Capítulo 48
A Empregada Secreta do Conde
“Pare de olhar.”
“Hã?”
“Meu rosto está formigando.”
Paula continuou a observá-lo enquanto lia. Ele deve ter percebido e franziu a testa.
“Não se preocupe. Eu não vou morrer”, ele garantiu.
Paula permaneceu em silêncio.
“Está tudo bem.”
Sua voz calma era reconfortante, mas a ansiedade de Paula só aumentava. Seu perfil, voltado para a janela, parecia resignado, mas de alguma forma tranquilo. Talvez ele já esperasse por essa situação.
Paula também estava preocupada com Violet, que havia partido mais cedo naquele dia. As cartas que costumavam chegar a cada dois dias tinham parado. Ethan disse que Violet havia retornado em segurança, mas saber que ela chorava todas as noites a preocupava. Paula queria escrever para ela, mas temia piorar as coisas.
Ethan havia dado um tapinha no ombro de Paula e dito: “Violet é forte. Ela vai se recuperar logo.”
Paula queria acreditar nisso, mas tudo o que podia fazer era rezar para que Violet não sofresse ainda mais.
Como de costume, Paula estava levando roupas para Renika e pegando outras quando ouviu uma voz.
“Paula.”
Ao se virar, viu Lucas vestido de maneira casual.
Desde a confusão recente, Paula raramente o via. Enquanto Vincent permanecia recluso, Lucas ficava em seu quarto.
Ethan havia deixado a mansão alguns dias atrás, depois de se encontrar com Vincent e se despedir de Paula.
“Cuide do Vincent”, ele havia dito, com um olhar de arrependimento. Paula deu um tapinha no braço dele, e Ethan sorriu antes de partir.
Com a partida de Ethan, apenas Lucas permanecia.
Então, essa era uma rara oportunidade para conversar.
“Senhor Lucas, para onde está indo?”
“Estou planejando partir amanhã.”
“Amanhã?”
“Sim. Meu irmão teve que voltar antes porque estava ocupado.”
Paula assentiu, embora ainda estivesse surpresa.
“Você vai ficar bem?”, ela perguntou, lembrando-se do medo profundo que Lucas tinha de James e do que ele já havia dito sobre isso.
Por um momento, Paula sentiu vergonha por ter esquecido disso, mas Lucas parecia alheio. Ele continuou falando com calma.
“Está tudo bem. Obrigado por se preocupar comigo.”
“É uma pena que esteja indo embora.”
“Mesmo?” Lucas perguntou, seu sorriso se tornando travesso.
Paula assentiu. Sua presença havia trazido um pouco de vida à mansão silenciosa.
O sorriso de Lucas se alargou.
“Então, passa o dia comigo hoje?”
“Hoje?”
“Sim.”
Lucas estendeu a mão para ela.
“Me dê seu tempo hoje.”
O pedido era difícil de recusar, especialmente sabendo que talvez fosse a última oportunidade. Depois de conseguir permissão de Isabella, Paula se apressou em se preparar e seguiu Lucas até a vila abaixo da mansão. Embora sempre tivesse desejado visitá-la, nunca tinha se aventurado até lá antes. Por acaso, agora estava indo com ele.
Ao chegarem, o ar era preenchido por sons animados. A vila era grande e impressionante, com construções imponentes de formatos e cores variadas. Parecia mais uma cidade movimentada do que uma vila pacata.
As ruas estavam cheias de pessoas. Algumas trabalhavam, enquanto outras se reuniam em pequenos grupos, conversando e rindo. Crianças corriam de um lado para o outro, suas risadas infantis tornando o ambiente ainda mais vibrante.
Mais adiante, chegaram ao mercado, onde os vendedores chamavam alto para atrair clientes.
Era um contraste gritante com a vila onde Paula havia crescido. Nunca tinha visto um lugar tão grande e ficou maravilhada. Enquanto olhava ao redor, Lucas segurou sua mão. Assustada, ela olhou para ele, que sorriu calmamente e apertou sua mão com mais firmeza.
“Não quero que você se perca.”
Apesar de o gesto parecer um pouco estranho, Paula não afastou a mão. Como Lucas mencionou, se perder na multidão era uma possibilidade real, e aquela era sua última chance.
“Paula, vem por aqui.”
Ele a levou até um vendedor de rua onde algumas jovens já estavam reunidas, examinando os produtos. Os enfeites coloridos e ornamentados espalhados sobre um pano no chão chamaram a atenção de Paula. Eram todos lindos.
Enquanto Paula admirava os acessórios, Lucas pegou um adorno de cabelo decorado com uma grande flor central, ladeada por duas menores e rodeada por delicadas vinhas. Ele o colocou suavemente nos cabelos de Paula.
“Ficou lindo.”
“Oh, obrigada”, Paula respondeu, tocando o enfeite em seu cabelo. O vendedor, percebendo que foi uma boa escolha, ofereceu um desconto. Lucas imediatamente começou a procurar dinheiro no bolso do casaco, mas Paula rapidamente o impediu.
“Considere um presente.”
“Só de ver já é o suficiente.”
“Eu quero te dar isso.”
“Está tudo bem, de verdade. Você não está com fome?”
Quando Paula desviou sutilmente o assunto, Lucas estreitou os olhos, demonstrando uma leve insatisfação, mas acabou ignorando e apontou para um restaurante ali perto. Pressionado por Paula a comer porque estava com fome, Lucas suspirou e, por fim, tirou a mão do bolso do casaco.
“Aquele lugar não é tão bom quanto aquele ali.”
“Então vamos para lá.”
Paula rapidamente retirou o enfeite do cabelo e o empurrou levemente para seguir adiante.
O restaurante para onde Lucas a levou era grande e movimentado, claramente um local popular. Ele conseguiu uma mesa com facilidade e fez o pedido.
Logo, uma montanha de comida chegou, enchendo a mesa por completo. Paula ficou surpresa com a quantidade e se perguntou quem poderia comer tudo aquilo. Para ela, tudo era novidade.
Ela pegou o prato de peixe mais próximo e ficou encantada ao sentir o sabor se dissolver em sua boca—era delicioso. Em seguida, provou um prato de carne e achou igualmente saboroso.
Enquanto comia rapidamente, sentiu-se completamente satisfeita—quase ao ponto de explodir. Apesar da sensação de estômago cheio, lamentou a comida que sobrou e desejou poder levar as sobras para a mansão.
“Você gostou?”
“Sim, muito,” Paula respondeu, a voz levemente tensa pela quantidade de comida.
O banquete a deixou tão cheia que caminhar se tornou um desafio.
“Tem algum lugar que você queira ir?”
“Hmm. Só quero explorar um pouco a vila.”
“Certo. Vamos passear.”
Lucas segurou a mão de Paula mais uma vez, e dessa vez, ela apertou a dele com firmeza. Ele sorriu, satisfeito, e a guiou pelas ruas movimentadas.
Eles percorreram a vila de mãos dadas. O lugar era ainda maior e mais fascinante do que Paula imaginava. Enquanto exploravam, ela se distraiu algumas vezes ao comprar petiscos dos vendedores ambulantes e, em um momento, acabou entrando sem querer em uma área estranha, tendo que sair rapidamente. Cansada de tanto andar e com as pernas doendo, até se sentou no chão por um instante para descansar.
Apesar desses pequenos contratempos, continuaram rindo e aproveitando a companhia um do outro. Os desafios do dia se tornaram parte da aventura. Paula decidiu afastar os pensamentos complicados e se obrigou a focar na alegria do momento. Ela não queria que sua tristeza crescente ofuscasse aquele tempo juntos.
Era uma fuga passageira.
Enquanto vagavam sem pressa, o sol começou a se pôr rapidamente. Os pensamentos de Paula se voltaram para Vincent, que logo precisaria de seu jantar. Era hora de voltar para a mansão.
Paula olhou para Lucas enquanto ambos observavam o pôr do sol. O brilho escarlate tingia seu rosto e, quando ele sentiu seu olhar, se virou e sorriu para ela. Mas talvez por causa da luz suave do entardecer, havia um toque sutil de melancolia em seu sorriso.
Eles voltaram à mansão antes que o sol desaparecesse por completo.
“Paula, eu me diverti muito hoje.”
“Eu também.”
Seu sorriso foi genuíno. Ultimamente, vinha se sentindo desanimada, e aquele passeio lhe trouxe um conforto inesperado. Ainda assim, um leve arrependimento permaneceu, pois, com a partida de Lucas, a mansão ficaria ainda mais silenciosa.
“Preciso preparar o jantar para o mestre, então vou entrar primeiro.”
Dizendo isso, acelerou o passo em direção à mansão, imaginando se Vincent estaria esperando por ela.
“Paula.”
No instante em que Lucas chamou por ela, Paula se virou e o viu parado ali, observando-a. A luz do entardecer projetava sombras sobre seu rosto, tornando difícil ver sua expressão com clareza.
“Senhor Lucas?”
“Paula, sabe…”
“Sim?”
Ele hesitou, parecendo incerto. Paula se perguntou o que ele queria dizer. Esperou pacientemente enquanto ele continuava.
“Eu nunca vou esquecer este momento.”
Sua voz trazia um leve tom divertido. Mesmo sem conseguir ver seu rosto direito, Paula imaginou que ele estivesse sorrindo. Era uma frase simples, mas se tivesse outra chance, adoraria sair assim de novo. Queria que da próxima vez Vincent, Ethan e Violet também estivessem juntos. Só de imaginar isso, sorriu.
“Eu também.”
Com essas palavras, virou-se e entrou na mansão.
Assim que entrou, ela concentrou-se em preparar a refeição de Vincent. Sem nem trocar de roupa, apressou-se em levar a comida para ele, mas Vincent recusou, dizendo que não tinha apetite.
“Só uma mordida.”
“Eu realmente não estou com fome.”
“Mesmo assim…”
“Saia. Quero dormir.”
Apesar de ter passado o dia todo dormindo, Vincent foi inflexível. Paula tentou convencê-lo a comer pelo menos um pouco, mas ele permaneceu firme. Virou-se para a parede, encolhendo-se e fechando os olhos. Paula se arrependeu de não ter trazido um pouco da comida deliciosa da vila.
Entendendo sua condição, ela não insistiu. Apenas deixou a refeição na mesa de cabeceira e disse para ele comer caso sentisse fome mais tarde, então saiu do quarto em silêncio.
Ela suspirou, foi até seu quarto para trocar de roupa e ajeitar o cabelo bagunçado. Quando saiu novamente para o corredor, já estava escuro lá fora.
Olhando pela janela, não viu sinal de Lucas. Presumiu que ele já estivesse em seu quarto, mas decidiu verificar lá fora só para ter certeza. Preocupada que ele pudesse estar com fome, resolveu descer até o quarto dele.
Ela bateu na porta, mas não obteve resposta.
Ela bateu novamente, dessa vez mais forte, mas ainda assim, nenhum som veio de dentro.
“Senhor Lucas? Vou abrir a porta.”
Ainda assim, silêncio.
Ao abrir a porta, Paula encontrou o quarto vazio. Não havia sinal de que ele estivera ali recentemente. Confusa, olhou pelo corredor mais uma vez, mas ele não estava em lugar nenhum.
Será que ele já tinha partido? Os pertences dele ainda estavam lá. Para ter certeza, ela verificou outros lugares onde ele poderia estar, mas Lucas parecia ter desaparecido.