O Ponto de Vista do Vilão

Capítulo 429

O Ponto de Vista do Vilão

Capítulo 429: Mais segredos (3)

— Visão de Frey Starlight —

Depois que a noite caiu, me encontrei parado ali como um idiota, encarando o Engenheiro.

Aquele maldito ainda expandia a seita, construindo-a cada vez maior a cada instante.

Eu achava que ele iria desaparecer no momento em que eu acordasse, mas mais uma vez ele quebrou minhas expectativas.

Desde o dia em que reencarnei como Frey Starlight, esse foi o tempo mais longo que passei com aquele Engenheiro amaldito.

Ainda assim, ele não me dava muita atenção. Simplesmente continuava construindo a seita com um poder estranho que eu mal conseguia compreender.

"O que você está tentando criar aqui?"

Perguntei sem nem pensar.

O Engenheiro, ciente da minha presença, respondeu calmamente.

"É pelo futuro."

O futuro...

Encarando suas costas, percebi então... aqueles olhos azuis dele estavam jogando algum tipo de jogo comigo novamente.

Normalmente, era preciso passar pelo próprio inferno só para conseguir uma resposta dele após sofrimentos intermináveis.

Mas aqui ele estava, respondendo às minhas perguntas do nada.

Claro que ainda havia coisas que ele se recusava a dizer. E mesmo quando o fazia, não tinha como ter certeza se o que ele dizia era a verdade.

Afinal, ele poderia mentir a qualquer momento se isso servisse aos seus próprios interesses.

Ainda assim, decidi deixar minhas emoções de lado por ora e extrair o máximo de informações possível dele.

"Você realmente conhece o futuro?"

Essa era uma pergunta que me assombrava há algum tempo. Eu nunca conseguia escapar do domínio do Engenheiro por causa daquela habilidade amaldita dele... de prever tudo o que eu sabia.

"Isso mesmo," confirmou o Engenheiro.

"É por isso que mostrou partes dele para minha irmã Ada? E para outros também?"

O Engenheiro assentiu novamente.

"Também é verdade."

"Por que você está fazendo isso?"

"Para criar o futuro que desejo."

"E que tipo de futuro é esse?"

"Não vou responder."

Outro beco sem saída.

Sentei-me no chão, perdido em pensamentos, procurando a próxima boa pergunta.

Então, após um breve silêncio, simplesmente soltei a pergunta que estava pesando na minha mente.

"O que eu sou para você? Sou apenas um recipiente para o rei que você serve? É esse o seu objetivo? Ressuscitar o tal rei?"

Ao ouvir isso, o Engenheiro virou levemente a cabeça, fixando os olhos em mim por um segundo... depois virou-se de costas.

"Não vou responder."

Mais um obstáculo.

A frustração crescia dentro de mim, mas eu sabia. Sabia que não podia forçá-lo a revelar algo que não queria.

O Engenheiro era uma criatura astuta que nunca fazia nada sem que fosse para atender aos seus próprios interesses egoístas.

Sua aparição agora, permitindo que eu fizesse essas perguntas, provavelmente fazia parte de sua preparação para algum evento futuro.

Ele sabia que eu não resistiria à oportunidade de desvendar um pouco mais do mistério que o cercava... e usava isso contra mim, como sempre.

Então, decidi usá-lo também, na medida do possível.

"Você disse antes que salvar o Danzo tem varias possibilidades de respostas. O que você quis dizer com isso?"

Reorientei a conversa de volta ao meu amigo, que ainda estava à beira da morte. Ele era a razão de eu ter vindo aqui em primeiro lugar.

Desta vez, o Engenheiro me deu uma resposta.

"Uma Semente do Diabo completa é como um objeto amaldito que se funde ao corpo do seu hospedeiro. Para lidar com algo assim, você precisará de habilidades muito além da compreensão humana... algo que pode ser obtido de várias fontes."

Já sabia disso tudo.

"É por essas habilidades que eu planejava deixar este planeta. Os humanos simplesmente não são capazes de alcançá-las."

Enquanto olhava suas costas, algo clickou na minha cabeça.

"Você não vai me deixar sair, vai?"

"Exatamente," respondeu calmamente.

Minha expressão escureceu.

Então é por isso que ele estava aqui.

Naquele momento, lembrei do obstáculo que o conselho direto do sistema sempre me alertava.

Talvez, desta vez, o obstáculo... fosse o próprio Engenheiro.

Ele virou-se mais uma vez na minha direção.

"Não há necessidade de você sair. O conhecimento que busca já está ao seu alcance."

Eu sabia exatamente o que ele quis dizer com isso.

Lentamente, estendi minha mão, e uma máscara metálica negra apareceu na minha palma.

A Máscara Sem Nome, com suas órbitas vazias de olhos encarando-me como os olhos de uma hawk.

"Que tipo de truque você está tentando fazer agora?"

Eu tinha evitado usar essa máscara, parcialmente por medo da vontade que uma vez tomou o controle de mim...

E parcialmente porque não conseguia compreender o que havia dentro dela.

Ainda me lembro do que aconteceu quando a usei em Londor... a enxurrada de informações que destruiu minha mente na época.

Conhecimento tão vasto quanto o próprio universo.

Eu teria morrido naquele instante se ele não tivesse intervindo, removendo forçadamente a máscara de mim.

Mas ele apenas balançou a cabeça.

"Você não sofrerá mal algum se a colocar agora. Seu corpo já se adaptou a ela. Embora... quanto de conhecimento você obterá dependerá inteiramente de você."

"Que diabos você quer dizer? Explique-se, porra!"

Perguntei novamente, a impaciência crescendo na minha voz, ainda inseguro com a máscara Sem Nome.

Desta vez, o Engenheiro continuou, satisfazendo minha curiosidade pela primeira vez.

"Adaptação Sombria."

Ele falou o nome da minha habilidade mais forte, elucidando algo que nem tinha pensado em perguntar até então.

Queria indaga-lo sobre a origem desse poder avassalador, mas ele começou a falar sozinho, sem dar espaço para interrupções.

"Neste vasto universo, há leis misteriosas que o regem... leis como causalidade, inevitabilidade, vida e morte, caos... e muitas outras. Você nem percebe a existência delas até atingir um certo nível de poder e compreensão. Mas há habilidades especiais que transcendem essas leis. São poderes que quebram as leis fundamentais do mundo."

Continuando sua explicação, o Engenheiro aprofundou-se.

"Habilidades como minha previsão do futuro. O futuro que vejo é absoluto, inevitável. Isso é a inevitabilidade. Depois, há outras habilidades, como a que seu amigo possui... o Último Sobrevivente."

"Aquela ali molda as causas e efeitos da própria realidade, criando pontos de virada agudos que garantem a sua sobrevivência a qualquer custo. Essa é a causalidade. Habilidades nesse nível não surgem do nada. São herdadas, concedidas ou criadas pelo próprio indivíduo."

Ao ouvi-lo, meu cérebro começou a se expandir involuntariamente.

Claro que eu já tinha conhecimento da existência dessas leis, embora meu entendimento fosse ainda vago — esse reino de poder era algo muito além do que eu poderia compreender plenamente.

E quanto à habilidade do Amanhecer, também tinha consciência dela. Cheguei a escrever sobre isso antes.

Foi concedida a ele por...

Naquele instante, prestes a pronunciar o nome...

Uma onda aguda de dor atravessou meu crânio, forçando-me a agarrar a cabeça com dor, enquanto meus olhos se arregalavam de choque.

’Quem deu essa habilidade ao Dawn?’

Questionei a mim mesmo, incapaz de lembrar a resposta, por mais que me esforçasse.

Eu sabia que tinha sabido disso antes.

Tinha certeza de que sabia, poucos segundos atrás... mas agora, por mais que procurasse na minha mente, não conseguia achar — quanto mais tentava, pior ficava a dor.

"O que diabos está acontecendo?!"

gritei inconscientemente enquanto a enxaqueca destruía minha mente. Sentia como se estivesse a um suspiro de ver o rosto daquele ser, quem quer que fosse... mas toda vez que chegava mais perto de lembrar, uma névoa estranha cobria a imagem, escondendo suas feições por trás de um sorriso misterioso.

"Esquece," falou o Engenheiro, com voz baixa, um medo incomum na tonalidade. "Essa é uma das habilidades dele. Quando você o esquecer, irá se lembrar. E quando tentar se lembrar, esquecerá. Uma criatura imunda, como sempre."

Ele falava de alguém.

Alguém assustador o suficiente para deixá-lo nervoso.

Mas não era Agaroth.

Eu conhecia demais as habilidades do Rei Demônio.

Mesmo possuindo mais habilidades quebrafim de leis do que qualquer outro, aquilo não era uma delas.

E isso me levou a perguntar:

"Quem é esse ser?"

Quem deu a Dawn o Último Sobrevivente?

Naquele momento, os olhos do Engenheiro brilharem, ele abriu a boca mais uma vez.

"Não vou responder."

Com essas palavras, percebi que a névoa ao redor do rosto daquela pessoa permaneceria por um longo, longo tempo.