Volume 1 - Capítulo 57

Qie Ranzhe nunca havia sido tão desrespeitado, principalmente por uma garota. Zhao Huangzhi foi a primeira mulher a tocá-lo dessa maneira, sem nenhum pudor, esfregando as palmas das mãos em suas costas firmes como um oleiro moldando argila. Uma sensação gélida, guiada pelo descontentamento, se espalhou do ponto de contato direto para seu cérebro, fazendo-o franzir o rosto em desprazer. Com grande dificuldade, ele a empurrou antes de olhar para baixo em sua roupa encharcada de lágrimas.

"Tsc", disse ele, sentindo a umidade penetrar no tecido, umedecendo sua pele, "uma chateação danada." Ele puxou o tecido encharcado para frente para que não grudasse em sua pele. Ele não aguentava mais e decidiu ir embora para trocar de roupa.

Zhao Huangzhi congelou por um momento depois de ser bruscamente empurrada por Qie Ranzhe. Ela sentiu uma pontada aguda no estômago por ter sido tratada dessa maneira, mas parecia indiferente, principalmente quando se lembrou de como Qie Ranzhe estava disposto a fazer qualquer coisa por ela. Com esse pensamento, ela finalmente relaxou, retomando sua expressão dilacerante. Vendo o desconforto de Qie Ranzhe com suas roupas molhadas, ela se apressou com um lenço de seda para ajudá-lo a secar a mancha úmida.

"Me desculpa, Ran-ge, eu só... eu só não consegui me controlar. Deixe-me ajudá-lo", disse ela com olhos de corça cheios de lágrimas, enquanto enxugava as lágrimas que deixara em Qie Ranzhe com mãos trêmulas. Qie Ranzhe estava farto de suas mãos agitadas e, portanto, agarrou firmemente seu pulso com uma expressão significativa.

Seus olhos se encontraram, os olhos brilhantes e expectantes de Zhao Huangzhi o fitavam em transe. Embora estivesse chorando, sua maquiagem permaneceu intacta, com olhos vermelhos e lábios carnudos levemente entreabertos. Ela parecia especialmente atraente, o suficiente para fazer o coração de qualquer homem bater mais forte. Infelizmente para ela, o homem para quem ela fez tudo isso a encarava com um rosto glacial, com a intenção de congelá-la.

Qie Ranzhe a empurrou pela segunda vez e se virou para ir embora, dizendo: "Leve sua senhorita de volta para casa para descansar e certifique-se de que ela nunca mais ponha os pés nesta propriedade. É altamente inapropriado", disse ele ao servo em um tom imperativo e displicente, sem vontade de lidar mais com Zhao Huangzhi. Ele não tinha paciência para olhá-la, especialmente depois que ela arruinou tudo para ele. Se não fosse pelo incidente com os bandidos, Lin Jingxie não teria tanto medo dele e ainda o estaria visitando.

Ele não sabia que tudo aquilo era um plano de Zhao Huangzhi, mas desconfiava. Ela é filha do primeiro-ministro, com tantos servos à sua disposição, como ela poderia ter fugido sozinha e acabar nas mãos de bandidos? Se sua mente não estivesse focada em Lin Jingxie, ele teria investigado mais a fundo, especialmente interrogando aquele Lee Jienjie irritante. Seu estado mental atual era errático e nebuloso, o que não lhe permitia prosseguir com o assunto, pelo menos não agora.

Vendo-o ir embora enquanto a proibia de ir lá novamente, Zhao Huangzhi se descontrolou, com seu último fio de racionalidade se dissipando. Ela correu para bloquear seu caminho, enquanto pegava sua mão fria com as suas, com um rosto fantasmagoricamente pálido. "Ran-ge, por que você está fazendo isso comigo? Tudo o que Lin Jingxie faz, eu posso fazer por você. Você não precisa depender tanto dele. Eu vou cozinhar suas refeições, lavar suas roupas e até mesmo essa espada, eu posso te dar uma melhor", implorou ela, apontando para sua espada envainada pendurada em sua cintura, "Eu posso te fazer feliz e te dar tudo o que você deseja."

A expressão de Qie Ranzhe permaneceu fria e indiferente enquanto ele se afastava para passar por ela, dizendo: "Não me chame assim nunca mais", apático em responder à sua confissão sincera. Ele não estava satisfeito com seu comportamento mimado, mas se conteve por causa de Lin Jingxie. Se ele fosse longe demais, Lin Jingxie nunca mais poderia falar com ele. Qie Ranzhe temia perder mais se colocasse um dedo nela, o que não valia a pena.

Zhao Huangzhi era teimosa como uma mula e persistiu. "O que tem de tão especial nele que você nem sequer está disposto a me dar uma chance? A comida dele é medíocre no máximo e essa espada é um lixo comparada à que eu posso te dar. Eu te amo, Ran-ge, eu farei qualquer coisa por y-", disse ela antes de ser jogada contra a parede com a mão de Qie Ranzhe estrangulando seu pescoço. Seus olhos eram extremamente assustadores, tão escuros quanto uma noite sem lua. Sob o olhar mortal de Qie Ranzhe, ela sentiu um arrepio até a medula, percebendo que Qie Ranzhe queria matá-la, embora estivesse se segurando, como se contido por algo.

Seu terror evaporou, substituído por um sorriso feliz, pensando: 'Ele se importa comigo, por isso não pode me matar'. Em vez de atender ao seu aviso, ela tomou isso como um sinal de esperança. É seguro dizer que, quando se tratava de Qie Ranzhe, ela era cega como um morcego, com um toque de loucura. Ela levantou a mão e acariciou suavemente sua bochecha de forma romântica, enquanto sussurrava: "Você e eu nascemos para ficar juntos. Mesmo que você não perceba agora, tudo bem. Eu posso esperar por você", em uma voz suave, com os olhos semicerrados a fitando com um brilho de obsessão.

Ouvindo Zhao Huangzhi insultar Lin Jingxie, Qie Ranzhe não conseguiu se controlar mais, apertando seu aperto para fazê-la parar, mas a garota era tão teimosa e continuou falando bobagens mesmo quando sua vida estava por um fio. Ele fortaleceu seu aperto a ponto de restringir o fluxo de ar de Zhao Huangzhi, enquanto se inclinava mais perto para sussurrar algo em seu ouvido.

A serva testemunhou tudo e correu para salvar sua senhorita, mas foi contida por Machu. Esse assunto não tinha nada a ver com ela, ela só se machucaria se interviesse agora. Machu sabia que Qie Ranzhe não seria tão estúpido a ponto de matá-la, especialmente com sua origem. Se ele matasse Zhao Huangzhi, nem toda a força do clã Lin conseguiria protegê-lo. A aposta era alta demais para Qie Ranzhe. Ele perderia as pessoas de quem se importava, ela simplesmente não valia tudo isso.