O Ponto de Vista do Vilão

Capítulo 459

O Ponto de Vista do Vilão

Viver toda a sua vida seguindo um destino escrito por outra pessoa...

Eu estava familiarizado com a ideia... e a odiava mais do que tudo.

"Esse destino é algo que o Senhor da Luz estabeleceu para você?"

"Exatamente."

Uriel assentiu. Nesse momento, comecei a perceber que não era o único cuja sorte era manipulada pelos seres superiores.

Na verdade, não era só o Uriel. Até Snow... e a maior parte da igreja, que seguia o Senhor da Luz.

Os Ultras que seguiam os caprichos dos demônios.

O Engenheiro, que brincava comigo—e com tantos outros.

Quando pensava assim, víamos nós mesmos como peças de xadrez em um tabuleiro gigante, movidas ao sabor daqueles jogadores acima.

Pensando dessa forma... não consegui evitar uma sensação de sufocamento.

Essa vida era como uma gaiola de vidro, que nos aprisionava todos lá dentro.

E o Uriel era um dos presos.

"Vejo que você odeia isso..."

"Claro que odeio. Esse tal destino que você segue cega pode muito bem te levar direto para a sua sepultura."

E agora, lá estava ela... prestes a marchar conosco na linha de frente da guerra.

Era uma sentença de morte escrita no céu... E tudo porque ela foi escolhida por aquela entidade miserável, o chamado Senhor da Luz, reverenciado e adorado aqui como um deus.

Uriel não merecia um destino assim.

De jeito nenhum.

"Me diga..."

Sem aviso, Uriel segurou minha mão e perguntou,

"Você ficaria triste se eu morresse, Frey?"

A pergunta dela era estranha... infantil... e maldita, ao ponto de eu sentir que aquilo realmente poderia acontecer.

"Sim... Eu até choraria por você, se chegasse a isso."

"Sério? Não imaginei que fosse se preocupar tanto comigo."

Uriel sorriu, usando aquele sorriso cortês, treinado, que mostrava para a maioria das pessoas.

Mas, por algum motivo, vi algo diferente nos olhos dela.

"Você se lembra, Frey, da promessa que fez para mim naquele dia?"

Ela falou das inúmeras vezes em que me salvou antes, puxando minha bunda de situações de vida ou morte mais vezes do que podia contar.

"Lembro. Prometi que faria qualquer coisa que você pedisse. Não importava o que fosse."

"Entendo... então você estava falando sério."

Por alguns segundos, um silêncio caiu entre nós enquanto ela apertava sua mão na minha.

Algo a incomodava.

Ela não agia como ela mesma.

Ela queria dizer algo, mas hesitava.

E então, dei o último empurrão que ela precisava.

Segurando sua mão, aproximei-me, fazendo o momento entre nós parecer estranho para quem estivesse observando de longe.

"Mesmo que seu deus te conduza por um caminho até a sua morte, saiba disso... eu não vou deixar que aconteça."

"Onde quer que você esteja neste mundo, eu vou correr atrás de você. Eu vou te encontrar. E lutarei contra o mundo inteiro se for preciso. Então, não hesite. Diga seu desejo, e eu farei acontecer... não importa o que seja."

Por um momento, Uriel ficou surpresa, exibindo uma expressão que raramente mostrava a alguém. Depois, ela riu suavemente.

"Você virou um ótimo tagarela, Frey. Você realmente cresceu durante o tempo em que estivemos separados..."

Com a cabeça baixa, ela já não conseguia olhar nos meus olhos... não quando estávamos tão próximos.

"Você se tornou... um homem maravilhoso."

Suas últimas palavras saíram leves, seguidas diretamente do seu pedido, sem me dar oportunidade de responder.

Em vez disso, me vi diante de um pedido que nunca esperei dela.

"Frey... só uma vez, só uma na minha vida, quero que você venha por mim."

"Quando chegar a hora, quero que me salve, só uma vez. Sei que estou sendo egoísta agora... mas, por favor, prometaa mim."

"Prometa, Frey... prometaa que virá por mim."

Finalmente, Uriel fez seu pedido...

Depois de me salvar tantas vezes sem jamais pedir algo em troca,

agora era a minha vez de salvá-la.

Mas esse pedido...

Não era algo que eu esperava dela.

E, por algum motivo...

não parecia que ela estava falando dos Ultras ou da guerra que se aproxima.

Ela queria que eu a salvasse... mas de quê?

hesitei por um momento, perguntando-me se era certo prometer algo que talvez não pudesse cumprir.

Mas essa era a Uriel... alguém por quem eu estava disposto a fazer qualquer coisa.

"Eu prometo. Estarei com você... não só uma vez, mas quantas forem necessárias. Então, pode ser um pouco egoísta."

Ela merecia isso.

Mesmo que ela pedisse a coisa mais louca e impossível...

Eu nunca a chamaria de egoísta.

Ao ouvir a resposta que ela desejava, vi a felicidade iluminar seu rosto, mesmo que por um breve momento, enquanto ela se agarrava a mim sem perceber.

"Frey..."

Com um olhar cheio de emoções que eu mal conseguia definir, ela me encarou, apertando sua mão ainda mais.

Mas então, naquele momento, algo estranho aconteceu.

Algo que só a Uriel experimentou.

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Dentro do salão real onde aconteceu a Cúpula de Belgrado, Frey e Uriel estavam de mãos dadas, tão próximos que pareciam prestes a se abraçar.

Ela estava verdadeiramente feliz naquele momento... ela tinha acabado de ouvir as palavras que tanto desejava.

Mas, naquele instante, de pura emoção, onde seu afeto tinha crescido e atingido níveis nunca antes vistos...

Algo estranho aconteceu.

De entre suas mãos entrelaçadas, uma faísca violeta surgiu de repente.

Ela passou por Frey e atingiu a candidata a santa, causando nela uma onda de náusea que a fez cambalear. Frey imediatamente a segurou antes que ela caísse.

Uriel não conseguiu entender o que via.

O Frey que estava diante dela era exatamente o mesmo...

Seu cabelo branco, agora mais longo, e seus traços que começavam a amadurecer no rosto.

E aquela aura misteriosa ao redor dele...

Era atraente para ela.

Era o que ela via por um instante breve, mas, no próximo...

A realidade virou de cabeça para baixo, e a cena diante de seus olhos mudou completamente.

Agora, ela estava no meio de chamas ardentes e cadáveres espalhados.

Ela ainda estava lá... com Frey.

O lugar era aterrorizante.

Destruição era a única palavra para descrevê-lo.

No coração do caos, Uriel viu incontáveis rostos mortos espalhados pelo campo de batalha.

Mas um cadáver em particular chamou sua atenção.

E o que ela viu a congelou de terror.

A menina morta ali...

Era ela mesma.

O corpo de Uriel, brutalmente massacrado.

Recouu com medo, tentando escapar, agarrando-se à sua única esperança naquele pesadelo.

"Frey..."

Ela segurou sua mão mais uma vez... mas não era mais a mão quente de antes.

Estava fria.

Fria, sem vida... e cruel.

Uma mão manchada de sangue.

Quando levantou os olhos para ele...

Ela percebeu o erro que havia cometido.

Este não era o Frey que ela conhecia.

Usando uma máscara negra estranha e vestindo uma armadura preta como a noite, segurando uma espada que ela nunca tinha visto antes...

Frey estava ensanguentado...

Com seu sangue.

E o sangue de todos os mortos ao redor dele.

"Está tudo bem, Uriel,"

Ele falou calmamente.

Fria.

Com uma voz que ela nunca tinha ouvido antes vindo dele.

"Isso é só um pesadelo."

Com um toque, ele a trouxe de volta à realidade.

"Apenas um sonho ruim."

Enquanto suas palavras ecoavam em seus ouvidos...

Uriel se viu de volta ao salão real, encarando o Frey que amava.

Mas, nos olhos escuros dele...

Ela viu sua sombra.

E, instintivamente, deu um passo para trás...

Sustentada por um sentimento que nunca imaginou sentir por ele.

Medo.