Regas

Capítulo 4

Regas

Claro, na época, seu mestre o contou o motivo da sua ida para o palácio, mas nunca realmente pensou sobre o assunto. Mas parece que o tempo de treinamento inútil o afetou afinal, pois quando percebeu a enorme estupidez dos nobres, ele se sentiu incomodado.

 

“Ah, Ah, Sr. Melman, você está aqui.”

 

Com o som de passos rápidos, a grande figura de Abel apareceu. Ele foi o único discípulo que Wiedel teve depois de se tornar o mestre deste lugar. Ele deveria ter cerca de vinte anos? No entanto, com o seu rosto áspero e queimado do sol e sua estrutura enorme, fisicamente ele parecia mais um bandido cruel que facilmente poderia matar quatro ou cinco pessoa de uma vez só.

 

No entanto, mesmo que por fora sua aparência fosse áspera, na realidade, Abel era um cara muito inocente, principalmente algo em seus olhos, que eram tão claros, que Melmond se perguntou se aquilo era pureza.

 

Talvez Abel não soubesse que era uma pessoa que se encaixava perfeitamente nos ensinamentos desse lugar, o que significava que sua personalidade era mais importante.

 

Mas com essa aparência…

 

Melmond relembrou dos Regas do Coração do Rei, que possuía Regas que eram mais bonitos do que mulheres, com vozes suaves que eram agradáveis de ouvir. Eram homens com destreza em todos os tipos de arte, que até mesmo Melmond não era capaz de desviar o olhar. Eles devem ter esse tipo de charme para conseguir domar o próprio rei, herdeiro da natureza do dragão. Totalmente diferente desse homem com cara de bandido!

 

“Prepararei um lugar para você dormir”

 

“Quem disse que eu vou dormir aqui?”

 

Embora tenha dito sem rodeios, Abel sorriu alegremente e respondeu: “É difícil descer a montanha à noite. Mesmo que você seja o único discípulo do falecido mestre”

 

“Hmph, deve ser difícil para você também certo? Quando eu tinha sua idade, eu conseguia facilmente escalar dois ou três picos de montanha, mesmo à noite”

 

Os olhos de Abel se arregalaram de surpresa, sem entender o exagero de Melmond.

 

“Sério? Uau, então o que o mestre disse sobre o treinamento que estou fazendo agora não ser nada, era verdade”

 

“Ah, claro. O treinamento do nosso mestre foi incrível.”

 

“Meu Deus, e eu achava que subir um penhasco só com as mãos era difícil!”

 

“Isso mesmo, um penhasco…”

 

Melmond nunca havia escalado um penhasco antes, no entanto, a sua expressão rígida não era visível devido à escuridão, e o inocente Abel continuou a admirá-lo.

 

“Mas o treinamento mais difícil é fazer contato visual com as feras. Infelizmente não consigo dominá-los e nem domesticá-los apenas com os olhos.” Ele sorriu envergonhado “Geralmente estou muito ocupado fugindo”

 

“Espera, feras?!”

 

“Sim, eu mal consegui evitar o urso, mas os lobos são mais complicados porque vivem em matilhas, pensei que fosse morrer enquanto fugia. Tenho certeza que Melmond poderia subjugá-los instantaneamente apenas com os olhos, né?”

 

Ele nunca havia subjugado nem mesmo um esquilo com o olhar.

 

“Hm, bem… Ah, isso mesmo”

 

“Como o próprio mestre disse, acho que ainda tenho um longo caminho a percorrer. É constrangedor, mas não consigo me acostumar com as aranhas-lobos, esses caras não só tecem teias, elas também atacam assim… HÁ!!”

 

Quando a voz de Abel ficou mais alta, Melmond estremeceu, mas ele não emitiu nenhum som que expressasse a sua surpresa. Quer ele quisesse ou não, Abel prosseguiu falando sobre aranhas lobo. Ele pareca animado por ter alguém com quem conversar depois de tanto tempo.

 

“Muitas vezes fico surpreso por que elas caçam se jogando das árvores. Uma vez quando era jovem, uma caiu bem no meu rosto e eu desmaiei. Eu sou tão bobo, tenho certeza que o senhor Melmond não se importa com aranhas, né?”

 

Melmond na verdade tinha medo todos os insetos.

 

“Hmmm, é”

 

Quando Melmond respondeu, a tosse aumentou. Claro, Abel não percebeu desta vez, e soltou uma voz melancólica.

 

“Como meu medo de aranhas-lobo poderia ser um ponto fraco, uma vez o mestre capturou algumas aranhas lobo e me trancou com elas em uma caixinha. Mas infelizmente, acho que o treinamento não teve um resultado bom”

 

Isso é tortura!!! Melmond mal conseguia conter sua vontade de gritar. Será que aquele cara estava tentando matar o seu único discípulo?? Ele olhou para as janelas da casa. Na sua época, quando recebeu seu treinamento Regas, tudo o que ele fez foi vagar pelas montanhas e aprender sobre plantas e animais. Agora, olhando para trás, parecia que seu mestre sabia desde o inicio, que ele não tinha qualquer intenção de se tornar um Regas, e que ele só via isso como uma desculpa para entrar no palácio.

 

Talvez o tenham aceito por pensar que seria útil ter alguém dentro do palácio. Mas que ajuda ele poderia oferecer como um simples bibliotecário? Não, talvez a intenção do mestre fosse ter alguém que transmitisse notícias do palácio, exatamente como ele faz. Melmond pensou em seu falecido professor, e virou a cabeça para observar o par de olhos que o encarava, e viu os olhos brilhantes de Abel.

 

“O-o que foi?”

 

“Por favor, me diga uma coisa, Sr. Melmond”

 

“O que você quer saber?”

 

“É sobre o palácio. O palácio é onde mora o rei, o detentor do poder do dragão. Ouvi dizer que ele é alguém realmente majestoso, como ele é? É só olhar para ele e ele faz uma grande magia?”

 

Melmond se lembou do rei que vira várias vezes de longe, sempre aos tropeços e embriagado, com um Regas pendurado ao seu lado. Para o povo dessa nação, Sua majestade era como um deus. Não só a prova viva de uma lenda e mas também a figura encantada que representa o país. Não importa quanta fome eles passem, o rei tem o poder para dominar o país, então no final, o ressentimento acaba em resignação.

 

Então, como é ele que herdou o poder do dragão, então todos devem se submeter e seguir o rei.

 

Atualmente, a única habilidade telecinética que o rei pode fazer, é levitar uma caneta leve no ar. Além disso, haviam muitos boatos que ele estava passando por momentos difíceis por conta do alto consumo de álcool e pela luxúria.

 

Contudo, o fato do rei levar uma vida tão podre nunca vazou do palácio, porque o Coração do Rei detém o poder para que isso não aconteça. Para eles, o rei é a base do seu poder, que se sustenta com a falsa reputação, o que lhes permite manter as aparências enquanto controlam o governante com belos Regas, e controlam o país por detrás das cortinas. Vendo como o Coração do Rei usa os Regas para manipular o reino, talvez eles não sejam adequados para criarem Regas.

 

“Hmmm, o rei, bem, é mais ou menos isso mesmo. Alguma outra pergunta?”

 

Perguntou tentando desviar da pergunta, mas Abel se aproximou de Melmond com os olhos brilhantes.

 

“Ouvi dizer no palácio existe um lugar mágico, que foi deixado pelo dragão, é verdade?”

 

“Um lugar mágico? Ah, você deve estar falando sobre a fonte de oração, se for esse o caso, ainda está no meio na floresta dos dragões… Por que está me olhando assim?”

 

Melmond afastava, enquanto Abel continuava se aproximando dele.

 

“Dizem que se você orar com fervor e sinceridade, você voltar para a pessoa que deseja. Uau, isso é muito legal. Você já esteve lá Melmond?”

 

“Eu…”

 

É obvio que ele nunca esteve lá! A Floresta do Dragão era originalmente um lugar sagrado onde apenas o rei, e a única pessoa a quem ele deu seu coração, o seu Regas, poderiam acessar. No entanto, conforme as gerações de reis se entregaram aos prazeres dos Regas, o local ficou abandonado, coberto de arbustos frondosos, abandonado há anos.

 

Há uma pequena nascente dentro, e dizem que nela existe uma magia especial, no entanto, não há registros de orações que realmente foram respondidas. Em vez disso, há apenas um registro de um rei que ficou tão devastado com a morte de seu amado Regas, que ao orar para encontrá-lo, morreu.

 

“A Fonte da Oração é apenas uma lenda. Não pense muito nisso e se concentre no seu treinamento. Hm, aliás, você ficou sabendo? Sabe o que o seu mestre viu naquele sonho?”

 

Melmond perguntou cautelosamente, imaginando como Abel reagiria se tivesse soubesse. Ele pensaria que Wiedel enlouqueceu? Ou se preocuparia que isso fosse apenas devido à doença do mestre? Mas Melmond não obteve nenhuma das reações que esperava.

 

A expressão de Abel endureceu e ele assentiu veementemente.

 

“Sim, fiquei sabendo sobre um sonho onde um dragão cospe fogo e todo o reino é queimado. Parece que o mestre acha que o dragão é o príncipe herdeiro, acho que ele está preocupado que não exista um Regas capaz de controlar a natureza cruel do príncipe.” Abel refletiu “Melmond, será que a razão de você ter vindo desta vez, foi para transmitir as palavras do mestre à família real?”

 

“…”

 

“Por favor, faça uma gentileza e me conte”

 

Resignado, Abel abaixou a cabeça.

 

Melmond o encarou perplexo, esse garoto é ingênuo ou idiota?

 

“Abel, você acredita nesse sonho?”

 

“Sim”

 

“…”

 

“Sinto muito, na verdade ouvi vocês conversando quando estava do lado de fora da casa antes, mas porque você não acredita no que o mestre falou, Melmond?”

 

“Não é uma questão de acreditar ou não acreditar, mas quem diabos acreditaria se eu contasse sobre esse maldito sonho?”

 

Melmond, que já estava alterando a voz, respirou fundo e franziu o cenho.

 

“Não é como se o seu mestre fosse um vidente, então quem iria acreditar que ele está falando a verdade só por causa de um sonho?”

 

“Mas não foi só uma vez!”

 

“Ele teve esse sonho mais de uma vez?”

 

Quando Melmond perguntou, Abel se mostrou preocupado.

 

“Ele tem tido o mesmo sonho todos os dias, há, pelo menos, um mês”

 

“…”

 

“Acho que seus sonhos estão ficando cada vez mais nítidos e específicos, cada vez que o dragão voa e examina o solo com seus olhos cinzentos, um enorme incêndio irrompe e as pessoas ficam presas em um oceano de fogo, e são queimadas até a morte, e…”

 

“E… o que?”

 

“Ele viu você, junto com aquelas pessoas. No sonho você está de mãos dadas com a sua esposa que está grávida, junto com uma criança que parecia ter uns dez anos”

 

Melmond sentiu um arrepio na coluna e não conseguiu responder por um instante, mas logo em seguida ele considerou tudo um absurdo e começou a rir.

 

“Haha, acho que seu mestre precisa de atenção médica. Mesmo que eu tenha me casado cedo, minha esposa e eu ainda não temos filhos, mas porque especificamente um menino de dez anos?”

 

“Eu também não sei, mas o mestre disse que o menino era idêntico a você e que você o chamava de Roy”

 

Dessa vez, Melmond não conseguiu dizer nada. O nome ‘Roy’ era um nome que ele e sua esposa tinham decidido que dariam para a criança se tivessem um menino. Só os dois sabiam que dariam esse nome para um eventual filho, mas depois de tanto tempo juntos e sem nenhuma gravidez, eles enterraram o nome em suas memórias. Como alguém além deles poderia saber? Será que se tratava apenas de uma coincidência?

 

Abel, como se estivesse se lembrado de algo, quebrou o silêncio.

 

“O mestre disse que o primeiro lugar que queimou foi o palácio, mas achei uma coisa estranha”

 

“O que você achou estranho?”

 

“Bom, é que…”

 

Abel hesitou por um momento, com um olhar distante.

 

“Entre as pessoas que morreram queimados no palácio, algumas bebiam poções negras e sorriam enquanto seus corpos queimavam, e era como se não sentissem dor nenhuma”

 

O arrepio na coluna de Melmond se transformou em tremores. Pessoas sorrindo enquanto morrem queimadas! Esse sonho não é nada além de alucinações de um maluco doente. Ele tentou se racional, mas por algum motivo, os tremores não sumiram.

 

“Ah, é como se eu estivesse dando ouvido para todas as estrelas do céu. Acho que seu mestre está enlouquecendo”

 

Melmond foi frio de propósito, como se não estivesse falando nada demais, e se levantou. Ele tinha a sensação de que se conversasse um pouco mais com Abel, também começaria a acreditar naquele sonho. Quando Melmond se levantou, Abel prontamente o seguiu.

 

“Está escuro e você pode cair, deixe-me acompanhá-lo”

 

Ao mesmo tempo em que falava, Abel tomou a dianteira, guiando-o. Ver um grandalhão se mover com tanta delicadeza, fez Melmond se sentir um pouco melhor. Mesmo que tivesse uma estatura tão grande, Abel era realmente agradável. Eles de fato escolheram bem.

 

Grunhido-BUM!

 

“Ah!!”

 

De repente, cara que deveria guiar rolou colina abaixo como se tivesse escorregado. Quando Melmond ouviu os gritos ecoando na escuridão, ele se lembrou das falhas de Abel que Weidel havia mencionado anteriormente.

 

‘Abel é um bom menino, muito trabalhador. Eu gosto de sua perseverança, e surpreendentemente, os animais também gostam dele, por isso é fácil ensiná-lo. Mas ele é muito desajeitado, se você não for cuidadoso e se guiar pelos passos dele, pode quebrar o pescoço’

 

Melmond balançou a cabela e cuidadosamente deu um passo à frente, mantendo os olhos bem abertos, tentando não cair.

Publicado por:

alt='' class='mx-auto'>
Gardenia_Fairy
minhas outras postagens:
Comentários