Capítulo 811

Memórias do Fim era o campo oculto que podia ser acessado através da Ilha da Caveira. No jogo, bastava derrotar o chefe da Ilha do Fim, a fera, para concluir a ilha. No entanto, havia conteúdo adicional disponível para quem se desse ao trabalho de descobrir e cumprir certas condições ocultas.

Por exemplo, se você deixasse a ilha e fosse até a base secreta, poderia participar da raid contra Sniktura. Lá, você receberia uma missão, voltaria para a Ilha do Fim, derrotaria a fera e, então, retornaria à Base Secreta de Arta para obter recompensas adicionais. Se recusasse a recompensa extra nesse ponto, poderia lutar contra o verdadeiro chefe: o monstro mecânico Arta.

“Posso simplesmente ignorar a raid de Arta, já que planejava pular essa parte de qualquer jeito.”

Tudo o que eu precisava fazer agora era completar a segunda parte da história derrotando a fera e recebendo minhas recompensas adicionais.

Ou pelo menos esse era o plano, até esse cara aparecer.

— Hmm. A princípio, achei que fosse apenas uma diferença na concentração de mana, mas agora vejo que a mana infundida no próprio ar é diferente em natureza. Essa distribuição só é vista em locais artificiais…

Mas que diabos era esse cara? Havia um capítulo oculto na ilha além da luta contra o monstro mecânico Arta? Meu instinto de jogador dizia que era mais provável que sim, então prestei mais atenção ao que ele dizia.

— Vou precisar procurar as coordenadas desta ilha no meu tempo original para investigar melhor. Se a ilha original tiver a mesma distribuição, então isso pode ser considerado uma característica inerente à ilha.

Era comum em jogos os segredos ocultos serem revelados inicialmente através dos devaneios aleatórios de NPCs.

“Bom, no caso desse cara, sinceramente, não faço ideia do que ele tá falando.”

Distribuição e concentração de mana… Não fazia ideia do que aquilo significava. Não era como se eu fosse um mago. Mas eu tinha certeza de que levar o Arta e finalizar a raid da fera era o caminho certo a seguir, e o motivo era bem simples.

— O centro! Precisamos chegar ao centro da ilha! Preciso observar o fenômeno de perto para, quando voltar, poder comparar…

Tinha que ser o caminho certo, se esse cara continuava insistindo nisso.

— Para de reclamar — avisei. — A fera não vai aparecer só porque a gente chegou ao centro.

— Perdão?

— É que simplesmente…

— Graaaaaah!

O uivo da fera sacudiu toda a ilha. O rugido feroz ecoou ao nosso redor, tornando impossível identificar sua origem.

Fiz um gesto rápido para que o grupo parasse e gritei:

— Preparem-se para o combate!

Embora tenha aparecido muito antes do previsto, a fera havia surgido.

O chefe da Ilha do Fim: a Fera.

O método para invocá-la era bem simples: bastava permanecer em seu território por tempo suficiente e ela simplesmente apareceria. Vale explicar que não havia outra maneira de invocá-la, ou pelo menos, nenhuma rota alternativa existia no jogo que eu joguei.

— Formações!

Foi por isso que, mesmo enquanto corríamos para entrar em formação, comecei a ficar desconfiado.

“Ela apareceu tão rápido assim?”

Isso nunca tinha acontecido no jogo. Eu sempre precisava me mover por pelo menos uma ou duas horas antes que o chefe surgisse. Mas, de alguma forma, dessa vez, ele apareceu assim que entramos em seu território.

— Oh! Ela tá aqui? — Arta perguntou.

Então era verdade? Era por causa dele?

De qualquer forma, isso não importava no momento.

— É, então vai pra lá e fica bem atrás — ordenei, mandando Arta para a retaguarda por segurança.

— Sim, entendido!

Então voltei meu foco para a frente, o coração aquecido e acelerado pela ameaça iminente de batalha.

Como sempre, respirei fundo para me acalmar. Era um ritual meu, como aqueles que atletas faziam antes de uma competição. Inspirei e expirei até me sentir relaxando por instinto, e então cerrei o punho. Esse pequeno momento de calma aumentava, mesmo que um pouco, minhas chances de vitória.

Barum!

— Está vindo!

O chão ondulou como se fosse magma fervente antes que a Fera emergisse entre as ondas que surgiam do solo.

Boom!

Cada minuto, cada segundo, contava. Isso porque sua habilidade de aura, Canção do Fim, tinha um efeito bem peculiar.

A única descrição disponível era essa linha. Mas, assim como nos quadrinhos de super-heróis, quanto mais curta e simples era a descrição de uma habilidade, mais poderosa e ‘apelona’ ela se tornava. O mesmo se aplicava à Canção do Fim.

A partir daqui, o tempo restante para Terminus diminuiria muito mais rápido, e o dano de Queima Eterna também aumentaria em um ritmo acelerado. O efeito de redução de dano do Orbe de Fogo não conseguiria me proteger por tanto tempo quanto antes.

Já havia decidido com antecedência quanto tempo poderíamos gastar enfrentando esse chefe, ainda durante o planejamento da expedição.

“Trinta minutos.”

Trinta minutos era o tempo máximo permitido. Se ultrapassássemos esse limite, desistiríamos da raid e bateríamos em retirada sem olhar para trás.

“Mas, se tudo correr bem, não vamos precisar disso.”

Embora a Fera fosse um chefe difícil, era muito mais fácil de enfrentar do que a Serpente do Fim, Sniktura. Claro, isso assumindo que alguém soubesse qual era a estratégia para derrotá-la.

Ao ver a Fera surgir diante dela, Ainar gritou com uma empolgação estranhamente animada:

— Oh! Bjorn! É aquela coisa?

Ela tinha feito aquele discurso todo sobre lutar contra os ossos que viu na Ilha da Caveira. Pelo visto, esse desejo não tinha enfraquecido.

“Honestamente, achei que ela ia se assustar ao ver a forma viva da criatura.”

Depois de conjurar Gigantificação, observei o monstro por trás do meu escudo.

Tinha cerca de nove metros de altura, grande o suficiente para ser classificado como ‘muito grande’ nos padrões dos monstros. Seu porte também era semelhante ao do Lorde do Caos, Riakis, com forma bípede e uma enorme cauda. De uma perspectiva moderna, parecia um dinossauro.

— Graaaaah!

Ele se agachou e rugiu diretamente para nós, fazendo o ar ao nosso redor tremer. Não era apenas um rugido comum, mas sim uma habilidade.

Ao ser atingido por essa habilidade, os atributos físicos de uma pessoa diminuíam por um tempo determinado. Apesar de ser um debuff em área, a redução de atributos não era tão forte, e o limite de tempo de apenas cinco minutos fazia com que o valor da habilidade não fosse tão alto assim.

Mas, combinado com o efeito de Canção do Fim, ela virava praticamente uma habilidade de trapaça.

— Ugh… O que é isso?! Minha força tá sumindo! E… tô começando a ouvir umas vozes estranhas também!

O efeito máximo da habilidade não levaria mais os cinco minutos normais, mas apenas um minuto. E como não tinha tempo de recarga, enfrentaríamos seus efeitos basicamente durante toda a luta.

Bom, enfrentaríamos… se não tivéssemos preparado contramedidas.

— Ugh… A gente vai mesmo lutar assim?

Por que ela tava desse jeito de novo? Eu me lembrava perfeitamente de ter feito o briefing da expedição pessoalmente.

— Raven!

Com meu comando curto, Raven lançou a magia que havia preparado antecipadamente.