Nv. 99 Princesa da Chama Negra

Capítulo 25

Nv. 99 Princesa da Chama Negra

“Se eu usar um vestido assim, vou acabar chamando atenção mesmo sem querer.”

Esse foi o pensamento de Eunha quando saíram de casa em direção a um famoso shopping. É claro que, durante batalhas, era melhor usar o vestido, mesmo que não gostasse, mas fora disso, ela podia muito bem deixar de se prender àquela roupa. Além disso, estava ficando inconveniente: ela simplesmente não tinha roupas para sair. Foi por isso que resolveu fazer compras de repente.

Eunha passou pelas vitrines em busca de roupas adequadas. Si-u a seguia em silêncio, com passos contidos. Pensando bem, fazia muito tempo que ele não ia a um passeio tranquilo assim com alguém. Provavelmente desde antes da morte da mãe.

O shopping que Si-u escolheu era um espaço exclusivo para clientes VIP. Graças a isso, puderam circular sem se preocupar com olhares alheios.

— Vamos voltar? — Eunha olhou por cima do ombro com uma sacola na mão.

— Já terminou?

— Aham. Uma roupa só já basta.

Tudo que ela havia comprado era uma calça jeans comprida e uma camiseta básica de manga curta, sem nenhuma estampa. Os olhos azuis de Si-u deslizaram discretamente para baixo. — …Já que estamos aqui, que tal procurarmos uns sapatos também?

— Sapatos? — Eunha parou e olhou para os próprios pés. Realmente seria bom comprar um par de tênis confortáveis. “Mas…”

Ela hesitou por um momento e vasculhou a manga da blusa. Então, tirou uma bolsinha de moedas em formato de pinguim, presente de Jehwi. Abriu o biquinho de tecido, olhou por um instante e logo voltou a fechá-lo. — Tudo bem. Posso comprar da próxima vez.

Apesar de ter lucrado bem com as duas varreduras de portão, Eunha havia depositado quase tudo em conta e estava com pouco dinheiro em espécie. Nem mesmo tinha cartão de débito ou crédito, o que tornava impossível gastar à vontade.

Si-u observou Eunha guardando a bolsinha de volta na manga, então sorriu antes de dizer:

— Estávamos esperando por isso há muito tempo, então eu compro pra você.

Eunha virou o rosto e o encarou. — …Não, obrigada.

Si-u já estava fornecendo muito mais que o pagamento do contrato, como um celular de última geração e um apartamento de alto padrão. O acessor competente que ele designara para ela também cuidava da casa, da limpeza, até do lixo. Eunha não tinha tão pouca consciência a ponto de pedir mais.

Talvez Si-u tenha percebido o que ela pensava, pois cruzou os braços com uma expressão contrariada. — Eu pareço alguém que não pode comprar um par de sapatos pra você?

— Nem um pouco.

— Então tá. — Si-u ergueu os cantos dos lábios. — Sou bem rico, sabe. E não vou te cobrar depois, então guarda essas moedinhas no seu cofre.

Talvez ele tivesse visto as duas moedas de 100 won abandonadas na boca do pinguim. De fato, considerando os preços absurdos do presente, aquilo não dava nem pra comprar um par de meias, quem dirá de sapatos.

“Eu até tenho muitas moedas.” Nunca as usara, então as trezentas mil moedas provavelmente ainda estavam no inventário.

— O que dá pra fazer com 300 mil moedas? — Eunha perguntou de repente, enquanto caminhavam. Si-u era um caçador, e dos bons. Saberia explicar tanto o uso quanto o valor das moedas.

De repente, Si-u parou a poucos passos à frente, com uma expressão surpresa. — Você tem trezentas mil moedas? — As moedas eram a moeda dada por Criaturas Míticas. Ou seja, se ela as possuía, era porque havia feito um contrato.

— Não. Só tô perguntando mesmo — disse Eunha com um tom inocente.

Si-u a encarou por um momento, depois desviou o olhar e deu de ombros. — Não tenho certeza. É difícil converter as moedas pra valor monetário comum, mas… — Seus olhos azuis giraram no ar. Ele bateu o indicador no braço algumas vezes e então falou: — Se for pra dar uma estimativa… talvez uns trinta milhões.

— …O quê?

— Em dólares americanos.###TAG###1###TAG###

Eunha parou, e uma janela de mensagem amarela apareceu diante de seus olhos arregalados:

【A Criatura Mítica Viajante Felino das Trevas sorri com orgulho. — Agora você entende minha riqueza.】

O rosto de Si-u apareceu logo sobreposto à mensagem. Ele parecia cheio de perguntas no olhar. — Alguém que você conhece tem trezentas mil moedas?

— …Vi na internet.

— Não acredite demais nessas coisas. A maioria é só gente blefando. Parece até que você tá ficando viciada na internet. — Si-u balançou a cabeça e se afastou.

【A Criatura Mítica Viajante Felino das Trevas solta um miado furioso. — Essas coisas? Essas coisas?!】

O gato parecia profundamente ofendido com as palavras de Si-u, pois a janela começou a pular no canto da visão.

— Você pode até saber, mas há Criaturas Míticas com centenas ou milhares de contratantes. — Si-u acrescentou que, como muitas figuras poderosas, as Criaturas Míticas buscavam cada vez mais seguidores. — Mesmo que tenham um favorito, elas não podem conceder poderes ou moedas só pra ele.

Eunha compreendeu algo naquele momento. O gato lhe dissera: ‘Você é minha única amiga.’ Pensando bem, isso também queria dizer que ela era sua única contratante.

— …E o que dá pra fazer com moedas, então?

— Dá pra comprar itens úteis no mercado do sistema, que aparece de tempos em tempos.

— Mercado do sistema? — Era a primeira vez que Eunha ouvia esse termo.

— Você pode comprar itens consumíveis como poções, ou equipamentos como armas, armaduras e livros de habilidades. Mas o mercado só abre quando o sistema quiser, e os produtos são sempre aleatórios.

Si-u também explicou que havia um leilão de caçadores realizado uma vez por ano, onde se encontravam recursos raros ou equipamentos dos portões, e nesse evento, as moedas eram a única forma de pagamento. Apesar de não poderem ser trocadas por dinheiro, elas eram, em certos aspectos, ainda mais valiosas.

Si-u parou ali e observou Eunha com um olhar curioso. — Está interessada em fazer um contrato? Bem, seria só uma questão de tempo, na verdade. — Na visão dele, o estranho era ela ainda não ter feito um.

— …Nem tanto — respondeu Eunha com evasiva, passando por ele para tomar a dianteira. Caminhou com indiferença, mas o número ‘trinta milhões’ ficou gravado fundo na mente.


Eunha e Si-u acabaram deixando o shopping quando o sol já havia se posto. Si-u havia dito que podia comprar um par de sapatos para ela, mas não parou por aí. Apareceu com um chapéu, uma bolsa e até uma capinha de celular. Eunha olhou, confusa, para as mãos dele. As sacolas de papel que ele carregava eram prova do quanto tinham gasto. Nem trinta anos atrás ela havia aproveitado um dia de compras tão extravagante assim.

— Se eu soubesse que íamos sair com tanta bagagem, teria estacionado mais perto. — Mas Si-u não parecia nem um pouco constrangido.

— Demorou mais do que eu esperava. Está tudo bem com você? — Ele era o carregador da vez, com as mãos completamente ocupadas pelas sacolas, mas Eunha sabia que ele não tinha tanto tempo livre assim.

— Sim, bem… — Si-u deu de ombros e olhou de relance o horário. Já passava das 19:00h. Ele deveria estar no hospital às 18:00h, estava extremamente atrasado. Seu celular vibrava feito louco com 23 chamadas perdidas, todas da guilda.

— Não tem problema. Hoje eu não tinha nada importante. — Apertou o botão do celular com firmeza para desligá-lo e respondeu com naturalidade. — Pensando bem… você parece outra pessoa.

Eunha, de costas para o sol poente, era bem diferente de quando havia saído de casa. Ele nunca a tinha visto com roupas comuns, sempre com o vestido preto. Achava que estranharia, mas não estranhou. Ela parecia perfeitamente adaptada ao mundo moderno, a ponto de ele esquecer completamente que ela vinha de trinta anos atrás, uma caçadora da primeira geração.

— Sério, não dá pra acreditar que você tem 53 anos.

— Nem eu. — Eunha respondeu com frieza. De alguma forma, aquilo soava engraçado, e Si-u sorriu discretamente.

Os dois deixaram o centro de compras e começaram a caminhar lentamente em direção ao estacionamento. As ruas do fim de semana estavam como um formigueiro coberto por pontos pretos em movimento.

— Hã? Acho que já vi ela antes.

— Onde, onde?

Eunha parou de andar de repente. No shopping exclusivo, não havia notado, mas agora, pensando bem… com toda a polêmica da Princesa da Chama Negra nas mídias, era óbvio que algumas pessoas reconheceriam seu rosto. Se estavam reconhecendo mesmo com roupas diferentes, era sinal de que seu rosto era mais conhecido do que imaginava.

Nunca havia pensado que passaria por esse tipo de situação, nem era uma celebridade. A chuva repentina de atenção e olhares não era exatamente agradável. Quando estava prestes a apressar os passos e sair dali, uma sombra caiu sobre sua visão.

Aperta.

Ao erguer a cabeça, viu o queixo de Si-u parado bem à sua frente. — Ainda bem que também compramos um chapéu.

Eunha não respondeu. Levantou lentamente a mão e tocou os cabelos.

— Né? — Os olhos transparentes como um lago se curvaram em forma de lua crescente.

Atônita, Eunha abriu a boca, percebendo, com um leve atraso, que a sombra sobre sua cabeça era o chapéu. — …Obrigada.

Enquanto isso, o grupo de curiosos atrás deles continuava ali.

— Ué, onde foi que eu vi ela?

— Não é aquela mulher? Aquela… Dragão Negro, sei lá.

— Ela parecia assim?

Mesmo com o rosto parcialmente coberto pela sombra do chapéu, os transeuntes continuavam seguindo Eunha de forma incômoda. Talvez nem percebessem que era falta de educação, simplesmente pairavam ao redor.

Whip.

Si-u então se posicionou ao lado de Eunha, como se servisse de escudo. — Vamos pro carro rápido.

Ela não tinha notado antes, mas, de perto, Si-u era mais alto do que imaginava. Ele acelerou o passo, praticamente envolvendo Eunha com o corpo. Estavam tão próximos que o ombro dela tocava o peito dele.

— Desculpa. — Eunha olhou para cima e se desculpou baixinho.

Si-u respondeu sem nem olhar para ela. Os olhos fixos na direção contrária. — Não, tudo bem.

Nesse instante, Si-u percebeu algo estranho. Lançou um olhar discreto para ela. Eunha sempre carregava aquele cheiro forte e repulsivo de sangue, mas, por algum motivo, ele não sentia isso agora. Em vez disso, havia um aroma fresco… e, de certo modo, reconfortante. Um cheiro que ele nunca tinha sentido antes. Que nem sabia que existia.

— O quê?

— …Nada.

Ela exalava uma fragrância… até que não era ruim.

  1. $30.000.000 equivale a R$171.500.000[###TAG###]###TAG###