas marchando em fila com urgência. Já tinha visto isso muitas vezes. Como antes, a fenda que cortava o ar e destruía o concreto causava efeitos adversos nos arredores. Mesmo com o mundo mais estável, esses fenômenos continuavam os mesmos.
Eunha pisou na terra avermelhada escura. O fedor familiar, mas sempre desagradável, se intensificou. Logo encontrou a barricada amarela e os policiais montando guarda ao redor.
Eunha deu um leve impulso com os calcanhares e saltou no ar. Era leve e ágil como um gato.
— Eu ouvi algo, você ouviu?
Um dos policiais na barricada olhou ao redor. — Ouviu o quê? Não ouvi nada.
Sem perceber os olhos que os observavam do alto de uma árvore próxima, eles escanearam a área.
— Ah, tô ficando paranoico. Tô até ouvindo coisa.
— Olha só que medroso. Não tem motivo pra se assustar com esse tal Portão Desconhecido. A Imortal tá aqui, eles vão resolver.
Portão Desconhecido. Ele com certeza disse isso. Eunha aguçou os ouvidos e se concentrou na conversa.
— Se a Imortal é tão boa assim, por que eles não estão aqui montando guarda? Por que a gente?
— Ué, o problema é a Imortal? A culpa é daquele sujeito.
— Que sujeito?
— Aquele cara que causou confusão à tarde.
— Ah. O que falava da irmã?
— É. Esse mesmo. Tava com a cabeça meio ruim. Não sei se a irmã dele foi mesmo levada, mas e daí? Parecia não ser desperto.
— Será que ele sabia que era um Portão Desconhecido? Enfim, por culpa dele, duvido que eu durma bem hoje.
Eles balançaram a cabeça em sincronia. Pareciam incapazes de imaginar que alguém os escutava ali perto.
“Parece que Jehwi realmente esteve aqui.”
Significava que o caminho de Eunha estava decidido. Ela ficou imóvel, como uma estátua no alto da árvore, olhando à distância. A entrada do portão estava a oeste.
— No fim, é sempre isso com os coreanos e a insensibilidade com segurança…
Swish!
Uma sombra negra passou num piscar de olhos.
— Hein?
Quando o vento tocou seus rostos, um dos policiais olhou pra cima. Nada. Apenas uma nuvem espessa passando rapidamente pela lua.
Sem saber que um esquilo voador de vestido preto havia saltado sobre suas cabeças em poucos segundos, o homem murmurou:
— …Acho que vai chover.
Na verdade, o ‘esquilo voador’ Eunha já tinha pousado numa árvore a poucos metros. Conseguiu ver uma fenda negra.
“É mesmo um Portão Desconhecido.”
Teve certeza ao ver aquela escuridão que parecia engolir toda a escuridão do mundo.
Flash!
Pousou sobre uma placa corroída.
Flash!
E saltou alto de novo, agora a partir de um caminhão estacionado. Com o som cortando o vento, seus cabelos longos esvoaçaram como ébano. Eunha se aproximou da entrada e observou a partir de uma árvore.
Conseguiu ver seis pessoas perto da entrada do portão. Três portavam armas. Um carregava um tridente em forma de garfo, outro uma espada gigantesca digna de um filme de fantasia, e o outro um arco. Devem ser caçadores. Ao observar rapidamente os caçadores…
— Eh…
Um deles chamou sua atenção. O homem de óculos escuros, mesmo tarde da noite, olhava diretamente para onde Eunha estava.
— O que veio fazer aqui?
Ele falou como se tivesse certeza da presença dela. Ao contrário dos policiais distraídos, esses ali deviam ser caçadores de verdade, já que notaram facilmente a presença estranha.
“Subestimei demais eles. Se soubesse, teria silenciado mais os passos.”
Mas não fazia muita diferença. Afinal, só havia uma entrada pro portão. Ela teria que passar por eles, a não ser que se retirassem.
“Melhor assim.”
Eunha já não precisava se esconder. Então, pousou no chão e caminhou em direção a eles.
Click clack.
O som dos saltos de Eunha ecoava mais alto do que o normal e destoava completamente do ambiente desolado. E quando se aproximou deles, a luz da lua, que estava escondida atrás das nuvens, enfim se revelou.
— Festa de Halloween em agosto?
Foi o que disseram ao vê-la parada, de costas para a lua. Se tivesse um pouco de ketchup na boca, pareceria um fantasma alienígena.
— …Provavelmente não.
O homem com a espada larga examinava Eunha em silêncio.
Vestido e sombrinha. Teria pensado que era alguma cosplayer de rua, mas ali era a entrada de um portão. Ou seja, era prova de que ela tinha passado despercebida pelos policiais de guarda.
— Posso dar uma olhada lá dentro? — perguntou Eunha com educação. Mas o homem com a espada larga franziu as sobrancelhas.
— Lá dentro? Parece que você também é caçadora. É isso mesmo que quer dizer depois de ver a entrada preta de um Portão Desconhecido?
— Tem algo que eu preciso confirmar.
O homem a encarou e falou com desdém:
— Confirmar o quê?
A mulher de trajes estranhos lhe parecia suspeita demais.
— Acho que alguém que conheço foi levado pelo portão.
— Tem certeza?
— Quase.
— Quase?
Os olhos do homem examinaram Eunha. Ele não parecia simpático, afinal, era claro que deviam impedir desconhecidos de entrar no portão. Eunha sabia disso, mas tinha um motivo para tentar convencê-los.
— Prometo não tocar nos recursos lá dentro.
— …Ha. — O homem bufou com um sorriso torto. Aquilo era um Portão Desconhecido, um lugar de onde talvez nem se voltasse com vida. E ela estava falando de não tocar nos recursos, não da própria vida. Era esse o nível de confiança dela? Ou apenas ausência total de medo?
— Você, qual é o seu apelido?
— …Me chamam de Princesa da Chama Negra.
O rosto do homem se contorceu de um jeito estranho. Outro caçador atrás dele se intrometeu:
— Eh, já ouvi falar dela. Não é aquela caçadora de conceito Rank F que assinou contrato com a Lobo?
Os outros começaram a assentir.
— É isso mesmo. Eu lembro. Princesa da Chama Negra. Acho que até apareceu na TV uma vez. Apesar de eu não ter assistido.
— Nossa, isso é a cara da Lobo mesmo. Sem medo nenhum. Rank F entrando num Portão Desconhecido?
“Ah. Agora entendi.” Os olhos do caçador que barrava Eunha mudaram.
— …Você veio a mando da Lobo?
Do contrário, nenhum caçador pediria algo tão absurdo à Imortal. Nenhum. Era natural pensar assim. Exceto por uma coisa:
“Por que mandariam uma Rank F?”
Ele não entendia o que se passava na cabeça da Lobo. E por isso mesmo os detestava. O homem lançou um olhar desconfiado a Eunha.
— Seja lá o motivo, volte. Odeio caçador contratado e qualquer um que tenha cheiro de cachorro.
Ninguém da Guilda Imortal tinha boa vontade com a Lobo. Na verdade, odiavam tanto que rosnavam só de ouvir o nome. Havia muitos rumores de que Lobo e Imortal tinham uma relação de cão e gato. Claro, era um rumor que Eunha desconhecia.
— Por favor.
— A Imortal não vai se repetir.
— Eu preciso entrar.
Um silêncio congelado caiu sob o luar. O homem bloqueava a entrada, e Eunha não recuava.
Whoosh.
A brisa do mar soprou.
— É por isso que odeio a Lobo. Cheios de si. Acham que são os donos do mundo — o homem resmungou, encarando Eunha.
— Você. Acha que a Imortal é uma guilda de frouxos?
— Ei, calma. Vai mesmo lutar com ela aqui?
Outro caçador, observando tudo de trás, tentou acalmá-lo. Parecia mesmo que ele ia sacar a arma a qualquer momento.
— Bom, tentei conter ele, mas concordo com o cara. Entendo sua situação, mas espero que volte.
O tom era mais gentil que o do outro, mas os olhos continuavam afiados. O motivo era simples: ela era da Lobo. E isso já era motivo suficiente para hostilidade.
— Houve uma ordem de não deixar nem a gente nem membros de outras guildas entrarem até o Mestre chegar. Quer que a gente desobedeça às ordens do nosso Mestre?
A mulher estranha que se recusava a ir embora começava a irritá-los. Todos da Imortal rodearam Eunha e se manifestaram:
— Isso é um Portão Desconhecido. Você sabe que mortes em Portões Desconhecidos são tratadas como acidentes, né? E…
Um dos caçadores se aproximou de Eunha.
— Se era um civil comum, já deve ter batido as botas faz tempo.
Os olhos de Eunha se tornaram frios num instante.
— …Não se sabe se morreu ou não até verificar, não é?
— Bem, não tá errada. Deixa eu reformular.
O homem foi até Eunha e pressionou a testa dela com o dedo indicador.
— Fanática por tema, vaza.
O silêncio foi congelante.
Um por um, começaram a rir ao ver Eunha calada.
Mas alguns segundos depois…
— Não posso.
A voz fria, sem qualquer traço de brincadeira, calou as risadas como se fechassem uma torneira. Não havia mais como convencê-los. Nem motivo para implorar. Quando todos voltaram os olhos para ela, os olhos de Eunha brilharam com ferocidade.
【Passiva ► Leitor da Noite ativada. Você pode enxergar melhor no escuro. Sua precisão aumenta significativamente em batalhas em ambientes de pouca luz】
Sua precisão aumenta significativamente ao lutar em ambientes escuros.
Os olhos com pupilas verticais não pareciam humanos, eram estranhos. As íris douradas, cheias de determinação, reluziam na escuridão.
Aqueles que riam da morte dos fracos não eram caçadores. E Eunha podia falar com esse tipo de homem sem hesitar.
— Você. Vaza!