
Capítulo 47
Nv. 99 Princesa da Chama Negra
— Noona!
Bang, bang!
Minju bateu com toda a força nas paredes desabadas do portão. Socou tanto que os punhos começaram a doer, mas as montanhas de destroços não se moveram nem um milímetro, muito menos deixaram que ouvisse alguma resposta de Eunha. A escuridão era tão espessa que ele mal conseguia ver os próprios pés. Era fácil usar a bazuca e explodir todo o espaço. Mas, num ambiente fechado, seus próprios membros seriam arrancados. Obviamente, também não podia usar os rojões.
Mas esse não era o único problema.
— Noona, você tá aí?
Boom boom!
Bam!
Bam…
Desliza.
— Ugh…
O pequeno punho que socava a parede caiu sem forças. Ele não conseguia respirar direito. E não era por falta de ar.
— Urgh, ugh…
A mente foi ficando em branco e ele começou a respirar em arfadas. Sintomas de hiperventilação. Ainda assim, Minju tentou alcançar as paredes.
Arranha, desliza.
Minju já não conseguia mais fechar os punhos, e passou a arranhar as paredes com as unhas. Coágulos de sangue se formaram nos dedos, e as unhas foram se desgastando, mas ele arranhava e arranhava aquelas paredes firmes.
Então, Minju desabou no chão e começou a tremer. Estava escuro. O cenário negro como breu não mudava nem com os olhos fechados. Aquela escuridão cruel e densa fez emergir suas memórias esquecidas como ondas. E essas ondas engoliram o garoto por completo.
— Minju.
Um.
— Feche os olhos aqui e conte até cem. Nunca os abra, entendeu?
Dois.
— A mamãe e o papai vão se esconder ali. É esconde-esconde, seu favorito.
Três.
— Tudo bem, meu filho…
Quatro.
— A mamãe e o papai vão se esconder.
Cinco, seis, sete, oito…
Minju, em meio à mente que se afastava dele, sentiu um alívio…
— Ainda bem.
…por não haver ninguém ali.
Não podia deixar ninguém vê-lo daquele jeito, nem mesmo os membros da guilda Esquadrão. Não queria que soubessem que o caçador Rank S Trapaceiro, mestre do Esquadrão, era fraco a ponto de se traumatizar com algo assim. Isso não podia ser contado a ninguém.
Quando tinha oito anos, a Mamãe, o Papai, o Minju e uma barata do tamanho do seu polegar viviam em um apartamento semi-subterrâneo de três metros quadrados. Não havia janelas, o que fazia com que fosse menos frio no inverno e menos quente no verão. Tinha o pequeno defeito de não haver água quente, mas isso também estava tudo bem, já que a Mamãe sempre fervia água num caldeirão do tamanho dele. Ele também nunca chegou a passar fome de verdade, porque o governo dava todo mês uma certa quantidade de arroz e macarrão instantâneo.
Naquela época, o prato favorito de Minju era arroz com ketchup. Era literalmente arroz branco misturado com ketchup. Um prato de arroz com ketchup o mantinha cheio até o jantar. Mas naquele dia, havia um ovo frito por cima do arroz com ketchup.
— Mamãe, eu posso mesmo comer isso?
— Claro que pode. Quer mais um?
— Quero!
Ele ficou feliz por poder comer dois ovos fritos numa única refeição. Será que podia mesmo? Era a primeira vez, em oito anos de vida, que sentia um luxo tão grande. Naquele dia, o pai também não foi trabalhar. Já era mais de meio-dia, e o pai, que costumava sair ao amanhecer mesmo aos domingos, estava sentado à sua frente, vendo-o comer.
— Minju. Tem mais alguma coisa que você queira comer?
— Hmm…
Minju rolou os olhos com arroz ainda nos lábios. Os olhos grandes ele herdara da mãe, e a marquinha embaixo deles vinha do pai.
— Não. Isso é o melhor.
— Entendi.
A mãe e o pai sorriram juntos. Hoje ele saberia o que aqueles sorrisos significavam, mas naquela época, ele não sabia de nada, apenas sorriu com eles.
— Então, depois de comer, vamos brincar de esconde-esconde com a Mamãe e o Papai?
— Esconde-esconde?
— Aham. Hoje é domingo, então a família vai se divertir junta. Que tal?
— …!
Os olhos de Minju se arregalaram, ainda com a colher na mão. Mas foi só por um instante, pois logo ele sorriu com a boca cheia.
— Que legal…!
Naquela época, ele não entendeu. Por que a mãe fritou dois ovos. Por que o pai não foi trabalhar. Por que sugeriram brincar de esconde-esconde.
— Minju, feche os olhos aqui e conte até cem. Nunca abra os olhos, tá?
Minju ficou de frente para a parede da cozinha quando terminou de comer. Cobriu os olhos com as duas mãos.
— Tá bom, eu não vou.
— A Mamãe e o Papai vão se esconder agora.
Um, dois, três, quatro, cinco…
Minju começou a contar animado. O clang que veio de trás foi estranho, mas ele prometeu não abrir os olhos. Minju apertou os olhos com força e continuou contando.
Setenta e dois, setenta e três, setenta e quatro…
Dessa vez, ouviu um thump! vindo de outro lugar. Por um momento, Minju se assustou, soluçou e parou de contar. Quase abriu os olhos, mas se conteve. Ele era um bom menino que cumpria as promessas.
Onde eu parei mesmo?
Ah, certo. Setenta e cinco, setenta e seis…
Noventa e sete, noventa e oito, noventa e nove…
…Cem.
— Vou abrir os olhos agora!
Não houve resposta, mas Minju abriu os olhos animado. No entanto…
— …Hã?
A casa estava estranhamente escura. Será que apagaram a luz para assustá-lo? Minju tateou a parede e apertou o interruptor.
Click.
Click, click.
Mas, por mais que clicasse, a luz não acendia. Não podia estar com defeito, já que tinha funcionado na hora do almoço. Devem ter feito de propósito, como uma brincadeira.
“Eu já sou um aluno do ensino fundamental.”
Ou seja, não tinha mais idade pra ter medo dessas coisas. Minju olhou em volta rapidamente. Estava tudo tão escuro que não conseguia ver à frente, mas seus olhos acabariam se acostumando.
Mas não existia lugar naquele semi-subterrâneo de três metros quadrados onde um homem e uma mulher adultos pudessem se esconder. Até mesmo o Minju de oito anos sabia disso.
Minju correu até a porta da frente. A Mamãe e o Papai deviam ter se escondido lá fora.
Claque.
Claque, claque.
Claque, claque, claque.
A porta não abria. Ele empurrou e puxou dezenas de vezes, mas ela não cedeu.
— M-Mamãe…?
O coração afundou, finalmente. Minju girou os pensamentos em sua cabecinha e analisou a situação. “Não pode ser… Não pode ser que eles tenham feito isso, mas será que meus pais me trancaram aqui e foram embora?”
“Não. Não é possível.”
Balançou a cabeça com força. Devia ter contado rápido demais. Voltou andando e encostou a testa na parede da cozinha. De novo, levantou as mãos pequenas e as colocou sobre os olhos.
— Um, dois, três, quatro, cinco…
Dessa vez, contou em voz alta de propósito. Mais claro e devagar que antes.
— Noventa e oito, noventa e nove, cem…!
Flash!
Minju abriu os olhos. A casa continuava escura. Era uma casa sem janelas, e ele não conseguia nem saber se era dia ou noite. Correu até a porta e tentou girar a maçaneta de novo.
Claque, claque.
Ela não abria. Minju desabou no chão e sentiu as lágrimas quentes subirem aos olhos.
— Mamãe! Papai!
Chamou pelos pais com a voz mais alta que conseguiu. Mas nenhuma resposta veio.
Minju esfregou os olhos com o dorso da mão e se levantou num salto. E encostou a testa na parede de novo.
— Um, dois, três, quatro, cinco…
De novo.
— Onze, doze, treze, quatorze…
Mais uma vez.
— Vinte e quatro, vinte e cinco, vinte e seis…
E outra, pela última vez. Não importava quantos números contasse, a escuridão não desaparecia. Ela consumiu toda a esperança, expectativa, fome e até o desespero do pequeno garoto. E o que encontrou o invólucro vazio daquele menino não foram os pais desaparecidos, nem o professor indiferente, nem os colegas que riam dele por ser pobre.
Ding.
【A Criatura Mítica Coelhinho Passeando pela Lua propõe um contrato a você. Você aceita?】
Uma janela de mensagem amarelo-vivo, brilhante de forma estranha. E só isso.
— Um, dois, três, quatro, cinco…
Minju desabou no chão como se estivesse enfeitiçado, movendo apenas os lábios. Já não tinha forças para arranhar as paredes. Até riu de si mesmo, esfregando a bochecha na terra e contando feito um lunático. Quando contava devagar, sua respiração se acalmava. Se ficasse assim por mais um tempo, com certeza melhoraria. Como sempre acontecia.
— Sessenta e sete, sessenta e oito, sessenta e nove…?
Bam!
Um baque surdo veio de algum lugar. Ele quase abriu os olhos, mas não o fez. Ninguém estaria ali, de qualquer forma.
Minju era um caçador de Rank S. Ninguém jamais imaginaria que ele estaria ali, mal respirando, patético, preso sob os destroços do portão desabado e lutando contra memórias traumáticas do passado. Era natural.
【A Criatura Mítica Coelhinho Passeando pela Lua encontrou você.】
【Tocha e picareta de ferro! Só 99 moedas se comprar agora! Comprar? ▶ Sim / Não】
…Até ali, o maldito sistema das doze criaturas míticas fazia estardalhaço tentando vender coisas. Talvez não tivesse escolha? Afinal, ele nem era uma encarnação, apenas um contratante.
— Não preciso disso.
Minju fechou a janela sem pensar muito. Não queria gastar 99 moedas com uma tocha e uma picareta. Talvez fosse orgulho. Ele não era mais o mesmo. Era mais alto, esperto o suficiente para não ser enganado por adultos, forte o bastante para romper lugares escuros com as próprias mãos.
— Não preciso de nada.
Se contasse até cem, a respiração se normalizaria. Aí ele conseguiria se levantar. E sair sozinho. Como sempre fazia.
— Noventa, noventa e dois, noventa e três…
Bang!
Assustado, Minju abriu os olhos num lampejo. “Acho que acabei de ouvir algo enorme.”
Rachaduras se espalhavam pela escuridão densa. Minju segurou a bazuca por reflexo ao ver as rachaduras se alastrando lentamente, como uma casca de ovo se quebrando.
Bam…!
Uma luz intensa se derramou sobre ele e o envolveu. Minju, com os olhos acostumados à escuridão, os fechou na hora. Algo frio e fino tocou seu ombro.
— Te encontrei.
— …?
Bem devagar, ele abriu os olhos. E ali, encontrou uma chama mais quente que o sol e mais brilhante que a lua.
Uma mão esquerda estendida em sua direção. Ele já segurara aquela mão antes — áspera, coberta de sangue, apesar da aparência delicada.
— Noo…
No momento em que murmurou com o olhar perdido, Eunha o ergueu com as próprias mãos.
— Oh…
Sua boca se abriu sem pensar. Minju flutuava no ar e olhava para baixo, atônito, vendo Eunha. Então percebeu que ela estava descalça. Pés sujos de terra, mãos frias, arranhões por todo o corpo.
— Noona… você veio me buscar?
Minju fechou os olhos e os abriu de novo, devagar. Continuava claro. Continuava quente. Ele não estava sozinho. Havia alguém ali.
— Vamos voltar.
Alguém que usava um vestido negro e carregava uma luz brilhante.