Volume 1 - Capítulo 3

Zhang Heng abriu a porta do seu quarto. O corredor estava silencioso, parecia um necrotério, com apenas o som de seus passos ecoando.

A porta do quarto ao lado estava entreaberta, e uma luz brilhante saía de lá. Zhang Heng espiou e viu quatro pessoas vidradas em um jogo de computador.

Na tela, seus personagens perseguiam uma Annie1 com pouca vida. As habilidades lançadas estavam suspensas no ar, e as expressões de excitação em seus rostos estavam imóveis, como quatro estátuas realistas.

Zhang Heng notou um despertador em uma das mesas – o horário marcava 00h00.

Depois disso, ele foi até os outros quartos do mesmo andar.

Alguns estavam trancados, seus moradores já haviam ido dormir, então ele não conseguiu entrar. Os que ele entrou eram todos iguais, congelados no último momento do dia.

No banheiro, alguém estava traçando um cigarro escondido do zelador. As brasas do cigarro brilhavam como estrelas, mas não se espalhavam, e a fumaça que a pessoa exalou do canto da boca estava suspensa no ar.

Zhang Heng não conseguiu se conter e tirou o celular para tirar uma foto dessa cena mágica.

Ao clicar no botão da câmera, ele fez outra descoberta interessante – neste mundo onde o tempo havia parado, não eram apenas as pessoas que estavam em pausa, as coisas ao redor também permaneciam no estado em que estavam no último segundo do dia.

Assim como a habilidade no ar, o ventilador parado, e agora, este cigarro que nunca se apaga.

Mas também houve exceções.

Para testar sua teoria, Zhang Heng pegou o cigarro dos dedos da pessoa.

Quando o cigarro estava entre seus dedos, ele começou a queimar normalmente.

Então era assim.

Neste espaço de tempo, onde ele era o único que podia se mover, qualquer coisa que ele tocasse continuaria funcionando normalmente, assim como o cigarro, seu celular, computador e MP3 player. A única coisa era que o tempo exibido nas telas permanecia inalterado.

No entanto, esse truque não parecia funcionar em humanos. Mais cedo, ele havia sacudido Chen Huadong para acordá-lo, mas seu amigo permaneceu sem resposta.

E quanto às outras criaturas vivas além dos humanos?

Intrigado, Zhang Heng voltou para seu quarto, ligou a lanterna do celular e se aproximou de seus colegas de quarto. Depois de dois minutos, usando sua câmera dupla de 20MP com luz suave no quarto escuro, ele finalmente encontrou o que procurava – a criatura mais comum e mais odiada no verão – o mosquito.

Assim que esse inseto entra no seu quarto, você pode esquecer de ter uma noite tranquila.

O quarto de Zhang Heng ficava no terceiro andar, que era considerado bem próximo do chão. Nessa altura, o mosquito não precisava usar o elevador para entrar no quarto deles. Para manter esses bichos longe, as pessoas recorriam a todos os tipos de repelentes: acender incensos contra mosquitos, aplicar sprays repelentes, mosquiteiros de mão, etc. Mas sempre havia um ou dois fujões.

Este mosquito em particular estava escondido perto do travesseiro do chefe do dormitório, Wei Jiangyan, esperando sua chance de fazer uma refeição completa.

Infelizmente para o inseto, seu sonho estava prestes a ser destruído esta noite.

Zhang Heng estendeu a mão, pegou o mosquito no ar pelas asas e o colocou na palma da mão.

O inseto manteve sua postura de voo como um ator dedicado – ignorando o alvo que estava perto dele.

“Parece que não funciona em animais também.”

Assim que a experiência terminou, Zhang Heng esmagou o mosquito e eliminou com sucesso a praga.

Agora que ele havia explorado o prédio, era hora de sair e dar uma olhada.

Ele foi ao banheiro e lavou todos os vestígios do inseto esmagado, e então continuou sua caminhada descendo as escadas.

A zeladora estava parada na porta segurando um grande cadeado em U. Ela provavelmente estava trancando.

Essa era outra característica marcante das instituições de ensino superior, embora algumas outras universidades tivessem estilos de gestão de dormitórios muito diferentes.

A escola de Zhang Heng tinha um toque de recolher às doze horas. Mas se os alunos, por algum motivo, tivessem que voltar tarde, eles sempre podiam acordar a zeladora batendo em sua janela.

Eles teriam permissão para voltar aos seus quartos depois que seus dados fossem anotados. No entanto, se isso acontecesse com frequência, o aluno seria repreendido e punido.

Zhang Heng passou pela zeladora sem nem sequer suar. Em um dia normal, ela o teria parado e interrogado.

Mas agora, ela parecia ter desenvolvido subitamente a capacidade de enxergar através das coisas. Seus olhos estavam focados na maçaneta da porta, além do corpo de Zhang Heng, como se uma pessoa viva não tivesse acabado de passar na frente dela.

Foi assim que Zhang Heng saiu do prédio do dormitório. Ele levantou a cabeça para olhar o céu noturno enquanto caminhava pelo campus vazio e finalmente chegou ao portão da escola.

Estava muito mais movimentado aqui.

Embora o campus não fosse muito grande, ele tinha uma localização privilegiada, situado na beira da terceira rodovia circular, voltado para a estrada principal.

As noites na cidade eram especialmente longas.

A barraca de panquecas fritas no viaduto estava lotada de clientes. Muitos trabalhadores de escritório que tinham acabado de sair de seus escritórios pararam para jantar a caminho de casa. Não muito longe, um gari varria silenciosamente a calçada. Embaixo da plataforma, dois tios carecas de terno e sapatos de couro conversavam ao telefone enquanto esperavam pelo ônibus noturno muito atrasado. Atrás deles, em uma conveniência 24 horas, uma garota com um prendedor de cabelo de urso sentada no balcão bocejou...

Às 00h00 em ponto, eles congelaram sincronicamente.

Foi como pressionar o botão de pausa enquanto assistia a um filme.

Os carros que trafegavam pela estrada haviam parado.

Zhang Heng tinha visto como era essa cidade à meia-noite na única vez que foi à estação de trem para buscar um amigo.

Mas esta era a primeira vez que ele conseguia observá-la de perto.

Ele podia ver as cebolas verdes que o vendedor de panquecas estava salpicando no prato, as mãos calejadas e a pele escurecida do gari, o nariz oleoso do tio careca e a foto de seu bebê de um mês na tela do celular, o pôster de ídolo que a garota atrás do balcão escondia embaixo do caixa...

Todos esses pequenos detalhes que eram ignorados todos os dias agora se destacavam para Zhang Heng.

Era como se ele estivesse conhecendo a cidade novamente.

Zhang Heng usou seu WeChat para desbloquear uma bicicleta compartilhada. Enquanto pedalava pela cidade, ele também testou suas presunções.

Antes que a hora em seu relógio completasse sua segunda rotação, ele correu de volta para seu dormitório antes que a zeladora pudesse trancar a porta.

Às 00h00, Zhang Heng não estava usando fones de ouvido.

No segundo seguinte, sons e ruídos invadiram seus ouvidos como água.

“Boa! Vou matar aquela pessoa! Finalmente posso usar minha Lâmina Infinita!”

“Destrua a torre! Eles não ousam nos enfrentar!”

“Não consigo! Tenho que voltar e repor minha vida!”

...

O ventilador acima da porta rangeu enquanto oscilava. Do lado de fora da janela, um gato selvagem miou. No corredor lá fora, chinelos bateram no chão enquanto alguém corria. Zhang Heng, que não havia fechado os olhos por mais de um dia, finalmente foi vencido pelo cansaço. Depois de conectar seu celular ao carregador, ele se jogou na cama e foi para o mundo dos sonhos.