Nv. 99 Princesa da Chama Negra

Capítulo 33

Nv. 99 Princesa da Chama Negra

Bzzz…

O bolso dele vibrou. Não era o celular, mas o terminal.

<Notificação de surgimento de portão>

· Qua, 6/8/2031.

· Hotel H em Banha, Seul – fissuras surgiram por volta das 19:00h. (Coordenadas detalhadas: 829, 337)

Nível de dificuldade estimado: Rank B+

<Leilão INICIADO>

▶ Guildas participantes no momento: Esquadrão (82,6%) / Paraíso (11,9%) / Rugido (3,5%) / Milhões de Volts (2,0%) …

— É aqui perto.

Si-u guardou o terminal no bolso de novo com uma expressão sombria. Não era o que ele esperava. Quando algum tempo passou, Si-u decidiu enviar uma mensagem para Eunha e pegou o celular.

【S】 【19:43】

Onde você está?

…Nenhuma resposta. O número 1 ao lado da caixa de conversa não dava sinal de desaparecer. Ele já encarava o celular há bastante tempo, quando…

— Aqui estão as duas tigelas de sopa de carne com sundae###TAG###1 e os bolinhos de kimchi para dois que você pediu.

###TAG###

O atendente trouxe um carrinho com a comida e a colocou na mesa. Quando saiu, Si-u tirou a colher e os hashis da caixa de talheres e os posicionou cuidadosamente à sua frente e no lado oposto da mesa. Conforme o tempo passava, a fila na entrada do restaurante aumentava.

— Senhor, sua companhia ainda não chegou?

— Ah, ela já está vindo.

O atendente passava de tempos em tempos por sua mesa e o lembrava. “Se soubesse que isso ia acontecer, teria reservado o restaurante inteiro.” Eunha achava esse tipo de coisa incômodo, então ele evitava, mas agora se arrependia. Si-u esperou à mesa sem comer por um tempo, até que logo pegou o celular sem hesitação.

Ring…

— A pessoa para quem você ligou não está atendendo. Por favor, deixe uma…

Ela não atendeu.

De novo.

Ring…

— A pessoa para quem você ligou não está atendendo. Por favor, deixe uma…

O rosto ansioso de Si-u refletia na tela preta. Nesse ponto, começou a ficar realmente preocupado.

“Será que aconteceu mesmo alguma coisa com ela?”

Si-u olhou para a mesa. A sopa de carne que fervia na panela de barro já estava fria. O número de pessoas esperando na entrada havia crescido, e formavam uma massa parecida com formigueiro.

— Senhor, se preferir, pode levar para viagem…

O atendente também já estava cansado de esperar e começou a encará-lo com insistência.

— Ela já está vindo.

Si-u repetiu as mesmas palavras como um papagaio. Foi o que disse, mas… Os olhos azuis estavam novamente fixos no celular. O aparelho não tocava.


Crepitar, crepitar.

Quando já estava acostumada com o som das brasas voando, Eunha percebeu que havia chegado ao centro do portão.

【Nv. 36 Magma Solidamente Endurecida queima intensamente. Atenção. Esferas flamejantes serão formadas!】

Normalmente, os níveis dos monstros aumentavam quanto mais fundo se avançava num portão. Por isso, ela tinha certeza de que havia passado do centro. Uma esfera de fogo, do tamanho de uma bola de beisebol, criada pelo monstro, voou em direção a Eunha em velocidade extrema.

Bang!

E explodiu.

— Eu falei que é inútil.

Não a esfera, mas qualquer tentativa de detê-la. Eunha apagou as brasas nas mãos como se apagasse um fósforo e avançou em direção ao monstro.

Smack!

Quando chutou o estômago da criatura com o pé direito, um ruído surdo soou e ela ficou cravada na parede. Rachaduras em forma de teia de aranha se espalharam pelo concreto.

Ding.

【A Criatura Mítica Viajante Felino das Trevas diz que esse aí não parece apetitoso e oferece seu tempero, se necessário.】

Eunha franziu levemente a testa. O gato parecia achar que Eunha gostava de comer monstros. Ela só não teve outra escolha quando ficou presa no Portão Desconhecido, já que teria morrido de fome se não os comesse.

【A Criatura Mítica Viajante Felino das Trevas revira a própria pelagem.】

【Parabéns! Você adquiriu Ketchup Agridoce!】

— Não preciso disso.

Eunha espantou as janelas do sistema com as mãos e virou a cabeça. Havia coisas mais importantes do que ketchup agora. Seiva de monstro e fuligem negra manchavam o chão. Eunha se agachou e examinou com atenção.

— Não está aqui.

Também não estava ali. Sua placa de identificação dourada. Onde, diabos, ela tinha perdido aquilo? Eunha passou a mão no pescoço nu e apertou os lábios.

— O chefe deve aparecer a qualquer momento.

Se o monstro chefe aparecesse e ela o derrotasse, o portão se fecharia em até uma hora. E não havia como entrar novamente em um portão fechado. Então ela precisava encontrar o item perdido imediatamente, antes de derrotar o chefe. Mas o interior do portão, tomado pelo fogo, estava coberto de fuligem por completo. Encontrar uma placa ali seria como procurar agulha no palheiro.

— O que eu faço…

Foi justamente quando vasculhava pilhas de cinzas com uma expressão aflita…

— UAU!

Ouviu uma voz não muito longe dali. Se tivesse ouvido direito, pertencia claramente a um menino. O rosto de Eunha se encheu de dúvida ao olhar na direção do som.

— Um sobrevivente?

Impossível. Eunha já estava bem além do centro do portão. Tinha atravessado camadas e mais camadas de fogo. Em outras palavras, nenhum civil teria conseguido chegar até ali. Eunha começou a andar em linha reta rumo à voz não identificada. Uma direção sudoeste, além das chamas que giravam como ondas.

Swish, boom!

Quando a esfera de fogo foi disparada contra as chamas, abriu-se um caminho como o milagre de Moisés. Eunha apressou o passo.

Enquanto isso, Trapaceiro encarava o lança-foguetes nas mãos com o rosto coberto de cinzas. Era pesado e pouco portátil, mas o poder destrutivo compensava. Trapaceiro abraçou a arma com um olhar satisfeito.

— Ainda bem que trouxe.

Acariciou o equipamento com carinho, como se estivesse fazendo cafuné em um bichinho. Trapaceiro cantarolava enquanto continuava a andar. Pegadas pequenas estavam marcadas na fuligem negra.

— Hoje eu tô com sorte. Minha belezinha recém-desenvolvida tá funcionando bem, e ainda achei um prêmio!

Trapaceiro sorriu e remexeu os bolsos. Sorriu ainda mais ao ver a placa de identificação dourada cintilante.

— Você é meu tesouro número 79.

Onde deveria guardar aquilo? Se deixasse na sede, poderia se sujar com o manuseio, então seria melhor colocá-la no cofre subterrâneo. Certo?

— Não, não. Aí eu também não vou conseguir ver.

“Hmm.” Pensou em mandar fazer uma redoma de vidro só pra ela. “Vou fazer tão resistente que nunca vai quebrar.” Quando seus pensamentos chegaram a esse ponto, quis sair do lugar o quanto antes.

Trapaceiro pendurou a placa dourada no pescoço com todo o cuidado. — Vou mostrar pra eles logo. Mal posso esperar pra ver a cara deles. Vão ficar de queixo caído! — Justo quando virou a esquina com passos saltitantes…

— …Oh?

【Nv. 40 Mariposa Flamejante Gigante bate as asas. Alerta. A temperatura está subindo rapidamente!】

Talvez soubesse que ele a procurava, pois o monstro chefe surgiu bem diante de seus olhos. “Obrigado por me poupar o trabalho.” Trapaceiro fixou os olhos na esfera de mármore roxa cravada no meio do corpo da criatura.

— Aquilo é a essência. Vou arrancar e voltar. Já vi o que precisava ver. — Trapaceiro retirou o lança-foguetes dos ombros com um sopro.

Click.

No momento em que o carregou…

Swish! Bang!

— Hã?

Keeeek…

Ele nem tinha feito nada ainda, mas o monstro chefe tombou no chão. Trapaceiro olhou alternadamente entre o monstro rastejante e seu lança-foguetes. — Eu não ataquei ainda…? Ativei o disparo automático? Ah, devem ter sido meus colegas. Caramba, dá orgulho ver como evoluem dia após dia.

Creek… Crrr!

Crepitar, crepitar.

As asas da mariposa flamejante estremeciam no chão. Parecia uma barata que havia levado inseticida direto na cara. Seiva espessa escorria no solo com os movimentos enfraquecidos.

【Nv. 40 Mariposa Flamejante Gigante convoca suas brasas. Alerta. Ela vai explodir em breve.】

O fogo começou a se espalhar por suas asas, que pareciam leques usados pelos deuses antigos, como se estivessem encharcadas de óleo. — Não posso deixar que alguém leve meu golpe final. — Nesse momento, Trapaceiro endireitou o lança-foguetes.

— Criança, afaste-se.

Ouviu uma voz estranha. Não era de nenhum de seus colegas. Ao levantar a cabeça, viu uma silhueta esguia oscilando sobre as chamas vacilantes.

Whoosh!

A sombra afastou as chamas com um único movimento da mão e caminhou na direção dele. Era como mágica, a forma como o fogo ganhava vida e depois se apagava, como se estivesse sendo domado pelas mãos daquela pessoa.

— Uhm…

A figura era uma mulher, de camisa branca e jeans, com o cabelo preto preso no alto da cabeça. “Quem é você?” Ele nem teve tempo de perguntar. Eunha passou direto pelo rapaz e se aproximou da mariposa flamejante caída. Então, agarrou suas asas já meio consumidas pelo fogo.

“Com as mãos nuas?”

Os olhos de Trapaceiro se arregalaram um pouco ao observá-la. Só aquela ação já bastava para provar que ela não era uma civil. Ele abaixou o lança-foguetes e ficou atento aos seus movimentos.

Flap! Flap!

A mariposa se debatia tentando escapar de suas mãos, mas Eunha não largou as asas. Pelo contrário, apertou ainda mais com as duas mãos e puxou em direções opostas.

Rasga…

— Nossa.

As asas, rasgadas sem resistência, caíram no chão como pedaços de papel higiênico. Trapaceiro assobiou baixo diante da cena vívida. Era básico neutralizar as asas primeiro ao enfrentar um monstro voador. Mas arrancá-las assim…

Normalmente, caçadores usavam habilidades próprias ou armas que combinavam com seus estilos de combate ao enfrentar monstros. Nunca na vida ele tinha visto alguém estraçalhar um monstro com as próprias mãos.

“Será que ela é da classe de reforço físico?”

Fazia sentido. No entanto…

“E a explosão?”

Não podia descartar a possibilidade de o monstro, já à beira da morte, se autodestruir. Estava furioso, e o corpo inteiro avermelhado pelo calor. Mas mesmo que ela tivesse reforço físico, não conseguiria escapar de uma explosão a poucos centímetros do rosto. Trapaceiro apertou discretamente o lança-foguetes que havia abaixado. Era divertido observar, mas entraria em ação se fosse preciso. Não queria assistir à cena de alguém explodindo junto com a mariposa. No entanto…

“…Ela apagou o fogo?”

O rosto de Trapaceiro, que até então assistia com algo próximo à alegria, logo foi tomado por seriedade. As chamas que envolviam as asas do monstro tinham sumido.

…Não, não haviam sido apagadas. Foram absorvidas. Trapaceiro viu com clareza. As chamas desaparecendo nas palmas das mãos dela. Era como domar o fogo…

“Uma caçadora de Afinidade com a Natureza?”

Nesse momento, teve certeza. De alguma forma, ela havia extinguido o fogo. Será que manipulava água, o atributo oposto? Ou talvez o próprio fogo. Fosse qual fosse a afinidade, não havia como existir uma caçadora da natureza que ele não conhecesse, já que eram raríssimos na Coreia. Então, de onde tinha saído?

Mesmo enquanto arrancava a outra asa, Eunha não parou.

Rasga…

Keeeeek!

A mariposa parou de se mover com aquele grito estridente e derradeiro. Ela sabia exatamente onde atacar. Um monstro em forma de mariposa era considerado fraco entre os insetoides, se comparado a besouros ou vespas, em termos de poder destrutivo ou defesa. Ainda assim, era um chefe de portão, e as chamas que expelia sem parar e aquelas asas enormes eram problemáticas. Em outras palavras, sem fogo ou asas, não era nada. E ela atacou justamente o fogo e as asas de uma só vez.

“E de um jeito absurdamente simples.”

Eunha pisou na mariposa sem asas.

Thomp, thmop, thomp.

A cabeça da criatura era enterrada na fuligem a cada pisada. Era algo tão estranho e ao mesmo tempo tão familiar que parecia que ela já havia repetido aquele movimento dezenas, talvez centenas de vezes. E quando parou, a cabeça estava tão deformada, como alho socado, que já não dava para distinguir a forma original.

— E-Ela precisava fazer tudo isso…?

Foi a primeira vez que ele sentiu pena de um monstro. De tão brutal e certeira que foi a finalização.

Smack…!

Um líquido espesso se espalhou pela fuligem cinzenta. Mesmo franzindo o rosto diante do cheiro forte, ela se virou para ele sem mover um único fio de cabelo.

— Eek…

O sangue roxo do monstro havia respingado como tinta no rosto pálido e sem cor de Eunha.

Crack.

Eunha pisou nas antenas do monstro morto enquanto passava por cima dele. Quando parou diante do garoto, passou inconscientemente o dorso da mão na bochecha. Mas agora o rosto estava todo manchado de sangue, e ela se agachou levemente até ficar à altura dos olhos dele.

— Você está ferido?

Uma gota de sangue escorreu da mandíbula fina dela. Trapaceiro encarou a mancha que caiu no chão e levantou devagar o olhar.

— …E-Eu não tô machucado.

Respondeu com educação sem nem perceber.

  1. Sundae, em coreano é a linguiça de sangue, morcilla.[###TAG###]###TAG###