Volume 2 - Capítulo 125

Um tremor percorreu o canto dos olhos de Revlin, mas o garoto rapidamente soltou um único suspiro, apertou os punhos com força e começou a falar.

"Acredito que ajuda motivada por pena é apenas temporária. No entanto, se a ajuda que você está oferecendo for em troca de informações úteis que eu fornecer, isso seria sem dúvida muito superior. E também...",

A voz de Revlin se perdeu, e ele fez uma pausa para organizar seus pensamentos antes de continuar.

"Ouvi dizer que você, Duque, pessoalmente seleciona e valoriza muito os membros da sua Cavalaria. No entanto, meu irmão e meu tio ainda desejam ter esses membros da Cavalaria em suas garras para cativá-los e usá-los em experimentos... se eu estivesse chorando enquanto fornecesse tais informações, quanta confiança você teria em mim?"

"Com certeza, há verdade nisso."

Kishiar concordou friamente.

"Não quero que minhas observações e julgamentos sejam questionados apenas por eu ser jovem e frágil."

Mesmo que parecesse fútil, ele acreditava que era a melhor forma de salvar seus entes queridos. Ao ver o olhar desesperado e sincero de Revlin, Yuder teve uma estranha sensação de déjà vu.

Parecia que ele já havia enfrentado um olhar assim há muito tempo, em um passado tão distante que não conseguia se lembrar. Mas quem poderia dirigir tal olhar a ele?

Era absurdo. O fugaz déjà vu logo se dissipou.

"Muito bem. Vamos confirmar mais uma coisa. Você realmente faria qualquer coisa para salvar seus entes queridos?"

À pergunta de Kishiar, Revlin respondeu firmemente.

"Sim."

"Mesmo que isso signifique confrontar seu irmão terrível, ou seu tio ou pai diretamente?"

"Se necessário... farei. Embora eu duvide que seja de muita ajuda."

Uma sensação de gravidade pairou sobre o rosto pálido do garoto.

"Espero que você cumpra sua palavra, sua determinação. Essa é a única maneira de prosseguirmos com nosso plano."

Com isso, as palavras de Kishiar sinalizaram a conclusão formal de seu acordo. A tensão se dissipou de Revlin de uma vez, e ele respirou fundo por um momento, cambaleando antes de se apoiar em uma parede.

"Obrigado. Quando tudo acabar, prometo retribuir esse favor, aconteça o que acontecer."

"Que tal focar no que vem a seguir, em vez de prometer um futuro incerto?"

"Perdão?"

Revlin, que havia abaixado a cabeça confuso, olhou para cima com os olhos arregalados. Kishiar lhe deu um sorriso gentil.

"Certamente, os filhos da família Apeto não vão apenas comparecer à grande celebração de hoje e depois não fazer nada pelo resto do festival. Que evento você planeja participar em seguida?"

Nisso, Revlin, que parecia ter adivinhado algo, começou a contar nos dedos, murmurando algo baixinho.

"Não tenho uma agenda clara como meus irmãos. Mas se eu fosse sair em seguida... provavelmente assistiria ao evento do Compartilhamento da Chama Sagrada, realizado em frente ao Palácio Imperial depois de amanhã."

"O evento do Compartilhamento da Chama Sagrada... vejo. Como é um evento que geralmente conta com a presença de jovens nobres na faixa dos dezoito anos, a probabilidade é alta, de fato."

Kishiar pareceu se lembrar instantaneamente do que era o evento ao ouvir o nome, enquanto Yuder teve que vasculhar uma miríade de nomes em sua cabeça antes de se lembrar vagamente.

'Era uma cerimônia onde flores, cuidadosamente cultivadas no santuário ao longo do ano, eram distribuídas equitativamente a todos pelas mãos de jovens nobres... Eu pensava que apenas alguns poucos devotos poderiam participar. Então, parece que não há problema em comparecer mesmo que não se tenha decidido com antecedência.'

"O chefe da cerimônia é o Tio Beltrail. A família Apeto produziu muitos padres do Deus Sol por gerações e apoia e participa de quase todos os eventos do santuário. A cerimônia do Compartilhamento da Chama Sagrada não exige rituais complexos, então meu irmão Lenore mencionou que estava considerando me permitir comparecer sozinho."

"Isso é bom."

O que exatamente era bom permanecia incerto, mas os olhos cor de rubi de Kishiar brilhavam com mais energia do que nunca. Um momento depois, ele esfregou levemente o queixo, um sorriso malicioso se formando no canto dos lábios enquanto ele fazia outra pergunta a Revlin.

"Revlin, você sabe atuar?"

"Atuar... Senhor?"

"Sim. Parece que podemos ter que encenar uma peça naquele dia."

O garoto piscou os olhos surpreso e abriu a boca. Yuder também ficou igualmente perplexo.

…

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No dia seguinte, Yuder trocou seu horário com um de seus subordinados, que originalmente deveria auxiliar na manutenção da paz durante a cerimônia do Compartilhamento da Chama Sagrada. A mudança repentina não pareceu incomodar os subordinados. Eles se acostumaram a seguir as instruções de Yuder durante a preparação do festival.

"Ei, Yuder! Não vai patrulhar hoje?"

Ao contrário de quando ele saía para patrulhas, Yuder agora caminhava tranquilamente pelo corredor em seu uniforme, fazendo com que rostos familiares o saudassem. Entre eles, estavam alguns que encontraram motivos para brigar com ele em sua vida passada. Yuder assentiu, sentindo uma nova sensação de estranheza.

"É."

"Bom. Você precisa descansar pelo menos um dia. Como alguém pode trabalhar todos os dias?"

"Indo ver o Comandante? Cuidado!"

Com o Festival da Colheita se aproximando do fim, os membros da Cavalaria ganharam uma confiança sem precedentes. Eles conseguiram evitar acidentes e pequenos delitos durante o evento com quase perfeição.

Não importava o quanto os Cavaleiros Imperiais e os Magos Imperiais, que compartilhavam a responsabilidade de manter a paz com a Cavalaria, os menosprezassem ou se protegessem deles, não adiantava. A confiança profundamente arraigada não era tão facilmente quebrada.

Todos sabiam que o sucesso do festival se devia em grande parte aos esforços de Kishiar e Yuder. Especialmente Yuder, que compareceu a mais eventos do que qualquer outra pessoa no lugar de Kishiar quando este muitas vezes tinha que sair devido a compromissos da família imperial. Ele aparecia do nada como um fantasma sempre que um acidente estava prestes a acontecer e salvava a situação, ganhando assim um nível de confiança e fé sem precedentes.

O que poderia ser mais tranquilizador do que saber que havia alguém que poderia lidar com qualquer situação, não importa o que acontecesse? Tudo o que Yuder havia feito foi tentar prevenir potenciais acidentes que os membros poderiam encontrar com base em suas experiências de sua vida anterior, mas o resultado havia mudado de forma muito mais significativa do que ele havia antecipado.

Agora, não havia ninguém na Cavalaria que invejasse ou desconfiasse de sua força. Independentemente de serem próximos de Yuder ou não, todos passaram a confiar nele. Quem poderia se sentir competitivo contra alguém tão forte e experiente que seria considerado grosseiro até mesmo comparar suas habilidades às dele?

Ciúme e competitividade geralmente são sentidos em relação a alguém ao alcance da mão. Era incomum sentir inveja de alguém que estava distante e acima desde o início.

"Comandante. Estou entrando."

Sem saber como sua posição havia mudado dentro da unidade, Yuder abriu a porta do escritório de Kishiar. Um aroma quente e perfumado emanava da janela iluminada pelo sol.

Enquanto outros nobres ainda estariam dormindo a essa hora, Kishiar já estava lendo uma carta, perfeitamente vestido em seu uniforme de Comandante, com uma xícara de chá fumegante ao lado.

"Essa é uma carta de Revlin Shand Apeto?"

"Sim. Parece que ele anotou os pontos que solicitamos durante a noite e os enviou. Bastante rápido."

Kishiar mostrou levemente o selo carimbado no verso da carta. Ele correspondia exatamente ao padrão do anel que Revlin havia mostrado como prova de sua identidade na noite anterior.

Antes de deixar a casa Apeto na noite anterior, Kishiar havia solicitado várias informações a Revlin. Isso incluía a planta da mansão Apeto, assuntos relacionados a Dandenion, que eles tinham que resgatar, e, por fim, informações pessoais sobre seu tio, o Ancião Sacerdote Beltrail Shand Apeto.

Considerando a rapidez com que Revlin havia compilado todas as informações durante a noite, era possível sentir o quanto ele havia se movimentado desesperadamente.

"Então, você terminou de redistribuir o pessoal que vai participar do evento?"

"Sim."

Enquanto Kishiar folheava a carta, Yuder abriu a boca silenciosamente.

"Incluindo-me, haverá dois de Shin, dois de Sul e um de Jung, um total de cinco pessoas participando como agentes de segurança na cerimônia do Compartilhamento da Chama Sagrada amanhã."

"Alguém protestou ou pareceu suspeito com as mudanças?"

"Nenhum."

"Bem feito."

Kishiar respondeu levemente e começou a ler a última página da carta. Yuder hesitou por um momento enquanto o observava e então abriu a boca.

"Você pode me dizer agora que tipo de peça vamos encenar amanhã?"

Na noite anterior, Kishiar não deu uma explicação detalhada sobre a peça que pretendia encenar. Ele apenas disse que lhe contaria assim que tivesse redistribuído o pessoal do evento e recebido contato de Revlin.

Mas agora, todas essas tarefas estavam concluídas. Era hora de ouvir a resposta.

Yuder ficou em silêncio esperando por um bom tempo até que Kishiar terminou de ler a carta inteira, dobrou-a ao meio e o olhou.

"Vamos tomar uma xícara de chá juntos e conversar. Sente-se ali."

Embora Yuder tenha apontado que não havia necessidade de tomar chá se o objetivo era apenas conversar, foi inútil. Momentos depois, ele teve que suportar a sensação de estar sentado em cima de agulhas enquanto observava Kishiar servindo chá com uma expressão satisfeita.

"Não há necessidade de uma expressão tão pesada, é apenas uma peça, literalmente. Revlin, você e eu apenas teremos que falar nossas falas e nos mover de acordo com o roteiro."

Depois de colocar uma xícara de chá na frente de Yuder, Kishiar também colocou um prato com nada menos que cinco pedaços de bolo de creme.