Capítulo 34

— Ahhh!

Enquanto o ataque acertava com sucesso, uma dor aguda passou pela minha cabeça pelo recuo. Era tudo porque esse maluco era um mutante de alto nível.

Ele ainda era capaz de se recuperar totalmente de seus ferimentos apenas dando um passo para trás para recuperar o fôlego.

“Maldição… enquanto isso, eu ainda estava com dor. Que tipo de idiota é esse cara?

— Kyaaah!

Ainda assim, o aggro estava focado em mim, como eu queria. Por hábito, verifiquei se o item escondido em minhas botas ainda estava lá.

O nome do item era Lágrimas de uma Deusa. Simplificando, era um objeto sagrado. Embora fosse um item de uso único, poderia ser usado para fins de cura e também para atacar monstros malignos.

“…Devo usar isso agora?”

Não seria um desperdício usar. Não importa o quão únicos fossem os efeitos do item, era um item especial que só poderia ser usado em Cidadela Sangrenta de qualquer maneira. Se eu usasse no anão, sua força seria restaurada imediatamente, e se usado no vampiro, infligiria danos consideráveis. Mas…

“Não.”

Interrompi minha preocupação sem sentido.

Qual era o motivo de eu estar diligentemente aguardando até agora? Porque um golpe era mais do que suficiente. Qualquer coisa além disso seria ruim para nós.

Teríamos apenas uma oportunidade. E quando chegasse a hora, teríamos que dar tudo de nós.

Havia apenas uma maneira para os cinco de nós derrubarmos um monstro de nível cinco.

Clique.

Peguei uma garrafa de poção na minha cintura e abri a tampa. Despejei a poção na minha boca, meus olhos ainda fixos no vampiro correndo em minha direção, e…

Chhhhhh!

As inúmeras feridas que acumulei durante a batalha começaram a se curar e a dor avançou como uma onda gigantesca. Senti a força sair das minhas mãos, e tudo o que eu queria era desmoronar no chão. Afinal, era quase impossível beber uma poção e continuar lutando, mas…

“Não importa.”

Eu não estava tentando lutar.

Rasg!

Logo, as garras do vampiro estavam cravadas no meu abdômen. A armadura de metal no meu peito foi tornada inútil enquanto suas unhas penetravam profundamente na minha carne.

Meus nervos estavam enlouquecendo enquanto enviavam sinais de perigo para o meu cérebro. Minha mente ficou em branco, meus sentidos totalmente sobrecarregados.

“Merda, se eu soubesse que isso ia acontecer, teria pego a essência do golem cadáver para mim.”

Deixando para trás meus arrependimentos tardios, despejei outra poção na minha boca.

Chhhhhh!

A ferida se curou rapidamente dos efeitos curativos em camadas tanto da 【Marca de Imortalidade】 quanto das poções.

— Kyaaak…

Encarei diretamente o vampiro bastardo surpreso que parecia não entender o que estava acontecendo.

Para ser honesto, senti vontade de desmaiar de tanta dor.

— Behelah, seu filho da puta…

“A dor não pode me matar. O fato de eu ainda estar vivo é prova disso.”

— O que diabos ele está fazendo…!

Raven, que assistia à batalha de trás de alguns destroços à distância, não conseguia esconder seu choque. Ela havia lido sobre as estratégias extraordinárias e métodos de caça de muitos aventureiros em seus livros, mas isso era diferente de tudo que ela já tinha visto. Ele está planejando deter o vampiro apenas com poções?

— N-Não há como ele ter sucesso. E-Ele vai morrer!

Isso simplesmente não fazia sentido lógico. Ela sabia porque já tinha consumido poções várias vezes antes. A dor era inimaginável, e a gravidade da dor aumentava dependendo da gravidade da lesão.

Mas aquele bárbaro?

Chhhhhh!

Não eram apenas bolhas fervendo e vaporizando em seu corpo – fumaça o envolvia completamente. Nem mesmo ela tinha visto algo assim antes.

Sofrer uma lesão não era o principal problema agora – era que morrer de choque em situações como essa não era nada raro. Na verdade, casos de pessoas morrendo por consumo de poção eram bastante comuns.

— Huh?

Raven parou de pular inquietamente de um pé para o outro, seus olhos se arregalaram. A dor que aquele bárbaro estaria sentindo agora estava além de sua imaginação, e uma coisa era certa: em seu estado atual, ele não deveria ser capaz nem de se mover.

Mas o que era isso?

Clang…!

Mesmo enquanto ele desabava no chão com seu escudo, que agora era pouco mais que um monte de metal amassado, o bárbaro bloqueava as unhas do vampiro enquanto elas se dirigiam para ele. E, como se para provar que não era coincidência…

Clang…!

Ele fez isso várias vezes, repetidamente.

— Claro, ele não conseguiu bloquear todos os ataques com sucesso. Enquanto ela observava, todo o seu corpo estava sendo perfurado por aquelas garras impiedosas. Mas…

Clang!

Os ataques que visavam as partes mais vulneráveis do seu corpo, como a cabeça ou o coração, eram bloqueados por empurrões oportunos do seu escudo.

“É logicamente possível isso…?”

Ela não conseguia dizer se ele estava propositadamente superando a dor para evitar os ataques usando uma força de vontade sobre-humana, ou se era apenas o último de seus instintos de luta que tornava isso possível. No entanto, um documento que ela tinha lido há muito tempo de repente veio à mente. Nele, o escritor havia dito que o verdadeiro valor dos bárbaros residia em sua força psicológica, não em sua superioridade física.

“De alguma forma, acho que entendi agora…”

Neste momento, Tarzine, que estava assistindo à batalha com ela, de repente falou. — Lady Raven, seria melhor recuar enquanto podemos. — Ele disse firmemente. Ele falava em recuar, mas na realidade, ele pretendia abandonar essas pessoas e fugir. — Não tenho certeza se conseguirei protegê-la desse jeito. Está muito perigoso aqui.

Ela estava boquiaberta demais para falar.

“Você acha que não sei disso?”

Se pudesse, ela já teria partido. Embora frequentemente lhe dissessem que era uma maga de coração mole, Raven não era ingênua o suficiente para arriscar sua vida pelo bem dos aventureiros que acabara de conhecer. Mas…

— Você está louco? Recuar? Para onde?

Não havia para onde correr. Havia apenas uma maneira de sair da Fenda, e era derrotar o Guardião e sair pelo portal.

“…Esse homem deve estar lutando tão desesperadamente porque sabe disso também.”

Foi como se uma faísca atravessasse seu cérebro.

Até um bárbaro que acabara de passar por sua cerimônia de maioridade estava mantendo a cabeça fria, tomando decisões inteligentes e fazendo o melhor que podia nas circunstâncias atuais… Enquanto isso, o que ela, uma maga, estava fazendo agora?

— Se Bjorn morrer, tudo está perdido. Temos que mantê-lo vivo de alguma forma.

Um mago não era alguém que simplesmente lançava poderosas magias do fundo do campo de batalha. Também era dever de um mago analisar friamente a situação usando seu conhecimento em várias áreas e sugerir a rota mais eficiente para o grupo.

Raven reavaliou a situação atual. O guerreiro anão de terceiro ano estava incapaz de lutar. A bárbara estava alimentando-o com poções e ajudando-o a se recuperar.

Sem problemas até aqui…

Mas a maga estava escondida no fundo e esperando que sua mana fosse restaurada com um espadachim humano a guardando. Agora que ela pensava sobre isso, isso era um desperdício de recursos.

— Tarzine, vá para o Sr. Murad.

— Perdão?

— Estou bem. Pelo menos vá até lá para que a bárbara possa se juntar à batalha.

— …Entendido.

— Deixe sua mochila aqui.

Tarzine seguiu seus comandos um tanto nervosos sem expressar uma reclamação. Sem nem mesmo vê-lo sair, Raven enfiou a mão na sua mochila de sub-espaço. A essência do golem cadáver.

Assim que ela a imaginou em sua cabeça, o tubo de ensaio apareceu em sua mão.

“Eu realmente não… não, eu realmente, realmente não quero ter que usar isso, mas… isso não é nada comparado à vida de uma pessoa.”

Raven lentamente reuniu sua mana e começou a desenhar um círculo mágico.

Whooom!

Suporte de precisão. Suporte de alcance. Travamento automático no alvo.

Se ela adicionasse mais algumas coisas à fórmula, nem precisaria mover os braços…

“Mas tenho que economizar pelo menos um pouco da minha magia.”

Após completar o círculo, ela lançou o tubo de ensaio em sua mão o mais forte que pôde. E…

Crack!

O tubo de ensaio, que voou em um arco suave, atingiu seu alvo e se desfez, emitindo uma luz.