O Ponto de Vista do Vilão

Capítulo 1

O Ponto de Vista do Vilão

Entre Dois Mundos

"Dizem que a gente nunca aprecia de verdade algo até perdê-lo."

– Setembro de 2026 –

Snow escapou por pouco de um golpe letal que teria acabado com sua vida, graças aos seus reflexos rápidos...

"Não. Isso não está funcionando."

A batalha havia levado ambos os lutadores ao limite. Cada defesa, cada ataque, gritava desespero—uma fome mútua para acabar com aquilo.

"…E isso também não está funcionando."


O cansaço finalmente me dominou.

Eu me joguei de volta na cadeira do escritório, percebendo que tinha passado horas debruçado sobre a tela do computador. Nas últimas horas, qualquer um que passasse pelo meu quarto teria ouvido o tilintar furioso das teclas—as palavras jorraram de mim hoje com uma abundância incomum.

Essa imersão completa no mundo que minhas mãos teceram me fez perder toda a noção do tempo. Quando finalmente ressurfacei horas depois, percebi o quão tarde era—o brilho da tela agora servia como a única fonte de luz do quarto. Tirando o celular do bolso, verifiquei a hora: 2h00 da manhã.

"Bem. Isso saiu do controle."

Desligando o computador com um suspiro, desabei na cama. Rolei a tela. Toquei duas vezes sem pensar em absurdos—memes de gatos, teorias da conspiração, um tutorial sobre como dobrar guardanapos em cisnes. O sono me arrastou para baixo antes que eu pudesse pensar demais sobre isso.

Mas naquela névoa de olhos cansados, eu não notei a data.

Não percebi que hoje, de todos os dias, eu tinha entrado no meu vigésimo quinto ano.

...

Manhã Cedo

Como esperado, eu não consegui me arrastar para fora da cama sozinho—sem surpresas, considerando o quão tarde eu fiquei acordado.

Felizmente, eu nunca precisei de um despertador.

Um leve balanço me despertou, a voz da minha mãe cortando a névoa:

"Acorda! Você vai se atrasar para o trabalho. Ficou acordado escrevendo aquele romance de novo? Já te falei mil vezes para não perder a noção do tempo quando você faz isso!"

Eu me arrastei para cima, as palavras dela entrando por um ouvido e saindo pelo outro. Meus olhos mal tinham se aberto, mas ela já tinha lançado sua sinfonia matinal de reclamações.

Mas eu não me importava. Verdade seja dita, eu poderia ter colocado uma dúzia de alarmes. Eu só… gostava mais assim. Um homem adulto, com 25 anos, ainda precisando da mãe para acordá-lo—patético, né? Mas quem se importa com o que os outros pensam?

"Bom dia," eu resmunguei.

Ela ainda estava dando sermão enquanto eu cambaleava em direção ao banheiro, a voz dela me perseguindo pelo corredor. *Anda, anda!* Então eu me apressei.

Dois anos desde a formatura. Um ano exaustivo de procura por emprego. Agora aqui estava eu: empregado, "adulto", um novato no ninho corporativo. Tecnicamente ainda um novato, no entanto—sem espaço para erros.

Pós-banho, eu montei de forma descuidada minha roupa mais "fashion" (uma batalha perdida) e me juntei ao meu pai no café da manhã.

Nós nos dávamos bem… sem esforço. Por que não nos daríamos? O filho mais velho dele tinha marcado todas as caixas: diploma, emprego, independência. Aos olhos dele, ele não tinha pedido nada mais.

O clima permaneceu bom mesmo quando meus irmãos entraram—estudantes ainda se esforçando na academia.

Depois de provocá-los um pouco, nós entramos no carro. Meu pai dirigiu para todos nós, embora desta vez, eu sentei no banco de trás com meus irmãos—mamãe tinha insistido em vir junto.

Eu não me importava com o caos familiar. Depois de anos estudando longe de casa, eu ansiava por esses momentos.

Verdade seja dita, eu poderia me mudar a qualquer momento. Eu tinha os meios. Mas quem em sã consciência iria querer? Eu não. Eu saborearia esses dias com eles enquanto eu ainda pudesse.

"Eu amo minha vida," eu murmurei baixinho.

Uma família feliz. Um emprego estável. Amigos entrelaçados em décadas de memórias. O que mais eu poderia querer? Se eu vivesse mil vidas, eu escolheria esta de novo. Era o ápice modesto das minhas ambições.

Enquanto o carro zumbia para frente, eu puxei meu laptop da minha bolsa, com a intenção de revisar o trabalho da noite passada.

A cabeça do meu irmão mais novo girou instantaneamente sobre meu ombro.

"Você escreveu um novo capítulo?! O que aconteceu? O herói venceu? Ele usou a técnica do céu de luz?"

Eu abafei um gemido interno. Lá vamos nós.

Sorrindo, eu respondi à sua saraivada—uma rotina tão familiar quanto o nascer do sol. No espelho retrovisor, eu peguei o olhar divertido do meu pai.

"Seu irmão realmente ama seu romance."

Claro que ama. Por que mais ele me bombardearia com perguntas a cada atualização?

*"Ainda bem que meu maior fã é meu próprio irmãozinho,"* eu ri, bagunçando o cabelo dele antes de me concentrar novamente na tela.

"A terra da sobrevivência"

Um romance que eu tinha começado a rabiscar durante a faculdade—um hobby que se tornou um vício, uma válvula de escape para minhas ideias mais loucas.

Os leitores adoravam. Eu adorava escrevê-lo. Claro, a premissa era clássica: demônios invadindo o mundo humano.

Mas seu apelo estava na vida do herói em uma academia de magia—lutas de espadas, feitiçaria, relacionamentos complicados. Demônios! Magia! Drama escolar! Personagens carismáticos! Quem não devoraria isso? Até eu devorava escrevendo.

Mas permaneceu apenas um hobby. Por isso que, anos depois, ainda está inacabado. Os leitores reclamavam das minhas atualizações lentas, e com razão. Eu tinha começado há muito tempo, mas os capítulos pingavam como gotas raras.

Eu admito—me rendeu algum dinheiro decente. Mas não, eu não acorrentaria minha vida à escrita. Minhas palavras não eram infinitas, mas os leitores sempre ansiavam por mais.

Quer mais? Vá para o inferno.

Este romance vai terminar algum dia… mas não hoje.

Com esse pensamento, eu fechei o laptop.

Mas naquele momento, a paisagem que eu estava observando pela janela do carro desapareceu. Substituída por uma luz tão ofuscante que queimou minha visão—eu me inclinei para trás instintivamente, mas antes que meus olhos pudessem se ajustar, tudo escorregou para além das bordas da vista.

Sem tempo para respirar. Sem chance de fixar os rostos da minha família na minha mente. Apenas a escuridão sufocante, engolindo o mundo inteiro.

"Quando você acha que tudo está indo perfeitamente, o mundo decide te dar o dedo."


Setembro de 2326 (300 Anos Após a Catástrofe dos Portais)

Perdido no vazio da inconsciência, à deriva na escuridão...

Um murmúrio distante de passos se aproximava, seguido por uma voz suave chamando—

"Meu Lorde."

"Meu Lorde."

"Acorde... Meu Lorde."

"Q-que...?"

Minhas pálpebras se abriram, lutando para processar meus arredores. Antes que eu pudesse me orientar completamente, um raio de dor lancinante atravessou meu crânio. Eu agarrei minha cabeça, cerrando os dentes contra a agonia.

"Ugh... Que diabos está acontecendo?"

Eu murmurei com dificuldade, esperando uma resposta da mesma voz gentil.

"Lorde Starlight, você está bem?"

Eu instintivamente me virei em direção à fonte da voz e encontrei uma linda garota com cabelos pretos como azeviche e pele branca como porcelana, vestida com um uniforme de empregada diretamente dos animes que eu costumava assistir. Ela estava ali respeitosamente, como se aguardasse ordens, embora um indício de desdém tremeluzisse inequivocamente em seus olhos.

Eu lentamente examinei meus arredores e percebi que ela estava em pé longe devido à enorme cama em que eu estava deitado. Isso poderia sequer ser chamado de cama? Literalmente, eu poderia jogar futebol em cima dela.

O quarto era massivo—pisos de mármore branco com tênues reflexos de objetos, paredes imponentes e um teto adornado com iluminação moderna que contrastava fortemente com o resto da decoração.

"Quem projetou este lugar?" Parecia forçar um arquiteto do século XVII e um tech bro [1] do século XXI a colaborar. O resultado? Um sonho febril caótico de eras colidindo.

O quarto estava totalmente equipado com todo o conforto, repleto de móveis, e eu pude avistar uma escrivaninha em um canto.

"Onde... eu estou?"

Eu me lembro de estar no carro com minha família, indo para o trabalho, antes de... Ugh.

Outra onda de dor de cabeça me atingiu, a mesma dor que eu sentia desde que acordei.

*Enfim, eu preciso descobrir onde eu estou.*

Eu joguei as cobertas para o lado. Eu estava vestindo roupas de dormir simples pretas e cinzas sobre meu corpo nu.

"Espera... Meu corpo?"

Um rápido olhar para mim mesmo me congelou no lugar. "Este é sequer meu corpo?"

Pele branca pálida e um físico impecável sem nenhum traço de gordura. Eu não estava exatamente acima do peso antes, mas eu ainda tinha alguma gordura. O que eu vi agora estava a mundos de distância do meu corpo real.

De repente, a ansiedade se insinuou...

A empregada, ainda estátua no canto, não perdeu isso. Ela rapidamente se curvou e me examinou de perto.

"Meu lorde, você não está se sentindo bem? Você está agindo estranhamente desde que acordou..."

"Seu lorde...?" Eu pronunciei, incapaz de processar o que eu tinha acabado de ouvir.

"Onde eu estou? Alguma peça medieval?"

"Espera... Como você me chamou antes?"

De repente, uma terrível percepção amanheceu sobre mim, e uma onda de pavor varreu minhas veias.

Na minha pergunta, a empregada inclinou a cabeça. "Como eu te chamei? Você quer dizer 'Vossa Excelência'?"

"Não—*antes disso*!" Eu rastejei pela cama em direção a ela, diminuindo a distância.

Vendo minha intensidade, ela estremeceu, gaguejando: "P-perdoe-me, meu lorde. Talvez eu tenha errado em me dirigir a você. Imploro seu perdão—"

Antes que ela pudesse terminar, eu rugi: "Pare com o absurdo e me diga a porra do nome que você me chamou!"

Naquele momento, eu perdi todo o controle—consumido pelo pânico e dor lancinante. Alguma parte de mim *sabia* a verdade, mas eu me agarrei à negação... até que as palavras finais da empregada me atingiram como um raio.

Ela recuou, tremendo, e sussurrou,

"L-Lorde Starlight..."

"Starlight..."

"Starlight..."

Eu ecoei o nome, minha voz tremendo.

"Impossível..."

Isto é um sonho, certo?

Que tipo de piada de mau gosto é essa? Se for uma pegadinha, não tem graça...

Starlight—um nome que existia em apenas um lugar: A terra da sobrevivência, o romance que eu passei anos escrevendo.

Eu pulei da cama, exigindo que a empregada aterrorizada me mostrasse um espelho. Ela olhou para mim como se eu tivesse enlouquecido, mas gaguejou: "H-há um banheiro conjugado, meu lorde... além daquela porta."

Antes que ela terminasse, eu disparei para dentro. O banheiro era obscenamente luxuoso, algo adequado para a monarquia britânica. Mas eu não me importei. Eu corri para o espelho imponente—e congelei.

Meu pior medo me encarava de volta.

"Quem... é você?" Eu sussurrei, pressionando uma mão no vidro.

O reflexo era um estranho: cabelo preto como azeviche, impecavelmente estilizado apesar do meu colapso anterior; olhos grandes, de obsidiana; um rosto esculpido com perfeição desumana. Não o meu.

Náuseas se agitaram no meu estômago. A dor de cabeça rugiu de volta, mais forte—um liquidificador triturando meu crânio—enquanto uma voz fria e mecânica sibilava ao lado do meu ouvido:

[Sincronização iniciada.]

[Memória do usuário ajustada.]

[Frey Starlight.]

A frase final juntou as peças. Frey Starlight.

Não apenas qualquer personagem de "A terra da sobrevivência."

Mas o vilão mais difamado da história.

Aquele que morre em 101 de 100 finais.

Dessa forma, eu desmaiei completamente enquanto a última coisa que ouvi foi essa horrível verdade.

[1] - "Tech Bro" é uma gíria para um jovem homem que trabalha na indústria de tecnologia, geralmente com uma cultura corporativa específica e um tanto estereotipada.