Volume 1 - Capítulo 91

Devran, que deveria estar morto para expiar seus pecados, não podia ser deixado vivo. O mesmo valia para a família Apeto, que havia se aliado a ele e orquestrando todos aqueles eventos. Se fosse revelado que Zakail se unira a eles para tomar o senhorio, ele nunca seria perdoado.

Apesar de ainda não ter herdado o senhorio, com o sucesso de tudo diante de seus olhos, ele não esperava tal reviravolta. Embora sua mente estivesse a mil, apenas a ideia de escapar por qualquer meio necessário impulsionou Zakail a agir sem pudores.

"Como ousa conspirar diante de mim, o Senhor de Hartan? Fugir? Denunciar? Isso é absurdo. Contatarei Sua Graça, o Duque de Peletta, seu mestre imediato, imediatamente. Pedirei a ele permissão para executar a pessoa que matou meu pai e minha irmã e agora anda por aí com a cara de paisagem...!"

"Fui eu quem matou o Senhor e os outros?"

Quem respondeu às palavras de Zakail foi Devran. Ele não conseguiu conter uma risada genuína, como se a sugestão fosse absurda. No entanto, o riso que explodiu de seu rosto, coberto de hematomas e feridas, parecia monstruoso, fazendo Zakail recuar involuntariamente de medo.

"Então... então, você não foi! Ao iniciar um grande incêndio!"

"Por que eu faria isso?"

Devran retrucou com um sorriso torto. Seus olhos estavam cheios de ódio, mas sua voz era estranhamente calma, fazendo Zakail tremer ainda mais.

"Como assim?"

"Por que eu faria isso, hein? Por mais que eu pense, não há razão, certo? Deixei minha cidade natal, juntei-me à Cavalaria, recebi uma ordem sagrada do próprio imperador e ganhei muito dinheiro. Eu estava no caminho do sucesso. Por que arriscaria tudo isso? Isso também não lhe parece absurdo?"

"Como eu deveria saber? Gente como você, com um pouco de poder, começa a se achar melhor que os outros, e talvez na sua arrogância você tenha iniciado o incêndio! Por sua causa, eu nem ouvi as últimas palavras do meu pai e da minha irmã!"

"Então, você está me culpando com mentiras até o fim."

"Então, você está dizendo que eu, que não estava em Hartan naquela época, comecei o incêndio?"

"Ah, esse é um bom ponto. Vamos discutir isso, quer?"

Olhando nos olhos penetrantes de Devran, Zakail conseguiu controlar sua inquietação.

'Que é isso? Ele tem alguma prova? Não. Esses caras ainda não sabem de nada. Não deixei nenhuma prova concreta de que estava aliado à família Apeto. Mesmo que eles tenham ouvido algo quando foram pegos, palavras sozinhas não servem como prova.'

Enquanto Zakail revirava os olhos, Devran abriu a boca.

"Os caras que me capturaram resmungaram que tomar um lugar pequeno como Hartan não significaria muito e que tinham feito demais pelo que receberam. Eles até disseram que sem mim como pagamento, o negócio não teria valido a pena. Isso significa que alguém se aliou a eles, tomou Hartan e me entregou como compensação. Quem mais poderia ser o culpado senão você, Zakail Hartan, considerando que o Senhor e o herdeiro, Zupiel, faleceram?"

"..."

"Ou poderia ser Zachlis, que já recebeu sua nomeação como cavaleiro e começou uma nova vida? Nenhum deles tinha razão para fazer isso. Mas você, Zakail Hartan, você tinha um motivo! Você pode jurar diante de Deus que não cometeu todas essas atrocidades apenas para se tornar o Senhor de Hartan?"

A voz ressonante de Devran era tão alta que mesmo os guardas que estavam longe podiam ouvir facilmente a conversa. Zakail rangeu os dentes ao ouvir os murmúrios vindos de longe.

"Depois do incêndio, você não deu ouvidos a uma palavra minha. Você imediatamente me incriminou, me trancou na prisão e me enterrou vivo na frente da Rocha da Morte, não foi?", acusou Devran.

"Não!"

Zakail gritou, seu corpo convulsionando como se estivesse tendo uma convulsão. Mas por mais que ele se esforçasse, o clone de sombra negra que o segurava firmemente nem sequer se mexeu.

"Ouvi dizer que você havia cometido suicídio na prisão, então simplesmente ordenei que você fosse enterrado discretamente!"

"Para quem você disse isso?"

Quem respondeu a Zakail foi um homem bonito, com cabelo castanho-avermelhado e traços marcantes. O homem com um uniforme preto bem ajustado olhou para Zakail com olhos brilhando de divertimento enquanto perguntava novamente.

"Para quem você deu essa ordem, Zakail? Se encontrarmos essa pessoa, a verdade será revelada. Certo, Devran?"

"Certo. Eu não consegui ver quem me levou naquele dia, pois eu estava encapuzado."

'Vocês, seus moleques.'

Zakail de repente percebeu que havia caído numa armadilha. Claro, ele nunca dera tal ordem. Os que haviam tirado Devran da prisão, o enterrado e depois o desenterrado, eram pessoas da família Apeto que se disfarçaram de caçadores e se esconderam depois de negociarem tudo antecipadamente com Zakail.

Zakail pessoalmente abrira a porta que levava à prisão para que eles pudessem cumprir seu objetivo silenciosamente sob a capa da escuridão pré-amanhecer, sem que ninguém percebesse.

Para desviar a atenção de seu irmão mais velho, Zachlis, que chegou correndo ao ouvir a notícia da morte de seu pai e irmã, e dos moradores da vila, ele passou o dia todo preparando o funeral no morro atrás, propositadamente demorando o tempo.

Como ele esperava, ninguém se preocupou com o desaparecimento de Devran. Todos acreditavam que Devran havia matado sua família e incendiado o castelo.

Quem poderia suspeitar que Zakail, que estava fielmente interpretando o filho caçula ingênuo que nada sabia, estava mentindo? Zachlis, ocupado com os deveres de cavaleiro, ficou em choque ao ouvir a notícia da morte de sua amada e ficou aéreo durante todo o funeral.

Embora ele tivesse dito que lidaria com assuntos de herança quando retornasse à Ordem dos Cavaleiros, Zakail não duvidava que seu irmão não desejaria herdar o título de senhor da vila.

Além do fato de que o futuro promissor de um cavaleiro era mais brilhante do que o pequeno senhorio de uma pequena vila, ele calculou que seu irmão excessivamente sentimental não desejaria retornar à vila onde sua amada morreu.

Se isso acontecesse, Zakail teria se tornado o senhor como planejado, ganhando a proteção de Apeto em vez da família Diarca, que não havia feito nada por ele, e teria ficado mais forte. Ele tinha grandes sonhos de começar como o insignificante filho caçula de um pequeno senhor de vila e, finalmente, se tornar o vencedor no leste.

Zakail mordeu o lábio inferior com força suficiente para sangrar enquanto pensava naquele sonho. Ele não podia se dar ao luxo de ser pego aqui por causa daqueles plebeus.

'Vamos não interferir. Ficar com raiva não me beneficiará. Abaixar a cabeça para aqueles plebeus é humilhante, mas preciso tranquilizá-los e sobreviver.'

"Realmente não consigo me lembrar para quem dei tal ordem, pois não havia contexto suficiente."

"Você só está dizendo isso agora...!"

"Pai e irmão mais velho se foram. Você acha que haveria algum perigo se fosse você? Sim, talvez. Quem sabe se aqueles homens que disseram ter te capturado me enganaram e te levaram no lugar. Certo?"

"O quê?"

Zakail conseguiu forçar um sorriso para combinar com a ousadia de Devran.

"Olha, não tenho certeza de quem plantou essa ideia absurda na sua cabeça, mas não fui eu quem te capturou. Pense nisso. Eu também sou uma vítima. Tudo o que fiz foi ordenar um enterro adequado ao ouvir notícias da sua morte, e aqui estamos nós. A vingança não deveria ser buscada primeiro daqueles que o capturaram? Certo?"

"..."

"Me liberte agora. Se você fizer isso, perdoarei toda a insolência que você me mostrou e, como o atual representante do senhor de Hartan, ajudarei você alegremente. Entrarei em contato com a capital para ajudar a encontrar o verdadeiro culpado. Insistir em me perseguir dessa maneira não lhe fará bem."

Devran, e todos os outros presentes, ficaram surpresos com Zakail, que estava tentando persuadir as pessoas com pura audácia, apesar de não ter provas. Sua audácia era realmente formidável.

'Ele provavelmente não admitirá nada sem provas. Acho que devo apenas fazer o que preciso fazer antes que ele possa manipular ainda mais a situação.'

"Devran. Precisamos enviar uma carta, vamos voltar ao castelo por enquanto."

"Não podemos simplesmente matá-lo?"

Apesar de enfrentar seu inimigo mortal, Devran, que não conseguia levantar um dedo, resmungou com uma careta. Com o resmungo de Devran, Zakail visivelmente recuou, prendendo a respiração.

"Yuder disse que tudo bem?"

"Não."

"Então não."

Depois de dizer isso, Gakane se aproximou de Devran e sussurrou alto o suficiente para que ele pudesse ouvir.

"Quando Yuder terminar seu trabalho e voltar, esse cara está acabado. Você não precisa sujar suas mãos. Nosso líder cuidará disso. Então, aguente um pouco mais. Pelo bem de sua família."

"...Tudo bem."

Ao mencionar sua família, Devran, cujo rosto havia amolecido, subjugou seu temperamento explosivo e expirou. Eles levaram Zakail, que havia sido apreendido, e retornaram ao Castelo de Hartan.

Os aldeões, ao verem Zakail capturado pelo clone de sombra e erguido, tinham expressões como se estivessem prestes a desmaiar, mas ficaram ainda mais surpresos ao verem Devran e sua família que haviam retornado vivos.

"O que aconteceu? Eu achei que ele estava morto?"

"Considerando que o Senhor Zakail foi capturado, parece…"

"Meu Deus, o que está acontecendo!"

E sua confusão atingiu o auge quando entraram no castelo e se depararam com um atendente idoso de aparência aterrorizada.

"Senhor Zakail! Há pouco tempo, o Senhor Za, Za, Zachlis havia retornado e estava esperando... mas... o que diabos…."

"Zachlis está aqui?"

Em nome de Zakail, que estava amordaçado pelo clone de sombra, Devran gritou alto.

"Isso é bom. Onde ele está agora?"

"Na, na, na sala de estar…"

"Vamos."

Todos correram para a sala de estar. A mesma sala onde, naquela manhã, Yuder e seus colegas haviam devorado uma grande quantidade de comida, para grande aborrecimento de Zakail, agora tinha um homem vestido com armadura prateada andando ansiosamente.

O homem, que tinha uma aparência semelhante à de Zakail, mas parecia muito mais gentil, ficou surpreso com o súbito influxo de pessoas. No entanto, ao perceber Devran e Dermilla atrás dele, seus olhos se arregalaram de choque.

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