
Volume 1 - Capítulo 86
Turning
"O poder de fazer amigos."
Yuder não entendeu imediatamente o que esse poder implicava. Apesar de ter viajado no tempo, era a primeira vez que ouvia falar de um poder assim. Ao fazer contato visual com Yuder, o garoto se escondeu rapidamente atrás de Nahan, como se estivesse assustado.
"Sim, já que você encontrou seu companheiro, seu objetivo deve ser alcançado."
Yuder pensou que Nahan simplesmente pegaria seu jovem aliado e desapareceria. Se fosse ele, teria feito o mesmo. Afinal, se perdessem aquele momento, talvez não tivessem outra chance de escapar sem serem notados.
"Verdade. No entanto, desta vez, acho que vou segui-lo até o fim."
Ainda assim, Nahan disse algo inesperado.
"Não preciso de um espectador."
"Sou um cúmplice que chegou até aqui com você. Dói um pouco ser chamado de espectador."
O que ele estava pensando? Yuder ficou mais desconfiado de Nahan do que nunca. No entanto, não havia necessidade de aumentar desnecessariamente o número de inimigos naquele momento. Assim, ele decidiu recuar, mantendo um olhar atento sobre Nahan.
"Se isso se tornar um obstáculo..."
"Definitivamente não será. Assim como não foi até agora."
Nahan era eloquente, se nada mais. Ignorando-o, Yuder seguiu em direção à última cela que restava. Ao destrancar a porta, o homem amarrado lá dentro com cordas comuns o olhou com raiva, os olhos cheios de fúria.
"Ugh... uuuhh..."
Claro, era Kiolle da Diarca, o único deixado para o fim.
Ele tentou gritar algo, mas por causa do mordaça, suas palavras eram incompreensíveis. Yuder o encarou por um momento antes de finalmente falar.
"Kiolle da Diarca."
Era um nome que ele tentara esquecer desde seu primeiro encontro, mas que acabou gravado em sua memória, o que era impressionante à sua maneira.
"Vou tirar sua mordaça, mas se você gritar ou fizer qualquer barulho desnecessário que possa chamar a atenção, eu o deixarei inconsciente imediatamente. Faça que sim se você entender."
"Uuuuhh!!"
Kiolle se debateu como se dissesse a Yuder para parar de falar bobagens, torcendo a cabeça com toda a força. Não parecia que ele entendia as palavras de Yuder.
"Nós realmente precisamos salvar aquele cara?"
Nahan, que havia observado toda a cena, perguntou em tom indiferente.
"Ele não é um irmão que possui o mesmo poder. Ele não parece extraordinário o suficiente para merecer o resgate."
"Uuuhh!! Uuh!"
Kiolle lançou um olhar furioso para Nahan e gritou para ele. Claramente, ele não apreciou as palavras de Nahan.
'Honestamente... não posso discordar disso.'
Kiolle sequer agradeceria por ser resgatado? Seria sorte se ele não o atacasse com os punhos cerrados imediatamente. No entanto, Yuder ainda achava melhor evitar sua morte.
Seja o que fosse, ele havia decidido evitar uma repetição do passado.
'E se ele morrer aqui, eles podem atribuir a morte de Kiolle à casa Apeto, chamando a atenção da Cavalaria.'
Ele tinha que evitar qualquer situação que pudesse causar danos à Cavalaria a todo custo. Foi por isso que ele havia deixado Kiolle por último.
"Se você continuar sendo pouco cooperativo, não há muito o que eu possa fazer. Não temos muito tempo."
"Uh, uuhh! Uuh!!"
"Não gosta? Devo te deixar aqui?"
"Urrgh!"
Kiolle olhou para Yuder como se quisesse rasgá-lo em pedaços.
"Então sugiro que você fique quieto."
Yuder não se deu ao trabalho de colocar Kiolle de pé; ele simplesmente deslizou a mordaça até o queixo dele, deixando-o esparramado no chão. No instante em que o fez, uma voz, repleta de raiva, ecoou.
“Você, você é aquele cara da Cavalaria.”
Felizmente, ele não gritou, mas as palavras em si não pareciam menos ameaçadoras. Kiolle tossiu algumas vezes, rangendo os dentes e levantando a cabeça, enquanto Yuder o observava em silêncio, sem oferecer resposta.
“Você não tem ideia de quanto eu estava esperando para vê-lo novamente. Você não sabe o quanto tem sido humilhante para mim, banido para este campo por sua causa, sendo vigiado por idiotas.”
“Você está dizendo que tudo isso é por minha causa?”
“Sim! Você fez de mim um alvo de chacota com suas táticas desleais, arruinando minha honra. Até meu próprio pai me pediu para manter um perfil baixo e treinar, me expulsando. Aquilo foi inédito. Ninguém me ouvia!”
‘O Duque de Diarca parece se importar mais com esse rapaz do que eu pensava.’
Kiolle desabafou sua frustração sobre seu pai, mas Yuder interpretou um significado completamente diferente de suas palavras.
Recordando a conversa que os subordinados tiveram com o Alcaide de Apeto, Kiolle era provavelmente o filho mais novo do Duque de Diarca. Em sua vida anterior, Yuder servira a um Imperador que era filho adotivo da família Diarca, então ele conhecia a atmosfera da família Diarca um pouco melhor do que outros ducados.
A família Diarca era a personificação da ‘nobreza’. Eles eram unidos apenas pelo nome da família. Havia pouco afeto entre os membros da família e parentes.
Em sua vida anterior, Yuder havia encontrado o atual Duque de Diarca algumas vezes, mas sua impressão era mais forte de um velho guaxinim rabugento do que de um ser humano.
O Duque atual morreu de uma doença pouco tempo depois que Yuder assumiu seu cargo, mas o filho mais velho que o sucedeu como herdeiro não era muito diferente.
O Imperador manteve a família Diarca um pouco mais próxima devido ao laço que ele tinha com eles quando criança, mas ele nunca confiou totalmente neles. A família frequentemente descrevia essa distância como sendo nobre e muito característica dos Diarca.
Sob o antigo Duque de uma família Diarca dessas, o fato de um filho tão livre ter surgido, e apesar de causar múltiplos acidentes, ele nunca foi devidamente disciplinado, mas apenas enviado para treinar, era francamente bastante surpreendente.
‘Então ele é o filho mais novo, talvez eles apenas o mimaram e o deixaram ser.’
No entanto, Kiolle desapareceu cedo mesmo na vida anterior. Se ele continuasse vivendo assim, mesmo que Yuder o salvasse desta vez, seu futuro não parecia que mudaria facilmente.
“Você está me ouvindo? Desfaça essas amarras imediatamente!”
Yuder expirou profundamente, enfrentando Kiolle que gritava.
“Você... você, pirralho insolente, ousa suspirar?”
“E o que você fará quando eu te libertar?”
Kiolle fechou a boca por um momento diante da pergunta calma que não demonstrava medo de seus gritos, e então a abriu novamente com um olhar venenoso.
“O óbvio. Vou te colocar de joelhos.”
“E como, exatamente? Você está desarmado no momento.”
Yuder apontou para a cintura vazia de Kiolle. Só então Kiolle pareceu lembrar que sua arma havia sido tomada, abrindo a boca e olhando para sua cintura.
“…Isso, isso é. Preciso derrubar os cães de Apeto e recuperá-la…….”
"Então, o que você fará sem armas?"
"Vocês farão algo, certo? Não ouvi claramente que vocês iriam ajudar os outros prisioneiros a escapar?"
"Não precisamos necessariamente, sabe?"
Yuder mentiu de propósito.
"Para ser honesto, eu poderia simplesmente deixá-lo aqui e escapar sozinho."
"O quê, o que você acabou de dizer? Como você pode...!"
"Então, o que você fará a seguir? Você está planejando derrotar sozinho todas as pessoas do Ducado de Apeto desarmado?"
"Sim!"
Kiolle gritou como se em desafio.
"Tudo o que preciso é bater em alguém e pegar sua espada! Então, me solte!"
"É só isso que você planejou?"
Neste ponto, Yuder parou de usar pronomes de tratamento.
"O quê?"
"Perguntei se esse era o limite do seu julgamento situacional, Kiolle Diarca."
"Você... Como ousa você, um plebeu, questionar-me, um nobre Cavaleiro Imperial...!"
"Quem foi que desmaiou duas vezes porque era mais fraco que um plebeu e se comportou de forma vergonhosa por não conseguir aceitar a diferença de habilidade? Olhe para seu estado. Seu julgamento é tão ruim assim?"
Kiolle provavelmente nunca tinha sido tratado com tanta frieza em sua vida. Ele estava congelado, os lábios ligeiramente entreabertos, o rosto uma mistura de raiva e surpresa pelas palavras abusivas proferidas por um plebeus.
"Mesmo com suas decisões insensatas, você não mostrou nenhum remorso mesmo depois de perder a vida de um camarada."
"Camarada? Camarada, você diz. Quem!"
Foi então que Kiolle finalmente começou a se mover, se debatendo enquanto soltava um grito. Ele conseguiu se sentar, embora com dificuldade. Seu comportamento nobre havia desaparecido há muito tempo de seu rosto sujo e coberto de terra enquanto ele olhava para Yuder.
"Você está falando do Paviel morto agora?"
"Sim."
"Você ouviu isso dos cães de Apeto no seu caminho até aqui? Ha. Esse traidor sendo meu camarada é uma piada ridícula. Ele me traiu e se rendeu ao inimigo para que pudesse viver. É natural que ele tenha morrido. Como isso é culpa minha?"
"Se não é sua culpa, então de quem é?"
A resposta de Yuder foi calma, seu olhar gélido.
"Ele era seu camarada. Ele deve ter confiado o suficiente em você para chegar a esse ponto. Você tinha inúmeras maneiras de tomar decisões melhores para salvar sua própria vida e a de seu camarada. Mas você não o fez. Cego pela raiva, você arriscou a segurança de todos, se colocando em uma situação de risco de vida. E ainda assim, você diz que não é sua culpa que ele morreu por sua causa?"
"Cala a boca! O que você sabe! Eu deveria ter me importado com aquele que me traiu por medo da morte e me insultou? Por que eu deveria!"
Kiolle Diarca parecia apenas uma criança teimosa, muito convencido de si mesmo para ver o que estava acontecendo ao seu redor. Ele não era o tipo de pessoa que poderia se sobressair aos outros e assumir responsabilidades. Yuder inclinou-se ligeiramente em direção a Kiolle, que estava rangendo os dentes de raiva.
"É por isso que você tem três flores em sua armadura. Você precisa de mais alguma razão?"
A expressão de Kiolle se misturou com raiva e confusão quando seus olhares se encontraram.