Sobrevivendo no Jogo como um Bárbaro

Capítulo 810

Sobrevivendo no Jogo como um Bárbaro

“Não tem como isso ser coincidência.”

Máquina Monstro Arta era o chefe final da Base Secreta Arta. Meu instinto de jogador, lapidado por quase uma década jogando Dungeon and Stone, dizia que esses dois não compartilhavam o mesmo nome por acaso.

“Usar o Dia Final nesta ilha é a condição pra encontrar esse cara?”

Até agora, eu não tinha como saber, o que só significava que precisava descobrir agora.

— Raven, use magia de barreira — ordenei.

— Assim, do nada? — ela reclamou. — Mas você mandou eu não usar até agora por causa do custo absurdo de mana.

— Vamos ter que aguentar, se quisermos tentar conversar com essa coisa aqui e agora.

— Entendido. — Raven imediatamente criou uma barreira em forma de domo ao nosso redor, que lembrava um guarda-chuva.

Boom! Flash! Rumble!

A barreira translúcida bloqueou com sucesso os meteoros e os raios que caíam do céu.

“Beleza. Agora que temos um ambiente tranquilo pra conversar…”

— ⟅Oh, interessante. Uma língua parecida com o idioma comum, mas com construções diferentes…⟆ — O homem nos observava de cima a baixo. — ⟅Ainda assim, acho que a língua não foi totalmente perdida, já que alguém ainda a fala? Bem, a língua em si não importa muito.⟆

De repente, algo mudou nas palavras que saíam da boca dele.

— Estabelecendo comunicação por intenção — murmurou. — Pronto, conseguem me entender agora?

Marrone deu um pulo de susto. Virei pra ela e perguntei:

— Hã? Você entende ele, Marrone?

— Como? Sim… Não sei como, mas entendo o que ele diz. Mesmo sabendo que ele está falando outra língua…

Notando a reação dela, o homem-monstro-coisa perguntou com cuidado:

— Com licença… É a primeira vez que experienciam comunicação por intenção?

— Hã? Ah, sim… Nunca ouvi falar disso.

Ele suspirou.

— Já suspeitava, quando vi as roupas de vocês. Parece que muita tecnologia foi perdida. Mas não se preocupem. Só conectei as ondas emitidas pelos nossos cérebros pra que pudéssemos ‘nos entender’. Apesar de q-que, bom, é natural estranhar no começo.

O homem que se apresentou como Arta então fez uma pausa, olhando para os meteoros e raios do lado de fora da barreira criada por Raven.

— Este é de fato o último dia do mundo… Exatamente como imaginei! — admirou-se com os olhos brilhando. Em seguida, soltou uma risadinha. — Com esses resultados de pesquisa, nem vou precisar me preocupar com o orçamento do ano que vem!

Muita coisa nele era suspeita, a começar pelo fato de ter saído de um portal misterioso, mas eu não sentia ameaça alguma. A aparência dele, o jeito de falar, as roupas… Mesmo que tudo passasse uma impressão meio esquisita, ele também parecia inofensivo.

— Ei, Arta, né? — chamei.

Ele pareceu se recompor.

— Opa? Ah, sim. Me distraí por um instante. Mas quem são vocês? Se possível, poderiam me explicar a situação atu…

— A gente é quem vai fazer as perguntas.

— Ah! Claro! Devem ter muitas dúvidas. Vou responder tudo. Mas posso fazer um pedido também? Oh! Nada demais, então não se preocupem!

Respirei fundo.

— Fale.

— Se eu responder todas as suas perguntas, podem responder as minhas também? Na verdade, tenho muitas dúvidas sobre a situação atual… Hahaha…

Qual era a desse cara? Estaria escondendo sua força real?

Achei ousado da parte dele, considerando o quão frágil parecia, mas como o mais importante era obter informação, acenei com a cabeça.

— Entendido. Prometo.

— Ótimo. Então, diga. O que quer saber?

— Quem é você?

— Como eu disse, me chamo Arta. Atualmente… Não, acho que seria melhor dizer ‘anteriormente’? Enfim, sou o principal pesquisador do Primeiro Centro de Pesquisas de Engenharia Mágica. Haha, não querendo me gabar, mas só o vice-diretor e o diretor estavam acima de mim.

— Centro de pesquisas…? — repeti, franzindo a testa. Tinha algo familiar nesse termo.

— Oh — ele comentou curioso — por acaso conhece nosso instituto?

Bem, não exatamente, mas eu tinha uma suspeita.

— Você quer dizer o centro que usa monstros como material de pesquisa pra criar armas vivas?

— Hã? Não fazemos nada disso. Nosso centro de pesquisa se dedica exclusivamente ao desenvolvimento e progresso da engenharia mágica. Embora nossos dados sejam usados para criar armas, não somos uma estação feita pra fabricar armas.

“Hm, entendi…”

Justo. O lugar que explorei no primeiro subsolo se chamava Estação de Pesquisa Panthelion, afinal, e não esse tal de centro de engenharia mágica.

Resolvi seguir com a próxima pergunta.

— Então, o que alguém do seu nível está fazendo aqui?

— Ora, o que mais um pesquisador de um centro de pesquisa faria além de pesquisar?

— Não brinca. Não temos tempo.

— Ah, sim. Imagino que, da sua perspectiva, o tempo esteja mesmo se esgotando. Como vocês não são especialistas, vou tentar explicar da forma mais simples possível. A pesquisa que estávamos conduzindo era sobre a observação do tempo e espaço do futuro.

— Observação do tempo e espaço…?

— Exato. Observar o futuro para mudar o presente… Esse era o cerne da nossa pesquisa.

— E não o passado?

— Haha! Está falando de viagem no tempo, né? Já faz bastante tempo que foi provado que mudar o passado para alterar o presente é impossível. Por isso decidimos focar no futuro.

O quê? Então a trama dele era que a pesquisa deu certo e ele veio parar aqui?

“Isso não devia ser um cenário de fantasia?”

Foi meio aleatório, mas entendi o rumo da história.

— Então posso fazer uma pergunta em troca? Na verdade, estou morrendo de vontade de perguntar isso… Em que ano estamos?

A gente era o futuro.


RPG era a sigla para Role-Playing Game, ou, simplificando, um jogo em que você interpretava um papel.

Num sentido amplo, a nova realidade em que eu me encontrava não era tão diferente disso. Se eu mantivesse meu papel e seguisse com a história, o episódio chegaria naturalmente ao fim em algum momento, e então eu receberia uma recompensa. E foi por isso que…

“Preciso encontrar pistas para continuar com essa nova história.”

Depois de tomar essa decisão, conversei com Arta por um tempo para arrancar informações dele. A diferença era que agora não dava pra simplesmente ficar apertando a barra de espaço para pular o diálogo e ir direto completar a missão.

— Ano do Novo Mundo…? Meu Deus! Até o nome da era mudou?

— O mundo acabou uma vez por causa da bruxa, e agora, a cidade-estado governada pela família real Rafdoniana é a única coisa que resta… Não consigo acreditar no que estou ouvindo!

— Ah, você achou que eu já sabia da situação daqui? Haha, em parte, sim. As coordenadas que escolhi foram o fim do tempo infinito… o último dia, por assim dizer!

— Hein? Por que eu faria isso? Ora, quem não faria? Eu queria ver o fim do mundo em que vivo!

— Oh? Haha! Se estou com medo? Bom, se meu coração parar ou se eu me meter numa situação perigosa, eu volto pro meu tempo original. Estou seguro, contanto que não morra aqui. Os maiores engenheiros mágicos me esperam lá, e eles podem me resgatar até da beira da morte.

— Hã? Por que engenheiros mágicos e não sacerdotes? A engenharia mágica dessa era caiu tanto assim?

— Mas então, como o mundo acabou nesse estado? Pelo que você disse antes, a bruxa que tentou acabar com tudo já está morta, não está?

Arta foi entendendo mais do nosso mundo, e eu mais do dele. No fim…

— Para que o fim do mundo exista de verdade… preciso descobrir a causa desse fim e o método para detê-lo. Pessoas do futuro! Poderiam me ajudar? Se ajudarem, prepararei algo para impedir esse desastre no passado!

Ali estava, o esboço básico da missão. E, como sempre, o mais importante era a recompensa.

— O que quer dizer com ‘qual será a recompensa’? Vocês não querem impedir o fim do mundo? Não tenho nada em particular para dar…

Hmm, então a recompensa viria de outro jeito? Tipo um cofre do tesouro que só esse cara poderia abrir?

— Era brincadeira. O mundo acaba se falharmos, então de que adiantaria uma recompensa? Farei qualquer coisa para impedir o fim do mundo.

E com isso, encerrei a conversa sobre recompensas com um tom leve:

— Eu sabia que era brincadeira! Vamos continuar nossa conversa enquanto seguimos caminho.

— Sim, parece bom. Também não tenho muito tempo autorizado por aqui.

— Tempo autorizado?

— Ah, esqueci de mencionar. Há um limite para quanto tempo posso ficar aqui, então preciso reunir o máximo de informação possível nesse intervalo.

— E o que acontece se não voltar dentro do tempo autorizado?

— Isso não vai acontecer… Mas, se acontecer, terei que encarar o fim do mundo com vocês.

— Entendo.

Deixei passar como se fosse simples curiosidade. Não dava pra dizer na cara dele que eu estava pensando em forçar sua permanência, caso nenhum evento especial ou recompensa surgisse enquanto o levávamos por aí.

“Talvez a verdadeira missão comece se esse cara não conseguir voltar pro tempo dele.”

Já que era um segredo oculto que nunca encontrei jogando, precisava explorar ao máximo.

— Raven! — chamei. — Cancele a magia!

Depois que Raven desfez a barreira, oficialmente retomamos nossa exploração da ilha.

— Com licença, Sr. Arta?

Raven, que não conseguiu participar da conversa porque estava concentrada no feitiço, começou a falar com Arta também.

— Sr. Arta?

Ou melhor, tentou.

— Você… não quer falar comigo?

Ele acabou revelando:

— Ah, não é isso… É que sou muito tímido…

— Mas você foi bem falante com o Sr. Yandel.

Fiquei atento ao que saía dessa troca, pra ver se algo útil aparecia, mas tudo que descobri foi que Arta era péssimo com mulheres. E…

— Eu também me interesso por engenharia mágica. Poderia me contar um pouco sobre isso? — perguntou Raven, educadamente.

— Oh! Uma pessoa tão bela quanto você interessada em engenharia mágica?! É verdade mesmo?!

— Hã? Ah, sim… É verdade…

— Haha! Pergunte o que quiser! Responderei tudo!

…e parece que Arta era fraco com mulheres interessadas em engenharia mágica.

“Beleza. Agora eu sei que é a Raven quem deve perguntar o que quero descobrir dele.”

Ouvi mais um pouco, mas os conceitos de engenharia mágica eram totalmente alienígenas pra mim, então pulei. Mas não os interrompi. Aumentar o conhecimento da Raven era algo bom, e eu me concentrei em limpar a ilha.

【Mais de 50% dos monstros da região foram eliminados.】

【A autoridade da Fera Ancestral foi enfraquecida.】


【Mais de 60% dos monstros da região foram eliminados.】

【A autoridade da Fera Ancestral foi enfraquecida.】


【Mais de 70% dos monstros da região foram…】

— A-ham… M-me desculpem, mas eu deveria mesmo estar usando esse tempo pra coletar informações, e não pra ficar conversando assim.

— Ah…

— N-não se preocupem! Farei tudo que estiver ao meu alcance para salvá-la, Srta. Raven!

Por volta do momento em que tínhamos limpado cerca de 70% da ilha, Arta aparentemente voltou à razão e parou a conversa sobre engenharia mágica, focando novamente em sua missão principal.

— Então… Sr. Yandel, certo? Você disse que a causa do fim era uma besta. Por que não estamos indo naquela direção?

Heh, só agora ele pergunta. Quão fraco esse cara era com mulheres do tipo que ele gosta?

Sinceramente, era de se espantar, mas mesmo assim respondi:

— Precisamos matar os monstros da ilha antes, pra enfraquecer a besta.

— Ah… Entendo.

— Descobriu algo enquanto observava a ilha?

— Bem… Nada demais, ainda.

É, nada surpreendente. Ele passou mais tempo focado na Raven, afinal.

— Ah! Mas tem uma coisa que notei — comentou ele.

— O quê?

— O centro da ilha, onde reside a besta que traz o fim! Sinto ondas de mana extremamente poderosas emanando de lá.

Ondas de mana… Seria uma sala secreta que nunca consegui encontrar no jogo? Ou simplesmente o local do chefe?

Bom, fosse o que fosse, logo eu descobriria.

【Mais de 90% dos monstros da região foram eliminados.】

【A autoridade da Fera Ancestral foi enfraquecida.】

Era hora de enfrentar o chefe.