Sobrevivendo no Jogo como um Bárbaro

Capítulo 751

Sobrevivendo no Jogo como um Bárbaro

— Perdemos o rastro do Barão Yandel…

O servo que o havia servido por décadas baixou a cabeça envergonhado ao entregar o relatório.

Contudo, o marquês não se enfureceu. Apenas fechou os olhos e soltou um longo suspiro, como se tentasse conter as emoções.

— Entendo…

Embora não pudesse dizer que não estava irritado pelo fracasso do plano, precisava ser preciso ao direcionar sua raiva.

Para o marquês, o alvo de sua fúria era ele mesmo e, além disso, o próprio mundo. Um mundo que parecia manipular os eventos com cordas invisíveis, como se encontrasse prazer em fazê-lo mais do que qualquer pessoa poderia.

“O mundo não quer que ele morra…”

O trovão foi disparado. Ainda que não soubesse o que Yandel havia feito, aquele bárbaro bloqueou o ataque, protegeu todos e acabou ficando fora de combate.

Pelos relatos recebidos, parecia que Yandel estava à beira da morte. Por isso, ele acreditava que mais um disparo de trovão encerraria o assunto.

— Diga-me, o que aconteceu? — exigiu o marquês.

— É que…

Um círculo mágico desconhecido havia sido ativado, e, quando a poeira baixou, todos haviam desaparecido de vista.

— Estamos reunindo informações sobre qual magia foi utilizada o mais rápido possível…

— Não há necessidade disso. Eu já sei o que é.

— Perdão?

Como primeiro-ministro de Rafdonia, o marquês conhecia esta cidade melhor do que qualquer outra pessoa.

Esta cidade era uma imensa fortaleza. A maior existente, capaz de responder e reagir a qualquer situação mesmo sob invasão de forças externas. Havia inúmeras magias ancestrais espalhadas pela fortaleza, e algumas delas ainda podiam ser utilizadas até hoje.

— Deve ser um tipo de círculo mágico de invocação. Um que puxa forçosamente tudo em uma área definida para outro lugar.

Embora o marquês estivesse ouvindo sobre a situação no campo apenas por meio de relatos de segunda mão, ele conseguia montar os eventos melhor do que qualquer um.

— O que significa que o culpado seria o Quinto Comandante, Barão Wilkins. Se foi ele, teria recebido autoridade para usar as magias ancestrais no Distrito Sete assim que as medidas de guerra foram instauradas.

O marquês organizava as informações como se falasse consigo mesmo.

— Ele não teria conseguido se preparar para o primeiro impacto do Trovão, mas ficaria em alerta a partir de então. Porque perceberia que nosso alvo é o Barão Yandel. Ele faria de tudo para bloquear o segundo ataque. No entanto, deve ter levado um bom tempo para ativar o círculo mágico…

O marquês começou a tamborilar os dedos sobre a mesa.

— Você disse que alguns ficaram para trás?

— Sim. Cerca de uma dúzia de bárbaros na periferia do grupo não desapareceram.

— Entendo… Então o círculo mágico foi ativado às pressas ao perceberem que nossas forças recuaram… — O fogo voltou aos olhos do marquês. — Nesse caso, ainda não é tarde demais.

— Perdão?

— Este círculo mágico foi usado pela última vez para fins de resgate durante a Rebelião da Muralha de Ferro. Contudo, os registros indicam que ele não pôde ser utilizado adequadamente, pois também foi ativado às pressas naquela ocasião.

Não havia chance de os registros estarem errados. Durante a elaboração deste plano, ele revisou todos os truques disponíveis no arsenal do palácio centenas, não, milhares de vezes. Repetidamente.

Toc, toc. toc.

Batidas rápidas foram ouvidas na porta. Quando o marquês permitiu a entrada, um homem entrou apressado e fez uma reverência.

Eltora Tercerion. O antigo terceiro comandante e filho do marquês.

No entanto, mesmo sendo seu sangue direto, o marquês apenas perguntou qual era o motivo de sua visita.

— O que foi?

Seu tom era ainda mais frio do que o usado com o servo.

Se alguém observasse atentamente, seria possível notar que ele franzia levemente a testa, como alguém descontente com algo, mas a expressão desapareceu rapidamente.

— A Lança Divina, Ainar, foi localizada causando um pandemônio na Praça Dimensional do Distrito 4!

Os lábios do marquês se curvaram em um sorriso com o relatório de seu filho.

Se o círculo mágico de invocação tivesse funcionado perfeitamente, todas as pessoas dentro da área designada teriam sido transportadas para a capital imperial. Contudo, isso era uma confirmação de que não havia acontecido.

“Mesmo durante a Rebelião da Muralha de Ferro, houve problemas porque as pessoas que deveriam ser resgatadas foram lançadas aleatoriamente em diferentes distritos.”

Claro, ainda assim, se Bjorn Yandel tivesse a sorte de ser transportado para os territórios das forças de Rafdonia, não haveria nada a ser feito.

“Ainda é cedo para desistir.”

Aquele bárbaro era como ele. Se não fosse impossível, aquele monstro agarraria qualquer possibilidade, por menor que fosse, para obter a vitória no final.

Para capturar tal monstro, só havia uma coisa a ser feita.

— Eltora, envie esta mensagem para todas as forças. Diga-lhes para inspecionarem cada armário e caixa nos distritos atualmente sob nosso controle.

Ele se tornaria o mesmo monstro.


Já sentiu como se o destino estivesse brincando com você?

Se alguém fizesse essa pergunta a Rotmiller, ele poderia acenar e descrever várias ocasiões em que sentiu que essa premissa se aplicava.

Quando perdeu os pais na infância.

Quando conheceu o benfeitor que lhe ensinou as habilidades necessárias para sobreviver.

Quando descobriu que precisava constantemente encontrar novas pessoas no labirinto porque não era habilidoso o suficiente para se virar sozinho.

Apesar de ser assim, ele conseguiu participar do primeiro capítulo da história de um homem que seria lembrado como um grande herói.

Tendo crescido no orfanato da Igreja de Reatlas, Rotmiller acreditava que tudo aquilo era determinado pelo destino.

Conhecer pessoas, aprender coisas novas, fazer aliados, ganhar coisas que considerava preciosas, perceber novas verdades, abrir mão de algumas coisas para obter outras mais importantes e sentir emoções que nunca havia experimentado antes…

Se o acaso fosse o destino, então sua vida inteira era apenas uma repetição contínua de encontros fortuitos.

Talvez até mesmo agora.

— Que irritante…

Rotmiller sentia novamente a mão incômoda do destino.

Alguém poderia culpá-lo? Uma arma mágica antiga caiu do céu, o homem que parecia impossível de derrotar protegeu a todos e desabou. Sem tempo para se reagrupar, inimigos surgiram de todas as direções, forçando-o a fugir com os demais.

— Behelaaah!

A bárbara com a lança carregava o herói agonizante, enquanto a elfa, contratada com a Regente Elemental, abria caminho. A terian de armas duplas saltava de um lado para o outro, protegendo quem estava em perigo, e a mago, que assumira a liderança do grupo, rapidamente lançava feitiços para encontrar uma rota de fuga.

— Os inimigos estão recuando!

Os inimigos, que pareciam grudados como piche, de repente se afastaram como a maré que recua.

— É o Trovão!

Quando o ataque surgiu no céu novamente, formas geométricas apareceram no chão onde estavam, brilhando com luz intensa.

Sua memória após isso ficou confusa.

Quando recuperou a consciência, estava diante de uma estátua da deusa.

— Teletransporte…?

Ao olhar ao redor, percebeu que o templo estava reduzido a escombros, e soldados de Noark caminhavam pelas ruas além das janelas.

E Bjorn Yandel. O homem chamado de herói por todos estava caído à sua frente, inconsciente.

Graças a incontáveis poções de nível mais alto que haviam sido derramadas sobre ele, não parecia haver ferimentos externos visíveis. Ele estava apenas coberto de sangue. Logo, ele acordaria.

Segurando essa esperança, Rotmiller aguardou silenciosamente, mas a situação rapidamente piorou.

Não foi o estado de Yandel que piorou de repente.

— Revistem tudo! O marquês ordenou que verifiquem cada canto deste lugar, mesmo que precisem arrancar os papéis de parede!

Os soldados, que às vezes eram vistos pelas janelas como patrulha, começaram a vasculhar a área com um objetivo claro. Logo seriam descobertos.

— …del! Yandel! Você consegue me ouvir?

Rotmiller apressadamente acordou Yandel, e, felizmente, o bárbaro despertou de seu sono profundo.

— Não se preocupe, não terei problema para me mexer…

Por algum motivo, ele começou a expelir sangue por todos os poros e desabou novamente.

A mente de Rotmiller ficou em branco diante da cena.

O inimigo os encontraria em breve. Precisavam sair dali antes que isso acontecesse. Mas como…?

Ele não sabia.

Por isso, Rotmiller começou a vasculhar o interior do templo em ruínas, buscando informações.

Atualmente, eles estavam na filial central do Distrito Quatro da Igreja de Reatlas. Poderiam chegar à capital imperial se seguissem pela estrada principal em frente ao templo. E se conseguissem chegar lá…

“Vamos sobreviver.”

Mas havia um grande problema. Como iriam chegar lá? Como ele transportaria aquele bárbaro gigantesco e imóvel através dos inimigos até o destino?

Felizmente, Rotmiller estava acostumado a lutar contra a realidade. Em vez de procurar um plano perfeito, fez a melhor escolha possível.

“Preciso de um cavalo e uma carroça.”

Rotmiller foi até o estábulo anexado ao templo. Lá havia uma carroça para transporte de mercadorias, mas nenhum cavalo. Parecia que todos já haviam sido levados.

Relincho!

Contudo, milagrosamente, seus olhos cruzaram com os de um cavalo que perambulava fora das cercas.

Não importava como aquele cavalo ainda estava ali. Provavelmente havia pulado as cercas quebradas e, por sorte, escapado de ser saqueado junto com os outros. O importante era que agora ele tinha um cavalo e uma carroça.

— Calma, calma. Devagar aí…

Como Rotmiller tinha experiência em lidar com cavalos desde seus dias no orfanato, ele segurou as rédeas do cavalo. Depois, prendeu o animal à carroça para que pudesse puxá-la.

— Ugh…

Ele mal conseguiu mover o bárbaro colossalmente pesado para dentro da carroça, dobrando seu corpo para que os pés não ficassem para fora e preenchendo os espaços com montes de feno. Finalmente, colocou uma grande lona sobre tudo, transformando-a em algo que parecia apenas um veículo de transporte comum.

O problema era que ele não sabia se isso funcionaria. Conseguiria chegar ao destino sem problemas? Se falhasse, ambos morreriam. Talvez a escolha certa fosse lutar pela própria sobrevivência sozinho.

Esses pensamentos o atormentavam, fazendo-o sentir-se cada vez mais frustrado.

Por que tinha que ser ele? Este homem tinha incontáveis aliados mais talentosos e capacitados do que ele. Mesmo que Yandel nunca pedisse ajuda, muitas pessoas na cidade fariam de tudo para ajudá-lo. Então, por que, no momento em que mais precisava de ajuda…

“Por que tinha que ser eu ao lado dele?”

— Estou ficando maluco.

Palavras de frustração escaparam de sua boca.

Ele sacudiu o corpo de Yandel, na esperança de que ele acordasse, e apenas ficou olhando sem expressão quando isso não aconteceu. Amaldiçoou o destino por colocá-lo nessa situação e, em seguida, sentiu vergonha de sua própria impotência.

— Porém…

Dentro daquele templo em ruínas, após cruzar o olhar com as várias estátuas quebradas da deusa espalhadas pelo lugar, tomou sua decisão.

— Ainda assim, precisa ser feito.

Sempre houve momentos assim em sua vida.

Mesmo com medo, aquele era um caminho que precisava seguir para superar tudo aquilo.

— Que a bênção da estrela do crepúsculo esteja conosco…

Ele montou no cavalo e saiu para a rua onde os inimigos estavam, com a carroça conectada ao animal atrás de si.

Naturalmente, moveram-se muito devagar. Em vez de correr o mais rápido possível, era mais parecido com uma caminhada tranquila.

Não era algo furtivo. As rodas de madeira rangiam a cada movimento, e sempre que esses sons ecoavam, Rotmiller sentia como se seu coração fosse explodir.

Ba-dum, Ba-dum, Ba-dum.

O sangue subia à cabeça, causando vertigem, mas ele tentou manter a calma o máximo que pôde.

Ele não era tão forte quanto os aliados de Yandel, que embarcavam em grandes aventuras com ele. Não tinha força para atravessar multidões de inimigos com pura habilidade, nem a engenhosidade de escapar do perigo como os magos talentosos.

Por isso…

“Por favor…”

Ele rezou e rezou mais, esperando que aquele pequeno truque funcionasse. Era tudo o que podia fazer.

Contudo, parecia que seus esforços estavam sendo recompensados. O primeiro soldado de Noark que encontrou apenas o observou por um momento. Não pareceu considerá-lo suspeito nem tentou falar com ele.

Parecia que o soldado não via nada de errado com alguém que passava confiante puxando uma carroça pela rua.

Ele suspirou aliviado. Achara que o plano era apenas viável quando começou, mas, ao perceber que estava funcionando, toda a tensão deixou seu corpo.

Porém, aquilo era apenas uma pessoa.

Rang, rang.

Com o quão devagar se movia, ainda havia um longo e doloroso caminho pela frente. Mas isso não era novidade para Rotmiller.

Sua vida sempre foi assim.

Duas pessoas, três pessoas…

Só após oito anos vagando pelo labirinto ele conseguiu se tornar um aventureiro de sétimo nível.

Quatro pessoas, cinco pessoas, seis pessoas…

Além disso, ele começara muito mais tarde que os outros.

A maioria entrava no labirinto no dia em que completava a maioridade, mas sua primeira vez foi aos vinte e seis anos.

Dez pessoas, vinte pessoas, trinta pessoas…

Por ter começado tarde, correu com todas as suas forças. Mas ainda assim, terminava sendo deixado para trás, precisando suportar a dor de ser abandonado. Por isso, não havia nada de novo neste esforço.

Ir devagar.

Ele já estava acostumado a isso, a ponto de estar cansado. Talvez fosse a única coisa em que ele realmente fosse o melhor do mundo…

— Ei!

Naquele momento, o septuagésimo primeiro soldado de Noark que encontrou subitamente parou e se aproximou.

— De qual esquadrão você é? Preciso verificar o que tem na sua carroça.