Capítulo 68

Já estava oficialmente confirmado. O sistema amava túneis longos, chatos e sem sentido, que te forçavam a andar muito mais do que o razoável.

Ele já caminhava havia trinta minutos. A luz atrás dele já não era mais visível, e ele também não via nada à frente. Era sutil, mas o túnel fazia uma curva leve, tornando perfeitamente natural que ele não conseguisse ver nenhuma das extremidades.

A grande caverna onde ele havia lutado contra o Alfa estava relativamente bem iluminada pelos cristais que cobriam o teto, mas, por alguma razão, o sistema não se preocupou em iluminar os túneis de forma alguma.

De novo, os túneis pareciam ter sido cavados por texugos. Ou talvez realmente tivessem sido cavados por eles. Jake duvidava seriamente disso, considerando que o resto da masmorra era tão obviamente pré-projetado, mas quem sabe.

Por sorte, porém, Jake tinha sua própria fonte de luz. Sua Chama Alquímica, apesar de ser uma chama transparente, emitia bastante luz.

Ele não precisava da luz para saber para onde ir, já que tinha sua esfera, mas era por causa do que Jake estava fazendo enquanto caminhava. Um livro estava em uma de suas mãos, iluminado pela chama tremulante. O título dizia: Sangue & Veneno: Hemotoxinas Intermediárias I. Não exatamente um best-seller, mas Jake ainda achava incrivelmente interessante.

Embora os venenos hemotoxicos tivessem se mostrado muito úteis contra o Alfa, ele ainda os achava deficientes, razão pela qual havia decidido criar uma versão melhor para sua luta contra a Mãe da Toca.

A masmorra não tinha limite de tempo, então ele não via razão para atravessá-la imprudentemente. De novo, ele não ia enrolar sem motivo. Subir de nível sua alquimia era, na opinião de Jake, tão importante quanto sua classe, e criar o veneno hemotoxico era mais um desafio valioso. Ele também estava perto da sua próxima habilidade de profissão, e tinha a sensação de que a próxima seria "daquelas".

Lutas de vida ou morte não eram necessárias para saciar sua coceira competitiva e seu instinto de se desafiar. As complexas técnicas de mistura e os altos requisitos de controle preciso de mana também faziam isso.

Até agora, Jake só havia criado dois venenos acima da classificação inferior. Um era seu veneno necrótico, enquanto o outro era a amálgama rara que ele havia usado para passar pela masmorra de desafio.

Ele conseguia fazer o veneno necrótico principalmente graças ao seu Paladar da Víbora Maléfica, combinado com o fato de ele comer muito mais cogumelos azuis do que jamais admitiria. Como comê-los lhe dava insights sobre a natureza deles, ele rapidamente se familiarizou muito com eles. E mesmo assim, ainda levou um bom tempo antes de criar o primeiro.

A amálgama de veneno não podia ser considerada uma mistura propriamente dita. Era instável e perderia sua eficácia em pouco tempo após ser criada, e mesmo assim, os efeitos eram questionáveis, no mínimo. Além disso, Jake havia usado dez cogumelos raros naquela criação, não sendo exatamente econômico no gasto de ingredientes. Desnecessário dizer que não era uma façanha que ele pudesse replicar facilmente.

O que o deixava com seu desafio atual de fazer a hemotoxina que ele estava almejando. Ele já tinha os ingredientes, ainda armazenados em seu colar.

Ele já estava acostumado com o armazenamento espacial, mas ocasionalmente se lembrava de o quão impressionante ele realmente era. As ervas permaneciam frescas dentro do colar, assim como estavam no jardim encontrado na masmorra de desafio. Era como andar por aí com uma estufa portátil congelada em suspensão temporal.

Dentro dessa estufa metafórica, ele também havia localizado a planta que pretendia usar.

[Caule de Espinho-de-Sangue (Comum)] – Uma erva relativamente comum encontrada em áreas com abundância de criaturas baseadas em vitalidade. Tem um cheiro doce, muitas vezes atraindo animais incautos. Uma quantidade significativa de energia vital contaminada é encontrada em seu interior, agitando o sangue de qualquer entidade viva que toque.

Este caule era, como a descrição dizia, não muito raro. Crescia absorvendo o sangue dos seres vivos que o tocavam. Isso era feito principalmente com animais que pensavam que era uma erva benéfica e então tentavam comê-la, apenas para o caule permanecer firmemente enraizado no chão, arranhando o interior da boca da besta e absorvendo seu sangue.

O solo abaixo dessas plantas costumava ser vermelho, levando muitos a acreditar que a erva crescia em solo encharcado de sangue. No entanto, descobriu-se mais tarde que a terra ficava vermelha devido ao Caule de Espinho-de-Sangue concentrando a energia vital nela para atrair ainda mais presas.

Era uma planta bastante insidiosa que havia matado e mutilado inúmeros seres vivos. Jake até notou os caules começando a murchar um pouco depois de retirá-los, forçando-o a correr de volta e pegar alguns cadáveres de texugos para alimentar os pobres caules assassinos.

Quando ele estava lá, ele também considerou se poderia usar algo dos cadáveres das feras para fazer venenos. Infelizmente, seu Senso da Víbora Maléfica deixou claro que o veneno delas parava de funcionar após suas mortes. Se Jake tivesse que adivinhar, era devido à falta de energia interna. Então ele só tinha que usar seus cadáveres para alimentar os caules.

Em uma nota importante, eles realmente tinham um gosto muito bom. A erva tinha um cheiro delicioso, com muito líquido dentro. Os espinhos foram descascados antes que ele começasse seu banquete, é claro.

Ele comeu muitos deles, enquanto se familiarizava com a erva antes de começar sua prática. Curiosamente, os caules não restauraram nenhuma mana quando ele os comeu, mas sim liberaram uma pequena quantidade de energia vital.

Pensando bem, ele não havia realmente comido nada que valesse a pena por muito tempo. Não era que ele não precisasse mais de substância, mas que ele conseguia se manter alimentado apenas com ervas. Ele tinha o hábito de comer algumas daquelas que encontrava enquanto vagava por aí.

Espera… será que eu sou vegano agora? ele pensou de repente ao acaso. Bem, um vegano bem medíocre, considerando que ele matava feras o tempo todo… mas ei, ele não as comia. Embora ele realmente devesse. Honestamente, só se pode culpar os texugos por não serem apetitosos.

Enquanto seu pensamento vagava longe do livro em sua mão, ele finalmente viu a outra extremidade do longo túnel com sua esfera. Aumentando o ritmo levemente, ele se viu em outra caverna, aproximadamente do mesmo tamanho que a anterior.

Varrendo a caverna com o olhar, havia muito menos texugos, ele vendo apenas cinco no total. O problema era o tipo de texugos, no entanto. Quatro deles eram o mesmo texugo grande, com o cabelo estranho e espetado.

[Texugo Alfa Presa-de-Veneno – nível ??]

A única coisa que o acalmou um pouco foi o fato de que todos estavam espalhados. Todos pareciam ser muito territoriais, ficando apenas em sua área designada.

No final da sala havia uma colina com mais um texugo deitado sobre ela. Este era bastante diferente de todos os outros.

Ele não tinha nenhum espinho, mas seus pelos pareciam finos e lisos. Tinha linhas brancas correndo por seus lados em padrões intrincados, parecendo bastante bonito, realmente. Seu tamanho era um pouco maior que o dos Alfas. Mas mais importante,… ele emanava uma sensação que fez Jake perceber instantaneamente que essa fera era a verdadeira líder dessa matilha.

[Mãe da Toca – nível ??]

A fera era claramente mais forte… mas ainda não evoluída. Foi um grande alívio, pois ele temia que a criatura fosse de grau D, algo que Jake não tinha absolutamente nenhuma confiança em enfrentar.

Todos os Alfas também pareciam apenas um pouco mais fortes do que aquele que ele já havia matado. Era muito leve, mas estava lá.

Será que ele tinha sido jogado para fora da caverna principal ou algo assim? Jake se perguntou. Era imperativo descobrir a intrincada história da caverna dos texugos, afinal.

Ele havia derrubado um Alfa, e tinha confiança em fazer isso com esses. Claro, eles eram um pouco mais fortes, mas ele também havia ganhado bastante.

Não, o problema era seu estado atual. Túnica rasgada, braceletes perfurados e todos os recursos relativamente baixos.

Sua primeira tarefa era colocar isso em ordem, sendo a segunda praticar sua alquimia e matar os alfas. Ele sabia que não era um projeto de 1 dia terminar o veneno hemotoxico, então ele decidiu alternar entre alquimia e luta, eliminando os texugos um por um. Se tudo corresse bem, seu veneno estaria pronto para seu confronto com a Mãe da Toca.

Sem razão para ficar sentado, ele começou a trabalhar na restauração de seu equipamento e finalizando seus preparativos para sua primeira tentativa de criação. Ele leu as receitas, comeu as ervas e consertou suas coisas nas próximas duas horas.

Com tudo pronto, ele começou o árduo processo de criar um veneno totalmente novo. As diferenças entre raridade inferior e raridade comum não eram enormes, mas estavam longe de ser insignificantes. A complexidade necessária no controle de mana e no manuseio dos ingredientes estava em outro nível.

Água Purificada, Musgo Verde Envelhecido, Caule de Espinho-de-Sangue, além de um bom cheiro de seu próprio sangue fortalecido com Sangue da Víbora Maléfica, e ele estava pronto. A primeira parte ocorreu como esperado, enquanto ele extraía a energia do musgo e a integrava com a água e seu sangue.

Esta parte era a mesma dos venenos necróticos, o que o tornava experiente nisso, terminando assim essa parte sem problemas. Em seguida, ele começou a aplicar o néctar doce encontrado dentro dos Caules de Espinho-de-Sangue. Você não precisava do próprio caule, mas apenas dos sucos encontrados dentro.

O líquido altamente concentrado entrou na tigela de mistura sem nada inesperado acontecendo. Os sucos e o resto da mistura agiram como ímãs com os mesmos pólos, afastando a outra parte. Mas, claro, Jake precisava que eles se misturassem, e não apenas se misturassem, mas se fundissem e produzissem efeitos sinérgicos.

Enquanto ele tentava empurrá-los mais perto, a pequena barreira que os separava inesperadamente se rompeu, e as energias se chocaram antes mesmo que Jake pudesse reagir. Toda a mistura pareceu entrar em erupção enquanto todo o líquido voava no ar, espirrando em suas roupas.

Ele conseguiu fechar os olhos e evitar que algo entrasse neles, mas sua capa recém-restaurada não teve tanta sorte. As propriedades ácidas de seu sangue ainda persistiam na mistura, fazendo com que sua capa ficasse mais uma vez cheia de buracos, pois pequenos pedaços dela haviam se corroído.

Isso foi bem, Jake pensou para si mesmo enquanto começava a restaurar sua capa mais uma vez. Sua pele também foi atingida, mas sua resistência e alta resistência o deixaram com nada além de algumas marcas vermelhas.

O que Jake havia acabado de experimentar foi um grande exemplo de por que os alquimistas especializados em toxinas tinham alta vitalidade e resistência. O processo de mistura era muito mais perigoso do que uma poção regular, e mesmo que a mesma coisa tivesse acontecido durante a preparação de uma, a erupção só teria deixado Jake coberto de líquidos inofensivos.

Claro, isso desconsiderava que muitos alquimistas que faziam venenos às vezes tinham que testar e experimentar suas toxinas. E a melhor maneira de aprender sobre o efeito do veneno era experimentá-lo você mesmo. Jake ainda não tinha feito isso, mas, de novo, ele não havia realmente feito muitos tipos diferentes de toxinas. Embora sua primeira criação original quase o tivesse matado.

Após sua falha inicial, ele fez mais algumas tentativas, encontrando pouco progresso constante. Nenhum nível foi concedido por seus esforços, mantendo-o no nível 47, mas ele não estava desanimado. Ele tomou uma última poção de saúde, completando sua saúde enquanto entrava em meditação para restaurar sua resistência e mana.

Esses dois foram relativamente fáceis de restaurar. A mana se regenerava continuamente, enquanto a resistência era restaurada sempre que ele meditava ou dormia. A saúde era outra história. Ela se regenerava naturalmente, mas a uma taxa muito mais lenta do que as outras duas. Ele havia perdido bastante saúde contra o Texugo Alfa Presa-de-Veneno, e se ele quisesse que isso se regenerasse naturalmente, provavelmente levaria dias. Ele duvidava que até uma semana fosse capaz de enchê-la.

Razão pela qual ele usou poções de saúde para completá-la. Sem elas, seu progresso seria muito mais lento, pois ele seria forçado a fazer pausas muito longas. Esta era também a razão pela qual os curandeiros eram tão essenciais para ter ao subir de nível.

Saindo da meditação algumas horas depois, ele verificou seu menu de status, colocando todos os seus pontos livres em percepção. Ele já havia feito isso com muitos deles antes de obter a Marca do Caçador Ambicioso, mas agora que ele tinha isso, apenas confirmou sua escolha.

Observando o status, ele estava muito satisfeito.

Status

Nome: Jake Thayne

Raça: [Humano (E) – nível 43]

Classe: [Caçador Ambicioso – nível 40]

Profissão: [Alquimista Prodígio da Víbora Maléfica – nível 47]

Pontos de Vida (PV): 3540/3540

Pontos de Mana (PM): 3427/4210

Resistência: 1501/1890

Atributos

Força: 231

Agilidade: 284

Resistência: 189

Vitalidade: 354

Resistência: 190

Sabedoria: 421

Inteligência: 150

Percepção: 493

Força de Vontade: 224

Pontos livres: 0

Títulos: [Precursor do Novo Mundo], [Patriarca da Linhagem Sanguínea], [Detentor da Verdadeira Benção de um Primordial], [Masmorrista I], [Pioneiro de Masmorras I]

Habilidades de Classe: [Armas de Uma Mão Básicas (Inferior)], [Furtividade Básica (Inferior)], [Arco e Flecha Avançado (Comum)], [Visão do Caçador (Incomum)], [Estilo Presa Dupla Básico (Incomum)], [Câmara de Sombras de Umbra Básica (Incomum)], [Flecha Divisor (Incomum)] [Caçador de Grandes Presas (Raro)], [Tiro Imbuído (Raro)], [Marca do Caçador Ambicioso (Raro)]

Habilidades de Profissão: [Herbologia (Comum)], [Criar Poção (Comum)], [Criar Veneno (Comum)], [Purificação do Alquimista (Comum)], [Chama Alquímica (Comum)], [Toxicologia (Incomum)], [Cultivar Toxina (Incomum)], [Veneno da Víbora Maléfica (Raro)], [Paladar da Víbora Maléfica (Raro)], [Toque da Víbora Maléfica (Raro)], [Senso da Víbora Maléfica (Raro)], [Sangue da Víbora Maléfica (Épico)]

Bênção: [Verdadeira Bênção da Víbora Maléfica (Bênção - Verdadeira)]

Habilidades de Raça: [Línguas Infinitas das Miríades de Raças (Única)], [Identificar (Comum)], [Meditar (Comum)], [Véu do Primordial (Divino)]

Linhagem Sanguínea: [Linhagem Sanguínea do Caçador Primordial (Habilidade de Linhagem Sanguínea - Única)]

O crescimento mais significativo foi em sua percepção. Ele havia ganhado quase 150 pontos desde que entrou na masmorra com todos os níveis e seu investimento de pontos livres. Na realidade, ele havia investido apenas cerca de 120 pontos, mas o bônus de 25% de sua linhagem sanguínea e título resultou em um aumento considerável.

E ele podia sentir o aumento. Era em coisas pequenas, como quando ele se concentrava em um objeto, ele conseguia discernir mais facilmente pequenos detalhes, e quando ele se concentrava em sua audição, ele conseguia ouvir até a menor coisa. Não era como se a percepção simplesmente aumentasse os sentidos de alguém, pois seria horrivelmente irritante se você tivesse que ouvir o som do seu próprio coração constantemente. Ele tinha que se concentrar nisso, o que significa que não ajudava tanto se ele estivesse distraído.

Onde ele podia ver facilmente o crescimento era com sua esfera. A cada ponto investido, ela aumentava ligeiramente em sua área de efeito e clareza. Não era muito, mas estava lá.

Quanto ao seu senso de perigo e outras coisas relacionadas à sua linhagem sanguínea… ele não fazia ideia se elas sequer interagiam com o atributo para começar. De novo, sua linhagem sanguínea era parte intrínseca dele. Ele notaria se elas melhorassem? Ou não seria simplesmente natural para ele? Já que, em certo sentido, era natural.

Fechando seu menu de status mais uma vez, ele brevemente considerou verificar o painel de tutorial, mas decidiu contra isso. Distrações não lhe fariam bem. Nesta masmorra, era apenas ele e um bando de texugos crescidos demais, o resto dos sobreviventes que se danassem.

Ele identificou a primeira presa, pegando seu arco, enquanto preparava uma flecha com seu velho e fraco veneno hemotoxico. Ele havia ficado sentado por tempo suficiente, e estava na hora de fazer um pouco de exercício leve com um pouco de combate mortal.