O Ponto de Vista do Vilão

Capítulo 415

O Ponto de Vista do Vilão

Capítulo 415: Um Verdadeiro Demônio (1)

- Ponto de vista de Sansa Valerion -

No começo, havia apenas sangue.

Quão tola eu fui ao pensar que tinha vencido a Adriana tão facilmente.

Era risível como ela usou minha própria estratégia contra mim, explorando o momento em que abaixei a guarda, acreditando ingenuamente que já havia conquistado a vitória.

Seu ataque foi preciso... devastadoramente preciso. Não tinha nada que eu pudesse fazer para impedi-lo.

Meu coração foi destruído, junto a vários outros órgãos vitais.

Como consequência, perdi uma quantidade enorme de sangue e minha consciência foi lançada na escuridão.

Para ser honesta, realmente acreditei que era o fim. Nenhum humano poderia sobreviver a tamanha destruição.

Mas por alguma razão, enquanto lentamente afundava naquela escuridão, pude sentir que os fios que me ligavam à vida ainda não haviam sido rompidos.

Quanto mais mergulhava no inconsciente, mais a escuridão parecia um líquido viscoso rastejando sobre minha pele, agarrando-se desesperadamente a mim.

Talvez estivesse tendo alucinações... vivendo meus momentos finais antes de ser arrastada para outro lugar pelas mãos da morte.

Não tinha muitos arrependimentos. Era apenas uma garota humana que deveria ter morrido faz tempo, sobrevivendo somente graças aos esforços de outros.

Até então, pensei que precisava viver para honrar seus sacrifícios...

Tio Oliver, e Frey...

Mas eu perdi. Fui derrotada pela Adriana.

Foi patético, mas entreguei tudo o que tinha naquela batalha.

Repliquei a postura defensiva de Seris, usei as sombras mesmo que elas se recusassem a obedecer totalmente ao meu comando, e elaborei a estratégia mais perfeita que minha mente conseguiu conceber.

Ainda assim, a morte era o desfecho final que me aguardava.

Se ao menos eu pudesse manejar meu poder como aquele demônio fazia, teria derrotado Adriana facilmente.

Vi do que aquelas sombras eram capazes quando lutei contra Frey e Oliver naquele dia. Testemunhei seu poder esmagador.

Mas, por mais que tentasse, não conseguia reproduzi-lo. E, por isso, minha vida acabou aqui, na escuridão.

Mas enquanto flutuava pacificamente nesse lugar, uma sensação amarga me dizia que eu não estava sozinha.

Quando abri os olhos, a princípio, não consegui enxergar nada.

Mas logo me adaptei à escuridão, e comecei a enxergar através de suas profundezas.

Aqui, nesse mar de sombras, apesar do aura pegajosa que grudava na minha pele, senti-me em paz, finalmente descansando.

Era como se tivesse retornado ao meu verdadeiro lugar.

Se a morte fosse tão tranquila e suave assim, talvez eu não me importasse de morrer desse jeito.

Permaneeci ali por o que pareceu uma eternidade, perdendo toda noção do tempo.

Mas enquanto permanecia naquele lugar, as sombras começaram a se enrolar mais firmemente ao redor de mim, como se estivessem brincando com minha alma, mantendo-me presa.

E quando a pressão atingiu o auge...

Finalmente o vi.

Na verdade, ele esteve flutuando ali o tempo todo, mas por algum motivo, eu não percebi.

O lugar era tão escuro que não consegui distinguir suas feições, mas os longos chifres que adornavam sua cabeça como uma coroa eram inconfundíveis, deixando-me com uma única conclusão.

"Um demônio..."

Quando nossos olhos se encontraram, não pude deixar de lembrar da entidade que um dia tomou conta do meu corpo.

Minha expressão escureceu instintivamente.

’Ele vai tomar meu corpo de novo?’

Como se tivesse lido meus pensamentos, o demônio explodiu numa risada, seu corpo tremendo de divertimento.

"Não, eu não vou dominar seu corpo."

Sua voz era aterrorizante, áspera e profunda—exatamente como imaginei que a voz de um demônio fosse.

Mas, mais importante... ele havia lido meus pensamentos.

"O que vai acontecer comigo agora?"

Não tinha escolha senão perguntar. Não podia fazer mais nada naquele lugar.

Estava completamente à mercê dele.

Mas o demônio simplesmente balançou a cabeça.

"Eu poderia responder, mas há algo importante que você precisa compreender primeiro."

Ele fez uma pausa por um momento de silêncio.

Então, seus olhos violetas brilharam enquanto sorria.

"Neste lugar escuro, há apenas um demônio, e esse demônio é você, Sansa Valerion."

Ao ouvir isso...

Tudo o que consegui fazer foi olhar para ele, incapaz de processar o que tinha acabado de ouvir.

"Não me olhe assim. Eu não sou um demônio de verdade. Sou apenas um fragmento da sua mente... Kikikiki, você é realmente insana, Sansa Valerion."

"Que diabo você está dizendo?"

Franzi a testa e, instintivamente, afastei-me daquela criatura repulsiva.

"Você é a mesma entidade que tentou tomar conta do meu corpo uma vez, e agora afirma que é apenas uma sombra da minha imaginação? Quem você acha que está enganando?"

Não acreditava em uma palavra do que essa coisa dizia. E, mais uma vez, como se tivesse lido meus pensamentos...

O demônio suspirou, irritado...

"Não existe isso, Sansa. A vontade dentro da Semente do Demônio foi destruída há muito tempo por Frey Starlight."

Circulando ao meu redor, o demônio falou com o mesmo sorriso inquietante.

"Mas, mesmo que ele tenha eliminado a vontade presa dentro da Semente, não conseguiu destruir a própria Semente. Essa Semente guarda um fragmento de um poder muito maior. Uma luz sagrada tão pitiful que não é suficiente para apagá-la."

Embora a Semente do Demônio dentro de mim fosse apenas um protótipo fracassado...

Isso não mudava o fato de ainda conter um fragmento do poder sombrio do Rei.

"A Semente permaneceu dentro de você, permitindo que continue usando seus poderes. Mas seu lado humano... sua humanidade estava impedindo que esse poder se manifestasse plenamente."

Com um sorriso largo, o demônio olhou para meu corpo como se eu fosse uma anomalia rara, esperando para ser estudada.

"Meu lado humano bloqueou meu poder?" Questionei, tentando entender suas palavras, e ele acenou com a cabeça.

"Exatamente. Por isso você não conseguiu usar suas habilidades adequadamente."

Sem que eu percebesse, uma guerra havia se travado dentro de mim o tempo todo... entre meu lado humano, tudo que me fazia quem eu sou, e a Semente demoníaca que tinha se enraizado fundo dentro de mim.

Em outras palavras, enquanto eu permanecesse humana, nunca conseguiria controlar esse poder.

Confirmando meus pensamentos, o demônio assentiu com um sorriso.

"Mas esse lado humano... agora está morto."

Apontando para a dura verdade, uma revelação repentina me atingiu.

"O que você quer dizer?"

Estou morta? Viva? Ou algo entre os dois?

O que exatamente aconteceu comigo?

O demônio cruzou os braços, demorando um instante antes de responder.

"A Sansa humana está morta. Não há dúvidas disso."

"Então o que sou eu?!"

Com uma longa pausa, claramente irritado por ter que explicar mais, aquela coisa finalmente me respondeu.

"Seu lado humano morreu no instante em que seu coração foi destruído. Mas, ao invés do coração, outro órgão dentro do seu corpo assumiu a tarefa de mantê-la viva, mudando toda a estrutura do seu corpo nesse processo. Você sabe do que estou falando, não sabe?"

Com aquele sorriso estranho, ele perguntou... e eu percebi imediatamente o que ele queria dizer.

"A Semente do Demônio..."

"Exatamente."

Ele indicou para o mar de sombras onde estávamos flotando.

"A Semente virou seu novo coração, entrelaçando seus fios por todo o seu corpo e reconstruindo-o do zero. Agora, você é algo totalmente diferente, capaz de manipular o poder selado dentro dela."

"Seu sangue não será mais vermelho... será preto e corrompido. Seu corpo não permanecerá como era. Você se tornará algo completamente diferente. Algo que você odeia. Em outras palavras... um demônio."

Apontando seu dedo fino para mim, ele repetiu:

"Você é o único demônio aqui, Sansa Valerion."

"Um demônio completo. Uma criatura que se alimenta de vida, um ser perverso que se delicia em matar, torturar e destruir. É isso que você se tornará."

Ao ouvir essas palavras...

Senti meu corpo tremer a cada sílaba que ele pronunciava. Mas já não havia batimentos no meu peito, confirmando o que mais temia.

A Sansa humana estava morta.

Agora, tudo que restava era o demônio.

Não conseguia aceitar essa verdade. Mas, de alguma forma...

No fundo, sabia que tudo que ele disse era verdade.

Mesmo enquanto conversávamos naquele lugar escuro, podia sentir aquela substância negra fluindo pelo meu corpo.

Eu tinha que aceitar a verdade.

Que meu lado humano já havia morrido.

E isso me levou a fazer a pergunta que escapou dos meus lábios sem pensar:

"O que vai acontecer comigo agora?"

Ao que o demônio deu de ombros.

"Eu não sei. Como disse antes... Frey Starlight de alguma forma matou a vontade dentro da Semente, e a Sansa humana morreu naquela batalha... mas aqui você está, conversando comigo. Talvez seja um bom sinal. Talvez signifique que você será a próxima a controlar."

Era impossível saber o que o futuro reservava. Mas uma coisa era clara:

"Seja você ou o demônio, quem despertar nesse corpo não será mais a mesma pessoa. Sansa Valerion morreu. O que permanecerá será apenas um fragmento dela... movido por um desejo violento de matar e destruir."

Isso era viver como um demônio.

Uma criatura maligna nascida unicamente para trazer morte e destruição onde quer que fosse.

Diferentemente dos híbridos humanos aliados aos Ultras...

Eu me tornaria um demônio completo.

Sem mais vínculos com a humanidade de nenhuma forma.

Reconhecendo tudo aquilo, tremi de medo ao tentar imaginar o que viria a seguir.

Com medo de que minhas mãos cometessem atrocidades além da redenção.

Eu temia mais a vida do que a morte.

E então, naquele momento...

Como se estivesse me zombando...

A corrente das trevas me arrastou embora, sinalizando que era hora de encerrar o ciclo da humana que tropeçou nas sombras de sua vida...

E dar lugar ao demônio destinado a caminhar por uma realidade mais sombria do que a própria escuridão.

Assim, fui levada embora da realidade, enquanto aquele demônio ria até o fim.